sexta-feira, 9 de março de 2007

Bush no quintal da América

George Bush iniciou ontem um périplo por cinco países da América Latina. O DN classifica a visita como uma “operação de charme contra Chavez”. Permito-me discordar, por duas razões . Em primeiro lugar, porque Hugo Chavez não é a única preocupação de Bush na América Latina; Evo Moralez na Bolívia e mesmo Lula, no Brasil, são outros líderes sul americanos que, juntamente com outros de menor expressão, põem problemas aos Estados Unidos. Em segundo lugar, Bush cometeu um erro na sua ronda, ao deixar de fora a Argentina. Néstor Kirchner é um moderado que ressuscitou a Argentina de um colapso económico sem precedentes, conseguindo em cinco anos voltar a colocar a pátria azul-celeste no top dos países em crescimento na região. Não morrendo de amores pelos EUA, mas longe de ser hostil, o presidente argentino terá levado a mal este “esquecimento” , por pensar que merecia receber Bush em Buenos Aires e aliou-se a Chavez na promoção das acções de contestação à agenda da visita, que começaram assim que Bush aterrou em S.Paulo É óbvio que esta aproximação tem apenas algo de circunstancial, pois Kirchner está a léguas de distância das posições de Chavez. No entanto, a realização de eleições na Argentina, em Outubro, levou-o a tomar uma iniciativa que agradasse às aguerridas organizações de esquerda de cujos votos precisa para ser reeleito. Mas a verdade, é que uma ida de Bush a Buenos Aires poderia ser mais prejudicial do que benéfica para as pretensões do presidente argentino em ser reeleito...
A visita de Bush tem, essencialmente, dois objectivos. O primeiro é económico: Bush fez uma inflexão quanto à política ambiental , deixou de manifestar hostilidade ao Protocolo de Quioto - tendo até ensaiado uma aproximação às teses consensuais-, e precisa de fazer uma aposta consistente nos bio-combustíveis. O etanol é uma das propostas mais apetecíveis e o Brasil o maior produtor deste produto. Por outro lado, o Brasil pode ser a porta ideal para implementar, na América Latina, a agenda de Doha. Só que Lula pretende contrapartidas e não é líquido que Bush esteja disposto a conceder-lhas...
O segundo objectivo é político: uma das apostas de Bush, em 2000, era uma aproximação à América Latina, que os atentados de 11 de Setembro não terão permitido concretizar. Pelo contrário, adensou-se o clima anti-Bush que se vive na maioria dos países sul americanos e que estão bem expressos no “efeito dominó” que a eleição de Chavez na Venezuela fez alastrar a outros países da região. A política americana em relação aos seus vizinhos do Sul tem sido sempre de oportunismo e arrogância. A eleição conturbada de um pró americano no México deu oportunidade a Bush de ( ali sim!...) fazer uma operação de charme que minorasse os efeitos da sua política anti-imigração. A agenda é a mesma para a Guatemala, mas quanto ao Uruguai e Colômbia, a visita de Bush tem apenas como objectivo reforçar “velhas causas” dos americanos: o combate ao tráfico de droga e a assinatura de acordos comerciais onde os americanos ficam sempre com a febra e os sul americanos a roer os ossos. Portanto, salvo qualquer surpresa de última hora, ( quase) nada de novo se espera da visita de Bush aos seus vizinhos do sul. Mas, pelo menos durante alguns dias, o presidente americano pode desviar as atenções do Extremo Oriente( onde tudo parece estar cada vez mais complicado para os americanos) para outra região do globo, apresentando-se com uma nova postura que lhe permita recuperar um pouco a imagem, junto da opinião pública interna e mundial.

