quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Finito

Depois de sete meses de vida o blog "Além do Bojador" suspende a sua actividade. Propusemo-nos, então, ser um espaço de diálogo intercontinental entre pessoas que falam o português e que pudessem trazer à blogosfera a sua visão do mundo e dos espaços onde vivem e trabalham. Imaginámo-lo como um espaço a seis pares de mãos espalhados pela Europa, os Estados Unidos, o Brasil, Portugal, a China e Macau. Circunstâncias várias ditaram que essa corrente imaginativa e sensitiva nunca se criasse e o blog concentrou-se, frequentemente, em dois pares de mãos e focou-se, tendencialmente, na "política à portuguesa". Uma coisa que a "política à portuguesa" tem é aridez de problemas, vacuidade de conflitos, guerras de alecrim e manjerona e uma absoluta falta de dimensão global dos problemas com que se compraz. Basta-se com essa pequenês, com esse paroquialismo, com esse ruralismo. Para esse objectivo existem milhares de bloges em português, campeões do campeonato da maledicência, do criticar por criticar, do arrazar forte e bruto e incapazes de darem um sinal positivo do país e dos portugueses.
Conta-se a história de um general romano que a propósito dos lusitanos (os antecedentes dos portugueses) disse que são um povo que não governa nem se deixa governar. Talvez esteja aí a origem e a causa das insuficiências e dos falhanços como povo e comunidade. Contudo, o sucesso de tantos portugueses por tantos lugares do mundo mostra que quando são capazes de se fazer ao mar profundo, oceânico, encontram - normalmente - no cais de aportagem o lugar onde refazem a vida e têm sucesso. Também os nossos irmãos (não é uma palavra vã) brasileiros o fazem, com crescente sucesso, e deixam para trás as dificuldades, os insucessos e a condescendência.
Quatro dos membros da tripulação do Além do Bojador têm projectos individuais na blogosfera e regressarão a eles. Convidamos os nossos leitores e visitantes a que aproveitamos para agradecer os 210 dias de companhia a visitá-los:


- Arnaldo Gonçalves no Exílio de Andarilho em http://exilioandarilho.blogspot.com/



- Carlos Oliveira em Crónicas do Rochedo em http://cronicasdorochedo.blogspot.com/



- José Carlos Matias em O Sínico em http://sinico.blogspot.com/



- Paulo Marcos em
Marketing, Corporate Strategy, Politics and Public Policy em http://www.antonuco.blogspot.com/


Foi boa a aventura e o esvoaçar das velas, e a proa a rasgar os oceanos. Mas é tempo de regressar ao Cais das Colunas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Conselho para uma noite de Verão...

Não costumo ser defensor em causa própria, mas hoje não resisto. Com as noites magníficas ( afinal parece que o Verão veio mesmo em Setembro...) que têm estado em Lisboa, jantar no Clube de Jornalistas é uma escolha que recomendo.
Bem no coração da Lapa, é uma das esplanadas mais agradáveis e recatadas de Lisboa. A carta, com sugestões originais, inclui dois pratos vegetarianos (o cogumelo recheado com pimentos é de babar!). Nas entradas o “carpaccio de atum” e à sobremesa o “ananás em ravioli” com gelado de tangerina ou ( para os mais gulosos o Bolo Gazeta) são algumas boas escolhas para uma agradável refeição.
Razoável naipe de vinhos, onde se inclui um “Alvarinho” aceitável para o preço. E se ainda é dos que não dispensa o carro quando vai jantar fora, não acredite nessa ideia feita de que “é impossível estacionar na Lapa”.
Na última sexta-feira, com o restaurante cheio, havia lugares de estacionamento à escolha. Além disso, não esuqeça que ...."se conduzir, não beba!"

O Atlas de Rui Rio



Sei que há gente que gostaria de ver Rui Rio na presidência do PSD e, quiçá, Primeiro Ministro. Nos meus tempos de juventude , dir-se-ia que a probabilidade de Rui Rio chegar a desempenhar alguma vez um cargo de relevância política, seria tão exígua quanto a de um elefante passar pelo buraco de uma agulha. Os tempos mudaram e o desejo que alguns manifestam de ver Rui Rio como Primeiro Ministro só denota como estão baixas as expectativas das pessoas em relação aos políticos que podem, num futuro próximo, gerir os destinos do país.
Rui Rio tem uma personalidade “sui generis” e é interessante tentar construir o Atlas da sua personalidade. Por isso me dei a esse trabalho, no intuito de o partilhar com os leitores.


