sexta-feira, 2 de fevereiro de 2007

ABORTO: Despenalizar ou liberalizar?

Esta tem sido a questão central do debate sobre o referendo ao aborto, um assunto que já deveria estar arrumado desde 1998. Mas não está, e o tom crescentemente acalorado com que partidários do "sim" e do "não" se estão a defrontar, tem permitido descortinar certas particularidades desta nossa democraciazinha. A postura de pessoas como João César das Neves, que defendeu a " penalização das mulheres que abortem, mesmo no caso de terem sido violadas", é bem demonstrativa de que existem ainda pensamentos trogloditas que são bem pagos para escrever nos jornais portugueses. Talvez seja por isso que cada vez se vendem menos...
Mais intrigante, porém, tem sido a postura de alguns deputados do PSD ( Marques Mendes incluído). Depois de no Parlamento terem votado favoravelmente a pergunta, vêm agora afirmar que é enganosa. Juro que não percebo! Será que os nossos deputados votam de olhos fechados, sem pensar, ou foram, coagidos por alguma entidade suprema? Acredito que esta postura não seja predicado exclusivo da bancada laranja e se estenda a todas as franjas do hemiciclo e, assim sendo, não abona nada a favor dos deputados eleitos. Justifica, porém, o aumento crescente da abstençaõ nos actos eleitorais e a razão por que os dois referendos anteriores não foram vinculativos.

PORQUÊ TANTO ALARIDO?

Não compreendo bem a histeria à volta das declarações do ministro Manuel Pinho em Pequim. Por um lado, porque o homem já mostrou à saciedade que é completamente inábil quando abre a boca e, por outro, porque se limitou a dizer uma verdade incontestável: somos o povo mais mal pago da União Europeia e aquele cujos salários vão aumentar menos nos próximos anos. Contra estas verdades, não tenho visto ( salvo algumas manifestações dos "suspeitos do costume") os portugueses insurgirem-se ou indignarem-se. Como sempre, aceitam de forma dócil ( como Manuel Pinho também referiu) todas as afrontas. Assim sendo, só compreendo tanto alarido, pelo facto de os portugueses não gostarem que se fale lá por fora das suas misérias.

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2007

Neuromarketing, o bluff

Neuromarketing

In 2005 and 2006 there was a great deal of interest in neuromarketing and the idea of using fMRI scanners as tools of market research. Could brain scanning replace questionnaires and surveys? Could small groups of consumers in ‘tin cans’ tell us how the population would respond to the latest ideas in TV advertising? Although brain scanning is providing useful insight into how the brain works, and into how some market research techniques work, it is having no impact on the research business as a whole. For most research problems brain scanning is too slow, too expensive, and insufficiently available.

Moderados na América Latina



Pergunta o meu bom amigo Arnaldo: "Não há centro moderado, neste continente"?

Não sendo em bom rigor centrista a senhora Michelle Bachelet, presidente do Chile, é da área do centro-esquerda e é tida como um bom exemplo de progressismo moderado na América Latina. Lula da Silva não me parece que seja também um populista ou um radical, estando igualmente a navegar nas áreas do centro-esquerda.
Mas quem se ajusta mais à categoria desejada pelo Arnaldo é mesmo Néstor Kirchner, presidente da Argentina que tem sido a face da recuperação do país das pampas.
Mas temos mais exemplos. Tabaré Vázquez, chefe de estado do Uruguai, é também tido como um homem da esquerda moderada.

Ou seja, se olharmos para o espectro político da América Latina chegamos à seguinte conclusão:

Governos de (centro) esquerda moderada - 8
Argentina
Brasil
Chile
Uruguai
Equador (Rafael Correa tem uma postura crítcia face aos EUA e defende mais intervenção do estado na economia, mas não considero que seja um populista)
Perú (Alan Garcia declara-se social-democrata)
Panamá
Costa Rica


Direita - 6
El Salvador
Colômbia
Paraguai
México
Honduras
República Dominicana


Esquerda "Populista" - 4
Venezuela
Bolívia
Nicarágua (Daniel Ortega declara-se agora um moderado, mas há que esperar para ver se poderemos inclui-lo no grupo do centro-esquerda moderada)
Cuba (neste caso mais que esquerda populista, trata-se de um governo não-democrático)

Olhando para a "big picture", o cenário não me desagrada de todo. Pelo menos o número de governo neoliberais pró-Wasignton Consensus diminuiu bastante e já não há os caudilhos da extrema direita que tanto mal fizeram à América Latina. Concluo por isso que os casos de Chávez, Fidel e Morales - sendo cada um diferente do outro -são a excepção. E há que reconhecer que a eleição de Evo Morales é interessante, por ser o primeiro "índio" a vencer umas eleições presidenciais. Quanto a Chávez, há muito folclore no seu discurso populista, mas de facto há vários aspectos muito preocupantes em termos de estado de direito e direitos liberdade e garantias. No caso de Cuba, julgo que não há muito a dizer...

