sexta-feira, 2 de março de 2007

Referendar a Ota?

A construção do novo aeroporto da Ota deverá vir a ser uma lamentável realidade. Resultado de mais uma teimosia de Sócrates, tudo indica que o projecto será ruinoso para os lisboetas e para o país, mas provavelmente muito rentável para alguns lobbies do imobiliário e da construção civil. Já se sabia que o seu prazo de vida não será superior a 30/ 40 anos e que não poderá ser alargado, devido à sua localização. Sabia-se, também, que colocará alguns problemas de segurança a nível operacional. E sabiam-se muitas outras coisas...o que não se sabia, mas agora Miguel Sousa Tavares veio esclarecer, é que há um estudo que revela que a construção do aeroporto na Ota irá determinar uma redução do número de turistas com destino a Lisboa. Não deixa de ser irónico que o aeroporto seja construído para dar resposta ao aumento do turismo e acabe por contribuir para a sua redução! É,afinal, mais uma originalidade à portuguesa.
Desconheço, concretamente, quais as razões que levam a tanta insistência na Ota. E o mistério adensa-se quando pensamos que Durão Barroso, depois de ter anunciado que nunca construíria um novo aeroporto, “enquanto houvesse uma criança faminta”, acabou por admitir a possibilidade/necessidade da sua construção.
A verdade é que ( nem sempre pelas boas razões) o futuro aeroporto é mal amado pela esmagadora maioria dos lisboetas e por uma grande fatia dos portugueses. Debalde! Por razões que a razão desconhece, a Ota é imposta aos portugueses, sem hipótese de contraditório.
Temos todos o direito à indignação, mas isso não legitima atitudes demagógicas como a de Santana Lopes, que ontem propôs a realização de um referendo nacional. Pode ser uma ideia popular, mas não deixa é de ser descabelada!
Bastaria argumentar com a fraca adesão dos portugueses aos referendos, ( que se agravaria, porque tenho muitas dúvidas que um transmontano, por exemplo, esteja preocupado com o assuntou) para rejeitar a proposta , mas outro fundamento, com ainda maior peso é o da sua legitimidade, porque se trata de um acto administrativo do governo logo, irreferendável. Enfim, tudo não passaria de mais uma proposta despesista de nulo efeito, igual a muitas outras a que a dupla Santana/Portas nos habituou.

O Regresso do Salvador da Pátria

O Arnaldo Gonçalvesfez um linkpara um artigo da Fernanda Câncio,hoje publicado no DN,em que analisa o regresso de Portas à vida activa.Sem que tenha para tal sido mandatado pela Fernanda, devo esclarecer o seguinte:a análise que ela faz, não difere muito da feita por Marcelo Rebelo de Sousa na sua última "homilia dominical".Haverá variação quanto à forma,já que a Fernanda Câncio é habitualmente mais truculenta e directa, mas quanto ao conteúdo, se bem que embrulhado por Marcelo de outra forma, não há grandes diferenças. Curiosamente,na mesma linha debitou Anacoreta Correia num programa da RTP 1, ontem à noite.
Pode-se discordar de Fernanda Câncio ( que eu considero uma das boas jornalistas portuguesas), mas daí a chamar à colacção o facto de ela ser "putativa" namorada de Sócrates e conotá-la com a "garotada socialista" parece-me pouco elevado, meu caroArnaldo. E também injusto, porque a Fernanda está a léguas de distância do partido da rosa...
Já agora, relembro que há umas semanas escrevi um post onde prenunciava o que se iria passar. E adiantava que Marques Mendes tinha os dias contados, assim que Portas decidisse avançar, pois Santana Lopes iria intensificar os ataques ao actual líder laranja, no intuito de reconstituir a dupla de má memória que (des)governou Portugal durante alguns meses. Como que a provar que eu tinha razão,Santana Lopes desferiu ontem um violento ataque à liderança de Marques Mendes, poucas horas antes do discurso de ressurreição do seu "compagnon de route". Mas terá o "enfant terrible" do PSD hipóteses de regressar à liderança? Talvez... mas se isso vier a acontecer Sócrates sentir-se-á ainda mais confortável no poder. E porquê? Porque sendo conhecido o "odiozinho de estimação" que Cavaco nutre por Santana, o actual PR sentir-se-ia tentado a aproximar-se ainda mais do PM por quem nutre evidente simpatia. Assim sendo, dou como mais provável que, por agora, Santana se resguarde podendo, eventualmente, avançar com um "testa de ferro" ( Luís Filipe Meneses?) que actue in nomine. Os próximos meses ajudarão a esclarecer este imbróglio, mas antevejo difícil a reconstituição, a breve prazo, da dupla que recebeu o legado de Durão Barroso. Uma coisa, no entanto, tenho como certa: Paulo Portas regressou com um estilo sebastianista de Salvador da Pátria, mas Santana Lopes nunca terá condições para fazer o mesmo. Mas Marques Mendes, que no último debate na AR acusou (com fundada razão) Sócrates de se ter tornado autista, tem uma última oportunidade para não ser apeado. Para isso, tem que assumir definitivamente uma postura de oposição forte e coerente, caso contrário limitar-se-á a assistir à caminhada triunfal de Sócrates, rumo às eleições de 2009. Os próximos meses serão cruciais e prometem, por isso, grande animação na vida política portuguesa, tão enfadonha nos últimos tempos.

