sexta-feira, 29 de junho de 2007

Geração iPhone

The New York Times lembra que "nenhum consumidor conseguiu até hoje tocar ou sequer ver um dos aparelhos, mas a expressão iPhone foi nos últimos seis meses tema de 11 mil artigos e 69 milhões de procuras no Google".
Vittorio Zambardino, no La Repubblica: “É espantoso, estão escritos km de textos sobre a máquina ainda sem ter sido vista.”


Estas citações, extraídas de um artigo de Sena Santos no DN de hoje -cuja leitura recomendo- são bem ilustrativas do que é capaz de produzir a sociedade da hiperescolha, legítima herdeira da sociedade de consumo.
Já não queremos ser. Queremos apenas ser os primeiros a ter, para vivermos na ilusão do parecer.O triunfo da matéria sobre as ideias e da publicidade sobre os conteúdos consolida-se à velocidade dos soundbites!

Os muros da "Liberdade"

A minha geração lutou pela queda do Muro de Berlim e teve a satisfação de ver o seu desejo realizado. Longe estaria de imaginar que anos depois da queda do mais ignominioso muro das civilizações modernas, florescesse a tendência para reeditar os “muros da vergonha”.
O Tribunal Internacional de Justiça declarou ilegal, em 2004, o muro da Cisjordânia, mas Israel continua a ignorar a sentença, com o apoio dos Estados Unidos que, por sua vez, iniciaram a construção de um muro de 1400 kms na fronteira com o México, a pretexto de suster a imigração, e Bush achou por bem mandar erguer um muro no Iraque, separando xiitas e sunitas.
Até onde irá esta fúria revivalista de construir muros em nome da liberdade, depois de tantos anos de luta para derrotar um outro que a ameaçava?
Serão os muros construídos pela sociedade global mais legítimos do que o muro de Berlim?

Nota de Leitura I [Democratic realism]

[...] Desvalorizar o apelo do islamismo radical é o modo de ver também dos seclaristas. O islamismo radical não é apenas fanático e tão inaplacável no seu antiamericanismo, antiocidentalismo e antimodernismo como qualquer coisa que já tenhamos visto. Aquele tem a vantagem distintiva de estar fundado numa religião venerável com mais de mil milhões de crentes, que fornece não apenas um caudal constante de recrutas - treinados e preparados em mesquitas e madrassas muito mais eficientes, autónomas e ubíquas que qualquer Juventude Hitleriana ou campo Komsol - mas é capaz de usar uma longa e profunda tradição de zelo, expectativa messiânica e cultura de martírio. Hitler e Estaline tiveram de os inventar do nada. A versão de Mussolini era um aparódia. O radicalismo islâmico age sob uma bandeira que tem muito mais profundidade histórica e goza de um apelo muito mais duradouro do que as religiões sucedâneas da suásticas e da foice e martelo, que se mostraram tão pobres e insubstanciais historicamente [...]

Charles Krauthammer, "In defense of democratic realism", The National Interest, 2004

quinta-feira, 28 de junho de 2007

Saldanha Sanches

Saldanha Sanches chumbou, ontem, nas provas públicas para professor agregado da Faculdade de Direito de Lisboa – o último grau da carreira académica. Só os professores agregados podem ascender à cátedra, que é atribuída por vaga. Os nove professores do júri deram-lhe seis bolas pretas e três brancas. O júri que decidiu o ‘chumbo’ inédito - primeiro neste tipo de provas em Direito - foi constituído por dois catedráticos de outras faculdades (Braga de Macedo e Diogo Leite Campos) e sete internos: Marcelo Rebelo de Sousa, Jorge Miranda, Menezes Cordeiro, Fausto de Quadros, Teixeira de Sousa (director da faculdade), Paulo Otero e Paz Ferreira.

Há algo de irónico nesta história que escapará aos menos informados. Depois de ter sido um dos principais lideres da FEML [a organização juvenil do MRPP] durante a década de 70 e comandado os saneamentos da faculdade de direito nos meses seguintes ao 25 de Abril de 1974, entre os quais o odioso Soares Martinez tornou-se seu assistente na década de 80 e manobrou a sua reabilitação. Martinez nunca deixaria de ser o fascista que sempre foi mas o jogo da conveniência em que Saldanha mergulhou traz-lhe hoje os devidos engulhos. Sharp mouth, opinativo, sarcástico, rancoroso, Sanches terá pisado alguns calos, de forma ostensiva. As consequências aqui estão. O que é curioso é que quando o júri considera que o trabalho não está em condições sugere ao "probente"que o retire. Cheira-me que teimoso como é Sanches insistiu, insistiu e levou bola preta.
O chumbo será a galhofa nestes dias na velha faculdade da Alameda da Universidade. Que foi a minha.