Cultura- é como um deserto. Árido nas ideias, destrói qualquer tentativa de vida à sua volta. Tem também o seu oásis. Pequenino e ridículo, é feito de corridas de automóveis. O seu grande orgulho em matéria que apelida de cultural ( não estou a brincar, ele disse mesmo isso numa entrevista...) é a realização de uma provinciana corrida de automóveis antigos que , anualmente, leva o caos à cidade.
Inteligência-É como a Amazónia. Uma vez que se entra lá dentro, não se vê nada para o exterior
Ambição política- Gostava de ser como Cavaco, mas falta-lhe quase tudo para o poder imitar. Talvez na arrogância se compare aos tempos do Cavaco Primeiro Ministro, mas ainda não percebeu que o Cavaco PR tem uma postura muito diferente da do Cavaco PM. Como a ambição cega, Rio comporta-se como um furacão, pronto a eclodir e levar tudo à sua frente.
Originalidade- Hesito em classificá-lo como um cubo de gelo no Árctico, ou como um nenúfar sobre um pântano. Acho mesmo que tem as duas vertentes. Tanto passa despercebido como o cubo de gelo no Árctico, como se mascara de nenúfar para esconder o pântano de ideias em que se move.
Relações pessoais- É como uma beata mal apagada num pinhal, numa tarde quente de Verão. A qualquer momento pode atear um incêndio
Relação com a cidade do Porto- Como não se lhe conhece nenhuma, que tal um “buraco negro”?

Porto (não) sentido- 2


Durante o fim de semana, o Porto foi palco de um novo “desporto radical”: a Red Bull Air Race. Eu, modesto praticante de kite surf que até ontem acreditava praticar o desporto onde a adrenalina sobe a pontos mais elevados, desenganei-me. Voar naqueles aviõezinhos que mais parecem folhas de papel largadas ao vento, deve elevar a adrenalina a níveis para mim inimagináveis. Um espectáculo de tirar a respiração, mas não só a mim. Também às 600 mil pessoas que, bordejando as margens do Douro, “da Ribeira até à Foz...” aguentaram a pé firme o desenrolar da competição. Tornei-me fã deste desporto ( que nunca em dia algum virei a praticar, obviamente) e, para o ano, espero não perder mais uma etapa desta empolgante competição.
Chegou a altura de explicar,que esta etapa da Red Bull Air Race só veio para o Porto, graças à sagacidade de Luís Filipe Meneses, que ali viu uma janela de oportunidade para mostrar a cidade ao mundo ( e foram milhões, em todo o Mundo, que viram a prova através da televisão, segundo me afiançaram).
Rui Rio- que terá manifestado desinteresse pela iniciativa – aproveitou no entanto a boleia do seu colega de Gaia para se mostrar. Os vampiros são assim. Incapazes de ver mais longe do que o seu próprio umbigo, aproveitam as ideias dos outros para tentar brilhar. Filipe Meneses, tal formiguinha diligente, lá terá aproveitado para cativar mais algumas simpatias que lhe servirão para amenizar a derrota no dia 28, mas terá ganho bastantes mais votos numa eventual candidatura à edilidade portuense. Por mim, gostaria de voltar a ver , à frente dos destinos da cidade, alguém que amasse o Porto e tudo fizesse para a engrandecer. Rejeitaria, de imediato, um candidato que está a servir-se do Porto para chegar a Lisboa. Já chega o exemplo de Fernando Gomes ( que apesar de tudo fez um excelente mandato, diga-se...)

