O Cont®a-Corrente
Bjorn Lomborg é um professor de estatística dinamarquês que se tornou conhecido em 2002, depois da publicação do livro “ O Ambientalista Céptico”.Sem negar( e até reconhecendo a sua existência)o aquecimento global e as alterações climáticas,o autor punha em causa alguns dos conceitos adquiridos em matéria de protecção do ambiente, tendo gerado grande celeuma e recolhido aplausos entusiastas de personagens portuguesas, como foi o caso de Pacheco Pereira.
Uma das teorias mais polémicas defendida por Lomborg,assenta na baixa relação custo/benefício resultante da aplicação de medidas pró-ambiente,que classificou de “péssimo negocio”.
Sabe-se hoje que muitas das premissas em que assentou a sua teoria, radicam em análises com pouco ou nulo rigor científico, e que algumas são simplesmente falsas, mas Lomborg soube escolher as companhias,para atingir os seus objectivos-alguns economistas americanos de renome, que alinhavam ao lado de Bush na desacreditação das medidas preconizadas no Protocolo de Quioto.
Como é sabido,o mais perigoso aliado de um ambientalista é um economista, no entanto este auto-proclamado ex-militante do Greenpeace, ( facto que viria a ser desmentido posteriormente por aquela ONG) precisava do seu apoio para pôr em prática e dar notoriedade ao seu projecto que apelidou pomposamente de “Consenso de Copenhague”.
Resumidamente, este “Consenso” assenta numa premissa falaciosa: o aquecimento global é uma realidade, mas há formas mais lucrativas e eficazes de o combater. Como?
Combatendo a SIDA, a malária e a sub-nutrição, e liberalizando os mercados, foram as conclusões dos seus aliados economistas americanos.Até parece uma boa ideia!...
Conhecido, porém, o impacto da pobreza sobre o ambiente, fica-se descoroçoado com o facto de os mentores do Consenso de Copenhague não mencionarem o combate à pobreza como uma das medidas fundamentais a adoptar, mas percebem-se as razões das outras medidas apontadas. Na verdade, o combate à Sida e à malária, desde que devidamente apoiado pela comunidade internacional, representará para a indústria farmacêutica norte-americana um verdadeiro filão. Quem se recordar do episódio do Tamiflú após a divulgação da “gripe das aves”, sabe o que quero dizer: o poderoso lobby farmacêutico do Congresso americano(metade dos seus membros são lobbistas profissionais pagos pela industria farmacêutica) poderia abrir uma “janela de oportunidade” para o sector, com o apoio às medidas preconizadas pelo “Consenso”. Neste caso, a relação custo/ benefício seria positiva e permitiria lucros apreciáveis. Quanto ao combate à sub-nutrição ( através de micronutrientes como o ferro, zinco e vitaminas), viria fortalecer um sector económico recentemente “castigado” pela União Europeia, pela sua actuação em cartel.
Alguns me acusarão de fundamentalista e radical. Lembro, no entanto, que foi o próprio Comité Dinamarquês de Desonestidade Científica que acusou Bjorn Lomborg de “ desonestidade científica em estatísticas, interpretações de dados e conclusões” publicadas em “O Ambientalista Céptico”.
Outra razão que abona a favor da minha “tese conspirativa” radica no facto de, após um período de grande silêncio em que o “Consenso” e o próprio Bjorn mergulharam, se assistir a uma ressurreição das suas teses. Com efeito, o filme de Al Gore (“Uma Verdade Inconveniente”) a aproximação de Bush às medidas de Quioto e o anúncio drástico de redução de emissões feito pela UE, despertaram o espírito de grupo do “Consenso” que anuncia a sua internacionalização, ainda em 2007. Para onde? Para a Costa Rica, pois claro! Quando as tartarugas estão a ser dizimadas, algumas das mais belas florestas ameaçadas e existem zonas em risco, o grupo quer “identificar os maiores desafios para a América Latina”(leia-se: que medidas adoptar para incrementar as obras públicas, conferindo-lhes um toque ecológico que atraia um novo modelo de turismo? – a leitura é minha e não vincula os homens do “Consenso”). Simultaneamente, Lomborg anuncia a publicação de um novo livro, a publicar lá para final do ano, que provavelmente aumentará a sua “Cont®a-Corrente”. O que de lá sairá, não se sabe, mas Lomborg já veio a terreiro para anunciar que concorda com as conclusões do Relatório sobre o Clima da ONU, que o aquecimento global é um facto, os mares vão subir entre 18 e 59 centímetros ( o que significará o desaparecimento de muitas zonas ribeirinhas e até de alguns países) e que as alterações climáticas extremas se acentuarão. Simplesmete, para ele, tudo isto é normal, pelo que defende que “é preciso aprendermos a lidar com isso e enfrentar as consequências”.
Percebo. Tudo se encaixa na perfeição. Até o “timing” escolhido para ressuscitar os mentores do “Consenso”.