Leituras de fim-de-semana


Russia's Cold-War Bluster na Newsweek International

The west must set a strategy for a resurgent Russia, Anatol Lieven, no Financial Times

De neutralidades y delirios, Manuel Rico no El Pais

The brotherhood is gathering outside the pharaoh's palace, Timothy Garton Ash, no Guardian

Conservatives: The backdrop of prejudice, no Independent

Les incertitudes du couple franco-allemand, Thomas Ferenczi, no Le Monde

A Different Kind of Great Game, Paul McLeary, no Foreign Policy

Al Gore’s Outsourcing Solution, Gregg Easterbrook, no New York Times

Fecha-se o capitulo definitivo

Nova Lei do Aborto aprovada no Parlamento, aqui.

Instantes do quotidiano I


O jornalista e o sigilo das fontes

Um artigo excelente de Anthony Lewis no International Herald Tribune a propósito do julgamento de Lewis Libby Jr, o chefe de gabinete do vice-presidente americano e a questão da violação da confidencialidade das fontes, um dos problemas quentes do sistema judicial e constitucional americano.

The remedy in such a civil case [journalists having an absolute privilige to testify] is not to put reporters in jail in order to force them to testify. It is, rather, to make the press pay for the injury it caused. That is what actually happened in the Wen Ho Lee cae. Five news organizations, includint The New York Times, agreed to pay Wen Ho Lee $750,000 - which they said was not to compensate for his injury but to protect their journalists and ten right to confidental sources. The journalists contributed $895,000 toward Lee's legal fees. [...]
O resto aqui.

Henrique Granadeiro numa entrevista bombástica

(...) Não temos nada a alterar na nossa posição. Nós somos a entidade regulada. A Autoridade da Concorrência é a entidade reguladora. Temos o maior respeito pelos reguladores e tudo faremos para que eles se afirmem e consolidem a sua autoridade na organização do sector. Não escondemos que todo o processo prolongado por que passámos não contribuiu muito para a credenciação e para o reforço da autoridade desses reguladores, mas espero que eles corrijam a trajectória. A eles compete-lhes ser reguladores, a nós compete-nos ser regulados. Porém, nós não aceitamos visões sacralizadas e infalíveis sobre a função do regulador. As decisões dos reguladores são respeitáveis e serão respeitadas, da nossa parte, mas não são indiscutíveis e não são irrecorríveis. Portanto, sempre que for possível manter o quadro de cooperação institucional em que nós sempre trabalhámos, muitas vezes sem reciprocidade, trabalharemos até à exaustão nesse quadro de cooperação institucional. Mas quando não estivermos de acordo, naturalmente que não deixaremos de recorrer para as instâncias de recurso que existem na nossa arquitectura jurídico-constitucional. (...)

A entrevista do CEO da PT ao Jornal de Negócios desta semana é um exercício de inteligência e de política. Num combate muito difícil cujo insucesso lhe parecia vaticinado, Granadeiro conseguiu dar volta às cartas. Não há na política, nem na vida, vencedores à partida. A surpresa continua a ser [dizia Sun Tze] o ingrediente fundamental dos combates. Pela minha ligação de três decénios ao sector não posso deixar de cumprimentar o político e o líder da PT. Pelo invulgar discurso, claro e incisivo, sem meias-tintas, pela determinação e por não virar a cara ao combate. Capitães de indústria do Norte. Pois é. Não basta aparentar César para veni, vidi et vinci.

quinta-feira, 8 de março de 2007

Kim il Sung em Lisboa?

Pelo menos é o que parece, quando percorremos as ruas de Lisboa... tal a avassaladora profusão de fotografias de Sócrates nos MUPI . Iniciativa do Governo, para projectar a imagem do grande líder? Bem, parece que não... porque as fotografias que se vêem servem de suporte à publicidade de uma revista ( recuso-me a dizer o nome, para não ajudar à festa) que anuncia a publicação da “História da vida de José Sócrates como nunca foi contada”. Mas, no momento em que cresce a contestação social e se acaba de assistir na passada sexta- feira à maior manifestação de que há memória nos últimos anos ( 150 mil pessoas, de acordo com a PSP), o facto de a revista escolher o tema Sócrates para promoção dá que pensar! Ainda por cima, porque se trata de uma revista que já está bem implantada no mercado e tem vindo a aumentar o número de leitores...
Não sei porquê, vem-me à memória o livro de Margarida Rebelo Pinto ( que tive o prazer de não ler) “Não há coincidências”.