O problema da educação nas próximas eleições americanas

David Brooks escreve um artigo magistral - A critique of pure reason - na edição de hoje do International Herald Tribune [que me passa a fazer companhia três vezes por semana]. O artigo é restrito aos subscritores on-line mas deixo aqui algumas passagens:

(...) They [the creative candidates] will understand that schools filled with students who can't control their impulses, who can't focus their attention and who can't regulate tehir emotions will not succeed, no matter how many reforms are made by governors, superintendents or presidents. These candidates will emphasize that education is a cumulative process that begins at the dawn of life and builds early in life as children learn how to learn.

These candidates will point out that powerful social trends - the doubling of single-parent families over the past generation, the rise of divorce rates - mean that the government has to rethink its role. They'll note that if we want to have successful human capital policies, we have to get over the deifinition of education as something that takes place in schools between the months of September and June, and between the ages of 5 and 18 (...)

The question of course is, What can government do about any of this? The answer is that there are programs that do work to help young and stressed mothers establish healthier attachements. ..

quinta-feira, 1 de março de 2007

A garotada socialista nem acredita

Um exercício de autismo, à socialista. A namorada do primeiro-ministro elle même.

Paulo Portas abre jogo

O anúncio de Paulo Portas de regresso à vida política activa e recandidatura à presidência do CDS-PP colheu de surpresa a classe política portuguesa e não se pode dizer que seja de todo inesperado. Excelente táctico, Portas escolheu o momento certo para quebrar a passagem do deserto dos últimos dois anos. Por um lado, uma crise ideológica, organizativa e de liderança no seu partido histórico que o empurrava para a insignificância. Por outro lado, a crise de liderança porque passa o PSD incapaz de se destacar da colagem de José Sócrates ao programa liberal tradicional do PSD e de se afirmar, pela positiva, como alternativa.
Em política, como na física, não há vácuo, quando um político deixa a ribalta ou perde protagonismo outro ocupa-lhe o espaço [ou pelo menos lança-se a isso].

Ao contrário do que prognosticavam as habituais vestais da vida política portuguesa Portas está vivo e de boa saúde e pode agora, que se aproxima a fase de declínio de Sócrates, "pescar" nos seus erros, contradições e nos efeitos colaterais das suas políticas mais controversas [saúde?]. Sendo um valor instalado na política à portuguesa Portas tem espírito de liderança, visão política [estratégica e táctica] e faro no ataque. Prevejo que o congresso do CDS-PP seja arrasador para a actual liderança de Ribeiro e Castro e uma aclamação para si. Mais que perder a oportunidade Castro ficou cativo de um colete de forças parlamentar que o foi minando nestes meses, com uma bancada do seu partido crítica à sua liderança e sobre que nada pode fazer.
Se Portas ganhar o congresso - como se imagina - teremos de regresso o velho confronto direita-esquerda, porque Sócrates não conseguirá mais capitalizar no centro-direita a que se tem encostado com as suas políticas tecnocráticas. Tudo o que acontecer de mau no governo será explorado àté à exaustão. Portas tem boa cultura de oposição e será um adversário implacável.
Para os lados do PSD a questão que se coloca é o que fazer com este regresso [em força] de Portas. O nosso amigo nóia vai ficar entalado e será evidente [mais do que nunca] a sua inabilidade para liderar o PSD nos tempos que se aproximam. Também o PSD precisa de vento fresco, provavelmente de uma boa rajada de vento. Quem avança?

