sexta-feira, 13 de abril de 2007

Homenagem a Borges

A discussão à volta da licenciatura de Sócrates, trouxe-me à memória um comentário de Jorges Luís Borges sobre Madame Bachelier, a quem acusava de ter feito publicar um catálogo sobre a obra de Pierre Menard “ cheio de imperdoáveis omissões e acrescentos”. Acontece que o referido catálogo foi publicado num jornal de tendência protestante, o que acicatou a ironia de Borges, que ao facto se refere como “uma desconsideração inflingida ( pelo jornal) aos seus deploráveis leitores – embora estes sejam poucos e calvinistas, quando não maçons e circuncisados”.
Em homenagem a Borges, só voltarei a opinar sobre as rasteiras politiquices portuguesas em caso de extrema necessidade!

Desculpem se me enganei!...

Não costumo utilizar este blog para escrever sobre questões relacionadas com jornalistas. Para isso, uso os sites da classe, como o do Clube de Jornalistas e um ou outro blog de jornalistas, como o do João Paulo Meneses, que foi meu contemporâneo em Macau.
A razão porque há dias referi o caso de jornalistas condenados por dizerem a verdade, mas terem "prejudicado a imagem" de empresas ou instituições, foi porque considerei as sentenças do STJ e do Tribunal de Braga aberrantes para a minha profissão, violadoras das mais elementares regras da liberdade de expressão, por saber que aqui escrevem outros jornalistas e por, talvez ingenuamente, ter pensado que suscitaria interesse a qualquer português, mesmo a viver fora de Portugal.
Na verdade não se trata de um “fait divers”...o assunto em Portugal tem sido amplamente debatido fora da classe jornalística e considerado preocupante por políticos e "opinion makers"de todos os quadrantes.
Enquanto jornalista, são estas questões que me preocupam - e não saber se o assessor de imprensa do Ministro A, ou o próprio PM , tentaram pressionar um jornalista.
E não me interessa, por duas razões. Primeiro, porque é uma prática seguida pelos vários Governos ( alguns dos jornalistas visados confirmaram-no); segundo, porque tenho a certeza que nenhum deles se deixa pressionar.
Assim sendo, não há discussão, mas sim um “fait divers” que pode agradar aos apreciadores de leitura de cordel e revistas “cor de rosa”, mas a mim não me interessa discutir, por achar irrelevante. Como aliás todos os que ontem se deslocaram à ERC reconheceram ( à excepção de José Manuel Fernandes, por razões sobejamente conhecidas). O que me preocupa, outrossim, é pensar que pode haver jornalistas "pressionáveis", incapazes de denunciar essas pressões.

Um Silêncio Inconveniente

Na tarde de ontem, o adeus a Odete Santos deixou para segundo plano um facto surpreendente. No período “antes da ordem dia”, todos os partidos fizeram uma referência à entrevista de Sócrates. Todos, menos o PSD!
Mesmo quando todos os partidos consideravam que o assunto da licenciatura estava encerrado, criticavam o facto de a entrevista se ter centrado nesse ponto, o que permitiu ao PM ser pouco esclarecedor quanto aos assuntos que realmente interessam ao País (desemprego, Ota, reformas e segurança social, etc, etc, etc) a bancada parlamentar do PSD manteve-se em silêncio. Sinal de que nas hostes laranjas as críticas à desastrada reacção de Marques Mendes à entrevista do PM isolam cada vez mais o líder ( o que aliás, poucas horas depois, viria a ser demonstrado por alguns deputados que se demarcaram da mensagem da véspera). Terá MM percebido que às vezes mais vale estar calado, do que “desafinar” e correr o risco de ficar a falar sozinho?
Mesmo que se siga a máxima de Goebbels uma mentira muitas vezes repetidas torna-se realidade”, o que se fica à espera não é da próxima dissertação de MM sobre a licenciatura de Sócrates, mas sim de saber qual a próxima “casca de banana” que Santana Lopes lhe irá lançar, para que ele se “espalhe”...

"Odete tem mais encanto..."

Será que “ Odete tem mais encanto na hora da despedida”?
Foi o que me ocorreu quando vi as imagens do seu adeus à AR. Foi bonito. Caceteiros, defensores do pensamento monolítico e arautos das mais amplas liberdades coincidiram, no hemiciclo, nos elogios à deputada comunista. Odete Santos, uma vez mais, mostrou a estirpe de que é feita. Não cedeu ao elogio fácil e respondeu “à letra”, não esquecendo que alguns dos que a estavam a elogiar a tinham atacado miseravelmente poucas semanas antes ( notável, a propósito, a montagem de imagens feita pela SIC Notícias). E demonstrou, nas palavras elogiosas que dirigiu a Montalvão Machado ( filho) que a sua política não é feita de rancores e azedumes , ou que – mesmo discordando deles- sabe reconhecer e elogiar os adversários quando estes são dignos
( Montalvão Machado é, juntamente com Paulo Rangel, um dos poucos exemplos de lisura e comportamento ético existentes na bancada parlamentar do PSD) e rejeitam a “chicana” política. Uma autêntica senhora, a quem a ética política muito ficará a dever.

