sexta-feira, 6 de julho de 2007

Ainda vou a tempo?

De felicitar o Paulo Gorjão pelo quarto aniversário do seu Bloguítica?

Também quero um aeroporto no meu quintal

Os estudos sobre a instalação de um aeroporto na Ota começaram nos anos 60. Durante 40 anos, ninguém parece ter-se importado muito com o assunto. Até aqui tudo normal. É característica dos portugueses deixarem tudo para a última hora.
Não pode ser por isso causa de espanto, que quando um Governo decide avançar para a construção de um aeroporto na Ota, surja a contestação. Faz parte da normalidade de ser português.
Não tenho posição definida quanto à localização do novo aeroporto e declaro-me incompetente para discutir as vantagens e inconvenientes da Ota, mas tenho lido e ouvido muitas opiniões a favor e contra e, de ambos os lados, encontro argumentos convincentes.
Não consigo é perceber porque razão nos últimos três meses se começaram a multiplicar os estudos a uma velocidade supersónica, e muito menos o que leva certas entidades a patrociná-los. É o que sucede com o mais recente estudo, que irá ser patrocinado pela Câmara de Sintra ( leia-se: munícipes de Sintra).
Se vivesse em Sintra, não deixaria de questionar o Dr. Fernando Seara acerca da sua decisão, pois está a gastar o dinheiro dos sintrenses, sem que a esmagadora maioria perceba qual o intuito e, muito menos aceite, que o dinheiro para benefícios do concelho sejam aplicados num estudo sobre uma localização hipotética que a ser “milagrosamente” aprovada não é seguro que traga benefícios para os sintrenses. Mas adiante...
Um aeroporto em Sintra parece-me uma ideia bizarra! Pôr os turistas a percorrer o IC 19, uma ideia peregrina! Meter um aeroporto paredes meias com o Cacém , uma ideia ridícula! Pensar que a realização deste estudo corresponda à satisfação de interesses partidários, uma ideia tão ignóbil, que me recuso a equacioná-la.
A verdade, porém, é que o estudo vai avançar e obedece à equação Portela+ 2 ( uma variante herdeira do Portela+ 1 e antecessora do Portela+3, +4, mais N).
Arrepia-me pensar que exista gente a defender a manutenção “ad aeternum” do aeroporto da Portela. É certo que me faz muito jeito ter um aeroporto ao pé de casa, pelo menos enquanto continuar a viajar, mas imaginar que daqui a 50 anos a Portela permaneça como aeroporto parece-me tão irrealista e suicidário, como gastar milhões a construir um aeroporto na Ota ,cujo prazo de vida se extinguirá daqui a 30 ou 40 anos.
Convém, no entanto, alimentar esta polémica, pois enquanto durar haverá gente a ganhar dinheiro com os estudos e personagens lúgubres a ter direito a “tempo de antena”.

Um arco-íris na 2ª circular

Que mais lhes irá acontecer? Depois de trocarem o equipamento encarnado, pelo “vistoso” cor de rosa, os benfiquistas estão a ficar amarelos, face à quase certeza de que um grupo chinês vai lançar uma OPA sobre a SAD da 2ª Circular.
Joe Berardo, esse símbolo do Portugal Rosa liderado pelo engº Sócrates, também deve ter mudado de cor quando soube que os chineses estarão dispostos a duplicar a sua oferta. ( Sempre quero ver se aqueles benfiquistas de gema que compreensivelmente se recusam a vender as suas acções a 3,5 euros alegando que as compraram por amor ao clube, mantêm a mesma posição com uma oferta de 7€!)
É claro que os chineses não sabem no que se vão meter se adquirirem o SLB, mas o clube terá certamente muito a lucrar com isso.
LFV é que não deve ter ficado muito satisfeito com essa hipótese, pois fazer “ arranjinhos” com Berardo é muito diferente de os fazer com chineses.
Suspeito, por isso, que esteja vermelho de raiva!Ao menos que haja algo de vermelho neste arco-íris em que se transformou o SLB, tornando mais policrotica a 2ª circular!