Sarah Jill Wykes

Minutos depois de ter chegado ao aeroporto de Luanda, onde a esperava uma delegação da embaixada britânica em Angola, a investigadora da organização não governamental britânica Global Witness afirmou que está «muito contente por estar finalmente em Luanda». A activista seguia de automóvel para a Embaixada do Reino Unido, tendo-se escusado a fazer qualquer comentário. Sarah Jill Wykes foi detida no dia 18 em Cabinda e aguardava desde o dia 21 - data em que saiu em liberdade depois de pagar uma fiança de 180.000 kwanzas (cerca de 1.800 euros) - por uma autorização do procurador interino de Cabinda, André Gomes Manuel, para poder sair daquele território angolano.

O regime angolano persiste na sua acção persecutória a activistas de organizações de direitos humanos que procurem, por alguma forma, denunciar os atropelos do governo do MPLA. Trinta anos depois da independência e finda a guerra civil o executivo angolano permanece surdo aos apelos de abertura, tolerância e normalização democrática vindos da comunidade internacional e dos seus cidadãos. Eduardo dos Santos perpetua-se no poder mesmo depois das denúncias de favoritismo e corrupção que recaiem sobre a sua filha. O regime é tirânico e opaco e poucos escapam à sua lógica concentracionista. O nacionalismo é hoje pretexto para tudo.

O túmulo de Jesus II


Para além do sencionalismo que esta iniciativa de Cameron pode encobrir acho fundamental e louvável este esforço de conhecimento da verdade histórica. Não há, não pode haver, áreas denegadas ao estudo do conhecimento e à especulação teórica porque uma escola de opinião a entende sagrada ou parte de um dogma [o seu]. Com o respeito que essa opinião merece cumpre-nos percebermo-nos melhor e aos nossos antepassados. O estudo dos recém-descobertos evangelhos de Judas, Maria Madalena e Tomas pode ajudar a essa descoberta e o louvável esforço do National Geographic e do Discovery Chanel na sua divulgação deve ser aplaudido.
Quanto aos censores e à Congregação para a Doutrina da Fé pagámos um preço demasiado elevado pela mordaça, a perseguição e a tortura em séculos passados para nos deixarmos embarcar nessas aventuras.

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2007

James Cameron e o túmulo de Jesus

Em conferência de imprensa o realizador americano James Cameron apresentou o seu último documentário "O Túmulo de Jesus" que fez com Simcha Jacobovici e que será apresentado no canal Discovery. Nele Cameron alega ter sido descoberto o túmulo de Jesus e da sua família num local próximo de Jerusalém e ali encontrados os seus restos mortais em seis caixões identificados com os correspondentes nomes hebraicos de Maria, Mateus, Jesus [filho de José], Maria [Magdalena], José e Judas [filho de Jesus].
A alegação que Jesus era casado com Maria Madalena, teve filhos e deixou os seus ossos contradiz, directamente, postulados conhecidos da doutrina cristã e tem sido duramente criticada pela ortodoxia católica desde que Dan Brown publicou o seu livro "O Código de Da Vinci". Ali explora o filão, já anteriormente, avançado por investigadores da história de Israel, do judaismo e do cristianismo primitivo que o registo passado às gerações actuais sobre a vida de Cristo e a sua dupla natureza de homem e filho de Deus carece de verdade histórica e prossegue um estrito objectivo de legitimação doutrinária e institucional. Por um lado conformar a leitura dos ensinamentos de Cristo como vêm retratados na versão actual do Novo Testamento; por outro validar a Igreja de Roma como a única herdeira do cristianismo fundador.
As alegações e a "prova" apresentada por Cameron foram já duramente criticadas por várias autoridades religiosas de Israel e pela hierarquia da Igreja Católica que o entende como um sacrilégio e um ataque directo à autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana, já que segundo a doutrina ensinada, Pedro foi encarregado por Cristo de espalhar a sua mensagem no mundo e dirigir a sua Igreja. Alegam alguns estudiosos do cristianismo primitivo que essa transmissão não é historicamente verdadeira, já que Jesus terá passado a direcção da sua Igreja ao irmão Simão [James] e que Maria Madalena tinha uma relação doutrinária mais próxima de Jesus do que os conhecidos Apóstolos. Os últimos anos têm acentuado o interesse dos estudiosos da história bíblica pelos chamados evangelhos apócrifos, que foram rejeitados pela hierarquia da Igreja quando nos séculos seguintes à morte de Cristo foi necessário consolidar a base essencial dos seus ensinamentos e doutrina, tornando o cristianismo de uma doutrina de uma elite judaica numa gigante doutrina popular.