Caminhos apertados

Na TSF on line
[...], avançou José Manuel Fernandes.
Os telefonemas procuravam, segundo o mesmo responsável, convencer os jornalistas do Público que não devia ser publicado o artigo e que não havia ali notícia.
«No meu caso concreto, não houve nenhuma alusão a um possível processo judicial» caso o jornal insistisse em divulgar a notícia, referiu José Manuel Fernandes, admitindo terem «sido feitas alusões em conversas com os jornalistas».

O último político que se meteu por estes caminhos estreitos levou com a tranca.

Impacto do "caso" galga fronteiras. Já está no El País aqui.

Quem ganhará em França?


Perpassando


Odete Santos sai do parlamento

Odete Santos abandona o Parlamento depois de dez anos de actividade política como parlamentar e como militante comunista. Traços vigorosos da sua passagem pelo Parlamento um estilo destemido, frontal, directo de expôr os seus pontos de vista e as posições do partido em que milita há 30 anos o que lhe grangeou um enorme respeito pelas bancadas da esquerda e da direita.
Uma enorme valentia em se bater pela causa das mulheres, os direitos dos marginalizados do liberalismo, os direitos dos trabalhadores. Sempre com uma ponta de ironia, com uma galhardice, por vezes brejeira, mas que a identifica com o que há de muito essencial e profundo no povo português. A capacidade de ir à luta, com sacrifício pessoal e alguma irreflectude.
Pontos negativos: a incapacidade de perceber que a tomada do poder, depois do 25 de Novembro de 1975, pelos comunistas, já não poderia ser feito a coberto das manipulações de militares amigos da "revolução", que os "direitos" conquistados com o 25 de Abril são incomportáveis se os trabalhadores não elevarem a sua produtividade, tornarem as suas empresas casos de sucesso, que o Estado não é pai de ninguém e não tem a obrigação de aliviar as dores a pacientes que não têm solução.
Outro ponto menos positivo, um sectarismo, uma cegueira quanto à bondade da ideologia que professava e professa que a levaram a não reconhecer o inevitável: a estúpidez, a irracionalidade, a brutalidade do regime dos sovietes. Quando no PCP se colocou a questão de retirar lições históricas do falhanço da perestroika e da queda do Muro de Berlim, Odete Santos esteve sempre do lado dos "puros e duros" do seu partido contra todas as tentativas de renovação vindas do seu interior. É preciso lembrá-lo porque normalmente nas despedidas temos esta mania peregrina de meter tudo no mesmo saco e esquecer as iniquidades.
Morrerá comunista, certamente. Mas isso não implica que não condenemos por irracional e totalitário o regime e tiranos os ídolos que persiste em venerar, como se de santos se tratassem [Álvaro Cunhal, Estaline, Fidel de Castro, Lenine]. Outra mulher, Hannah Arendt ensinou-nos que no século XX o totalitarismo apresentou-se com duas faces: o fascismo/nazismo e o estalinismo. Uma não se pode compreeder sem a outra. Tiveram em comum a ideia da adulação cega do chefe, o espezinhamento da diferença e da diversidade.
No fundo, Odete e os seus companheiros de bancada acreditam que aos líderes comunistas como "guardiães da fë" lhe és permitido tudo. É por isso que as nossa diferenças perante ela são intransponíveis.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Sócrates