Porto ( não) sentido-1

O Porto esteve, durante a última semana, no centro das agendas noticiosas por boas e más razões. Começo pelas más, até por uma razão cronológica. Foi logo no início da semana que mais um empresário da noite portuense foi assassinado, à saída da sua discoteca. Ou melhor, de uma das suas discotecas. Este empresário era, há poucos anos atrás, segurança da discoteca Chic, mas em pouco tempo tornou-se proprietário não só dessa discoteca, mas de várias, a que somou restaurantes e outros locais de exploração turística.
Já nos meus tempos de juventude, assistia a situações destas que me intrigavam. A mais emblemática discoteca portuense dos anos 60, a D. Urraca, teve vários donos. Exceptuando o primeiro, todos os seus proprietários foram seguranças da D.Urraca que mais tarde vieram a adquiri-la. As gorgetas dos clientes eram chorudas dizíamos então em tom jocoso...
A recente onda de violência que se abateu sobre a noite da Invicta, com proprietários e seguranças a serem abatidos, tem causado alguma insegurança e perplexidade e muita especulação. Não falta quem justifique a situação como uma sucessão de actos de vingança que estão longe de estar terminados. A polícia parece ser impotente para impedir novas “vendettas” e alguns trazem a lume o facto de muitos dos seguranças da noite portuense serem polícias durante o dia. Daí a especulações de outra índole vai um pequeníssimo passo, mas não vou por aí...
O que me interessa realçar, em tudo isto, é que a população anda alarmada e as autoridades não escondem a sua preocupação. Nada mais natural do que a imprensa querer saber a opinião do Presidente da Câmara sobre a (in)segurança que se sente na noite da cidade. Claro que a tentativa estava frustrada à partida, pois em situações de tensão ocorridas no Porto ( como aquando do assassinato da transexual Gisberta às mãos de um grupelho de adolescentes) tornou-se já um hábito Rui Rio não falar. A explicação para a recusa é fácil.
A Câmara do Porto caiu nas mãos de Rui Rio, graças à arrogância, inabilidade e inépcia do PS nacional, que preferiu apoiar as opiniões de ridículos barões locais como Renato Sampaio, ensandecidos com a vertigem do poder, para cuja prática não têm senso nem argúcia.
Rio não tem uma única ideia para a cidade que vá mais além do que organizar corridas de automóveis antigos. Aliás, partilho da opinião de alguns dos militantes do PSD que, desiludidos com a gestão ruinosa para a cidade que Rio vem seguindo, duvidam que ele tenha outra ideia que não seja a de cumprir a sua ambição pessoal. É isso, obviamente, que justifica que se remeta ao silêncio, tentando transmitir a sensação de que a sua recusa é uma manifestação de personalidade. E assim, recorrendo a mais uma originalidade, mandou dizer, através do seu porta-voz, que não falaria à comunicação social enquanto durasse a “histeria mediática”. Nada de mais natural, vindo de uma mente estéril em termos políticos, intelectuais e culturais que se serve do Porto em vez de o servir.

O LNEC e Alcochete

O prazo dado pelo Governo ao LNEC para apresentar o estudo sobre Alcochete termina, de acordo com o que se escreve na imprensa, a 12 de Dezembro. Ainda falta bastante tempo...

Clarificação à clarificação

No meu post "Até não perceber" aqui deixado na 6ª feira refiro-me, como é claro e óbvio, à aprovação POR UNANIMIDADE na AR da Lei sobre a responsabilidade extra-contratual do Estado. Nunca lá refiro a GNR, portanto creio que foi uma leitura desatenta. Bola fora, Arnaldo!

domingo, 2 de setembro de 2007

Os conservadores americanos em apuros

O senado Larry Craig resignará do Senado com efeitos a 30 de Setembro conforme anunciou em conferência de imprensa no fim de semana transacto. Larry era senador pelo estado de Idaho há 27 anos e a 11 de Junho seria preso na sequência de um incidente na casa-de-banho de um aeroporto americano com um agente policial à civil, a quem terá convidado para práticas homossexuais. Larry destacara-se na oposição conservadora aos projectos de lei (democrtas) destinados a validar o casamento entre homossexuais e a permitir o seu acesso (sem descriminação) às Forças Armadas. Este incidente e outros escândalos sexuais que envolvem figuras gradas do partido conservador americano revela o colapso dos argumentos éticos ligados à defesa da vida e aos valores tradicionais americanos, estratégia assumida contra maior abertura dos democratas às mudanças ocorridas na sociedade civil. De qualquer forma, não é crível que a projecção pública da vida privada dos políticos americanos deixe de ser um fortissimo critério para a definição das escolhas dos norte-americanos. Será curioso, mantendo-se o avanço de Hilary sobre os seus contendores republicanos, ver como aspectos da vida privada da candidata serão explorados até à medula à medida que se aproximar a data das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Picante à francesa

