Europa, Sociedade Secreta?
Marcelo Rebelo de Sousa manifestou o seu desagrado e discordância, quanto à provável concertação entre PR e PM para que não se realize em Portugal um referendo ao texto do Tratado Europeu, afirmando que essa decisão iria contribuir ainda mais para a ideia de uma “Europa Confidencial”.
A quente, sou levado a partilhar a opinião do Professor, mas racionalmente tenho que concordar que a realização de um referendo sobre questões europeias num país onde o analfabetismo cívico-político deve rondar os 90% e a ideia de Europa se resume à possibilidade de obter subsídios, não me parece muito importante.
Acresce que as últimas declarações de Marques Mendes parecem exprimir um acordo tácito do PSD para a não realização do referendo. Abundam os argumentos para a mudança de posição do Bloco Central e, desta feita, tendo a partilhar das ideias do Centrão. Qual a necessidade de um referendo, se a maioria dos portugueses já manifestou não aderir a essa forma de consulta popular, abstendo-se - em percentagens que nos envergonham- de se pronunciar sobre temas fulcrais como o aborto ou a regionalização? Porquê delapidar os cofres do Estado com um referendo, se a maioria dos portugueses vota de acordo com a orientação dos partidos e o Centrão se pôs de acordo quanto ao novo Tratado?
Assim, a única razão que me leva a estar de acordo com Marcelo Rebelo de Sousa é perceber que a passividade dos cidadãos quanto às questões europeias está a contribuir para que a Europa se torne numa Sociedade Secreta, com as decisões a serem tomadas por um grupo de iluminados, à revelia da opinião pública. A recusa de um referendo- que presumo se irá alargar à esmagadora maioria dos países europeus- é apenas mais um passo no processo “Orwelliano” que tornará em breve a Europa num arremedo da sociedade de progresso e liberdade imaginada por Jean Monet eRobert Schuman. Até a paz interna poderá estar ameaçada, se o caminho a prosseguir continuar a ser o de afastar cada vez mais os europeus das decisões quanto ao seu futuro.