Tenho a noção, aliás ainda alguém bem informado em Lisboa me transmitia isso ontem, que o incidente ocorrido com Sócrates está longe de se afastar "convenientemente" do espaço público e do combate político.
Este é - escrevo-o sexta-feira, dia 13 de Abril - o começo do fim do socratismo [seja isso a que for].
Agradeço piamente os esclarecimentos do Carlos Oliveira mas infelizmente eles não me fazem alterar o diagnóstico que fiz ao comportamento político do primeiro-ministro. Tenho para mim [mas é o meu critério] que os políticos têm dictames éticos a que têm de obedecer e embora eu aceite que as promessas feitas em campanha eleitoral não sejam muitas vezes para cumprir, e que o está no programa do governo [por exemplo a baixa dos impostos] não seja levada à prática quando as circunstâncias que pontuam a governação se alteram, aceito e compreendo que outros [e um segmento muito forte da opinião pública] qualifique tais actos como vigarices, faltas à palavra, trapalhices.
O comportamento ético do primeiro-ministro revela numa questão aparentemente menor - a da sua licenciatura - falta de estatuto, sentido de Estado e elegância, porque se afinca a vender aos outros a história mais conveniente para não pôr em causa uma verdade incontornável: ter sido favorecido por uma universidade privada na aquisição do grau de licenciatura que pomposamente usa no seu CV oficial.
Uma universidade privada que é conhecida por ter ali a leccionar figuras gradas do seu partido e da sensibilidade política a que [pelo menos até agora] foi fiel: o guterrismo.
Em nenhum país do mundo, em nenhuma universidade, o primeiro-ministro poderia ter tirado a licenciatura nas condições em que o fez. Digo-o com conhecimento de causa: sou há 5 anos professor do ensino superior, primeiro em Lisboa [na Universidade Internacional] e há 3 anos no Instituto Politécnico de Macau. A soma aritmética das cadeiras exigidas por dois anos escolares é impossível ser adquirida apenas num ano lectivo.
O comportamento do primeiro-ministro e a sua teatral entrevista na RTP têm uma outra leitura. Aquilo que em política se diz pela raison de l'État. Ou seja uma coisa é a verdade, outra coisa é a verdade que interessa ao Estado passar. Porque ao poder cabe governar e fazê-lo nas melhores condições, cabe-lhe gerir a narrativa dos acontecimentos para melhor servir os seus propósitos. O expediente tem raízes históricas - Maquiavel no século XVI ou Richelieu uns anos mais tarde explicaram, denodamente, que por regra os regimes têm que mentir para convencer as populações, para o bem delas. Dito anos mais tarde por Lenine: uma mentira contada muitas vezes torna-se verdade. Trata-se da ideia que Platão glosou há 2500 anos: a mentira nobre e a sua utilização como método de educação dos bons cidadãos.
E aquilo que este evento permite extrapolar é que se o primeiro-ministro mentiu sobre as suas habilitações literárias porque não mentir sobre a inevitabilidade da OTA, a utilidade do TGV e por aí fora. Daí eu ter mandado em post anterior algumas pequenas agulhadas que o meu querido amigo Carlos Oliveira não entendeu mas que a meu ver valeriam a pena ser exploradas jornalisticamente. Não quero dirigir os jornalistas, meu Deus do Céu, mas seria útil se eles também seguissem a pista de histórias que correm nalguns meios bem-informados em Lisboa e que podem ter alguma veracidade. Quando há fumo em princípio há fogo. O que não quer dizer que haja sempre.
Mas homenzinhos crescidos que somos, temos a obrigação de saber que os homens gostam mais de dinheiro que macacos por bananas e onde há possibilidade de se ganhar dinheiro ilegitimamente há sempre vários chico-espertos quie se fazem à pista. Em contratos com a dimensão da OTA ou do TGV posso presumir - devo presumir - que haverá alguém muito beneficiado pela opção e mais outros prejudicados pela mesma. Seria bom que percebessemos que o nepotismo, o tráfico de influências, a corrupção nada tem a ver com ser-se de direita ou de esquerda. Está na natureza dos homens. Basta só propiciar-se a oportunidade.
Não se trata - ao contrário do que alguma contra-informação começa a passar - de um caso do foro pessoal do primeiro-ministro com que nós contribuintes nada temos a haver. Um caso pessoal é saber se o primeiro-ministro faz despesas milionárias em imagem e cosméticos de beleza, se é ou não é homosexual, se viveu com fulano ou beltrano. Nada tenho a ver com isso, estou-me nas tintas.
Mas sou português e elego pelo menos um dos titulares dos órgãos do Estado, o Presidente da República, já que por viver no estrangeiro, sou impedido de eleger o primeiro-ministro. Mas se fosse americano e chamado a eleger o presidente as opções privadas e pessoais dos candidatos dir-me-iam respeito e seriam um factor indispensável de valoração quando fosse chamado a votar nas primárias. Isto é, cada estado, cada sistema tem uma forma particular de avaliar como o exercício da política se casa ou não com as preocupações de ordem ética e moral que são prevalecentes na sua cultura.
Por isso acho que o primeiro-ministro pisou o risco da ética do Estado e deve ser julgado pelos portugueses por isso. Não votei nele, nunca o elegeria confesso. Por isso acho que a bem da normalidade democrática a oposição deve cumprir a sua função e levar à pedra o primeiro-ministro.
Por muito menos, repito por muito menos, o Presidente da República Jorge Sampaio demitiu o então primeiro-ministro, Pedro Santana Lopes. Perante a aclamação da oposição [e de José Sócrates] com uma desvirtuada interpretação dos dispositivos constitucionais. Será que por agora se terem invertido as posições o raciocínio já não joga?

Ainda a entrevista de Sócrates...

Tal como esperava, a entrevista de Sócrates não trouxe nada de novo. O Primeiro Ministro até se foi safando e conseguiu demonstrar (a quem não esteja de má fé...) as suas habilitações. Não conseguiu – e isso também não era esperado acontecer- foi demonstrar que a Independente não lhe tenha facilitado a vida na obtenção da licenciatura... E esse aspecto, em minha opinião, nunca será cabalmente esclarecido, ficando à mercê da “fé” de cada um.
Daí a poder concluir-se que Sócrates perdeu a confiança dos portugueses e deve demitir-se ou ser demitido, vai uma grande distância! Só por cegueira política ( que nunca é boa conselheira) se pode ter essa pretensão.