Foi bonita a festa, pá!

A festa dos 50 anos da RTP durou até às tantas e foi uma festa bonita. Não cedeu a RTP ao recurso fácil à nostalgia; preferiu evocar memórias, como ponte para um futuro que se inicia hoje,em estúdios equipados com alta tecnologia. E quanto ao futuro estamos conversados. Há ali gente de grande qualidade e com ideias, que não se acomodará à fórmula de competir com os restantes canais generalistas utilizando as mesmas receitas medíocres. Entre os programas da nova grelha, recomendo desde já o "Portugal Social" de António Barreto.
Nas últimas semanas a RTP tem subido nas audiências de forma consistente, sem recurso a programas de êxito fácil, como os "reality shows". Nos últimos quatro dias liderou sempre as audiência e,ontem, arrasou a concorrência, apesar de a TVI ter tentado, com um programa de Filipe La Feria que deu cabo do trânsito em Lisboa, fazer-lhe frente. Mas enquanto a RTP obtinha 42,2% de share, o Programa da TVI "As 7 Maravilhas de Portugal" quedava-se pelo 5º lugar. Devagar, devagarinho, a RTP vai incutindo novos hábitos aos portugueses.E lembrar que a equipa então nomeada por Morais Sarmento foi tão criticada há uns anos atrás! Feitos os ajustamentos necessários (parece ter finalmente prevalecido o bom senso e a ideia de entregar o Canal 2 à sociedade civil foi abandonada) aqui está a RTP de novo pujante e a ombrear com a concorrência, mesmo sem ter o privilégio das transmissões dos jogos da Liga Portuguesa de Futebol. Apostou na produção nacional e está a fazê-lo bem e com sucesso.Força RTP!

Piazza di Mare, ou um final de tarde aprazível à beira rio

As temperaturas em Lisboa começam a roçar os 20 graus Celsius. Os dias estão, quase subrepticiamente, a alongar...
Tempo para começar a procurar um local junto ao rio, com vista ampla.
Bom ambiente, caras giras, comida aprazível.

Por isso gosto do Piazza di Mare. Com o senão de a comida ser apenas de inspiração italiana, o que por vezes é algo fatigante, em especial se alvo de hábito.
E tem tb a melhor esplanada de Lisboa, ideal para uma salada ou um copo apenas.
O preço, algo agressivo, selecciona e torna restrita a procura. A lei da procura e da oferta, simply speaking...

quarta-feira, 7 de março de 2007

Memórias

Debato com o amigo João Carlos Matias na Rádio Macau, no próximo sábado 10 de Março, as leituras possíveis do convénio anual da Assembleia Nacional Popular, o parlamento [soi-disant] chinês. O discurso do premier Wen Jiabao deixou pistas interessantes para aprofundar e não resistirei, seguramente, às "provocações' do JCM. As 3 fotografias que ele inclui no post anterior são espelho de um país de contrastes, entre o formalismo da encenação política [na ANP] e o instante da Praça Tiananmen e do vendedor de jornais. Também para comentar o post do Carlos Oliveira estas são parte das minhas referências e das referências da minha geração. Sonhámos, então, com todas as utopias realizáveis na terra e que o comunismo poderia ser "a tal". Como todas as construções teóricas de reegenharia completa fracassaram porque eram irrealizáveis; porque é impossível refazer toda a sociedade, de cima abaixo, eliminar a alienação do homem e as desigualdades, pelo mero entoar de uma ideologia ou de um slogan. Não há amanhãs cantantes; não existe o tal homem novo da mitomania rousseauniana. Apenas homens com defeitos e qualidades, mais vezes predestinados à violência e ao egotismo do que à solidariedade com os pobres e os mais desfavorecidos. Ha gente que sob o mote da igualdade criou um sistema profundamente desigual e injusto e se catapultou a árbitro inelutável do jogo do poder. Sem comiseração e sem piedade. Os cemitérios estão cheios das suas vítimas.
Mas foi bom imaginarmos essas utopias e tirarmo-nos do aconchego para vivermos a vida. Sem risco, sem aventura, a vida não teria merecido ser vivida. A geração de Woodstock [se me for permitido designá-la assim] viveu tudo isso, com paixão, com muita irreflectude, mas valeu a pena. Somos hoje, acomodados ao consumismo reinante, mais ricos pelo menos pelas memórias que partilhamos.
A RTP faz parte das nossas memórias, Carlos, é verdade. E ainda bem que temos memória. Como diria o Garcia Marquez quando chegar a minha hora gostaria que o meu epitáfio dissesse algo do género "confesso que vivi", sic.