Publicidade na mira da UE

Uma larvar febre proibicionista está a invadir a Europa. O mais preocupante é que o alvo persecutório de Bruxelas parecem ser os publicitários. Começou por se proibir a publicidade ao tabaco – que culminou numa perseguição aos fumadores- proibiram-se uma série de produtos tradicionais com intuitos meramente proteccionistas no seio do mercado interior, agora ameaça-se proibir a publicidade dirigida às crianças e ao “fast-food”.
Devo reconhecer que até estou, em princípio, de acordo com algumas proibições, mas não aquelas que têm sido alvo dos censores de Bruxelas.
Não sou consumidor de “fast food”, mas considero a proibição da sua publicidade uma rotunda estupidez. Em primeiro lugar, porque não está provado que o consumo moderado desse tipo de alimentos seja muito prejudicial à saúde. Alguns nutricionistas admitem mesmo que esses produtos fazem parte – ainda que ocasionalmente- da sua dieta alimentar. Em segundo lugar, porque não é proibindo a publicidade que se combate a obesidade que tanto preocupa- e bem- as autoridades de Bruxelas.
O que deveria preocupar as autoridades comunitárias e principalmente o Comissário Kyripianou era perceber por que razão os jovens europeus se sentem tão atraídos pela “fast food “ e outras modas “made in USA”. Já deveriam ter percebido, por exemplo, que a cultura americana, assente em princípios alimentares profundamente errados, é vendida a toda a hora na Europa através dos filmes e séries de origem americana que invadem as televisões e salas de cinema.
O cinema pode ser um meio de enorme eficiência para que os europeus - tão distraídos nas últimas décadas com as produções americanas- se identifiquem melhor com a sua História e os seus costumes e se revejam no espaço geográfico que ocupam. Porque não, então, apoiar a indústria cinematográfica de raízes europeias, em vez de a condenar ao desaparecimento?
Outra medida seria o incremento de acções de formação e informação junto do público em geral e dos jovens em particular, para evitar cenas como a que assisti há uns meses numa escola de Lisboa onde, numa conversa com crianças de 9/10 anos fiquei a perceber que muitas delas pensavam que os “hamburguers” nasciam nas árvores ( Não, não é anedota!!!).
De há uns anos a esta parte, a Europa anda um pouco divorciada do apoio à formação e informação dos seus cidadãos. Talvez porque pense que é mais fácil atacar a publicidade, do que cortar o mal pela raiz, esclarecendo os cidadãos acerca dos comportamentos mais correctos para uma vida saudável. Dir-me-ão que proliferam as campanhas informativas, mas eu contraponho com a sua inoperância. E a razão é simples: são mal direccionadas, mal conduzidas e, sobretudo, mal executadas.
Compreendo que seja mais fácil para Bruxelas proibir a publicidade a determinados produtos, do que pôr em causa a sobrevivência de figuras sagradas da indústria e do mercado. Compreendo que seja mais fácil sugerir a proibição de venda desses alimentos nas cantinas escolares ( embora quem queira continuar a consumi-los os encontre a 100 metros da escola) do que desenvolver campanhas que permitam aos jovens fazer escolhas conscientes em termos alimentares, não se deixando seduzir pelas promessas de alguma publicidade.
Compreendo tudo isto...mas não aceito! Porque não pactuo com a prática farisaica de dar com uma mão e apunhalar pelas costas com a outra.
A UE já devia ter percebido que se a publicidade ajuda a enraizar hábitos, não pode ser responsabilizada pelos males do mundo!

