Ainda a cimeira UE/Brasil
Só aos mais desatentos terá escapado a postura de Lula durante a Cimeira e, posteriormente, no programa que a RTP 1 exibiu com ele e Sócrates.
Com um discurso fluente, recusando o miserabilismo e o discurso do “coitadinho”, Lula mostrou que não tem qualquer complexo de inferioridade em relação aos “grandes estadistas europeus” , nem qualquer receio de tecer argumentos com eles.
Acima de tudo, deu uma lição notável: é possível crescer de forma sustentada sem desprezar os mais desfavorecidos e tendo preocupações sociais.
Quem visite regularmente o Brasil, percebe que o país de Lula nada tem a ver com o do início da década de 90 do século passado. Existe ainda muita pobreza, é certo, mas há uma maior equidade social, uma aposta muitíssimo forte na educação, que permitiu levar para as Universidades muitos condenados ao analfabetismo e à pobreza.
O Brasil é, entre os países do BRIC, o que tem crescido de forma mais sustentada e equilibrada, contornando as desigualdades sociais de forma hábil. Apesar das críticas internas, Lula não esqueceu as suas origens humildes, criando um conjunto de oportunidades para os que, nascidos como ele, possam singrar e ter vida digna.
A acção de Lula pode não agradar às elites brasileiras nem aos intelectualóides europeus que se renderam ao canto da sereia do liberalismo económico. Mas a História está cheia de exemplos de mudanças alcançadas contra essas elites.
Basta referir Luther King ou Nelson Mandella, para termos exemplos marcantes de como é possível derrotar os interesses instalados e mudar a sociedade. A Europa está a precisar de um grande líder que ponha em causa o actual modelo social europeu, tornando-o mais justo e sem estar à mercê dos grandes interesses económicos. Espero que já tenha nascido...