James Cameron e o túmulo de Jesus
Em conferência de imprensa o realizador americano James Cameron apresentou o seu último documentário "O Túmulo de Jesus" que fez com Simcha Jacobovici e que será apresentado no canal Discovery. Nele Cameron alega ter sido descoberto o túmulo de Jesus e da sua família num local próximo de Jerusalém e ali encontrados os seus restos mortais em seis caixões identificados com os correspondentes nomes hebraicos de Maria, Mateus, Jesus [filho de José], Maria [Magdalena], José e Judas [filho de Jesus].
A alegação que Jesus era casado com Maria Madalena, teve filhos e deixou os seus ossos contradiz, directamente, postulados conhecidos da doutrina cristã e tem sido duramente criticada pela ortodoxia católica desde que Dan Brown publicou o seu livro "O Código de Da Vinci". Ali explora o filão, já anteriormente, avançado por investigadores da história de Israel, do judaismo e do cristianismo primitivo que o registo passado às gerações actuais sobre a vida de Cristo e a sua dupla natureza de homem e filho de Deus carece de verdade histórica e prossegue um estrito objectivo de legitimação doutrinária e institucional. Por um lado conformar a leitura dos ensinamentos de Cristo como vêm retratados na versão actual do Novo Testamento; por outro validar a Igreja de Roma como a única herdeira do cristianismo fundador.
As alegações e a "prova" apresentada por Cameron foram já duramente criticadas por várias autoridades religiosas de Israel e pela hierarquia da Igreja Católica que o entende como um sacrilégio e um ataque directo à autoridade da Igreja Católica Apostólica Romana, já que segundo a doutrina ensinada, Pedro foi encarregado por Cristo de espalhar a sua mensagem no mundo e dirigir a sua Igreja. Alegam alguns estudiosos do cristianismo primitivo que essa transmissão não é historicamente verdadeira, já que Jesus terá passado a direcção da sua Igreja ao irmão Simão [James] e que Maria Madalena tinha uma relação doutrinária mais próxima de Jesus do que os conhecidos Apóstolos. Os últimos anos têm acentuado o interesse dos estudiosos da história bíblica pelos chamados evangelhos apócrifos, que foram rejeitados pela hierarquia da Igreja quando nos séculos seguintes à morte de Cristo foi necessário consolidar a base essencial dos seus ensinamentos e doutrina, tornando o cristianismo de uma doutrina de uma elite judaica numa gigante doutrina popular.
Já no JTM tratei este tema que me parece estrutural à percepção que temos hoje dos fundamentos da nossa história e da nossa identidade. E conhecer como somos e como surgimos é fundamental para entendermos o que temos de diferente em relação ao Outro, designadamente aos seguidores de outras religiões reveladas, os judeus e os muçulmanos. Algum jacobinismo simplório presidiu, durante o último século, à forma como olhámos essa mesma história e as origens da nossa raça. Denegou-se, durante muito tempo, face à divinização do poder da Razão humana o instante divino na criação do homem e do mundo. Durante algum tempo por influência do materialismo marxista imaginou-se que o homem tinha inventado e criado tudo, reduzindo-se o espiritual à matéria e procurando resumir o explicável à mera acção de leis de causa e efeito que se absolutizaram. Se o homem caminhava inelutavelmente para o progresso e a libertação da alienação com a criação da sociedade completa porque não defender que não precisava de espiritualidade para nada e que ele era o rei e o único engenheiro do seu proprio destino?
Este materialismo basista e redutor revelar-se-ia incapaz de explicar porque é que apesar do afã que o homem revela em destruir a natureza e o planeta, uma inclinação para a ordem se afirma no day-after do holocausto e põe ordem na anarquia. Vários nomes têm sido dados, ao longo dos séculos, para esta realidade para além da física, isto é, metafísica: natureza, Deus, equilíbrio que problematiza as questões primeiras com que a filosofia se confrontava há 2500 anos com Sócrates e Platão. Qual é o destino do homem na terra? Onde está a origem da vida?