Instantes de Pequim



Parabéns RTP!

A RTP celebra hoje o seu 50º aniversário. Devo confessar que lhe estou muito grato, pois foi com ela que cresci e aprendi a ver o mundo para além do espaço limitado de um país que permanecia envolto na redoma salazarista. È certo que as notícias que me dava, sempre vigiadas por uma Censura bolorenta, retratavam um país inventado nos gabinetes de um poder apodrecido. Mas foi com a RTP que “convivi” com Vitorino Nemésio e João Villaret, que me ajudaram a imaginar mundos que me estavam vedados. A RTP foi o Estado Novo, mas também foi o 25 de Abril. Foram as “Conversas em Família” de Marcelo Caetano, mas também os discursos inflamados do PREC. Foi a divulgação do nacional cançonetismo, mas também da canção libertadora “E depois do Adeus”. Foi palco de ícones do Estado Novo, mas também de Ary dos Santos ou José Mário Viegas. Das “Melodias de Sempre”, mas também do “Zip-Zip”.
A RTP é a grande memória de Portugal nos últimos 50 anos. Fez-me rir e chorar, ajudou-me a ir à Lua e fez-me sonhar, porque foi a verdadeira “fábrica de sonhos” da minha geração.

terça-feira, 6 de março de 2007

Serviço público

NOTA: Sempre que se julgar útil publicaremos aqui [total ou parcialmente] artigos da imprensa escrita que entendermos interessantes para matéria em debate. A política miserabilista do jornal Público,restringindo aos subscritores o acesso às colunas de opinião,impede que aqui deixemos um link de derivação. Já Paulo Gorjão [Bloguitica] se referiu há algum tempo a esta questão considerando-o um erro e falta de visão do director do Público, José Manuel Fernandes. Não é propriamente assim que se cativam leitores. Desculpa aos leitores pela mancha.

