quinta-feira, 24 de maio de 2007

Postais de Santiago 3- No Chile como em casa

Uma viagem ao Chile faz-me sempre sentir próximo de casa, pois é o país latino-americano que mais semelhanças apresenta com Portugal e os portugueses.
Nos tempos da ditadura , pensava que aquela gente taciturna e ensimesmada era o retrato de um povo angustiado, vítima de massacres perpetrados por um ditador que os americanos, benfeitores do mundo, colocaram no Poder pelos métodos mais bárbaros alguma vez utilizados no mundo ocidental, depois da Segunda Guerra Mundial.
Hoje, definitivamente enterrado Pinochet, o ditador fantoche que a srª Thatcher sempre protegeu, os chilenos usufruem de liberdade, vivem os alvores de uma Democracia com uma mulher de centro esquerda como Presidente, mas não perderam a sua maneira de ser. Continuam tristes e melancólicos, o País parece viver isolado da restante América Latina, como se os Andes fossem um obstáculo inultrapassável.
Há nestes chilenos que noite após noite invadem as esplanadas de Santiago uma nostalgia escondida, uma animação quase forçada, que me faz recordar mais as noites de Lisboa do que de Buenos Aires ou outra qualquer metrópole latino-americana. E nem lhes falta, para serem parecidos connosco, um Festival “Cançoneteiro” que torna Viña del Mar como uma espécie de irmã gémea da Figueira da Foz.
Quando estou em Santiago, passeio pelos arredores de La Moneda, vejo a saída dos alunos da Academia Militar ao fim de semana, me vejo obrigado a falar em surdina com pessoas que me contam os horrores da ditadura de Pinochet, vêm-me à memória fantasmas do Estado Novo e apetece-me regressar depressa a casa.
O Chile, definitivamente, não é a América Latina. Tal como Portugal também não é a Europa...