Já no JTM tratei este tema que me parece estrutural à percepção que temos hoje dos fundamentos da nossa história e da nossa identidade. E conhecer como somos e como surgimos é fundamental para entendermos o que temos de diferente em relação ao Outro, designadamente aos seguidores de outras religiões reveladas, os judeus e os muçulmanos. Algum jacobinismo simplório presidiu, durante o último século, à forma como olhámos essa mesma história e as origens da nossa raça. Denegou-se, durante muito tempo, face à divinização do poder da Razão humana o instante divino na criação do homem e do mundo. Durante algum tempo por influência do materialismo marxista imaginou-se que o homem tinha inventado e criado tudo, reduzindo-se o espiritual à matéria e procurando resumir o explicável à mera acção de leis de causa e efeito que se absolutizaram. Se o homem caminhava inelutavelmente para o progresso e a libertação da alienação com a criação da sociedade completa porque não defender que não precisava de espiritualidade para nada e que ele era o rei e o único engenheiro do seu proprio destino?
Este materialismo basista e redutor revelar-se-ia incapaz de explicar porque é que apesar do afã que o homem revela em destruir a natureza e o planeta, uma inclinação para a ordem se afirma no day-after do holocausto e põe ordem na anarquia. Vários nomes têm sido dados, ao longo dos séculos, para esta realidade para além da física, isto é, metafísica: natureza, Deus, equilíbrio que problematiza as questões primeiras com que a filosofia se confrontava há 2500 anos com Sócrates e Platão. Qual é o destino do homem na terra? Onde está a origem da vida?

