sábado, 24 de março de 2007

Há meio século

Nascia um projecto único nas relações internacionais. A Comunidade Económica Europeia (CEE), criada e desenvolvida sobretudo numa lógica funcionalista, merece que as velas sejam sopradas, de pulmões cheios, neste dia 25 de Março. Em 50 anos os progressos foram notáveis. A crise institucional e de certo modo de legitimidade é motivo para uma reflexão séria sobre o ritmo da integração (a questão dos passos e das pernas) e acerca do lugar da UE no mundo.
E da aqui a 50 anos como sérá?

"The Europe of 2057 is a larger place, its borders stretched eastward to encompass Turkey and, probably, Russia. It is a greener place, where wind and sun power have supplanted fossil fuels. It has been the battleground for at least one new war. And the dominant language is English"

A Ler no International Herald Tribune.

quinta-feira, 22 de março de 2007

Lido noutro lado II

[...] A nossa sociedade está cheia de ruídos tagarelas e de pesados silêncios. Este povo tem opinião sobre tudo mas sabe cada vez menos. Entope os programas da rádio ou televisão que a custo zero preenchem horas a fio com a participação espontânea de ouvintes e telespectadores, mobiliza-se para votar democraticamente qual o maior português de sempre, comove-se com os amores de Salazar, com o exílio de Marcelo, com as vítimas da PIDE ou com a coragem de Aristides Sousa Mendes, mas não responde a um inquérito básico sobre quem foi cada um destes e de outros nomes de portugueses que numa gigantesca operação de marketing disputam os outdoors das nossas cidades com os cartazes do referendo do aborto. Tudo se equivale e iguala, porque tudo acontece nessa mágica fábrica de faz de conta que é a televisão. Aliás parece que só a televisão entusiasma este povo: ainda muito recentemente se apaixonou pelo caso do Sargento Luís – houve em tempos um outro, lembram-se? também era Luís, mas era soldado, e era do PREC – e num ápice reuniu 10.000 assinaturas para o Habeas Corpus, Como há anos se alistou nesse exército anónimo que ocupou ruas e praças por Timor repetindo em uníssono «Somos todos timorenses». Causas que até foram comparadas justamente por esse medidor (mediador) de senso comum que é a comunicação social. Como somos mestres em voos acrobáticos, e muito dados a liberdades poéticas, sem custo vamos do caso do Sargento a Timor e de Timor ao 25 de Abril.

O salto no absurdo justifica-se porque tudo se resolve num faz de conta. É ainda Eduardo Lourenço que diz que até nos grandes momentos da história sempre estivemos ausentes de nós mesmos. Por isso nem a euforia nem a tragédia deixam marcas ou inscrições, para citar José Gil. Porque «vivemo-las, mas não as somos». Nenhuma delas fura a espuma dos dias, nem custa uma insónia a este povo que, por se querer feliz, apaga (se possível pela televisão) a própria história[...]

Maria Manuela Cruzeiro no Passado/Presente

Lido noutro lado

Este Holocausto será diferente na Rua da Judiaria. Um texto de Benny Morris.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Companhia II


Vi e gostei muito. As interpretações; as três histórias a fluirem ao mesmo tempo sem se atropelarem; a sobriedade dos meios técnicos e o bom gosto dos planos. Sem atavios, quase como um documentário. Melhores os secundários; Pitt e Blanchett são a bandeira comercial que permitiu "vender" o filme a Hollywood. O realizador Alejandro González Iñárritu está de parabéns. Excelente a banda sonora. A não perder [ambos].

Companhia

Faz-me companhia esta autobiografia há alguns dias. Leio em inglês [dispenso a tradução normalmente tardia e repentista para português]. Trata-se de um documento pessoal impressionante pelo que diz mas também pelo que esconde. Ser mulher, negra e muçulmana. Apesar de tudo.

Porquê o Youtube na blogsfera?

É estranho o fenómeno que vai pela blogsfera da profusão de posts com links ao Youtube. Não sei se é por preguiça mas há algo de espontâneo que se começa a perder na blogsfera: a possibilidade de in-time comentar a actualidade a fazer recair as questões nesta sorte de espaço público. Sei que o tema está batido de mais - a concorrência deste meio de comunicação de massas aos jornais e periódicos - mas parece-me que a espontaneidade campeia aqui [e rareia ali]. Se ao exercício da escrita substituimos o voyeurismo da imagem duplicada vezes sem conta não estaremos a liquidar o sentido constante deste espaço? Uma reflexão aos visitantes.