Hong Hong, ten years later

Faço, a propósito dos 10 anos da HKSAR, uma análise globalmente positiva da gestão chinesa da antiga colónia britânica aqui no Macau Daily Times, o novo e impressivo diário em língua inglesa de Macau.
Paul Harris e Chris Patten acompanham-me - no International Herald Tribune - em visões mais distanciadas e mais pessimistas. Aqui e aqui.

quarta-feira, 27 de junho de 2007

Buenos Aires não é um barómetro, mas pode ser um aviso...o

O candidato de direita, Maurizio Macri, ganhou com surpresa e esmagadora maioria ( cerca de 60%) as eleições em Buenos Aires.
Não é uma boa notícia para o presidente Gustavo Kirchener, a quatro meses das eleições presidenciais. Embora Buenos Aires seja um eterno bastião da direita argentina, o à vontade com que Macri venceu as eleições na capital azul-celeste serve de aviso a Kirchener que todos os analistas consideram como vencedor antecipado das eleições de Outubro. E diga-se, em abono da verdade, que a derrota do actual Presidente seria não só uma injustiça, tendo em consideração a forma como contribuiu para a recuperação do país durante os cinco anos de mandato, como um forte revés para o desenvolvimento da Argentina que apresenta sinais inequívocos de um crescimento consistente.
Uma amiga argentina dizia-me, esta manhã, que Kirchener poderá vir a pagar a factura da aproximação a Chavez, quando Bush visitou a América Latina. Na altura também aqui aventei essa hipótese, mas sinceramente não acredito que isso venha a acontecer. O actual presidente é da esquerda moderada, não se põe de cócoras diante de Bush, nem é apoiante das ideias de Chavez e tem uma ideia clara do papel a desempenhar pela Argentina no Mercosur e no contexto geral da América Latina.

Legislemos as mamas, então!

Os eurocratas que já nos retiraram do prato os “jaquinzinhos”, o queijo da serra artesanal e uma série de minudências gastronómicas que me alegravam os repastos, parecem querer tirar-nos outras alegrias. Vai daí, reúniram-se algures para discutirem a sua próxima incursão legislativa. Ao que presumo, a discussão deve ter sido acalorada, mas pouco produtiva. Incapazes de legislar sobre a licença de uso e porte de arma, sobre drogas, ou qualquer outra matéria de real interesse para os europeus, seguiram o conselho de um qualquer Comissário e fizeram verter a sua argúcia regulamentatória sobre os predicados femininos.
Legislemos as mamas! – acordaram em uníssono ( e presumo que por aclamação...) os eurocratas de Bruxelas.
Valha-nos que, POR AGORA(!) ainda não decidiram regulamentar o tamanho, mas apenas as regras dos implantes, que ficam proibidos a menores de 18 anos. No entanto, as jovens que se sintam descontentes com o tamanho das ditas, podem afogar as suas mágoas em noites de bebedeira, porque o consumo de álcool só é proibido antes dos 14 anos ( e mesmo assim, pelo que é possível ver em Portugal, qualquer criança de 10 anos pode apanhar boas bebedeiras em locais licenciados, desde que não o faça depois da meia –noite...)
O que vale aos homens é que, POR AGORA(!) estão em maioria nos centros decisórios da UE, pelo que não é de esperar que algum se lembre de regulamentar o tamanho dos pénis! Em causa está a democracia europeia, caramba!

Rapidinhas 14- Adivinhas

Joe Berardo exigiu a demissão de Mega Ferreira e depois achincalhou-o em público. Quando é que vai pedir a demissão de Luís Filipe Vieira?

terça-feira, 26 de junho de 2007

Um continente da impunidade

Falarei amanhã no JTM da América Latina, na perspectiva que o El País se detinha um destes dias - o "continente da impunidade". Para agora a sugestão de uma olhadela na excelente biografia de Pinochet, publicada no referencial matutino espanhol, aqui.

Visita do Rei de Espanha à China

Juan Carlos está em Pequim e manda recado a Hu Jintao sobre a necessidade da China dar mais conteúdo ao diálogo Europa-China em matéria de direitos humanos. Provavelmente Hu Jintao registou, mas quererá compromissos claros da União no levantamento do embargo à venda de armas à China, decretado na sequência das manifestações de Tiananmen.
Reportagem no El País.

Baralhadas Tratadais

[...] E já agora, caro leitor, se pretender saber as linhas com que se cose e puser a cabecinha a jogar pingue-pongue entre os dois tratados [europeus] que virão a seguir ao da reforma, acha que vai perceber alguma coisa deste imbróglio?

A qualificada opinião de Vasco Graça Moura sobre a baralhada que se chama "Tratado Reformador". O desenvolvimento aqui no DN.