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Ainda a cimeira UE/Brasil

Só aos mais desatentos terá escapado a postura de Lula durante a Cimeira e, posteriormente, no programa que a RTP 1 exibiu com ele e Sócrates.
Com um discurso fluente, recusando o miserabilismo e o discurso do “coitadinho”, Lula mostrou que não tem qualquer complexo de inferioridade em relação aos “grandes estadistas europeus” , nem qualquer receio de tecer argumentos com eles.
Acima de tudo, deu uma lição notável: é possível crescer de forma sustentada sem desprezar os mais desfavorecidos e tendo preocupações sociais.
Quem visite regularmente o Brasil, percebe que o país de Lula nada tem a ver com o do início da década de 90 do século passado. Existe ainda muita pobreza, é certo, mas há uma maior equidade social, uma aposta muitíssimo forte na educação, que permitiu levar para as Universidades muitos condenados ao analfabetismo e à pobreza.
O Brasil é, entre os países do BRIC, o que tem crescido de forma mais sustentada e equilibrada, contornando as desigualdades sociais de forma hábil. Apesar das críticas internas, Lula não esqueceu as suas origens humildes, criando um conjunto de oportunidades para os que, nascidos como ele, possam singrar e ter vida digna.
A acção de Lula pode não agradar às elites brasileiras nem aos intelectualóides europeus que se renderam ao canto da sereia do liberalismo económico. Mas a História está cheia de exemplos de mudanças alcançadas contra essas elites.
Basta referir Luther King ou Nelson Mandella, para termos exemplos marcantes de como é possível derrotar os interesses instalados e mudar a sociedade. A Europa está a precisar de um grande líder que ponha em causa o actual modelo social europeu, tornando-o mais justo e sem estar à mercê dos grandes interesses económicos. Espero que já tenha nascido...

Cimeira UE-Brasil

A Cimeira UE / Brasil, apesar de ser um motivo de orgulho para Portugal, que introduziu um dado novo na agenda europeia, não serviu, ao que me parece, para fortalecer laços comerciais, nem definir estratégias comuns para a Europa e a América Latina.
Nem tal, aliás, seria de esperar, já que são conhecidas as posições autistas dos europeus face a África e à América Latina. Instalados confortavelmente no palanque do desenvolvimento económico, limitam-se ao habitual “carpe diem”, enquanto vão manifestando a sua preocupação com a pobreza, sem tomar medidas que permitam combatê-la. Neste particular, Portugal e Brasil deram um passo importante, ao assumir investimentos significativos em África na área dos biocombustíveis que irão permitir retirar da pobreza milhares de africanos.
O diálogo com a América Latina é, convenhamos, mais importante para Portugal e Espanha do que para a UE, que parece apenas apostada em impôr a sua vontade e não fazer qualquer cedência para um entendimento na Ronda de Doha colocando-se num pedestal de intransigência.
Creio que há muita gente na liderança dos destinos da UE que ainda não percebeu que o futuro próximo reserva um papel de grande relevo à América Latina. Para bem da própria Europa, será inevitável uma aproximação entre os dois blocos que, estou em crer, se concretizará a curto prazo, até porque não é crível que os EUA consigam concluir a contento, até final do ano, o acordo da OMC.
Os líderes europeus terão, todavia, de abdicar parcialmente em relação à política agrícola e os sul-americanos em relação aos entraves aduaneiros.
Por outro lado, para o Brasil se afirmar como interlocutor privilegiado, precisa de pôr alguma ordem no Mercosur e convencer os seus parceiros de quão importante é para o “continente” sul-americano uma aproximação à Europa.
Depois de ouvir ontem Lula, não tenho dúvidas de que o conseguirá fazer. Ao contrário do que muitos pensam e levianamente afirmam, o presidente brasileiro tornou-se um grande estadista ( o que confesso, também me surpreendeu...). Não agradará aos padrões europeus a sua sinceridade, mas estão obrigados a conviver com ela. Aguentem-se!

quarta-feira, 4 de julho de 2007

Vou de férias....

até daqui a duas semanas.