Lido noutro lado

[...] Um artigo sobre Hannah Arendt faz-me pensar sobre os jornais e os intelectuais num país que é um deserto de qualidade - o último ensaio que gostei de ler sobre Portugal foi o Labirinto da Saudade e tive de passar dois dias em Londres para, como bom provinciano, chegar à conclusão que, por aqui, não há um único jornal ou revista de jeito [...] “Clichés e jargões, frases e analogias para a ocasião, aderência dogmática a corpos de teoria já estabelecidos, e petrificação de ideias são os instrumentos desenhados para aliviar a mente do peso do pensamento enquanto se mantém a aparência de uma árdua lavoura intelectual”[...]

No Mau Tempo no Canil com a devida vénia. Onde é que eu já vi isto?

terça-feira, 20 de março de 2007

As primárias do PSD

António Borges responsabiliza Santana Lopes pela actual instabilidade no PSD. E escancara a porta para que o antigo líder deixe o partido. Em declarações ao Diário de Notícias, aqui afirma "Se Santana avançar com outra força partidária, eventualmente não vai levar ninguém do PSD consigo, só alguns amigos mais chegados"."Santana fez muito mal ao partido enquanto líder e a posição frágil que o PSD atravessa agora deve-se a ele", afirma Borges, lembrando os seis meses de governação de Santana, em 2004, e a derrota do partido nas legislativas que se seguiram.

António Borges faz um número de contorcionismo e põe-se à disposição dos militantes do PSD para avançar. Dizendo [por enquanto] apoiar a liderança de Marques Mendes coloca-se naquele vai que não vai, que tem alimentado há pelo menos dois anos. Bater em Santana Lopes é fácil. É a face mais visível de uma situação caótica deixada pela saída de Durão Barroso para Bruxelas e a necessidade de assegurar a governabilidade do país.
A responsabilidade foi de Jorge Sampaio. Cometeu um erro grave aceitando uma solução de conveniência que se provou pior que a cura: eleições legislativas. Aliás o termo final do seu mandato foi um acumular de erros, amoques, baralhadas.
Mas Borges faz dois erros de avaliação grave. Santana não está nada convencido que "fez mal ao partido" e que cometeu erros nocivos ao país. Como qualquer mitómano que perde o sentido da realidade Santana acha-se a vítima, o cordeiro imolado na rocha por Abraão. E como não tem qualquer complexos de culpa está desesperado por voltar ao estrelato. Esse seu desejo tem outras explicações privadas que não vou aqui falar mas que são conhecidas em meios políticos de Lisboa e que o diminuem para um regresso à presidência do PSD. Mas Santana Lopes usa como ninguém aquilo que se tornou o expediente preferido do jogo político: o soundbyte. E sabe como ninguém usar aqueles 5-10 segundos das televisões para lançar um ataque demolidor ou criar um facto político. E é isso hoje em dia que conta, pelo menos na primeira impressão.
O pântano de conveniência em que se transvestiu o debate político no PSD cria as condições possíveis para que possa sonhar outra vez.
O segundo erro de Borges é que acha que pelo seu brilhantismo e competência técnica pode tomar o PSD de rompante sem "sujar" as mãos na política partidária, sem calcorrear as distritais, conviver com o militante de base, falar no comício popular. O seu ar aristocrático, selectivo, "tio", cola mal à identidade do PSD como partido popular do centro-direita. Dificilmente ganhará o partido e depois o país se não baixar à real e fizer-se à estrada.
Lembra de certa maneira Hilary Clinton pela pose, pela frieza e pelo calculismo. Há qualquer coisa que não cola nele.

O CDS

Escreve Direita por linhas Portas.

Ainda o CDS-PP

Aqui está confirmado o que dizia em post anterior: "Cisão é a melhor hipótese que o CDS tem" diz Maria José Nogueira Pinto no DN, aqui. Parece que afinal a reunião do Conselho Nacional envolveu agressão à presidente.

A direita portista meteu-se em terrenos apertados e quer tomar o poder ao golpe e à marretada. A insinuação das tácticas do PREC fará tremer a base conservadora do PP.

