Flexi(n)segurança
A flexisegurança é um modelo de empregabilidade criado nos anos 90 na Dinamarca, mas só agora entrou no léxico luso, por força das novas medidas laborais que o Governo pretende aplicar.
Os basbaques portugueses – sempre prontos a aclamar tudo quanto vem do Norte da Europa ( quando é que alguém se lembrará de importar águas do Báltico para referescar as águas algarvias?)- receberam a ideia com entusiasmo. Vai daí, convidaram Paul Rasmussen- o ex-Primeiro Ministro dinamarquês autor da ideia- a vir a Portugal explicar-lhes como se aplica.
Devem ter gostado do que ouviram: “A flexisegurança é uma inevitabilidade da economia global e das novas tecnologias, e os jovens devem estar preparados para mudar de emprego 30 vezes ao longo da vida”.
A ideia de mobilidade agrada-me, porque a pratiquei ao longo da vida e defendo que a experiência acumulada em vários postos de trabalho – e até diferentes actividades- nos enriquece. No entanto, não tive durante 35 anos de carreira profissional mais do que uma dúzia de empregos e, mesmo assim, há quem me considere uma pessoa instável. Quando ouço falar em 30 empregos em 40 anos de actividade profissional parece-me um absurdo. Porém, talvez não seja assim tanto...
Vivi tempo suficiente na Suécia para poder compreender o alcance das palavras do actual presidente do Partido Socialista Europeu, mas duvido que aqueles que veneradamente o escutaram tenham percebido mais do que a parte que lhes interessa.
Nos países nórdicos, as pessoas mudam de emprego com frequência e, quando uma pessoa é despedida, demora cerca de um mês a arranjar emprego usufruindo, nesse período, de um subsídio de desemprego equivalente ao salário que auferia. Por outro lado, a mudança de casa ou de cidade também não é encarada com grandes preocupações, pois o mercado de arrendamento funciona de forma regular.
Em Portugal, porém, nada se passa assim. Metade dos desempregados demora mais de um ano a conseguir emprego e mais de um terço dos desempregados, com mais de 45 anos, não volta a encontrar um posto de trabalho. Quanto à mobilidade geográfica, também não é fácil por diversas razões, sendo a mais relevante o facto de as pessoas terem que se endividar para comprar casa e o mercado de arrendamento pura e simplesmente não funcionar apesar do elevado número de fogos devolutos. Ou seja, uma pessoa compra uma casa e fica amarrada para a vida. Nada disto é salutar, mas são as regras que temos e poucos se podem dar ao luxo de lhes escapar.
Aos empresários portugueses nada disto interessa. Pretendem trabalho qualificado que corresponda às suas necessidades, sem terem que aguentar com “pesos mortos” para vida inteira. Com toda a sinceridade, devo dizer que os compreendo. No entanto, gostaria de os ver reconhecer que para beneficiarem desse privilégio estão dispostos a pagar salários elevados, mas as declarações que ouvi de alguns no “Prós e Contras” e li de outros na “Visão”, não apontam nesse sentido.
Assim sendo, também não posso deixar de, com a mesma sinceridade, compreender a posição dos sindicatos. É preferível garantir a segurança de um posto de trabalho onde se vai apodrecendo à espera da reforma, do que arrastar-se pelos árduos caminhos do desemprego.
Ora Rasmussen chamou a atenção para esse aspecto e alertou que “o modelo só é viável com elevados salários e qualificações”. Esta parte, porém os empregadores não quiseram ouvir, porque pura e simplesmente não se aplica em Portugal. É apenas esse facto que torna absurda a aplicação da flexisegurança no nosso País.