FRETILIN

A Fretilin ganha as eleições legislativas em Timor-Leste. Previ-o e escrevi-o mais do que uma vez ao longo de 2006 e 2007. Tanto no Jornal Tribuna de Macau como no Jornal de Negócios, periódicos de que sou [e fui] comentador.
Disse, também, que assistiremos ao acerto de contas e vingança do pequeno dirigente comunista [Märio Alkatiri] sobre o líder histórico da resistência timorense [Xanana Gusmão]. As humilhações sofridas por Alakatiri no processo judicial que levou ao seu afastamento serão vingadas, nem que seja com um banho de sangue. Que se cuide Xanana. Não que creio que Ramos Horta tenha a força política de o evitar.
A sorte dos três está escrita [há muito] nos astros. Como a de Timor. São como Rómulo e Remus. Disse no IIM em Novembro de 2007 num debate em que participei com o investigador Moisés Fernandes [possível pela gentileza do meu amigo Jorge Rangel] que Timor é um caso trágico de um estado inviável, incapaz de se governar a si próprio e que carece absolutamente do apoio da comunidade internacional para não cair numa guerra fraticidra que levará ao fim do país. Disse também - para intranquilidade das boas consciências - que a única solução que via era Timor aproximar-se da Austrália e funcionar como seu estado associado [de facto]. Uma espécie de protectorado tal como Porto Rico é face aos Estados Unidos.
Essa [frisei] é a melhor garantia para proteger o futuro [e a prosperidade] do timorense comum. As boas consciências parece que não gostaram. Esbracejam nas brumas da ilusão da mesma forma como olham o mundo e esquecem-se que os homens não são anjos mas lobos.
Como se confirmará em Timor.

Cimeira UE-Brasil

Dificilmente se conteve da cimeira UE-Brasil a impressão que o maior espaço económico integrado do mundo [a UE] e a mais ambiciosa nação em vias de desenvolvimento do mundo falam linguagens diferentes e atêm-se a paradigmas de desenvolvimento díspares e contraditórios.
Desde logo como encaram as presentes [e provavelmente falhadas] negociações para a liberalização do comércio mundial encartadas na Ronda Doha. A União percebendo que é preciso dar novos passos a bem do processo de expansão da economia global; o Brasil insistindo na ladaínha do país pobre, sub-desenvolvido, explorado pelo Ocidente rapace e escravizador. O primeiro falando na interdependência, o segundo na necessidade de "derrotar" os Estados Unidos.
Tratou-se de um diálogo de surdos destinado a cumprir calendário na presidência portuguesa do Conselho. Facto curioso que as televisões não tenham deixado escapar a sofreguidão com que Josë Sócrates se apressou a apresentar o novo potentado cultural do regime, o inefável Joe Berardo ao Presidente Lula da Silva, na visita que este último fez ao Centro Cultural de Belém. O atabalhoamento, o embasque perante a ignara figura reporta bem o estado a que chegou o regime do Eng.o Sócrates. Hesito em chamar-lhe socialista, mas é-o provavelmente. Há um irrepremível toque de Kruchtchev na encenação. E de ridículo também.

Lido noutro lado...

Alan Johnston, jornalista da BBC raptado em Gaza e mantido acorrentado durante 114 dias, foi libertado esta manhã anuncia o Da Literatura

E para quem não saiba...

O STJ considerou ilegal a decisão de Rui Rio relativa ao Rivoli...

O País da “bufaria”

Este post vai atrasado uma semana. Fui encontrá-lo na minha arca dos "tesourinhos deprimentes"...

