Uma larvar febre proibicionista está a invadir a Europa. O mais preocupante é que o alvo persecutório de Bruxelas parecem ser os publicitários. Começou por se proibir a publicidade ao tabaco – que culminou numa perseguição aos fumadores- proibiram-se uma série de produtos tradicionais com intuitos meramente proteccionistas no seio do mercado interior, agora ameaça-se proibir a publicidade dirigida às crianças e ao “fast-food”.
Devo reconhecer que até estou, em princípio, de acordo com algumas proibições, mas não aquelas que têm sido alvo dos censores de Bruxelas.
Não sou consumidor de “fast food”, mas considero a proibição da sua publicidade uma rotunda estupidez. Em primeiro lugar, porque não está provado que o consumo moderado desse tipo de alimentos seja muito prejudicial à saúde. Alguns nutricionistas admitem mesmo que esses produtos fazem parte – ainda que ocasionalmente- da sua dieta alimentar. Em segundo lugar, porque não é proibindo a publicidade que se combate a obesidade que tanto preocupa- e bem- as autoridades de Bruxelas.
O que deveria preocupar as autoridades comunitárias e principalmente o Comissário Kyripianou era perceber por que razão os jovens europeus se sentem tão atraídos pela “fast food “ e outras modas “made in USA”. Já deveriam ter percebido, por exemplo, que a cultura americana, assente em princípios alimentares profundamente errados, é vendida a toda a hora na Europa através dos filmes e séries de origem americana que invadem as televisões e salas de cinema.
O cinema pode ser um meio de enorme eficiência para que os europeus - tão distraídos nas últimas décadas com as produções americanas- se identifiquem melhor com a sua História e os seus costumes e se revejam no espaço geográfico que ocupam. Porque não, então, apoiar a indústria cinematográfica de raízes europeias, em vez de a condenar ao desaparecimento?
Outra medida seria o incremento de acções de formação e informação junto do público em geral e dos jovens em particular, para evitar cenas como a que assisti há uns meses numa escola de Lisboa onde, numa conversa com crianças de 9/10 anos fiquei a perceber que muitas delas pensavam que os “hamburguers” nasciam nas árvores ( Não, não é anedota!!!).
De há uns anos a esta parte, a Europa anda um pouco divorciada do apoio à formação e informação dos seus cidadãos. Talvez porque pense que é mais fácil atacar a publicidade, do que cortar o mal pela raiz, esclarecendo os cidadãos acerca dos comportamentos mais correctos para uma vida saudável. Dir-me-ão que proliferam as campanhas informativas, mas eu contraponho com a sua inoperância. E a razão é simples: são mal direccionadas, mal conduzidas e, sobretudo, mal executadas.
Compreendo que seja mais fácil para Bruxelas proibir a publicidade a determinados produtos, do que pôr em causa a sobrevivência de figuras sagradas da indústria e do mercado. Compreendo que seja mais fácil sugerir a proibição de venda desses alimentos nas cantinas escolares ( embora quem queira continuar a consumi-los os encontre a 100 metros da escola) do que desenvolver campanhas que permitam aos jovens fazer escolhas conscientes em termos alimentares, não se deixando seduzir pelas promessas de alguma publicidade.
Compreendo tudo isto...mas não aceito! Porque não pactuo com a prática farisaica de dar com uma mão e apunhalar pelas costas com a outra.
A UE já devia ter percebido que se a publicidade ajuda a enraizar hábitos, não pode ser responsabilizada pelos males do mundo!