Imperdível

Sobre aeroportos, previno: sou parte interessadíssima. Os aviões dão- -me um pânico desmedido. Isto é, dão-me o pânico de um dia não poder entrar em avião. Logo o abrir automático das portas da Portela me tornam outro. Fico eufórico, eu sou o tipo de sorriso de orelha a orelha na fila para o check-in. O destino pode ser Tirana (Albânia) mas, mesmo aí, sorrio: sempre pode haver um desvio do voo. Fica, assim, dita a minha posição. Portela? Ota? Alcochete? Eu digo: aeroporto. É proposta de aeroporto? Sou por. E fiquei encantado quando alguém me multiplicou as esperanças com aquela fórmula linda: Portela+1. Ontem, então, ao ler no DN Fernando Seara, o presidente da Câmara de Sintra, fui feliz. Ele foi Portela+1, ele foi Portela+2, ele foi Portela+3... Melhor que isso, só a pista única: Portugal todo asfaltado e com um traço intermitente ao meio. O mapa já o dizia, há muito: geograficamente, o nosso rectângulo longo é o país mais parecido que há com uma pista de aeroporto.

Ferreira Fernandes, no DN

Rapidinhas 13

Ontem, na inauguração do Museu Berardo, estava presente toda a Lisboa do croquete, habituada a dizer mal do anfitrião e a comer à sua custa, mas sedenta de posar para a fotografia de uma revista cor de rosa. Entre os presentes, vi alguns que, quase aposto, a única obra de arte que tinham visto até ontem, era uma caneca das Caldas.

Rapidinhas 12

Luís Filipe Vieira: Joe, preciso de comprar um ponta de lança, passa para cá a “massa”!
Joe Berardo: Eh pá, Agora não tenho dinheiro trocado! Leva lá um “Warhol” e depois dá-me o troco...

Rapidinhas 11

Mais de 800 obras de arte, avaliadas em mais de 300 milhões de euros, encaixotadas durante anos. E pode? Não só pode, como explica o significado da palavra “Arte” nos tempos que correm.

Rapidinhas 10

A colecção de Joe Berardo esteve anos encaixotada e Isabel Pires de Lima, com o apoio de Sócrates, vai dá-la a conhecer aos portugueses. Sorte não termos um Roque Laia como Secretário de Estado da Cultura.

Regresso ao PREC?

A reabertura dos processos contra Pinto da Costa faz-me lembrar os tempos do PREC, quando a extrema –esquerda fixava alguns alvos da sua ira e procedia a julgamentos na Praça Pública.
Fundamentos para a acusação? Que é que isso interessava? Se uma amante despeitada por ter sido votada ao abandono, se lembrasse de dizer que o seu ex tinha sido da PIDE, lá corria a turba alvoroçada em perseguição do ignominioso, sem cuidar de saber se os factos relatados tinham qualquer ponta de veracidade.
O caso PC tem contornos muito pouco claros ( atenção, que não estou a dizer que ele esteja inocente) e fundamentos de acusação baseados em afirmações vertidas na forma de livro, que me fazem lembrar alguns “julgamentos” do PREC. O facto de um livro servir de “vendetta” e base para uma acusação é inédito e pode conduzir a caminhos perigosos.
Espero que tudo se esclareça com fundamento na verdade e na justiça e não como um ajuste de contas entre uma alternadeira despeitada ( cujos “apoios” também valia a pena esclarecer) e um Presidente de um clube de futebol afectivamente irresponsável.
E é sempre bom lembrar que nas épocas em que o seu Presidente é acusado de corrupção, o FC Porto ganhou “apenas” a Liga dos Campeões, a Taça Uefa e a Taça Intercontinental. Alguma outra equipa portuguesa se pode gabar de tal feito?

A nova era da Modernidade



A nova era da modernidade (publicado quarta-feira dia 20.06.2007 em Lisboa)

Os anunciantes estão a dedicar uma atenção crescente às formas não tradicionais de comunicação.