O Cont®a-Corrente

Bjorn Lomborg é um professor de estatística dinamarquês que se tornou conhecido em 2002, depois da publicação do livro “ O Ambientalista Céptico”.Sem negar( e até reconhecendo a sua existência)o aquecimento global e as alterações climáticas,o autor punha em causa alguns dos conceitos adquiridos em matéria de protecção do ambiente, tendo gerado grande celeuma e recolhido aplausos entusiastas de personagens portuguesas, como foi o caso de Pacheco Pereira.
Uma das teorias mais polémicas defendida por Lomborg,assenta na baixa relação custo/benefício resultante da aplicação de medidas pró-ambiente,que classificou de “péssimo negocio”.
Sabe-se hoje que muitas das premissas em que assentou a sua teoria, radicam em análises com pouco ou nulo rigor científico, e que algumas são simplesmente falsas, mas Lomborg soube escolher as companhias,para atingir os seus objectivos-alguns economistas americanos de renome, que alinhavam ao lado de Bush na desacreditação das medidas preconizadas no Protocolo de Quioto.
Como é sabido,o mais perigoso aliado de um ambientalista é um economista, no entanto este auto-proclamado ex-militante do Greenpeace, ( facto que viria a ser desmentido posteriormente por aquela ONG) precisava do seu apoio para pôr em prática e dar notoriedade ao seu projecto que apelidou pomposamente de “Consenso de Copenhague”.
Resumidamente, este “Consenso” assenta numa premissa falaciosa: o aquecimento global é uma realidade, mas há formas mais lucrativas e eficazes de o combater. Como?
Combatendo a SIDA, a malária e a sub-nutrição, e liberalizando os mercados, foram as conclusões dos seus aliados economistas americanos.Até parece uma boa ideia!...
Conhecido, porém, o impacto da pobreza sobre o ambiente, fica-se descoroçoado com o facto de os mentores do Consenso de Copenhague não mencionarem o combate à pobreza como uma das medidas fundamentais a adoptar, mas percebem-se as razões das outras medidas apontadas. Na verdade, o combate à Sida e à malária, desde que devidamente apoiado pela comunidade internacional, representará para a indústria farmacêutica norte-americana um verdadeiro filão. Quem se recordar do episódio do Tamiflú após a divulgação da “gripe das aves”, sabe o que quero dizer: o poderoso lobby farmacêutico do Congresso americano(metade dos seus membros são lobbistas profissionais pagos pela industria farmacêutica) poderia abrir uma “janela de oportunidade” para o sector, com o apoio às medidas preconizadas pelo “Consenso”. Neste caso, a relação custo/ benefício seria positiva e permitiria lucros apreciáveis. Quanto ao combate à sub-nutrição ( através de micronutrientes como o ferro, zinco e vitaminas), viria fortalecer um sector económico recentemente “castigado” pela União Europeia, pela sua actuação em cartel.
Alguns me acusarão de fundamentalista e radical. Lembro, no entanto, que foi o próprio Comité Dinamarquês de Desonestidade Científica que acusou Bjorn Lomborg de “ desonestidade científica em estatísticas, interpretações de dados e conclusões” publicadas em “O Ambientalista Céptico”.
Outra razão que abona a favor da minha “tese conspirativa” radica no facto de, após um período de grande silêncio em que o “Consenso” e o próprio Bjorn mergulharam, se assistir a uma ressurreição das suas teses. Com efeito, o filme de Al Gore (“Uma Verdade Inconveniente”) a aproximação de Bush às medidas de Quioto e o anúncio drástico de redução de emissões feito pela UE, despertaram o espírito de grupo do “Consenso” que anuncia a sua internacionalização, ainda em 2007. Para onde? Para a Costa Rica, pois claro! Quando as tartarugas estão a ser dizimadas, algumas das mais belas florestas ameaçadas e existem zonas em risco, o grupo quer “identificar os maiores desafios para a América Latina”(leia-se: que medidas adoptar para incrementar as obras públicas, conferindo-lhes um toque ecológico que atraia um novo modelo de turismo? – a leitura é minha e não vincula os homens do “Consenso”). Simultaneamente, Lomborg anuncia a publicação de um novo livro, a publicar lá para final do ano, que provavelmente aumentará a sua “Cont®a-Corrente”. O que de lá sairá, não se sabe, mas Lomborg já veio a terreiro para anunciar que concorda com as conclusões do Relatório sobre o Clima da ONU, que o aquecimento global é um facto, os mares vão subir entre 18 e 59 centímetros ( o que significará o desaparecimento de muitas zonas ribeirinhas e até de alguns países) e que as alterações climáticas extremas se acentuarão. Simplesmete, para ele, tudo isto é normal, pelo que defende que “é preciso aprendermos a lidar com isso e enfrentar as consequências”.
Percebo. Tudo se encaixa na perfeição. Até o “timing” escolhido para ressuscitar os mentores do “Consenso”.

Cenas de vida 3- Reportagem na noite

Na reportagem, emitida em horário nobre e canal aberto, um jovem é entrevistado à porta de uma discoteca.Com o ar triunfante de quem vai dizer aos amigos “vejam a entrevista que dei para a televisão”, pergunta sem qualquer rebuço: “ se vier para a noite e não beber, que venho cá fazer?” outro, assegura “sei muito bem até onde posso ir” e outro ainda, incrédulo face à fiabilidade das novas tecnologias e escarnecendo da legislação em vigor, garante “ a máquina pode acusar, mas que me interessa, se estou perfeitamente sóbrio?”.
Nessa mesma noite de terça-feira, o trânsito é escasso. Sigo pela Avenida da República, em marcha lenta, com a Brigada de Trânsito à ilharga. Um condutor que acabou de fazer uma manobra perigosa a mais de 100 quilómetros hora é interceptado. Tem 19 anos e faz-se acompanhar de alguns jovens com idades aproximadas. Tenta convencer o agente que está perfeitamente sóbrio - “apenas bebi umas cervejas na festa de anos de um amigo”-, mas este não se deixa iludir. Feito o teste, o resultado é de 1,3 mg. A viagem continuou, mas noutro meio de transporte e com outro condutor, para um destino que os jovens não tinham planeado para aquela noite.