Num país conservador e com uma base de apoio rural e nortista, Paulo Portas arrisca-se a ficar com os garotos do Grupo Parlamentar e mais os trauliteiros da J. C.


Não se metam com a Zézinha....

segunda-feira, 19 de março de 2007

Subir a parada

Lê-se na imprensa:
O líder do CDS-PP, José Ribeiro e Castro, garante que vai bater-se «tenazmente» contra qualquer assalto ao poder, mas nega estar agarrado ao lugar de presidente dos democratas-cristãos.
Em conferência de imprensa, Ribeiro e Castro garantiu que «ninguém» na direcção do CDS-PP «está agarrado ao poder», salientando que há duas semanas manifestou abertura à realização de um Congresso «sem nenhuma necessidade de o fazer».

Ribeiro e Castro responde ao lance e sobe a parada. A derrota existe só quando travado o combate. Depois disso ninguém dirá que fugiu ainda quando a lógica numérica aponta em seu desfavor. O problema - ao contrário do que Maria José Nogueira Pinto diz - não está em o partido ter ou se tornar um partido de arruaceiros. Está em que o PP já em muito deixou de ser CDS, isto é um partido de centro destinado a ser o terceiro vértice do triângulo entre a esquerda marxista e um PSD social-democrata. O PP é um fortissimo candidato à refundação da direita, comme il faut. E Portas quer ser o maestro dessa refundação que engulirá Manuel Monteiro e possivelmente a ala da direita do PSD.

Os dislates de Robert Mugabe

"We hold President Mugabe personally responsible for these actions, and call on him to allow all Zimbabweans the right to live without fear and to fully participate in the political process," declarou o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Sean McCormack.


Uma imagem da brutalidade do regime autocrático e sanguinário do Idi Amin dos novos tempos.

Reestrutuação consular e a oposição do PSD

O governo anunciou as linhas gerais da reestruturação consular, verificando-se recuos em França e nos Estados Unidos, países onde os emigrantes mais contestaram os encerramentos previstos. Segundo a imprensa dos três consulados a encerrar nos Estados Unidos, mantém-se o de Nova Bedford, enquanto o de Nova Iorque transforma-se em escritório consular e o de Providence passa a vice-consulado.
Em França vão encerrar quatro consulados em vez dos seis previstos [Versalhes, Nogent, Orléans e Tours] enquanto o de Lille se transforma em escritório consular e o de Toulouse em vice-consulado. Em Espanha, extingue-se o consulado de Madrid, sendo criada uma secção consular, bem como o posto de Bilbau. Os consulados de Vigo e de Sevilha, que se previa que fossem encerrados, transformam-se em vice-consulado e em escritório consular.

As representações diplomáticas e consulares extensas são um luxo de países ricos. Seguem uma lógica de projecção externa da imagem e dos interesses do estado e de serviço das comunidades emigrantes ou expatriadas. Sendo há 4 anos expatriado [depois de o ter sido antes durante 9 anos] tenho a perfeita noção de quais são as carências de representação externa e o que as comunidades expatriadas esperam dos representantes do seu país. Da minha experiência retiro que os diplomatas e consules são a maior parte das vezes agentes passivos da função de representação. Esperam, a mor das vezes, que os compatriotas os procurem a tomarem a iniciativa de se lhes mostrarem úteis. O problema reside na formação dos diplomatas a nível do Palácio das Necessidades mas também de falta de orientação e enquadramento do Ministro e dos Directores-gerais. É normal que as populações exigam tudo, se possível um representante do país em cada canto do globo. Mas cabe aos governos responsáveis fazer escolhas e tomar decisões quanto a essa rede.
Pela segunda vez parece que o governo socialista recua, como um trampalhão, quando as populações batem o pé e o fazem em alvoraça. Das duas umas, ou as escolhas e a lista das prioridades [ver comunicado do MNE] foi mal feita ou [se foi bem feita] não se percebe porque é que um governo legítimo recua, berante a algazarra, sempre que ela se manifesta pelas mais diversas razões.