Paulo Gonçalves Marcos

Pela sua abrangência e potencial de atingir alvos, as acções de comunicação constantes dos planos de ‘marketing’ das empresas tendem a incluir a publicidade em lugar proeminente. É pouco comum assistir-se ao lançamento ou ao relançamento de um produto sem uma dose considerável de investimento em publicidade. Contudo, um conjunto de factores está a fazer com que o predomínio da publicidade esteja em erosão, impulsionando os anunciantes a desviarem parte crescente de seus orçamentos para formas não tradicionais de comunicação: fragmentação de audiências; o fenómeno do ‘zapping’ e o esbater das fronteiras entre a publicidade e o entretenimento, removendo o domínio do conteúdo e da mensagem tradicionalmente veiculadas em anúncios. Em síntese, as várias forças em acção parecem que estar a retirar o domínio da mensagem das mãos dos anunciantes e a colocá-lo cada vez mais na mão dos consumidores. Para tentarem recuperar, ao menos parcialmente o seu domínio, os anunciantes estão a dedicar uma atenção crescente às formas não tradicionais de comunicação, mormente a:

• promoções cruzadas (Cooperação). Exemplos incluem sacos de compras (em Portugal o famoso saco de plástico do Expresso, com faces ocupadas pela Microsoft e pela HP);

• patrocínios (Associação). Procura-se a associação de uma marca com um determinado acontecimento (MillenniumBCP e o Rock in Rio Lisboa; BES e a vinda de Kofi Annan a Lisboa para a Conferência do Futuro Sustentável);

• colocação de produtos e serviços (Ocupação espacial). A ideia é a de oferecer aos anunciantes um ambiente envolvente em que o público está cativo. Em viagens de avião de longo curso, nas zonas de espera das consultas hospitalares ou das agências bancárias, nos tabuleiros das cantinas universitárias, nos pacotes de pipocas dos cinemas multiplex, as oportunidades e os exemplos abundam.

A Comunicação Tradicional, com expoente máximo na publicidade, acredita num modelo de resposta clássico, em que dos clientes se espera que façam uma progressão ao longo dos diversos estádios: da tomada de conhecimento e consciência sobre um produto ou serviço e respectiva marca, para um estado de preferência activa (em comparação com as alternativas) até a um estádio que culmina na aquisição e repetição da compra. As movimentações ao longo dos estádios são razoavelmente lentas, fruto de um processo cognitivo onde a publicidade desempenha um papel muito relevante nos primeiros estádios.

A Comunicação não tradicional centra-se no primeiro estádio, na tomada de consciência. A tomada de conhecimento implica, antes de mais, exposição mediática e visibilidade. Desejavelmente estas provocarão um efeito de “burburinho”, onde as pessoas falam umas às outras do produto, serviço ou marca. Onde a marca entra nas conversas quotidianas das pessoas, nos momentos de convívio, nos locais de trabalho e de reunião. Ou seja, a Comunicação Não Tradicional poderá ser muito rápida e é dominada pelas iniciativas dos consumidores e cidadãos anónimos, através de fenómenos de difusão largamente espontâneos. O “passa palavra” entre amigos e colegas é mais poderoso e credível que as mensagens formatadas e pagas pelas empresas. Este passa palavra é mais emocional e em certo sentido mais enraizado nas preferências culturais, nas atitudes e valores que norteiam uma sociedade. A essência do processo de comunicação é a transformação dos clientes pioneiros em missionários, capaz de fazer proselitismo a custo zero. Capazes de apostolarem com entusiasmo e dedicação. Como os conteúdos da comunicação não tradicional não são vistos como operações de marketing comercial, podem ser mais credíveis que publicidade convencional. Ipod, o browser Firefox, o filme The Blair Witch Project ou o automóvel Mazda MX-5, são fantásticos exemplos de marcas cuja “mensagem” foi transmitida por consumidores deliciados!

paulo.marcos@marketinginovador.com www.marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Gestor, Professor universitário

segunda-feira, 25 de junho de 2007

BB


"De Blair a Brown" editorial do El Pais. O humor [ao lado] do Independent.

DARFOUR - ecos da cimeira de Paris

"La communauté internationale ne peut pas continuer à rester sans rien faire. Nous devons redoubler d'efforts". "La rencontre de Paris était l'occasion de réunir tout le monde et de savoir exactement ce que nous devons faire".
Condoleezza Rice

"Cela fait trop longtemps que la communauté internationale attend, la population a trop souffert." "Le temps est venu d'agir, en particulier pour le président [soudanais] Omar El-Béchir, et en même temps, je demande aux rebelles de montrer plus de souplesse et de participer au processus politique"
Ban Ki-moon

Ainda o Tratado

Dificilmente posso escapar à lógica intuitiva dos comentários do Carlos Oliveira. Teremos com este tratado se Portugal o conseguir levar a bom porto [o que não está por forma alguma garantido] uma espécie de Nice + 3, sendo os três a indulgência, a cobardia, e a falta de liderança europeia. Mais que a economia de mercado - que talvez relesse considerando o apport dado pelos 27 à Construção Europeia uma concertação de políticas económicas mais que um projecto de unidade europeia. Ela não existe como se provou à saciedade.
O que ficou pelo caminho quanto ao projecto da Constituição Europeia é grave e significativo.