Cenas de vida 2- Brandos costumes

A criança tinha, no máximo, 14 anos. Entrou, comprou uma garrafa de whiskey, seis garrafas de cerveja e duas garrafas de vinho. Dirigiu-se à caixa e a empregada ajudou-a a meter as garrafas em sacos de plástico, conferiu o dinheiro e, com um sorriso nos lábios, perguntou: “Vai haver festa lá em casa?”. A criança retribuiu o sorriso mas não respondeu. À porta do estabelecimento podia ler-se “ Não é permitida a venda de bebidas alcoólicas a menores de 16 anos”. Depois admiram-se que se diga que este é um país de brandos costumes!

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Rios de retórica

Um olhar sobre a relação Portugal-China. O contexto: a recente visita de Sócrates à China.

Contra a obesidade do "monstro" marchar, marchar!

O ministro Alberto Costa anunciou, com o espavento mediático que os governos tanto apreciam, o emagrecimento do "monstro". Quiçá embalado pela onda de combate à obesidade que felizmente grassa por esta Europa eufórica e narcísica, o ministro da Justiça pretendeu associar-se à campanha (o que só lhe fica bem...) com um discurso alegórico.Menos feliz, terá sido a ideia de falar no "monstro", pois este desde há muito está conotado com a Administração Pública, por força de um célebre artigo de Cavaco Silva. Mas o "monstro" a que Alberto Costa se refere não é esse, é o da Justiça portuguesa...
Independentemente da fiabilidade dos números apresentados pelo ministro( as reacções foram contraditórias, como é usual num país em que os políticos tratam a causa pública com a dimensão da clubite partidária, desprezando o interesse nacional)apraz-me constatar a utilização da palavra "monstro" para aludir à Justiça portuguesa. Com efeito,já todos percebemos as monstruosidades praticadas pela dita. Fugas de informação, aplicação subjectiva ( para não dizer arbitrária) das leis,sucessivos atropelos ao segredo de justiça,encandeamento mediático, enfim, uma parafernália de "vícios" e más práticas que em muito contribuem para denegrir e desacreditar os meios forenses. Fiquei no entanto desiludido ao aperceber-me que o ministro, no seu épico discurso, ( alvo de enlevados encómios por parte de José Sócrates) se referia apenas às dimensões do monstro e não à sua qualidade. Confesso que me estou nas tintas se a justiça usa "soutien" 52 ou 38! O que pretendo é que seja isenta e proba, não utilize a comunicação social para alcançar os seus desígnios em casos particulares, nem dê guarida a pessoas como o venerando desembaragador Lima. Quem é este senhor? Nada mais nada menos do que Presidente do Conselho de Justiça da Federação Portuguesa de Futebol. E que fez ele? Sabendo que era o único que se opunha à suspensão de uma pena aplicada a um atleta, simplesmente adiou "sine die" a reunião em que iria ser votada a despenalização do jogador. Moral da história: quando a decisão for tomada, já o atleta cumpriu o castigo, cumprindo-se assim a vontade do sr.desembargador que, democraticamente, teria sido vencido! Poder-me-ão dizer que é um problema de disciplina desportiva, por isso não tem qualquer significado. Discordo completamente, pois ninguém me garante que "os desembargadores Lima" do nosso país não se comportem de igual modo nos Tribunais. É que a justiça portuguesa - que teimo em acreditar ser eficaz- merece ter nos seus quadros apenas pessoas que a dignifiquem e, pelos seus actos, não ponham em causa a sua probidade. Os cidadãos não podem estar sujeitos aos circunstancialismos de "cada peso sua medida", quando se trata de aplicar as medidas legislativas, nem ao livre arbítrio dos seus agentes.