X--X--X
O pecado, ida e volta, 06.03.2007, Rui Tavares

Haverá alguma correspondência, como sugeriu ontem Helena Matos, entre os profetas religiosos que declaravam que as catástrofes naturais eram provocadas pelo pecado e aqueles que hoje identificam causas humanas nas alterações climáticas? Poderá considerar-se que a crença numa e na outra coisa é "uma atitude igualmente supersticiosa"? Será legítimo concluir que "onde uns colocavam a vontade de Deus coloca-se agora o equilíbrio da Terra"? Tomemos os exemplos do padre Gabriel Malagrida, aqui lembrado pela minha parceira de pingue-pongue, e Al Gore, o mais conhecido dos activistas das alterações climáticas. O primeiro insistiu, até ser queimado na fogueira, que o Grande Terramoto de 1755 fora provocado "unicamente pelos nossos intoleráveis pecados"- por exemplo, a troca de bilhetinhos de namorados durante as missas. O segundo vem defendendo que as emissões de CO2 têm responsabilidade nas alterações climáticas. Nessa perspectiva, podemos dizer que Helena Matos tem razão. Há sim uma certa correspondência: ambos defendem uma causa para um efeito. Ambos defendem uma causa humana para um efeito natural. Um cínico poderia acrescentar isto: a diferença é que um está errado e o outro certo. Pelo menos à luz dos conhecimentos actuais, a troca de bilhetinhos na missa não provoca terramotos, ao passo que o aumento de CO2 na atmosfera provoca efeito de estufa. Talvez seja demasiado fácil, porém, lembrar que a explicação de Malagrida depende de Deus, sobre cuja existência não há certezas, e a de Al Gore parte do planeta Terra, que é uma coisa que se não existe imita muito bem. Procuremos então outras diferenças entre Malagrida e Al Gore. A primeira que salta à vista é: Malagrida só falou depois de o terramoto ter ocorrido, o que o diminui até um pouco como profeta. Al Gore tem vindo a falar nas alterações do clima antes de elas se tornarem mais enfáticas e apresenta cenários para o que pode vir a suceder no futuro. As suas previsões serão verificáveis e, caso o não sejam, a sua teoria será desacreditada. Ao colocar-se na balança da opinião pública e dos factos, o discurso de Al Gore está no plano da responsabilidade colectiva e não do pecado. Além disso, não creio que o discurso ecologista trate de um "castigo que foi de Deus e agora é da Terra", como diz Helena Matos. Qualquer cientista aprendiz sabe que não se deve personificar um planeta (se caem na candura de perguntar "porquê?", costuma responder-se-lhes: "Porque o planeta não gosta"). Ora, a Terra não castiga; reage apenas. É-lhe indiferente se na sua reacção inunda uma cidade, devasta uma civilização ou acaba com a espécie. Foi isto que levou Voltaire, logo após 1755, à conclusão de que a natureza era amoral. Na altura, um Rousseau tão ingénuo quanto teimoso não podia aceitar esta ideia e escreveu que o problema era os lisboetas terem feito uma cidade numa zona de risco sísmico. Naturalmente, quando se vive a céu aberto nunca nos cai a casa em cima. Encontro ecos deste Rousseau em Helena Matos quando culpa as casas construídas na Costa da Caparica pelo mar galgando as arribas. Não que isto esteja completamente errado: o tipo de construção agrava certamente o problema. Mas porque para confirmar a subida das águas dos mares à escala global basta consultar fotos aéreas das costas oceânicas, algumas delas em áreas sem construções da África ou da América do Sul. Ora não é bom fingir que se ignora estas coisas. Até porque a ignorância fingida, como ensina a Bíblia, é pecado.
Historiador

Al Gore again ( naturally!)

Está desvendado o mistério! Como adiantara num post a propósito da vinda de Al Gore a Portugal em Fevereiro, parecia-me saber a razão que levara à proibição da entrada de jornalistas durante a Conferência que proferiu no CCB. A resposta aí está: amanhã, Al Gore regressa a Portugal para proferir mais uma conferência , desta feita no Pavilhão de Congressos do Estoril. Quem quiser ver e ouvir este lídimo palestrante da causa ambientalista, no seu “show” de uma hora, terá apenas que desembolsar a módica quantia de 1200€ ( leram bem, são mesmo MIL E DUZENTOS euros!). Eu , claro, gostaria de lá ir mas, por dever profissional, à mesma hora terei que estar nos novos estúdios da RTP, que serão inaugurados pelo Presidente da República. Alguém me ajuda a desmaterializar-me?

Tão mentirosos que nós somos!

