quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Bush e o Iraque

Bush manda mais 20 000 soldados para o Iraque, segundo anunciou ao país à pouco. Afirma-o na necessidade de "ajudar a melhorar o ciclo de violência no Iraque". Parece que só ele [e o círculo dos incondicionais] o acredita. O relatório do grupo de reflexão sobre o Iraque fica em banho maria. Bush não evita um embate frontal com a maioria democrata no Senado e na Câmara de Representantes.
Na política - por vezes - a fuga para a frente parece o melhor paliativo para as fraquezas notórias. 3000 soldados pereceram numa campanha militar [que há muito] já deixou de ter qualquer sentido. O vespeiro do Médio Oriente não dá sinais de acalmar e este reforço de tropas está longe de contribuir para a serenidade necessária.
Venho há tempos defendendo que a única saída possível para o pântano iraquiano é a evolução para uma solução constitucional e política federativa, com regiões autónomas para xiitas, sunitas e curdos. O Iraque não é, verdadeiramente, uma nação mas uma constelação de várias mantidas, durante décadas, sob o jugo férreo e sanguinário de um ditador celerado, Saddam Hussein. O problema não está - como muitas vezes se vê afirmado - se o Iraque está mais livre sob o regime pós-Saddam. Mas como consolidar o respeito pela lei e a ordem no [frágil] Estado de Direito.
Muitas vezes, [regista Karl Popper num livro muito esquecido] surge na sociedade a crítica irracionalista que a democracia é impossível ou inconveniente dada a sua conflitualidade e intranquilidade e que é preferível o estado anterior, que Popper designa por sociedade tribal e fechada. Mas como também diz não é possível o regresso ao estado da inocência anterior à sociedade aberta:


"deter a mudança política não é o remédio, não traz a felicidade. Depois de sentirmos o apelo da razão e, com ela, da responsabilidade não podemos voltar para tás, para o estado de submissão à magia tribal, não há volta a um estado harmonioso da natureza, para voltarmos devemos retornar às feras"
Deviamos reflectir nisso