A propósito do analfabetismo cultural

De voltas com a preparação das aulas do semestre dei comigo a deitar fora vários textos em lingua inglesa que tinha junto ao dossier de leituras que distribuo no início do mesmo. Googlo à procura de pequenos resumos em português que possam ser seus sucedâneos mas confronto-me com dificuldades intrasponíveis. O que se encontra é em brasileiro e de deficiente qualidade.
Recomendar livros, nem pensar. Ninguém lê nada em leituras adicionais e o que é mais grave não há qualquer curiosidade intelectual em saber por saber. Só resumos e é preciso que não sejam muito densos.
O professor é hoje em dia uma espécie de ama que se esfalfa para enfiar uma qualquer papa artificial na boca do petiz, porque este não está para comer fruta natural. Dá muito trabalho. E depois só pode ser "a tal" quantidade. Tudo o que é a mais, causa fastio. Por isso, a ignorância que os exames nacionais revelam são a demonstração do beco sem-saída a que chegámos e de um sistema educativo que capitulou perante a facilidade e a mediocridade. E perante os incompetentes que andaram a experimentar políticas educativas sem olhar ao contexto cultural e sociológico. É estrangeiro, importa-se! Hoje o professor é olhado de lado pelo sistema quando chumba alunos. Instalou-se a ideia absurda que "os meninos" têm que passar a qualquer preço.
Geração rasca? Não sei se não será pior.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Jornais e jornalistas

O Carlos Oliveira caustica em post anterior a falta de dimensão da imprensa que se publica em Portugal e lista-nos as suas leituras semanais. Fala em paroquismo o que é curial, em falta de interesse pelo que se passa no mundo, o que me parece acertado.
Há creio duas leituras cruzadas para isto: a mediocridade galopante da imprensa escrita fixada à agenda das agências e ao just-in-time dos noticiários das televisões, ou o desinteresse do público em geral com o que se passa para além dos limites da paróquia, ou dizendo de uma forma rigorosa, do quintal.
Escrevendo há dezena e meia de anos sobre política externa, pressionando por um novo momento nas relações de Portugal com a Ásia e a China, constato sempre que dou uma saltada a Portugal, o fixismo dos portugueses pelo que é instante, passadiço, efémero e o seu relativo desenteresse pelo que é internacional, europeu e cosmopolita. Basta ver as parangonas de primeira página dos diversos diários para perceber que os portugueses só se interessam pelas gafes das figuras públicas, pelos fumos de escândalos dos poderosos ou pelos maneirismos dos idiotas que se acotovelam pela primeira página das revistas cor-de-rosa. Algo mais elaborado, com maior profundidade, passa-lhes de todo ao lado, aborrece-os mortalmente.
Bem vistas as coisas se recuarmos alguma coisa no tempo a política, no sentido grego da participação nos assuntos da pólis, foi sempre pertença das elites. Na monarquia do circulo aristocrático que rodeava o rei e que se empertigava pelos seus favores. Na primeira república da burguesia urbana e ainda assim resumida a Lisboa e Porto, seduzida pela mensagem liberal e republicana da Europa culta e avançada. No Estado Novo pela corte de fiéis de Salazar expectantes em repribendas e favores. A participação das grandes massas foi sempre a rebate dos caciques, dos líderes de facção e de família, das figuras públicas que a grande massa ignorante olhava como seus condutores.
Cremos, acreditamos [provavelmente para nos convencermos a nós próprios] que em democracia as coisas seriam diferentes. O contacto com a Europa, fruto da nossa adesão transformar-nos-ia, libertar-nos-ia desse atrazo, dessa canga. Não creio que isso seja de todo verdade. Continuamos a gostar mais de demagogos que fazem o trabalho por nós, do que de líderes que nos mobilizam para os projectos nacionais de futuro. Sócrates é um bom exemplo, mas podemos ir mais atrás na nossa história recente. Ainda agora vi na televisão um conhecido banqueiro, antigo ministro da economia e militante do PSD a declarar que voltaria à política activa, um dia, se o PSD encontrasse uma nova liderança política, mas que enquanto isso não acontecer se revê no trabalho do primeiro-ministro José Sócrates. A personagem é um dos subscritores de uma agremiação que se reune, de vez em quando, para o Beato, para se queixar do país e dos políticos, mas que nada faz - repito - nada faz para mudar a política e os seus protagonistas. Falta-me dizer que a critica não tem motivação político-partidária: tenho as quotas de militante do PSD em dia, mas chateia-me, abolulatamente, a displicência destes nossos pavões.