Um inquérito realizado pelo Eurobarómetro concluiu que os portugueses são dos povos que mais se preocupam com as alterações climáticas!Mais... de acordo com o inquérito, as alterações climáticas e o aquecimento global são as duas grandes preocupações para 65% dos portugueses, o que nos coloca no quinto lugar da tabela classificativa dos mais conscientes em termos ambientais. Dá vontade de rir, mas acima de tudo leva-me a pôr em causa a fiabilidade dos estudos do Eurobarómetro. No dia a dia vemos os portugueses a cuspir para o chão e deitar o lixo onde calha; vamos à praia e ficamos horrorizados com os cadáveres de frangos e sardinhas espalhados pela areia, fazendo companhia a pacotes de batatas fritas, garrafas de refrigerantes e uma parafernália de DNI ( dejectos não identificados); entramos em alguns prédios cuja iluminação feérica à entrada nos anuncia de imediato que ali vive gente que não olha a custos;no Natal as autarquias gastam desmesuradamente em iluminações (O caso da falida Câmara Municipal de Lisboa que há dois anos consecutivos exibe sem qualquer vergonha a árvore de Natal mais alta do mundo é paradigmático: somos gastadores, saloios e inconscientes);em pleno Verão, assistimos durante dias a desperdícios de água, jorrando de uma qualquer sarjeta na rua; as casas são mal calafetadas, provocando um aumento desmesurado do consumo de nergia; toda a gente , quando compra um carro, quer ar condicionado,(será que os portugueses pensam que vivem num paraíso tropical?); todas as semanas lemos que a GNR apanhou um Ministro ou um deputado a conduzir numa auto estrada a mais de 200kms/hora; temos um Governo que criou os já célebres PIN( Projectos de Interesse Nacional) para poder justificar a autorização de construção de megalómanos projectos turísticos em terrenos da Rede Natura...
Não acham que são exemplos suficientes de má conduta ambiental, que põem em causa os resultados hoje divulgados em Bruxelas pelo Eurobarómetro? Das duas uma: ou o Eurobarómetro errou, ou então somos todos muito mentirosos!!!

Obrigatório proibir 2- As pipocas

Em post anterior procurei fundamentar a razão porque veria com bons olhos a proibição do uso de telemóveis nos restaurantes.
Após a aprovação da lei antitabágica, que entrará em vigor em 2008, ocorreu-me que
outra campanha proibicionista que viria a calhar era contra as pipocas. Aviso já que sou consumidor/ apreciador do produto, mas nos locais próprios: nos bares e discotecas, numa esplanada, em feiras e arraiais e em casa. Agora em salas de espectáculos é que não me convencem a consumi-las e defendo desde já a proibição do seu consumo nas salas de cinema portuguesas. Para além de ser uma iniciativa pioneira, que poderia projectar Portugal na Europa, a medida acabaria com o degradante espectáculo de sermos perturbados pelo incomodativo mastigar alheio. Além disso, podem ocorrer situações desagradáveis e mesmo perigosas para a saúde dos cidadãos. Como é o caso de, durante uma cena cómica, sermos atingidos por uma rajada de pipocas saídas da boca do espectador da fila de trás que, tendo acabado de meter à boca uma mão cheia das ditas, não foi capaz de conter as gargalhadas e as expeliu para cima dos vizinhos, misturadas com algumas dezenas de perdigotos. È inestético, pouco higiénico, e põe em causa a saúde pública. Abaixo as pipocas nos cinemas! Viva a pastilha elástica!

segunda-feira, 5 de março de 2007

Pérolas sobre Salazar

António Salazar foi primeiro-ministro de Portugal durante 35 anos. Um período da nossa História que não pode e, sobretudo, não deve ser esquecido para que não volte a repetir-se. A memória deve ser preservada tal como acontece nos museus sobre o Holocausto ou sobre o ditador Jose Estaline. Essa é a génese da Democracia.
Fátima Vilas-Bôas, Editora de Cultura & Espectáculos

Enaltecer Salazar é ofender os que lutaram contra o ditador; os militares que perderam a vida na guerra; as famílias que viveram na miséria; as gerações de hoje, que sofrem ainda as consequências de um País que se atrasou no tempo. Salazar deve continuar a ser lembrado, mas não pelos seus sapatos, máquina de escrever ou estojo de barbear.
Paulo João Santos, Grande Repórter

Fonte: Correio da Manhã.

Sócrates é bom?

(...) A forma como José Sócrates geriu o dossiê das urgências tem sido vista como um "recuo" e uma "cedência à rua", mas isso é apenas uma forma de confundir os nossos desejos com a realidade dos factos. Nós queremos muito que o homem engula um pouco da sua arrogância, que se abram brechas naquele discurso de relojoeiro - no entanto, neste caso ele limitou-se a gerir habilmente um imbróglio deveras complicado.(...)