Patético

Há qualquer coisa de patético e terrífico nesta fotografia. Um ditadorzeco e um aprendiz, antiga ordenança alvorada em general. A história repete-se, vezes e vezes sem conta. A América Latina persiste num caudillismo de má cepa que a tem levado nos últimos 60 anos a operetas de esquerda e ditaduras militares de direita. O populismo grassa agora. O ajuste dos militares prepara-se em surdina, algures.

Não há centro moderado, neste continente?

Ainda a imprensa e a visita de Sócrates

Mutatis mutandis a qualidade de reportagens e comentários sobre a visita de Sócrates à China oscila entre o razoável e o deplorável:
No primeiro lote:
- João Morgado Fernandes, aqui;
- Nuno Pacheco, no Público;
- Luisa Bessa, no Jornal de Negócios;
No segundo lote:
- João Paulo Guerra, no Diário Económico;
- Helena Garrido, no Diário de Notícias;

Sócrates na China

A imprensa de Lisboa tem reproduzido ecos da visita de Sócrates à China e citado o reduzido leque de acordos e contratos celebrados com o executivo de Wen Jiabao para fazer passar a "mensagem"do sucesso da viagem. O evento merecerá uma análise mais detida que deixo para outra ocasião.
De registar - pelo lamentável - a ignorância [pendular] de alguns jornalistas quanto ao "background" da visita. Na RTP o pivot do telejornal falava, sem pestanejar, na visita à República da China quando deveria dizer República Popular da China, sem perceber que se estava a referir a Taiwan e não à China Popular. Enquadrando as reformas chinesas e o impulso de Deng Xiao Ping para as mesmas citou o lendário dirigente da China como Xiao Ping, ignorando que o primeiro nome [na China] representa o nome da família e é o que deve ser citado. Ninguém trata o nosso primeiro-ministro pelo Zé mas por Sócrates.
A falta de preparação dos pivots e das redacções dos canais públicos e privados começa a ser doentia. E a sua ignorância confragedora.
Bola negra à RTP.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Duvido...

...do imediatismo das razões que levam parte significativa dos nossos intelectuais a causticar a recente paixão da opinião pública o caso da menina da Sertã que se encontra à guarda de Luis Gomes e Adelina Lagarto. Cito Pacheco Pereira mas também Paulo Gorjão [entre outros].
Acabo de receber, entretanto, o n.o2 do boletim anual da IPSA [International Political Science Association], associação a que pertenço, onde se inclui um excelente artigo do politólogo argentino Guillermo O'Donnell sobre "a crise em democracia e das democracias". A certo ponto ele diz:
(...) furthermore, it may be, and I will argue this, that democracy itself is intrinsically characterized by a perpetual sense of crisis or better, by perpetual tensions that are both worrisome and a testimony to its best qualities and indeed strongest capacity(...) My point is that democracy always projects hope and dissatisfaction. Because is founded on various dimension of citizenship and in the intrinsic dignity of human beings that these dimensions bring about, democracy always remains an open horizon.

Teimo em crer que a reacção apaixonada da opinião pública perante o inusitado da decisão do tribunal de Torres Novas [por um alegado sequestro da criança] tem razões fundas e merece uma atenção particular e cuidada daqueles a quem cabe pensar e reflectir. Na sua cáustica zurzidela à [cumplicidade da] imprensa Pacheco Pereira revela algo que assume dimensão obsessiva nos seus últimos escritos: a despersonalização, ou talvez mesmo, a desumanização da intervenção cívica na esfera pública. Quase dá vontade de perguntar - se o debate público tem de ser diminuído de empatia e paixão para ser ajustado ao que o comentador considera [o] correcto que tipo de agentes o animarão no futuro? Autómatos? Figuras seráficas?
Porque é que o cidadão comum identifica a crise da Justiça com a acção dos magistrados? Nào será, possivelmente, porque o juíz se isolou do casulo social e por força de se querer independente e ininfluenciável se transmutou em calculista e mecânico na valoração da lei?

domingo, 28 de janeiro de 2007

A retórica e as várias concepções de Bem

Lido no Público
"Parece-me exorbitante ameaçar os católicos que votem "sim" com a excomunhão. Comparar o aborto ao terrorismo é fazer das mulheres aliadas da Al-Qaeda. A retórica deve ter limites."
Frei Bento Domingues, PÚBLICO, 28-01-2007

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Sincero e avisado o alerta de Frei Bento Domingues, uma das vozes mais lúcidas da Igreja portuguesa. O que nada precisamos é um regresso em força à retórica altaneira e agressiva da velha direita portuguesa. A Igreja pode e deve travar o combate moral pelas suas convicções e pelos valores que instila na comunidade dos crentes mas não deve incendiar paixões. A questão do referendo ao aborto [vulgo interrupção voluntária da gravidez] é uma causa [histórica] da esquerda, laica, republicana e socialista. É, provavelmente, a sua última grande causa. Todas as outras [do desenvolvimento, do meio-ambiente, da luta contra as desigualdades] partilha com o centro-direita.