Quem me conhece sabe que não nutro qualquer simpatia por Sócrates e sua “entourage” ( antes pelo contrário...) mas também não sou ingénuo, por isso percebo que logo a seguir à entrevista Marques Mendes tenha tido mais uma patética intervenção. Não deixou dúvidas a ninguém, que andou a reboque de Santana Lopes. Não caiu foi na “esparrela” de começar a pedir a demissão de Sócrates! Ele sabe que a direita portuguesa a quem Sócrates fez o favor de desbravar caminho, fazendo o “trabalho sujo” que ela não conseguiu quando esteve no Poder, está ansiosa de regressar ao activo, com Paulo Portas ao leme, mas dar cobertura a essa pretensão só o prejudicará a ele e ao PSD.
Aliás, MM já fez mais do que ele próprio gostaria. Toda a oposição desvalorizou o assunto da licenciatura de Sócrates ( só por parolice tipicamente portuguesa se empola a questão) por saber que, na realidade, esse é um “não assunto”. Se alguém for capaz de provar que foi feita com favorecimento, o caso mudará de figura, mas até lá o que fica no ar é apenas a ideia de que as licenciaturas “bolo-rei” não são exclusivas de José Sócrates. Infelizmente, há muitos exemplos de licenciaturas “à pressão”, e se calhar até andam aí alguns a construir pontes, a brincar à advocacia, em escritórios bem instalados em zonas nobres de Lisboa, ou a canalizar doentes para clínicas privadas, após detectarem doenças inexistentes.

RELEMBRO, porém, que Sócrates é “apenas” PM e não foi eleito por ser engenheiro. Como português, interessa-me que governe bem, resolva os problemas do País, não embarque em aventureirismos e se marimbe para as/os “santanettes”. (Era o que MM devia ter feito, mas não foi capaz de resistir ao desafio de Santana e “espalhou-se”, ficando a falar sozinho).
E, por muito que me custe admitir, a verdade é que Sócrates com toda a sua arrogância e teimosia, tem conseguido o que nenhum Governo nos últimos oito anos conseguiu: revitalizar a Economia, conter o défice e devolver alguma esperança e optimismo aos portugueses. Conseguiu-o com o sacrifício dos trabalhadores, dos mais desfavorecidos, e à custa de uma grande dose de insensibilidade social? Concerteza que sim e por isso mesmo é que não gosto dele...mas curiosamente aqueles que sempre defenderam estas medidas é que vêm agora pedir a sua demissão!
SEJAMOS SÉRIOS! O que o país precisa é de olhar para a frente, crescer e desenvolver-se, aproximando-se dos seus parceiros europeus, ser um país mais justo e equitativo. Defender a demissão de Sócrates, realização de eleições e um novo Governo, ou é miopia política ou um alheamento total da realidade do país. É claro que há uma terceira hipótese... em que curiosamente o PC e Santana Lopes coincidem. Para os comunistas, não há bons governos sem comunistas; para SL só serão bons os governos que ele integre. Para esses “peditórios” já dei!

Espero que seja "só" ironia!

Só posso entender como ironia o post do Arnaldo Gonçalves acerca da condenação dos jornalistas cujas notícias, APESAR DE VERDADEIRAS, mereceram a reprovação dos doutos juízes por serem inoportunas ou prejudicarem os visados.
Infelizmente, não consigo fazer ironia quando vejo a Justiça do meu país recuar a tempos que julgava não ter de voltar a viver. Espero, sinceramente, que o Tribunal Constitucional e o Tribunal Europeu profiram acórdãos que enxovalhem as mentes retrógradas, saudosistas dos tempos do Estado Novo, que gostariam de ver reinstalada a Censura e, quiçá, não desdenhariam a ressurreição da PIDE.
Aliás, ainda que veladamente, o Arnaldo também denota alguma nostalgia pelo facto de não poder ser ele a comandar as notícias... Ter-se-á perdido um bom elemento do SNI? E quanto a esse odiozinho de estimação aos bloquistas ( nos quais, esclareço para quem tenha dúvidas, não me incluo...) merece uma análise detalhada... talvez numa próxima oportunidade!

O beirão de quem todos gostam...artigo do DE de 11.04.2007




O Beirão de quem todos gostam…

À burocracia e às dificuldades, [...] ao tom cinzento e sisudo, opôs o Montepio o humor com uma assinatura.

Paulo Gonçalves Marcos

A utilização do humor na comunicação empresarial portuguesa não é fenómeno recente. Em plenos anos quarenta, o famoso Licor Beirão glosava com a situação política, com uma velada alusão a António Salazar, dizendo de si próprio enquanto bebida: “o Beirão que todos gostam...”. Talvez novidade seja a intensidade com que se recorre ao humor e a mediocridade dos resultados atingidos, em que notoriedade e vendas pouco se entusiasmam com tais tentativas. Quase que se pode dizer que poucos casos ficaram na memória dos consumidores: Vodafone e o par de roucos, Pedro Tochas e a água Frize, talvez Manuel João Vieira e o renovado Licor Beirão, Nuno Markl (que desta vez não morde o cão...) com os cafés Delta e Ricardo Araújo Pereira (”eles falam, falam e eu não os vejo a fazer nada...”) e o Montepio...

