Um Tratado inquinado
Vejo, com agrado, que o meu amigo Arnaldo Gonçalves partilha da minha opinião quanto à debilidade do novo Tratado e o que ele significa em termos de enfraquecimento de uma ideia de Europa.
Confirmou-se a previsão que aqui fizera de que seria alcançado um acordo em Bruxelas, mas que não haveria grandes razões para exultarmos. Alcançou-se o acordo possível, mas o novo Tratado não é o instrumento que a UE precisa para que seja relançado o espírito europeu . Pelo contrário. O sim da Polónia foi conseguido pela pior via: o poder do dinheiro. Ao ameaçar a Polónia com cortes de subsídios no caso de manter a sua oposição, e oferecer mais dinheiro caso aceitasse o acordo que os restantes países negociaram, a liderança europeia cometeu dois erros. Por um lado, comportou-se como aqueles pais que compram os filhos com a ameaça do corte da semanada; por outro, abriu um precedente que pode ser usado por outros países quando quiserem boicotar alguma medida essencial para o futuro da Europa. E ocasiões para oportunismos deste jaez não irão faltar nos próximos anos...
Tudo isto confirma a ideia que ambos partilhamos: a construção da Europa está cada vez mais assente na base do facilitismo muito próprio de quem vê na economia de mercado a solução de todos os problemas.
Ficou mais uma vez bem patente, ao longo das negociações, que alguns dos 27 países que integram a União Europeia não têm qualquer espírito europeu e não deviam lá estar ( ideia que aqui já expressei anteriormente, aliás). A Polónia é neste momento o exemplo mais significativo, mas não é o único, o que dá especial ênfase à tirada de Sarkozy em relação a Durão Barroso:
“Tens que ter ideias”- disse o Presidente francês a Durão Barroso, num tom que tanto pode ser interpretado como crítica velada a Durã Barroso, como de censura face à maneira como apoiou Ângela Merkl na condução de todo o processo.