Não sei se concordo com o João Miguel Tavares, aqui. Está para provar se ele o geriu bem. Aliás se até geriu. É que Correia de Campos parece querer todo a extensão do palco para ele. E não parece que o primeiro-ministro tenha lugar ali. O homem é vaidoso até fartar. Vistos de longe todos estes nossos figurantes da política à portuguesa fazem-me lembrar os saudosos Marretas. Animals há vários, miss Pigies menos, mas o tom é mesmo de cordel ou de cromos como diz o Carlos Oliveira.

Oliveira Martins: oposição enganou-se...

Quando Oliveira Martins foi nomeado para Presidente do Tribunal de Contas, grande parte da oposição acusou o PS de querer manipular aquele órgão. O histerismo de algumas reacções chegou a ser patético. Passados quase dois anos pode dizer-se, com segurança, que as acusações foram precipitadas e injustas. Na verdade, Oliveira Martins não se tem cansado de lançar avisos e fazer reprimendas ao Governo, mostrando uma probidade e isenção exemplares. O último “recado” foi enviado ao desastrado ministro Manuel Pinho, que aconselhou a não se imiscuir nas decisões da Alta Autoridade para a Concorrência. O mínimo que se pode dizer é que estamos perante um recado com destinatário certo , tantas têm sido as interferências do ministro na actividade das entidades reguladoras, que pretende domesticar à medida dos interesses da governança. A regulação ( sabe-o bem Oliveira Martins, mas parece desconhecê-lo o ministro) é um instrumento essencial das democracias modernas e Portugal construiu exemplos pioneiros que serviram de modelo a outros países da União Europeia. O capital de credibilidade da regulação em Portugal era grande no espaço europeu, mas Manuel Pinho parece estar interessado em destruí-lo. Exige-se mais prudência na intervenção e mais respeito pelas decisões do reguladores, mas também ficaria bem à oposição retractar-se e admitir o seu erro nas críticas que fez a Oliveira Martins!

Os cromos da semana


1º lugar- Valter Lemos-
O secretário de Estado da Educação é o campeão da asneira. Por ele têm passado muitos dos problemas da educação, com a Ministra a dar-lhe cobertura. Valter Lemos pôs a sua chancela a no caso dos exames de Química, nas aulas de substituição, ou na proibição de reuniões sindicais(!) e em todos estes casos os tribunais deram razão aos visados, obrigando –o a engolir as suas estapafúrdias medidas. A última decisão dos tribunais desfavorável a Valter Lemos diz, porém, respeito a um concurso para professores do IP de Castelo Branco de que era presidente,o que revela uma especial apetência para a conflitualidade deste membro do clã beirão que se instalou no aparelho do PS, onde quer que exerça a sua actividade. Como salientou um advogado, “são falhas demasiado grosseiras, para serem devidas a ignorância” Amen!

2º lugar- Miguel Coelho –O líder da concelhia lisboeta do PS não consegue pôr ordem nas suas hostes. Quando seria de esperar que a fragildade de Carmona Rodrigues e do PSD na Câmara fosse capitalizada pelos socialistas, os vereadores da rosa degladiam-se em busca de protagonismo.É o Ps no seu melhor, só que este “remake” de figurinhas em bicos de pés à procura de protagonismo, lutando por um lugar na primeira fila, tem pouco de edificante. E só não é hilariante, porque retrata fielmente o espectro político português. Vade retro!

3º lugar – Paulo Portas- O seu regresso anunciado não surpreendeu ninguém, mas as razões invocadas para o fazer revelam oportunismo e falta de ética. Não deixa de ser “estimulante” ouvir Portas reclamar por directas, quando há uns anos as rejeitou, por considerar “ não se coadunarem com a essência e espírito do PP”! E este “dejá vu”, indicia uma apetência de poder que Portas há uns anos rejeitava. Os eleitores ainda acreditarão nele em próximas eleições? Sócrates espera que sim!