Neste sentido esta luta tem um sentido de "ajuste de contas" com a derrapagem dos "valores de Abril". Por ela se empenha o Primeiro Ministro dando o flanco à esquerda do seu partido e reduzindo o espaço de manobra do Bloco de Esquerda e do Partido Comunista.

Duvido [ainda hoje] da sua oportunidade e da sua prioridade em termos dos projectos que devem mobilizar os portugueses. Não acho que seja uma questão inelutável para ser resolvida. É, seguramente, um problema de saúde pública e de equilíbrio.

Não acho que seja uma questão estrita do direito das mulheres. O problema não se pode afunilar dessa forma. Até porque quando acentuamos a tónica dos direeeitos sobre a da responsabilidade social normalmente ficamos mais diminuídos, mais pobres, socialmente.

Esse discurso nada acrescenta às dificuldades do país. Como esta alegação da identidade entre a defesa do aborto e do terrorismo é um absoluto disparate. Fica mal à Igreja recorrer a este tom e tipo de argumentos. Incumbe-lhe ser moderada, cordata, inteligente na defesa da sua concepção de Bem. Mas como ensina o liberalismo a vantagem da sociedade plural e democrática é coexistirem - lado a lado - várias concepções de bem. Sem que se atropelem. Isso não o pode esquecer.
Porque voltando à Al Qaeda a superioridade moral da [nossa] sociedade à teocracia xiita é não termos o estado, o governo ou o supremo lider a impôr[nos] uma [única] concepção de Bem.


A.H. Oliveira Marques

O desaparecimento de Oliveira Marques deixa uma lacuna difícil de preencher na historiografia portuguesa contemporânea. António Costa Pinto faz aqui no DN uma justa homenagem ao historiador. Menos conhecida a sua actividade como maçon e o contributo pessoal que deu ao lindissimo museu do Palácio do Grémio Lusitano ao Bairro Alto, ponto que escapa, normalmente, aos visitantes estrangeiros e nacionais no seu périplo por Lisboa.

Marcelo sobre Carmona Rodrigues

Carmona Rodrigues não tem condições para manter mandato [Via TSF on line]
Marcelo Rebelo de Sousa considera que o presidente da Câmara de Lisboa não tem condições para continuar à frente da autarquia. No programa da RTP, «As Escolhas de Marcelo», o antigo líder do PSD defendeu que o único caminho possível é a realização de eleições intercalares.
«Por muito que me custe... porque pessoalmente tenho muita simpatia pelo Carmona Rodrigues... politicamente, aquele homem não tem espaço previsível para poder levar por diante uma obra», disse.
Por isso mesmo, explicou Marcelo, a realização de eleições intercalares é o único caminho a seguir, depois do problema resultante do caso Bragaparques, e o actual líder do PSD, Marques Mendes terá de ponderar «seriamente» esta opção.


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Por muito que estime a opinião do Professor parece-me que neste caso não tem razão. Não se trata de minimizar o caso da comarca da capital e a aparente facilidade com que uma empresa imobiliária exerce pressões sobre a vereação e a primeira linha da tecno-estrutura.

Os facto são graves e precisam de ser apurados. Até porque o silêncio com que as forças da oposição receberam a intervenção da Polícia Judiciária e a "perda de face" de Carmona Rodrigues pode evidenciar uma multiplicação de culpas envolvendo PS e CDS-PP. Convocar eleições neste momento é retirar o palco à investigação judicial, dando a visibilidade ao combate político.

Se há um cancro de corrupção e abuso de poder na Câmara os munícipes têm o direito de saber quem está envolvido e quem corrompeu quem.

Até porque o silêncio da oposição socialista [vide caso Miguel Coelho] pode querer dizer algo. Que envolvimento tem Vasco Franco [por exemplo] neste caso?

João Soares

João Soares 1995-2002 in Expresso

“Tenho vergonha do PS na cidade de Lisboa”, disse ao Expresso João Soares, comentando a situação que classifica de ”desnorte“ na autarquia. O PS em Lisboa “não tem rosto e sofre de esclerose”, afirma, acusando o líder do PS/Lisboa, Miguel Coelho de ocupar o cargo há 10 anos violando os estatutos e de não se demarcar do ”desgoverno na cidade da responsabilidade de Santana e Carmona”. Defende eleições intercalares, sublinhando que Carmona não tem condições para continuar.


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Mas Miguel Coelho não era o homem de confiança de João Soares na autarquia da capital? Na candidatura de Jorge Sampaio à autarquia [que apoiei] eram inseparáveis. O dito Coelho bajulava o João até não poder. O que se terá passado? Se quiser ser mauzinho está na pele dos "Soares" este divertimento de usar os ordenanças até à exaustão e quando não são precisos dar-lhe um pontapé nos fundilhos. Vamos lá a recapitular: Carlos Melancia, Manuel Alegre e Miguel Coelho.....