Europa, Sociedade Secreta?

Marcelo Rebelo de Sousa manifestou o seu desagrado e discordância, quanto à provável concertação entre PR e PM para que não se realize em Portugal um referendo ao texto do Tratado Europeu, afirmando que essa decisão iria contribuir ainda mais para a ideia de uma “Europa Confidencial”.
A quente, sou levado a partilhar a opinião do Professor, mas racionalmente tenho que concordar que a realização de um referendo sobre questões europeias num país onde o analfabetismo cívico-político deve rondar os 90% e a ideia de Europa se resume à possibilidade de obter subsídios, não me parece muito importante.
Acresce que as últimas declarações de Marques Mendes parecem exprimir um acordo tácito do PSD para a não realização do referendo. Abundam os argumentos para a mudança de posição do Bloco Central e, desta feita, tendo a partilhar das ideias do Centrão. Qual a necessidade de um referendo, se a maioria dos portugueses já manifestou não aderir a essa forma de consulta popular, abstendo-se - em percentagens que nos envergonham- de se pronunciar sobre temas fulcrais como o aborto ou a regionalização? Porquê delapidar os cofres do Estado com um referendo, se a maioria dos portugueses vota de acordo com a orientação dos partidos e o Centrão se pôs de acordo quanto ao novo Tratado?
Assim, a única razão que me leva a estar de acordo com Marcelo Rebelo de Sousa é perceber que a passividade dos cidadãos quanto às questões europeias está a contribuir para que a Europa se torne numa Sociedade Secreta, com as decisões a serem tomadas por um grupo de iluminados, à revelia da opinião pública. A recusa de um referendo- que presumo se irá alargar à esmagadora maioria dos países europeus- é apenas mais um passo no processo “Orwelliano” que tornará em breve a Europa num arremedo da sociedade de progresso e liberdade imaginada por Jean Monet eRobert Schuman. Até a paz interna poderá estar ameaçada, se o caminho a prosseguir continuar a ser o de afastar cada vez mais os europeus das decisões quanto ao seu futuro.

A guerra da água e o exemplo do Darfur

A Visão publica, no seu último número, um artigo do secretário-geral da ONU sobre o Darfur, que merece especial atenção. Escreve Ban Ki-Moon que “o conflito teve início numa crise ecológica provocada por uma alteração climática”.
Não é nada que os ecologistas não soubessem já, mas o alerta do Secretário Geral da ONU é lançado num momento de especial significado, duas semanas após o relativo fracasso da reunião do G-8 na Alemanha, onde a questão das alterações climáticas não foi encarada com a seriedade e urgência que merece. Em 2050, quem por cá estiver, não irá ter oportunidade de mais manobras dilatórias. A situação nesse momento será de tal modo grave, que prevejo medidas drásticas que os meus vindouros terão de suportar com muito estoicismo
A guerra no Sudão não é o primeiro conflito de consequências humanitárias catastróficas, provocado por questões ambientais, nem não será o último. Todos os especialistas estimam que dentro de 30 anos se multiplicarão em África as guerras pela posse de água que provocarão milhares de mortos e um ainda maior empobrecimento do continente. Resta a hipótese de a UE e os EUA se porem de acordo e, de uma vez por todas, tomarem efectivas medidas de apoio aos países africanos que evitem a hecatombe. Mas não tenho grandes esperanças de que isso venha a acontecer num futuro próximo.