No seu blog “A Origem das Espécies”, Francisco José Viegas denuncia a utilização do site da CM do Porto, para divulgar imagens de David Pontes ( director –adjunto do JN) numa manifestação em frente ao Rivoli.
A utilização abusiva de imagens de uma manifestação que serviu a Rui Rio para atacar de forma ignóbil o JN ( como se David Pontes, antes de exercer um cargo directivo num jornal, não fosse um cidadão na plena capacidade de exercício dos seus direitos cívicos) não denigre apenas a imagem do autarca portuense, é também um exemplo de "política rasca".
Esta infame atitude- que chega ao cúmulo de criticar a contratação de um jornalista, como se a autarquia devesse ser ouvida sobre o assunto...- vem na sequência de outras protagonizadas por pessoas com responsabilidades ligadas ao PS, mas agora o PSD já não pode vir reclamar contra a atitude persecutória de Margarida Moreira em relação a Fernando Charrua, pois tem telhados de vidro. Até dá a impressão que existe um conluio do Centrão para cada um imitar os erros do outro, até enterrar definitivamente os resquícios de espírito democrático dos que teimosamente lutam contra a emergência de pequenos ditadores.
Envergonha-me que neste país- por tradição berço de bufos e delatores- se utilize o espaço de liberdade dos cidadãos para os atacar e denegrir. E acho inadmissível que esses ataques tenham por palco serviços públicos,
Entristece-me que tudo isto se passe no Porto, minha cidade natal. Nos últimos tempos, a Invicta tem sido palco de desvelos persecutórios que me envergonham, mas justificam o retrocesso que tem experimentado, a vários níveis, desde que Rui Rio- um homem com saudades do passado- assumiu a presidência da autarquia.

Quando a Fé substitui a Razão

Mário Soares recebeu Hugo Chavez durante a sua paragem em Lisboa, a caminho do Irão. Foi, ao que parece, um encontro informal em que esteve também presente o Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros João Cravinho.
Mais uma vez Soares demonstrou ser coerente e, acima de tudo, conhecer bem a realidade latino-americana.
Ao contrário do que acontece com alguns analistas que, sem nunca terem posto os pés na América Latina, gostam de emitir “de ouvido”sentenças cáusticas a propósito das posições de Chavez, Soares sabe muito bem as razões que levam o presidente venezuelano a agir desta forma, por isso se recusa a considerá-lo um proscrito ou um louco.
É legítimo discordar das posições de Chavez, mas não é sério fazer propaganda contra o encerramento de um canal privado de televisão, atirando para os olhos dos menos informados que pretende monopolizar a informação, quando é sabido que existem na Venezuela pelo menos mais três canais privados que continuam a emitir regularmente e não se coíbem de atacar o Governo.
É, pelo menos estranho, verificar que muitos dos que atacam Chavez defendem afincadamente Bush, apesar dos atropelos constantes à liberdade- como é o caso de Guantanamo- que descredibilizaram na opinião pública internacional os EUA como defensores dos direitos humanos. Penso que é mais uma questão de fé do que de razão...

Belmiro vs Berardo

Analisar as diferenças entre Belmiro de Azevedo e Joe Berardo é um bom exercício para se perceber a diferença entre riqueza útil e riqueza predadora.
Nos últimos tempos, Sócrates parece preferir a segunda o que, a par da sua indiferença face aos sucessivos casos de tentativa de imposição do pensamento único, por parte de alguns dos seus ministros, justifica a brutal queda da sua popularidade e a descida vertiginosa do PS nas sondagens.
Conheço bem a volubilidade das sondagens, mas registo que é a primeira vez, desde 2005, que os resultados são tão baixos para Sócrates e para o seu executivo.
Com a obrigatoriedade de assegurar a Presidência da UE nos próximos seis meses, Sócrates terá tempo para inverter a situação, ou vai entrar em derrapagem? A seguir com atenção...

A propósito de cuspir para o ar...

o olhar embevecido ou como reporta uma biografia recente [de Hilary], um casal de mentirosos crónicos e compulsivos. A caminho da Casa Branca? Provavelmente.