A última década do século XX e os primeiros anos da primeira década do século assistiram à expansão do Montepio, passando a corresponder a um verdadeiro banco de cariz universal. De uma presença física nas principais cidades e capitais de distrito, o banco passou a estar presente nos locais mais dinâmicos da economia e sociedade portuguesa. Internet e Centro de Atendimento Telefónico vieram complementar os canais de distribuição tradicionais. Apesar de uma tradição centenária de especialistas em crédito habitação, o Montepio estava a ser ultrapassado pela agressividade dos bancos concorrentes. Mais grave, os jovens casais e os compradores de casa com recurso a crédito não colocavam o Montepio na sua “lista de compras” como entidade financeira a considerar. Foi neste contexto que o Banco resolveu lançar uma nova campanha de crédito habitação, visando reforçar o seu posicionamento como especialista em produto tão complexo quanto o crédito habitação. Este, ‘quiçá’ o produto financeiro mais complexo de entre a gama de produtos financeiros destinados a particulares, tem uma série de exigências de cariz jurídico (contrato de mútuo, registos provisórios e definitivos, escritura de aquisição e de hipoteca, garantias pessoais, autorizações de preenchimento, etc) ou técnico (planta de localização do imóvel, caderneta predial, avaliação da fracção, vistoria de obras, etc) cujos sentidos escapam ao comum dos clientes. E foi neste contexto que o Montepio se resolveu posicionar como a antítese: à burocracia e às dificuldades, a especialização e a reputação. Ao tom cinzento e sisudo, opôs o Montepio o humor com uma assinatura. A graça que Ricardo Araújo Pereira foi capaz de transmitir ao seu personagem aliado ao ineditismo do centenário Montepio adoptar um registo de comunicação humorístico fez com que Portugal inteiro esperasse avidamente pelos blocos publicitários na televisão e na rádio. A oportunidade de ver ou ouvir mais uma vez fazia calar conversas nos cafés e restaurantes. Os ‘blogues’ encheram-se de comentários, o YouTube foi inundado de excertos dos anúncios televisivos e a Comunicação Social noticiou e glosou repetidamente com o tema. Enfim, o burburinho do passa-palavra a funcionar em toda a sua plenitude e o Montepio a conseguir a campanha mais eficaz e eficiente da sua história: o disparar da notoriedade e o aumento quase exponencial das vendas (de crédito habitação), com a quota de mercado de novos contratos a mais que dobrar face aos períodos homólogos do ano anterior. Ou seja, fartos de campanhas de bancos que procuravam submeter o cliente a uma enxurrada de informação (muito centrada na taxa de juro...) o Montepio ofereceu aos cidadãos portugueses uma alternativa bem melhor: boa disposição e humor. Sem surpresa, os concorrentes imitadores não têm conseguido repetir o sucesso do Montepio, que usufrui da ‘first mover advantage’ e do facto de ter capturado um posicionamento difícil de ser desalojado.

paulo.marcos@marketinginovador.com www.marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista, ‘marketeer’ e professor universitário

Mentiroso crónico

Ecos da entrevista de Sócrates na RTP, ontem:
"É falso", respondeu, dizendo que, quando abandonou o ISEL, enviou um requerimento ao reitor da UNI, Luís Arouca, a pedir equivalências, tendo obtido resposta a 12 de Setembro de 1995, "quando era deputado da oposição" e não membro do primeiro Governo de Guterres. Na entrevista, o primeiro-ministro foi confrontado com o facto de o ISEL só ter passado o seu certificado de habilitações um ano depois do prazo, a 08 de Julho de 1996, quando já se encontrava a frequentar a UnI.
Sócrates respondeu que o plano de equivalências lhe foi passado pela UnI com base "na boa fé" da informação que prestou naquela instituição de ensino superior privado.
"O procedimento dessa universidade [UNI] é igual aos outros. As cadeiras que tinha feito no ISEL foram depois confirmadas pelo certificado de habilitações do instituto. Já chega disto", desabafou, ao fim de cerca de 20 minutos de entrevista.
"A UnI só passou o meu certificado de habilitações depois de o ISEL ter passado o meu certificado, que confirmou a informação que antes havia prestado a UnI", justificou.


Sócrates é um caso mais grave que aparentava. Mais que um vulgar mentiroso, Sócrates é um mentiroso crónico. Imagina razoabilidade de explicações onde elas não existem. Qualquer mortal teria vergonha de dizer o que ele proclama. Acha-se acima da justiça e do julgamento dos outros. E acha-se infalível. Não sei se é regra a política dar volta aos políticos portugueses depois de se sentarem, algum tempo na cadeira do poder, mas este é mais um exemplo de cabotinismo, irrazoabilidade, indecência e falta de vergonha na cara. Depois de Guterres e Santana Lopes mais um cromo que vive no espaço sideral à espera que nós o adoremos como um OVNI.
Não tenho à mão o Código Penal português e não me lembra de cor se há na lei portuguesa a figura do empeachment de titulares de cargos políticos mas este caso tem todo o balanço para isso.
Diz o artigo 191.o da Constituição:
"O primeiro-ministro é responsável perante o Presidente da República e, no âmbito da responsabilidade política do Governo, perante a Assembleia da República"
Diz o art.o 195.o da mesma:
"Implicam a demissão do governo: [...] b] a aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro". E ainda:
"O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado".
Sendo de presumir que na sua inabalada vaidade o primeiro-ministro nunca pedirá a demissão está devolvido o poder de demitir ao Sr. Presidente da República. Percebendo a leitura de Cavaco Silva faz dos seus poderes presidenciais ele nunca o fará se não ouver uma iniciativa da oposição nesse sentido.