Vai, assim, mal o primeiro-ministro. Primeiro, na reestruturação das maternidades e centros de saúde; agora, nas representações diplomáticas. Mas não está sozinho. Vai mal o líder da oposição, Marques Mendes, que responde ao governo ao safanão, sem tino ou lógica. O PSD parece-se cada vez mais com um Bloco de Esquerda do centro-direita. Simplismo de análises, verborreia e anacronismo são muito mau conselheiros.

domingo, 18 de março de 2007

Leituras a propósito da crise no CDS-PP

Talvez a descrição recente e mais interessante do uso da retórica, do embuste, do drama e da manipulação no jogo político na república romana é o romance Imperium de Robert Harris, com recente publicação pela Editorial Presença. Uma tradução, segundo me dizem, ao nível do sofrível. Li-o na versão original, inglesa.

Trata-se do relato da vida de Cícero, jurista e homem de estado romano e das suas relações com algumas das figuras mais conhecidas da república romana: Pompeu e César Augusto, entre outros. A qualidade da reconstituição histórica ultrapassa tudo o que tinha lido antes sobre a matéria. Um excelente guia sobre a política, os políticos e o jogo venal do poder.

Também tu Brutus

The fault, dear Brutus, lies not in our stars, but in ourselves if we are underlings.
Shakespeare

Um CDS entre facções e golpes de opereta

O escaldante conselho nacional do CDS-PP deste fim-de-semana revela um partido desmembrado dividido entre duas facções que jogam o tudo ou nada. O clamor de acusações e insultas lembra outros tempos na vida política portuguesa não só no CDS, mas também no PSD ou PP. É provavelmente uma questão de temperamento mas a luta política em Portugal joga com as paixões mais que a racionalidade.
O busílis resume-se em duas palavras. O Dr. Paulo Portas - ávido leitor dos clássicos - tendo abandonado a liderança do partido na sequência da derrota do centro-direita, há dois anos, quer regressar à liderança, volatilizando pelo caminho a actual direcção centrista.
E não o quer fazer de qualquer maneira mas da forma como os antigos generais romanos ambicionavam regressar a Roma depois de anos de campanhas gloriosas na Gália, na Ásia Menor ou na Ibéria: recebidos em parada triunfal às portas de Roma, sob a chuva dos aplausos e dos gritos da multidão, em quadriga puxada por corcéis brancos e usando na cabeça a coroa de louro dos heróis romanos. Algo que nos tempos antigos antigos era reservado aos Cônsules romanos, a mais importante função na administração romana.
Para isso não tem hesitado em denegrir a imagem do actual lider [o episódio da acusação de em 1985 ter rasgado o cartão de militante é disso exemplo] e pôr a lider do conselho nacional Maria José Nogueira Pinto a ridículo.
Todos os métodos justificam a apetência do Dr Paulo Portas pelo dramalhão a que meteu ombros, ainda que ele se traduza - muito provavelmente - na cisão da aula histórica do CDS-PP.
As directas são apenas o pretexto para a chacota em que teima - aparentemente - em viver atolado.
Terá a direcção do partido percebido que não se pode render desta forma aos repentes do antigo lider e irá forçá-lo ao que tudo indica a ir a Congresso para clarificar o jogo das forças, ou no código partidário dar a voz aos militantes.
O [desfecho] do congresso está definido à partida mas se percebo a estratégia de Ribeiro e Castro será esse o momento para lavrar o seu testamento político e pôr a nu a "ugly face" do lider popularucho dos populares.

Lido

"We're just good friends, honest", Economist.
"Musharraf's headache for the US", Saleem Shahzad no Asia Times.
"The New New World Order", Daniel W. Drezner na Foreign Affairs.

Lançamento livro "Marketing Inovador"

Mui excelentes leitores

Será no próximo dia 29 de Março, quinta-feira, pelas 18h30-20h00 que eu e o Doutor Bruno Valverde Cota lançaremos o livro "Marketing Inovador".

No Palácio Belmonte, em lugar de eleição.

www.palaciobelmonte.com

Páteo Dom Fradique,14
1100-624 LISBOA

Teremos um BusShuttle para levar os interessados entre o parque de estacionamento (Portas do Sol) e o Palácio.

Reservem na vossa agenda.

Faremos da ocasião uma oportunidade para nos revermos e convivermos.
Dois ilustres amigos (Professores Doutores Carlos Zorrinho e João Borges Assunção) farão uma alocução a que se seguirão tb breves intervenções dos dois autores e a habitual sessão de autógrafos.

Cumprimentos afectuosos e espero vê-los em Lisboa no dia 29.03.2007!