Ainda Johnston

Depois de 4 longos meses de cativeiro e tortura psicológica. Ainda é cedo para falar. Mas creio que fá-lo-á. Aprenderemos, certamente.

terça-feira, 3 de julho de 2007

Libby

Bush decide comutar a pena de um dos seus colaboradores próximos acusado de revelar a condição de uma operacional da CIA, mulher de um diplomata que fez considerações desfavoráveis a Bush. Antigo chefe de gabinete de Dick Cheney, o vice-presidente, Libby é uma das peças no novelo neo-conservador que dominou o inner-circle presidencial. O acto de comutação da pena do presidente [legal segundo a Constituição americana] deveria ter outra ponderação. No círculo [ou circo] do poder muitas vezes se confunde lealdade funcional com cegueira e xincalheira. Vio-o demasiadas vezes em Macau, percebi-o demasiadas vezes em Portugal. Lamentável. Mas cuidado democratas não cuspam muito para o ar...

Libertado

Alan Johnston finalmente libertado em Gaza e entregue por terroristas afiliados à Al Qaeda às autoridades do Hamas, o movimento que controla o pequeno quadrilátero palestiniano. Johnston encontrava-se sequestrado desde 12 de Março. O jornalista da BBC suscitou um enorme movimento de opinião em Inglaterra e pela Europa e um pressing constante da estação britânica. Os pormenores da libertação ainda não se conhecem. Na CNN.

Juventudes partidárias? Vade retro!

Foi um membro da JS ( Juventude Socialista) quem denunciou a Directora do SAP de Vieira do Minho, levando Correia de Campos a demiti-la.
A JS, como outras juventudes partidárias, faz-me lembrar cada vez mais a Mocidade Portuguesa. Em vez de prepararem os jovens para as regras democráticas, convidam à delacção, dando um mau exemplo ao País. As juventudes partidárias não podem ser agências de empregos que, ainda por cima, incentivam os jovens a más práticas de cidadania. Não podem ser escolas de políticos profissionais que nada conhecem da vida e assim que se alcandoram a um lugarzinho, logo começam a usar as probendas do Poder em proveito próprio, ignorando os mais elementares princípios da Democracia.
Algumas juventudes partidárias cultivam a subserviência em vez de fomentarem a discussão e isso não é um bom augúrio Não pertenço ao grupo dos que pensam que o futuro está ameaçado, porque os jovens de hoje são mal preparados e estão viciados na prática do “encosto partidário”, mas sou dos que temem que as juventudes partidárias se transformem num alfobre de más condutas que em nada beneficiam o regime democrático. E se forem esses a tomar conta dos destinos do país, então teremos um grave problema a resolver a curto prazo.

Eu não acredito!

"Foi ontem, quarta-feira, 27, que a Grã-Bretanha, sufocada e desiludida por um sistema de governo impróprio de uma democracia que o primeiro-ministro Tony Blair lhe impusera, se viu livre daquela que se transformou, gradualmente, na mais detestada personalidade política que ocupou o N.º 10 de Downing Street desde há 150 anos. Com efeito, Blair trabalhava segundo uma espécie de governo pessoal a que o país não estava habituado. Subjugava-o pelo uso de uma enorme falsidade."

Estas palavras servem de introdução a um artigo publicado no "Avante!". Lê-se e não se acredita... Em que planeta vivem estes tipos? Cá para mim devem pensar que o muro de Berlim ainda existe, que o comunismo é a forma mais democrática de Poder e que os Gulag são jardins paradisíacos. Quando é que ganham juízo?

Rushdie

O 31 da Armada glosa que não se pode ter tudo. Mas Rushdie tem "quase" tudo: um talento incrível, uma língua cortante, e uma fatwa que Khomeini lhe lançou há quantos anos? 15? Feito agora SIR pela Rainha da Inglaterra naquela forma notável que os ingleses têm de sublinhar o que é essencial no espaço da liberdade - a liberdade de criticar os governantes e os próprios pressupostos da religião de escolha - parece que colheu a ira de uns quantos barbudos espalhados pelo mundo [e pelas nossas cidades, a gozar do rendimento garantido].
Como não faltasse [para regalo dos nossos olhos] tem uma mulher belissima. O paraíso será seu, certamente, Rushdie. A consistente vénia ao 31 da Armada.