A questão que começa a queimar todos os lábios é: que está Marques Mendes à espera?

Vão-se a eles, tareco, bobby!

Como é evidente o Carlos Oliveira está completamente equivocado. O juíz fez muito bem em condenar os jornalistas por difamação ao Sporting. Ninguém inventa em seu bom-senso uma dívida ao meu club de predilecção sem levar na cabeça. Como diria o Dr. Jorge Coelho quem se meter com o PS...desculpem com o SCP leva na cabeça! Mas quem são eles? Os jornalistas?

Essa raça destemperada? Mas porque é que eles não se tornam verdadeiramente úteis e em vez de inventar histórias da carochinha não falam e escrevem o que é importante. É preciso que os blogs peguem nas histórias e malhem nelas para que um jornalista num dia solarento ou numa segunda-feira estúpida pegue na história. Afinal a história da engenharite aguda do PM Sócrates já andava nos blogs há séculos. Porque não escavam na decisão de construir um aeroporto na OTA e perguntam, por exemplo, o que é o Dr. Almeida Santos tem a ver com o imbróglio? E porque é que a senhora de Salvaterra de Magos está metida até às orelhas numa história de empreitadas mal adjudicadas e porque é do Bloco de Esquerda os esquerdalhos jornalistas do Bloco e amigos destes andam calados que nem uns ratos?
Ou porque o Dr. Marques Mendes anda calado com estas broncas do governo quando lhe cabia malhar enquanto as aldrabadas do governo estão quentes? E porque é que certos comentadores ajornalados emitem opiniões consoante os clientes que têm e as acções que patrocinam?
Porque é que não se fazem verdadeiramente úteis em vez de choramingar como umas madalenas?



quarta-feira, 11 de abril de 2007

Está perigoso ser jornaista!

As jornalistas Célia Rosa e Isabel Stilwell, da Notícias Magazine, foram condenadas por um tribunal de Braga. Não por terem escrito um artigo difamatório ( o tribunal reconheceu que os factos eram verdadeiros), mas sim porque o juiz considerou que o artigo violava os “princípios da adequação e da proporcionalidade”.
Confusos? Então tomem lá mais esta. José Manuel Fernandes e o “Público” foram também condenados pelo STJ, a pagar uma indemnização de 75 mil € ao Sporting, por terem noticiado que o clube devia ao Estado, desde 1996, 460 mil contos.
E foram condenados porquê? Porque a notícia era falsa? Não! Mais uma vez o tribunal reconheceu a veracidade da notícia mas considerou esse facto irrelevante!.A razão da condenação ficou a dever-se ao facto de os juízes terem considerado que a notícia punha em causa o bom nome e reputação do Sporting.
Como jornalista, confesso que estou a pensar seriamente em mudar de profissão, pois não estou disposto a ser obrigado a ter de consultar um juiz, antes de publicar uma notícia, para lhe perguntar se está de acordo com ela, ou se no seu douto entendimento, apesar de ser verdadeira, prejudica alguém. Assim vai o jornalismo em Portugal, país democrático e com liberdade de expressão! O facto de uma notícia ser verdadeira não interessa nada, o importante é que não prejudique ninguém! Ressalve-se, porém, que tanto o tribunal de 1ª instância, como o Tribunal da Relação tinham, anteriormente, negado provimento à queixa apresentada pelo Sporting, dando razão ao “Público”.

E foi bem feito!...

O Ministro da agicultura quer que TODOS os agricultores portugueses passem a pedir os seus subsídios através da Internet. Esta e outras medidas que vem tomando fazem-me acreditar que Jaime Silva não conhece o país em que vive. Presumo mesmo que tenha aterrado em Portugal na véspera da sua tomada de posse, proveniente de algum lugar extra-terrestre.
Ontem, os agricultores decidiram mostrar o que pensam dele. Durante a cerimónia de apresentação do Plano de Desenvolvimento Rural, realizada em Portalegre , abandonaram a sala no momento em que Jaime Silva ia começar a falar. O ministro ficou a falar sozinho e foi bem feito. Não é que seja coisa a que não esteja habituado, pois também tem sido sozinho que vem tomando as medidas para o sector, mas às vezes é aconselhável “dar um abanão” a quem manda, para ver se é capaz de descer à Terra.

Benditos vícios

Numa altura em que a frenética campanha anti-tabágica “made in USA” varre a Europa e ganha novos contornos em Portugal, graças a uma Lei irracional e com possibilidade de aplicação duvidosa, eis que da terra do tio Sam vem a notícia de que afinal o tabaco até pode ser benéfico.
Com efeito, um estudo realizado na Universidade da Carolina do Norte concluiu que os fumadores têm menos probabilidades de desenvolver a doença de Parkinson. Os mesmos cientistas descobriram propriedades idênticas na cafeína, pelo que decidi regressar à prática (que havia abandonado há uns tempos) de beber um café e fumar um cigarro no final das refeições.
O mais curioso, é que na mesma altura em que este estudo era divulgado, chegava às redacções notícia de um outro, efectuado na Alemanha, onde são enaltecidos os efeitos benéficos do chá e do chocolate para reduzir a hipertensão. Como ambos os estudos estão publicados em revistas científicas americanas, vou levá-las ao meu médico, na esperança de que ele me autorize a retomar os velhos vícios que me proibiu de manter.

