Bico calado! Deixem respirar o esgoto...
Quando Paulo Rangel, no seu discurso do 25 de Abril, falou de “claustrofobia democrática” algumas mentes mostraram-se escandalizadas e outras deixaram escapar um sorriso de condescendente complacência para tamanha aleivosia.
O deputado do PSD ( agora com o mandato suspenso) sabia, no entanto, do que estava a falar. Talvez até já previsse o escabroso episódio ocorrido na Direcção Regional de Educação do Norte, onde um professor foi suspenso pelo facto de, no seu gabinete, ter feito uma referência jocosa e bem humorada acerca da licenciatura de Sócrates. O desditoso docente não faria a menor ideia que entre os seus colegas e amigos estaria um lídimo representante da nova PIDE, ou que a instalação de microfones escondidos em serviços da Administração Pública fosse possível no Portugal democrático. Enganou-se!
Não sabe quem foi o “bufo”, nem se a admiração do PM pelas virtudes das novas tecnologias radica na capacidade de denunciarem os que ousam emitir uma opinião que possa beliscar o “Grande Chefe”.
Depois de ter vivido as agruras do Estado Novo e ter “experimentado” o sectarismo dos comunistas, acreditei, durante muitos anos, que a Democracia era o modelo social da justiça e da tolerância. O que eu não esperava era que a Democracia pudesse ter ao seu serviço uma legião de Condes de Abranhos tão zelosos de agradar ao Chefe, que directamente, ou através de tecnologias sofisticadas, fossem capazes da mais torpe e aviltante prática que um ser humano pode exibir: a denúncia!
Pior do que isso, só mesmo dirigentes que a instigam e dela se aproveitam para atingir os seus fins.
Pior do que isso é uma Reforma da Administração Pública que visa essencialmente partidarizar o Estado e colocar nos lugares de topo militantes partidários sem qualquer estofo moral, qualidades humanas e desconhecedores dos princípios fundamentais da Ética.
Portugal já não é um País... é um esgoto!