Analfabetos

O analfabeto é feliz e não se arma em carapau. Já o letrado ignorante é convencido, logo idiota. Acha que sabe, mas está enganado. O letrado ignorante é como aqueles revisores que emendam palavras difíceis, garantindo que são gralhas, e grafam outros termos mais comuns. E mudam alegremente «cultual» em «cultural», «corográfico» em «coreográfico», «teleológico» em «teológico», «polução» em «poluição». Deus nos livre dos letrados ignorantes.

Lido no Estado Civil

Barbas

A propósito das barbas de Whitman, Nabokov dizia que a única diferença entre Trotsky, Lenine e Estaline estava na forma como arranjavam a barba já que, no essencial, eram os três assassinos.

Lido no Vício da Forma

Os melhores e os paizinhos

Um narcisismo de terceira categoria alimenta-se da facilidade com que somos criados. Somos sempre os melhores, e mesmo que a nossa professora entenda que só servimos para assentar tijolos, os paizinhos estão lá para corrigir a docente. Estes paizinhos, por sua vez, são filhos dessa cultura e projectam na prole toneladas de frustrações bolorentas, cuidando resolvê-las através dos petizes. O narcisismo barato é muito frágil e não encontra suporte na justa vaidade por coisas pequenas: estamos destinados a grandes feitos.Quando a realidade chama para jantar, a culpa é dos outros. Inevitavelmente.

Lendo outros [Mar Salgado]

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Mas isto está tudo doido???

Finanças negam perdas de 500 milhões em prescrições fiscais diz a RTP
O Ministério das Finanças negou que o Estado tenha perdido 500 milhões de euros em 2006 com as prescrições fiscais, argumentando que as dívidas em causa foram vendidas a terceiros.

Dividas vendidas a terceiros? Mas quem são esses parvos?
Não sei se isto representa um rombo no orçamento do Ministério das Finanças, mas aprendemos no direito fiscal que as dividas prescrevem se aos pagantes não é exigida a respectiva liquidação dentro do prazo que a lei prevê para essa exigência. Ou seja as dividas são são executadas se houver negligência, relaxe do Estado na sua exigência. Mas não havia um director-geral das Contribuições e Impostos com um salário destapado para tratar destas coisas?
Bem sei que o governo socialista rapidamente se apressou a despachá-lo porque o homem estava a ganhar acima do que alguns cromos acharam que era o tecto exegível para os salários públicos. É verdade que nesta lufalufa se esqueceram de despachar também o Dr. Constâncio que há muito perdeu a vergonha e cujas prédicas morais sobre poupança e sacrifício [dos contribuintes] apenas se dirigem ao comum dos mortais. Não o Dr. Constâncio é daquelas estrelas que não merece o país e abichana remunerações mensais acima dos cem mil euros. Vamos lá perceber com que fundamento?

E ainda mais....

[...] Na campanha para as intercalares de Lisboa, Fernando Negrão, candidato do PSD, defendeu esta segunda-feira uma descida dos impostos municipais. António Costa, candidato do PS, diz que nos próximos dois anos isso não vai ser possível. Mas Helena Roseta concorda com a sugestão. Num debate promovido pela Associação Comercial de Lisboa, o candidato do PSD à câmara de Lisboa, Fernando Negrão, admitiu baixar os impostos que queiram investir em Lisboa, por considerar que essa «medida é fundamental para o desenvolvimento económico e para a criação de riqueza».Helena Roseta está de acordo e fala na necessidade de negociar com o Governo uma diminuição sobre o Imposto Municipal sobre Imóveis. «Eu concordo com Fernando Negrão quando diz que alguns impostos tem de ser revistos, e um deles é o IMI», afirmou a candidata independente.[...] Na TSF on-line.

Mas desculpem lá, mas estes tipos são governantes? Têm alguma intervenção na política económica do país? Mas afinal para que serve o presidente da câmara, não é para administrar o património da capital, optimizar o equipamento público, assegurar a limpeza, o asseio, a arrumação, um razoável sistema viário? Mas no debate político, o que vale agora é o arroto, a interjeição, o faladrar por faladrar? Ninguém tem vergonha?