Wen Jiabao em Tóquio

O premier chinês chega a Tóquio depois de visitar a Coreia do Sul. É a primeira visita de um PM chinês em sete anos. O sete é um número de bom presságio, pelo menos na numerologia. Indica a perfeição a obra bem concertada. Meus senhores vamos falar com sinceridade, sem retórica vazia e contraproducente? A guerra já foi há 70 anos. Nenhum dos senhores soube o que ela foi, só pelo que lhe contaram. As mulheres "de aluguer" têm hoje 80/90 anos e o tempo já não volta para trás. Vamos pôr uma pedra nos maus fígados e nos orgulhos feridos? Boa disposição acima de tudo!

terça-feira, 10 de abril de 2007

As taxas de juro

Escreve o meu companheiro de blogue Carlos Oliveira que considera estranha a declaração de Jean Claude Trichet em que o presidente do BCE diz que as taxas de juro vão continuara subir porque a taxa de desempego na zona euro desceu. Ora, para percebermos esta declaração temos de ter em conta que o BCE é por norma bastante ortodoxo na sua missão esencial: manter a estabilidade dos preços. Trichet parte do pressuposto que estando as taxas de desemprego mais baixa haverá mais redimento disponível na soceidade para consumir o que poderá colocar alguma pressão na subida dos preços. Por outro lado, estando num ciclo ascendente de crescimento económico, não é necessário descer o preço do dinheiro para estimular o consumo. No fundo o que nos falta aqui nesta declaração saber é o valor da inflacção na zona euro. Em Março deste ano ainflacção na zona euro foi de 1.9 por cento, ainda abaixo da zona de alerta: 2 por cento. Mas superior a 1.8 por cento registado em Fevereiro.
O controlo da inflacção é a regra de ouro de acção do BCE e não necessariamente a promoçáo do crescimento económico.

Importa-se de repetir?

Ouvi esta manhã, na TSF, que o Presidente do Banco Central Europeu (BCE) terá afirmado que era necessário continuar a subir as taxas de juro, porque as taxas de desempregos estavam muito baixas...
Eu não sou economista, mas gostava muito que alguém me explicasse esta lógica. Será que a Economia se fortalece à custa de altas taxas de desemprego? Se assim for, reforço a minha convicção de que é uma ciência parasitária, mas por agora fica-me outra dúvida. O Presidente do BCE ainda é o sr. Trichet? Parece-me que sim, pois este discurso cheira-me mesmo a batota...

Economia mundial para onde vai?

Segundo a imprensa os riscos sobre a economia mundial diminuíram nos últimos seis meses, de acordo com informações do director-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), num discurso em Washington.
«Não penso que os riscos sejam agora maiores do que há seis meses; penso até que diminuíram», afirmou Rodrigo Rato. No entanto estes riscos são agora «diferentes» e há uma grande tomada de consciência da sua existência.

Tem lugar esta semana a reunião de Primavera do Banco Mundial. Na quarta-feira, o FMI divulgará as suas previsões de Primavera de crescimento das maiores economias internacionais, esperando-se que o abrandamento dos EUA se faça sentir nos seus parceiros.

Timor-Leste - eleições

Diz a TSF:
Dados informais recolhidos durante as eleições presidenciais, em Timor-Leste, avançam que o independente Ramos-Horta estará a frente em sete dos 16 distritos eleitorais, entre eles os dois maiores, Dili e Baucau.

Será curioso perceber o resultado deste despique Xanana-Fretlin.

segunda-feira, 9 de abril de 2007

Haja decência

Ministro do Ensino Superior encerra provisoriamente Universidade Independente diz a imprensa, replicando despacho publicado no Diário da República. O primeiro-ministro continua mudo e calado e era bom que desse explicações ao país.