É verdade, juntado mais alguma lenha ao fogo leiam aqui o excelente artigo do João Miguel Tavares no Diário de Notícias.

Viajar pelo Mundo, durante o fim de semana

Ao fim de semana compro, habitualmente, três ou quatro jornais estrangeiros. Não tenho títulos fixos, mas as minhas preferências vão para o "El Mundo", "El Pais","Le Monde" "Le Nouvel Observateur", "The Guardian"," Daily Telegraph" e "Clarín". Ao contrário do que acontece com os diários portugueses, que leio em pouco mais de uma hora, demoro vários dias a ler alguns deles.No final, faço sempre a mesma constatação:vivo num País que não pertence a este Planeta! Porquê? Porque as notícias que leio na imprensa estrangeira me fazem sentir "cidadão do mundo", enquanto as que leio na imprensa portuguesa me fazem sentir paroquiano. A imprensa portuguesa(com excepção de algumas revistas semanais)é centrada no noticiário nacional e nas tricas de Paróquia. O noticiário internacional é escasso, reduz-se quase exclusivamente a notícias de agência, tratando em meia dúzia de linhas o que outros títulos estrangeiros abordam em algumas páginas. Só lendo a imprensa estrangeira se pode ter uma ideia abrangente do que se vai passando no mundo, seja no médio Oriente ou na América Latina.
A imprensa portuguesa usa e abusa de artigos de opinião,muitos deles sem qualidade e outros, tão vincados partidariamente, que são pura perda de tempo.
Por tudo isto, não admira que cada vez haja mais pessoas a restringir a leitura de jornais aos gratuitos ( entre generalistas, desportivos e temáticos, são já sete os títulos em Portugal e o número tende a aumentar a muito breve trecho). Que saudades dos tempos em que havia jornais em Portugal, capazes de nos fazer levantar mais cedo, para os comprar! Hoje, a imprensa portuguesa parece mais uma cadeia de "fast food" onde os alimentos são todos iguais, apenas variando a forma de os embalar. Já não há pachorra!

Os cromos da semana

1º lugar- Nunes Liberato- O Ministro do Ambiente, na vã tentativa de demonstrar a sua existência, tem-se desdobrado em entrevistas. No entanto, até agora, o que melhor conseguiu foi confimar que não passa de uma figura de terceiro plano, elevada a protagonista de uma política ambiental cheia de contradições e sem quaisquer medidas assertivas e consequentes. Uma lástima!

2º lugar-Luís Pardal – A decisão do Presidente da Refer de readmitir, com ordenados chorudos, funcionários que despedira e a quem pagara indemnizações, é própria de um país do terceiro mundo. Daria vontade de rir, não fosse o caso de se tratar de uma empresa pública e de serem os contribuintes a pagar estas diatribes.

3º lugar - Alberto João Jardim- Pelo aproveitamento da quadra carnavalesca para apresentar a sua demissão e anunciar a sua recandidatura. Se tudo vai ficar na mesma em relação à Lei das Finanças Regionais, a única explicação para esta atitude é pretender prolongar o seu mandato mais dois anos. Ter-se-á inspirado em Hugo Chavez?

Menção honrosa- Pedro Nunes - O bastonário da Ordem dos Médicos insiste em “driblar” os resultados do referendo sobre a IVG, avisando os médicos que fizerem abortos, de que incorrerão em falta grave, punível pela Ordem. Pensará ele que a Ordem dos Médicos é que faz as leis deste País e se pode sobrepôr à vontade popular?

domingo, 25 de fevereiro de 2007

Infiel

INFIDEL, Ayaan Hirsi Ali, pela Free Press, 353 pages. $26.

Viver a mensagem espiritual do Islão como mulher e liberal. Uma leitura obrigatória.