Cimeira UE-Brasil
A Cimeira UE / Brasil, apesar de ser um motivo de orgulho para Portugal, que introduziu um dado novo na agenda europeia, não serviu, ao que me parece, para fortalecer laços comerciais, nem definir estratégias comuns para a Europa e a América Latina.
Nem tal, aliás, seria de esperar, já que são conhecidas as posições autistas dos europeus face a África e à América Latina. Instalados confortavelmente no palanque do desenvolvimento económico, limitam-se ao habitual “carpe diem”, enquanto vão manifestando a sua preocupação com a pobreza, sem tomar medidas que permitam combatê-la. Neste particular, Portugal e Brasil deram um passo importante, ao assumir investimentos significativos em África na área dos biocombustíveis que irão permitir retirar da pobreza milhares de africanos.
O diálogo com a América Latina é, convenhamos, mais importante para Portugal e Espanha do que para a UE, que parece apenas apostada em impôr a sua vontade e não fazer qualquer cedência para um entendimento na Ronda de Doha colocando-se num pedestal de intransigência.
Creio que há muita gente na liderança dos destinos da UE que ainda não percebeu que o futuro próximo reserva um papel de grande relevo à América Latina. Para bem da própria Europa, será inevitável uma aproximação entre os dois blocos que, estou em crer, se concretizará a curto prazo, até porque não é crível que os EUA consigam concluir a contento, até final do ano, o acordo da OMC.
Os líderes europeus terão, todavia, de abdicar parcialmente em relação à política agrícola e os sul-americanos em relação aos entraves aduaneiros.
Por outro lado, para o Brasil se afirmar como interlocutor privilegiado, precisa de pôr alguma ordem no Mercosur e convencer os seus parceiros de quão importante é para o “continente” sul-americano uma aproximação à Europa.
Depois de ouvir ontem Lula, não tenho dúvidas de que o conseguirá fazer. Ao contrário do que muitos pensam e levianamente afirmam, o presidente brasileiro tornou-se um grande estadista ( o que confesso, também me surpreendeu...). Não agradará aos padrões europeus a sua sinceridade, mas estão obrigados a conviver com ela. Aguentem-se!