A “Lei Seca” de Hugo Chavez

Hugo Chavez proibiu os venezuelanos de beberem em público durante a Semana Santa, alegando que “o homem moderno tem que se livrar dos vícios antigos para ser forte”.
O fundamentalismo do líder venezuelano não é virgem no mundo ocidental. Também por cá, o Governo decidiu dar azo à sua veia fundamentalista, com uma lei “anti-tabágica” que só não faz rir, porque mete dó!
Entre as pérolas da nova lei, destaca-se a proibição de fumar nas prisões, nos lares de idosos, e nos serviços públicos, ou a interdição de fumar a menores de 18 anos.
Na sua cruzada anti-tabágica, o legislador não se esqueceu de prescrever coimas entre os 50 e os 10 mil euros para os infractores.
Ficamos assim a saber que um preso pode injectar-se na sua cela, mas lhe está vedado fumar um cigarro, que um menor de 18 anos pode beber “shots” a 1 € nas discotecas , mas não pode puxar de um cigarro, que um velho à espera dos seus últimos dias num Lar não tem direito a um cigarro e que um funcionário público terá que abandonar o seu trabalho e vir até à rua dar a sua “ passa”.
O Governo não esclareceu se o facto de um funcionário público ser fumador constitui critério suficiente para ser colocado na lista de disponíveis, mas não é crível que isso suceda, pois para além de haver muitos dirigentes fumadores e de vários deputados terem já avisado que não será possível aplicar a lei na AR, o próprio Primeiro Ministro ( que também gosta de dar a sua “passa” ) permite o fumo livre durante os voos que efectua nas suas deslocações, sem ter em consideração que a bordo viajam não fumadores.
O fundamentalismo é inimigo das boas práticas, por isso não é de espantar que Keith Richards, a viver num país com legislação anti-tabágica muito restritiva, tenha confessado, numa entrevista, que snifou as cinzas do próprio pai...

O regresso dos abutres

Ciclicamente a cena repete-se. Assim que a RTP sobe nas audiências e deixa para trás o canal de Pinto Balsemão, alguns abutres do PSD saem a terreiro reclamando a privatização do canal público de televisão. Desta feita, sem respeitar a contenção aconselhável ao período pascal, foi o deputado Agostinho Branquinho -especializado em denúncias de pressões do Governo sobre a Comunicação Social (vários jornalistas “pressionados” já vieram afirmar terem sido idênticas às tentadas pelo PSD quando era Governo)- que serviu de porta-voz dos interesses de Balsemão.
Fica mal ao PSD entrar nesta guerra, pois não está a defender o seu programa, mas sim interesses particulares do seu militante nº1.
Os portugueses ainda recentemente escolheram a RTP como a marca de mais confiança na área da comunicação social, e todos os dias elegem o Telejornal e o Jornal da Tarde como os noticiários da sus preferência, ao conferir-lhes desde há muitos meses a maior fatia de audiências e de share. O PSD sabe-o muito bem, pelo que vir a público reclamar a privatização da RTP, num período em que as audiências da SIC estão em queda, só lhe fica mal.
Se a SIC quer recuperar o seu estatuto de segundo canal mais visto pelos portugueses, então que lute por isso, oferecendo-lhes bons programas em vez de telenovelas em série. Mas se Balsemão fica mal em todo este enredo, Marques Mendes também não fica bem na fotografia. O que os portugueses esperam do PSD é que faça uma oposição credível, que congregue o seu descontentamento face a algumas medidas do actual Governo, e não um partido que erege como bandeira a defesa dos interesses económicos de um dos seus militantes. Essa atitude faz lembrar a muitos portugueses, a trama de um filme de Nanni Moretti ( O Caimão) em exibição nas salas portuguesas.

Carmona Rodrigues: pouco riso e pouco siso!

Os “Gato Fedorento” decidiram satirizar o cartaz xenófobo do PNR ( a que fiz referência noutro post), colocando ao seu lado um outro em que dão as boas vindas aos imigrantes, porque – alegam- “com os portugueses, isto não vai lá”.
Meio país riu-se “a bandeiras despregadas” com a iniciativa, suportada financeiramente pelos próprios “Gatos”, mas a boa disposição durou apenas 24 horas, porque a edilidade lisboeta parece ter pouco sentido de humor.
Carmona Rodrigues e um acólito vereador de nome Proa apressaram-se a sair a terreiro, exigindo a “imediata retirada do cartaz” por se tratar de publicidade não autorizada.
A mesma edilidade que não viu qualquer problema em autorizar o cartaz da extrema-direita portuguesa e que há um mês , numa operação de folclore decidiu retirar a publicidade no eixo Av República/ Terreiro do Paço ( ainda hoje me interrogo porque razão não a retira das outras ruas de Lisboa...) fazendo cumprir uma lei que data de 98, mas a que sempre fechou os olhos, mostrou-se célere em mandar retirar um cartaz humorístico que revela, antes de mais, um grande espírito de cidadania e responsabilidade social de um conjunto de actores que, do seu bolso, pagaram um cartaz que pretendia ridicularizar a xenofobia de um partido que sobrevive à custa do dinheiro dos contribuintes.
É bom esclarecer que não há nenhum preceito legal que permita inferir que o cartaz seja publicitário. A atitude de Carmona Rodrigues revela apenas grande insensibilidade, prepotência e falta de sentido de humor ( já que não acredito que tenha cedido a ameaças da extrema-direita, idênticas às sofridas por Ricardo Araújo Pereira que passou a ter que andar sob escolta). São estas atitudes irracionais e genoflectórias, que tiram o sorriso aos lisboetas e os fazem ansiar um novo elenco a dirigir os destinos da cidade. Carmona já não tinha autoridade moral para estar à frente da CML, depois das cenas rocambolescas com a EPUL, a Bragaparques, os licenciamentos de obras como as da Infante Santo, etc, etc, etc. Agora, perdeu também o respeito dos munícipes. Só mesmo Marques Mendes o mantém de pé.

Há 5 anos começou o derrube do regime de Saddam


Sócrates segundo "O Expresso"