Emigrantes portugueses- uma reportagem notável
Pessoa amiga, sabedora que dias antes de partir para férias concluí um trabalho sobre migrações a ser publicado em breve numa revista de referência, aconselhou-me a leitura de uma reportagem da minha amiga Céu Neves publicada no DN durante a minha ausência(10 e 11 de Junho).
Trata-se de um trabalho notável. Omitindo o facto de ser jornalista, Céu Neves viajou como mais uma emigrante, experimentando as condições de dureza a que estão sujeitos os portugueses. Durante duas semanas, viveu nos mesmos alojamentos, experimentou as mesmas sensações de incerteza diárias, sentindo na pele o sofrimento dos compatriotas que partem para aquele país e vivendo os enganos de que são vítimas.
Trata-se de uma reportagem que mostra, na prática, a abordagem que faço no meu trabalho, sobre os perigos que espreitam os emigrantes e imigrantes neste mundo global, onde nem a civilizada Europa escapa ao tratamento desumano dos seus cidadãos.
Céu Neves aborda, também, um tema sobre o qual escrevi um artigo ano passado: o “modus operandi” de algumas empresas de trabalho temporário que, sem quaisquer escrúpulos, tratam os trabalhadores como “carne para canhão”.
Fui emigrante privilegiado durante vários anos em países europeus e nos Estados Unidos ( os anos que passei em Macau não entram para esta contabilidade) e pude aperceber-me das condições desfavoráveis em que muitos portugueses viviam. Em termos de exploração, porém, só nos anos 60 encontrei situações semelhantes às que Céu Neves descreve. Mas o que se passa na Holanda não é caso virgem. Na vizinha Espanha, na Islândia ou no Canadá, ocorrem situações semelhantes. O mundo estará mesmo melhor, como muitos apregoam?