Menção honrosa- Sérgio Lipari Pinto - A forma como tratou o caso Gebalis é, no mínimo, deplorável e fê-lo perder espaço dentro do PSD. A serem verdade as acusações de Maria José Nogueira Pinto, ter-se-á tratado de uma tentativa de “cosmética” que teve resultados tão pouco animadores, como os “liftings” de Lili Caneças...

domingo, 4 de março de 2007

Timor à beira do caos

A Embaixada de Portugal em Timor-Leste aconselhou este domingo a comunidade portuguesa a manter-se em casa devido à instabilidade em Díli, na sequência da operação militar desencadeada pelas forças australianas para capturar o major rebelde Alfredo Reinado, lê-se na imprensa.

Timor parece cada vez mais o caso de um país sem futuro e sem estabilidade. Este episódio com mais um militar rebelde que se recusa aceitar a autoridade do estado de direito democrático faz lembrar os piores tempos do nosso PREC. É genero Otelo Saraiva de Carvalho. O mais difícil de fazer perceber aos militares promotores de uma revolução ou da libertação de um país ocupado ou oprimido é que há um tempo para agir, quebrando o antigo regime e há um tempo para regressar aos quartéis e aceitar a normalização do poder democrático. Em vários locais do mundo repete-se este clamor de militares que os políticos são corruptos, que é preciso afastá-los do poder, em casos limite pela força. Às vezes isso é necessário para contornar a rede das cumplicidades [o caso da Tailândia é um bom exemplo]. Mas restabelecida a normalidade democrática os militares devem retomar a sua missão que é garantir a soberania do estado e defender a ordem externa. Tudo o que seja a mais que isso, é uma interferência insuportável na acção das instituições eleitas. Tem o comando australiano toda a autoridade para intervir no caso de Alfredo Reinaldo, se este se recusar a entregar-se à autoridade legítima. Levantar o argumento de intervenção estrangeira é estúpido e contraproducente.

Ainda Portas e a política autista na saúde

Creio significativo o capital político que Paulo Portas acrescenta ao momento político em Portugal. Por um lado porque tem uma garra e uma combatividade que não é vulgar; por outro porque o PS precisa de uma oposição forte para corrigir a trajectória de algumas políticas que se bem que bem intencionadas parecem mais prova de força dos respectivos animadores do que exercícios de governação esclarecidos e bem focados.
A política, por exemplo do Ministro da Saúde, parece-me um excelente exemplo do que aqui digo. Ninguém pode questionar a racionalidade de uma gestão criteriosa do dinheiro e dos equipamentos públicos, cortando-se despesismos vorazes e eliminando-se duplicações.
Quando o ministro anunciou isso ao país na apresentação do programa de governo fui sensível aos argumentos. Se há sector em que o malbaratamento da gestão pública me parece mais lapidar é a saúde. Basta ter a infelicidade de ir a uma urgência hospitalar para ver toda essa irracionalidade e o gozo com que se fazem esperar pessoas 5/6 horas para serem atendidas e tê-las à manada independentemente de serem casos graves ou simples. Não faz sentido ter pequenos núcleos hospitalares multiplicados em cada vila, aldeia ou centro comunitário para servir populações relativamente pequenas quando o seu agrupamento e racionalização pode garantir um serviço melhor e mais ajustado ao compósito da população. Em Portugal não se faz contas: as pessoas exigem e batem o pé, o Estado normalmente ajoelha quando a pressão é forte.
O que começou por ser uma boa política tornou-se um exercício a retalho [quer dizer a protocolo]. O ministro, no pequeno trecho que vi no programa 'prós e contras" parece querer ajustar os cortes [e medidas de racionalização das urgências e das maternidades] à peça, consoante a negociação que vai fazendo com os presidentes de câmara: fecha uns, retarda o fecho de outros, repensa ainda outros. Deixou de se perceber qual o nexo, a coerência da política no seu conjunto. E mais grave do que isso qual o critério que a sustenta: começa-se pelas câmaras da oposição e só de quando em quando avança-se para algumas do PS? começa-se pelo Norte e desce-se para os centros urbanos?
Confesso que estou de todo baralhado...