E mais do país pequenino

[...] O presidente do conselho geral negou a intenção de destituir ou suspender o líder do conselho executivo do banco, Paulo Teixeira Pinto. A garantia foi dada por Jardim Gonçalves ao presidente executivo da instituição.[...] Na TSF on-line.

João Miguel Tavares [no DN]

[...] Estranhamente, aqui na terriola não se consegue ter o melhor de dois mundos. Ou se tem governos panhonhas que não se mexem (género Guterres ou Durão), ou se tem governos esforçados, com vontade de mudança, mas que depois acham que toda a gente tem de dobrar a espinha ao seu extraordinário esforço patriótico (género Cavaco ou Sócrates). Uns não fazem nem chateiam; os outros fazem e por isso acreditam sinceramente que lhes devemos estar muito agradecidos por isso. Isto não é falta de cultura democrática - é mesmo falta de cultura de competência. O primeiro-ministro, a ministra da Educação ou o ministro da Saúde acham, à sua maneira, que são special ones - ou, pelo menos, que fazem parte de um special governo, que está finalmente a pôr o País na ordem. E, por isso, não acham graça nenhuma às pequenas rebeldias de indígenas ingratos. Aqui, sim, falta-nos uma terceira via: sermos um dia governados por gente que perceba que reformar é o seu trabalho natural, e que ao mesmo tempo possa ouvir uma crítica sem de imediato soltar os cães. Um dia. Quem sabe um dia.[...]

João Miguel Tavares comenta um mundo pequenino, canhestro, circunscrito ao burgo ou melhor dizendo à paróquia. Porque a "política à portuguesa" para tomar o mote de um conhecido director de jornal é absolutamente paroquiano. Os figurantes são de Eça ou Ortigão. Faça-se o ajustamento do tempo e são os mesmos. Veja-se a chegada do presidente da Comissão Europeia ao Porto e a procissão das vénias. Regresse-se a Caetano ou ainda a Salazar. Os mesmos sorrisos de conveniência, a pose de ostentação, de pseudo-aristocracia. Os guarda-costas, os BMW e os mirones. Os queridos mirones de um Portugal pequenino que dificilmente será alguém!

A frase da semana

“Revolucionar a sociedade implica mudá-la e não adaptar-se a ela”
Valérie Tasso in Visão

A dignidade de um Homem livre

Na entrevista que deu à SIC Notícias, Mário Soares provou mais uma vez que recuperou a sua grande forma. Sem papas na língua disse o que tinha a dizer, mostrou a sua indignação face às perseguições por delito de opinião que estão a ser prosseguidas pelo actual Governo e lançou meia dúzia de farpas bem direccionadas e com destinatários bem definidos. Sem tergiversações ou “paninhos quentes”, Soares foi igual a si mesmo: directo e frontal como todos os Homens livres. Características que, aliás, há muito lhe reservaram um lugar na História

domingo, 1 de julho de 2007

O que é o Homem?

[...]O Homem é um ser paradoxal. Somos bípedes sanguinários, capazes de sadismo feroz. Inventamos máquinas de guerra brutal e instrumentos de tortura indizível. Pilhamos, massacramos, somos de uma ganância ilimitada, de uma vulgaridade ridícula, de um materialismo rasteiro. No entanto, como escreveu o agnóstico George Steiner, "este mamífero desgraçado e perigoso gerou três ocupações, vícios ou jogos de uma dignidade completamente transcendente. São eles a música, a matemática e o pensamento especulativo (no qual incluo a poesia, cuja melhor definição será música do pensamento). Radiantemente inúteis, estas três actividades são exclusivas dos homens e das mulheres e aproximam-se tanto quanto algo se pode aproximar da intuição metafórica de que fomos realmente criados à imagem de Deus". [...]

Padre Anselmo Borges, no DN.

Hong Kong hoje

Será este homem capaz de levar à prática as promessas de liberdade e democracia com que se comprometeu com o povo de Hong Kong? Seria dramático que falhasse. Diria mais, seria miserável.