Frase da semana

"Os actuais dirigentes do PS têm tanto de socialistas, como eu de bonito"- José António Barreiros.
Ou eu de benfiquista, permito-me acrescentar

Um Tratado inquinado

Vejo, com agrado, que o meu amigo Arnaldo Gonçalves partilha da minha opinião quanto à debilidade do novo Tratado e o que ele significa em termos de enfraquecimento de uma ideia de Europa.
Confirmou-se a previsão que aqui fizera de que seria alcançado um acordo em Bruxelas, mas que não haveria grandes razões para exultarmos. Alcançou-se o acordo possível, mas o novo Tratado não é o instrumento que a UE precisa para que seja relançado o espírito europeu . Pelo contrário. O sim da Polónia foi conseguido pela pior via: o poder do dinheiro. Ao ameaçar a Polónia com cortes de subsídios no caso de manter a sua oposição, e oferecer mais dinheiro caso aceitasse o acordo que os restantes países negociaram, a liderança europeia cometeu dois erros. Por um lado, comportou-se como aqueles pais que compram os filhos com a ameaça do corte da semanada; por outro, abriu um precedente que pode ser usado por outros países quando quiserem boicotar alguma medida essencial para o futuro da Europa. E ocasiões para oportunismos deste jaez não irão faltar nos próximos anos...
Tudo isto confirma a ideia que ambos partilhamos: a construção da Europa está cada vez mais assente na base do facilitismo muito próprio de quem vê na economia de mercado a solução de todos os problemas.
Ficou mais uma vez bem patente, ao longo das negociações, que alguns dos 27 países que integram a União Europeia não têm qualquer espírito europeu e não deviam lá estar ( ideia que aqui já expressei anteriormente, aliás). A Polónia é neste momento o exemplo mais significativo, mas não é o único, o que dá especial ênfase à tirada de Sarkozy em relação a Durão Barroso:
“Tens que ter ideias”- disse o Presidente francês a Durão Barroso, num tom que tanto pode ser interpretado como crítica velada a Durã Barroso, como de censura face à maneira como apoiou Ângela Merkl na condução de todo o processo.

domingo, 24 de junho de 2007

Ainda o Tratado Constitucional

Corroborando os receios que aqui levantara quanto ao acordo "costurado" pela presidência alemã as declarações fortes mas oportunas de Romano Prodi.

Portugal in Washington

O Museu Smithsonian de Washington tem em exposição uma importante mostra dedicada à saga portuguesa dos Descobrimentos. O título da mostra é "Ecompassing the Globe - Portugal and the World in th 16th and 17th Centuries" e congrega 296 obras dividas por seis alas ilustrando o tempo em que Portugal conquistou terras, bens e almas nas palavras do organizador da mostra. A mostra está aberta até Setembro.
À atenção do significativo número de visitantes americanos do Além do Bojador.

Constituição e Tratado

Ainda não li os termos do acordo no Conselho Europeu que conclui a presidência alemã do Conselho. Mas tenho um irreprimível sabor amargo. Porque não fomos capazes de ver mais longe que o [nosso] umbigo, as [nossas] minundências e as [nossas] vaidadezinhas. Não somos verdadeiramente uma união mas um ramalhete de países. Benjamin Franklin um dos subscritores da Declaração de Independência dos Estados Unidos terá dito [parece] que para os valores da revolução americana se manterem vivos seria necessário que esses valores fossem vivificados como o sangue [derramado] dos patriotas.
Parece que os historiadores não foram muito generosos com saída do velho pai fundador mas de certa maneira não podemos deixar de lhe dar alguma razão. A Europa está hoje abúlica, vive na quimera de um estado-providência eterno, de uma paz eterna, sem se ter que se esforçar e "lutar pela camisola". Quer tudo numa bandeja de ostentação e abundância. Até um dia!

Liberdade, igualdade e fraternidade

Um texto muito interessante de Rodrigo Fernandes More no site juridico brasileiro Jus Navigandi.

"Atualmente, quando dizemos que o ser humano é livre, a expressão explicita três situações distintas: a) que todo ser humano deve ter uma esfera de atividades protegida da ingerência externa, em especial do Estado; b) que todo o ser humano deve participar de forma direta ou indireta da formação das leis que irão regular sua esfera de condutas; c) que todo ser humano deve ter o poder de converter comportamentos abstratos em concretos previstos pelas leis que lhe atribuem este ou aquele direito. Em resumo, como destaca Bobbio, "a imagem do homem livre apresenta-se como a imagem do homem que não deve tudo ao Estado por que sempre considera a organização estatal como instrumental e não como final; participa diretamente ou indiretamente da vida do Estado, ou seja, da formação da chamada vontade geral; têm poder econômico suficiente para satisfazer algumas exigências fundamentais da vida material e espiritual, sem as quais a primeira liberdade é vazia, a segunda é estéril".