Não há nada mais picante na política francesa que uma boa traição matrimonial. As revistas cor-de-rosa pelam-se por estas histórias e são famosas as traições de François Miterrand (e a ligação extra-matrimonial de que teria uma filha), as aventuras de Jacques Delors ou de Giscard d'Estaing.
Mas até agora não tinha acontecido nada parecido ao caso de uma discreta militante socialista francesa que aproveitaria a sua relação matrimonial com o presidente do Partido Socialista Francês - François Hollande - para se abalançar a uma candidatura à presidência da França - à margem do aparelho socialista - e agora lançar-se à conquista do próprio lugar do marido no partido. As mulheres são terríveis e o caso de Ségoyane Royal é bem o exemplo da máxima maquiaveliana que todos os meios justificam os fins, principalmente em política. E que normalmente o debate sobre os princípios esconde apenas uma mera compita pela tomada do poder interno. Revelando-se incapaz de "conter" a proactividade e assertividade da mulher, François Hollande falha o casamento e arrisca-se a perder o partido. Nada poderia correr pior aos socialistas franceses depois da derrota na corrida presidencial e da derrota nas eleições legislativas deste ano. Mas com uma candidata de sangue "royal" nada há a fazer.

Regresso à agenda política

Estamos em Setembro. Regressa o tempo político, depois de um Verão marcado pela continuação da guerra no Iraque, a crise dos reféns sul-coreanos no Afeganistão (entretanto regressados a Seul em troca de um resgate no valor de 2 milhões de US dolares conforme comentava a imprensa japonesa, no fim-de semana), os fogos na Grécia (e a revelação da incapacidade nacional para resolver a crise), a subida de Hilary Clinton em todas as projecções de voto nos Estados Unidos.
Pelo "rectângulo" lusitano nada de monta para além dos habituais "shows" de Alberto João na festa do Pontal, as partes gagas de Marques Mendes sobre a demissão de uma funcionária pública, e o silenciamento à volta do processo OTA.
Curioso que há mais de um mês nada se fala no assunto, tendo caducado (creio) o prazo que Sócrates deu ao LNEC para elaborar o estudo de impacto (e viabilidade) das soluções alternativas. Será que a holding imobiliária (ligada a Almeida Santos e à família Soares) que comprou os terrenos à volta do projectado aeroporto entrou numa solução de compromisso?

sábado, 1 de setembro de 2007

Por Macau

A grande notícia do fim-de-semana é a renúncia à nacionalidade portuguesa de duas conhecidas figuras de Macau, os advogados Jorge Neto Valente e José Manuel Rodrigues. Renúncia associada à provável candidatura dos dois à Assembleia Popular Nacional (RPC) por Macau. Trata-se de uma situação bizarra. Neste momento, há várias figuras prominentes da comunidade macaense (Leonel Alves, Carlos Marreiros entre eles) que optaram pela nacionalidade chinesa, renunciando ipso facto à portuguesa. A lei chinesa não permite a dupla nacionalidade e o acesso a lugares do executivo da RAEM, bem como presidente da Assembleia Legislativa de Macau está reservado a cidadãos de etnia chinesa. O mais estranho é o caso de JNV, figura cimeira dos socialistas de Macau, nascido em Lisboa e sem qualquer sangue chinês na família. Há naturalmente consequências em termos da protecção consular e dos documentos de viagem na Europa e o acto está visto como um corte radical com Portugal.

Clarificação

(...) Em primeiro lugar, causou-me estranheza que um diploma aprovado POR UNANIMIDADE na Assembleia da Republica tivesse sido vetado pelo PR (...)

O diploma da GNR não foi votado por unanimidade mas por maioria. Votou a favor...o PS. Quanto aos demais argumentos não creio que Portugal tenha condições para um regime folgado de responsabilidade extrajudicial. O veto de Cavaco faz todo o sentido.

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Cenas de vida 17- Férias na Jamaica



- Então que tal as tuas férias na Jamaica?
- Ai, querida, foram óptimas! Uma semana fantástica, longe daqui, desta pasmaceira
- Não apanhaste o tufão?
- Ó querida, ali não há tufões, só furacões como nos Estados Unidos!
- Está bem, mas não estavas na Jamaica quando passou lá um furacão?
- Estava, estava. O Dean por acaso foi um bocado chato...
- ?....
- Imagina tu que no dia a seguir a lá chegarmos estávamos cansados da viagem e só estivemos para aí meia hora na piscina. Depois, no dia seguinte, estava um dia óptimo e tomámos uns banhos que nem imaginas (ai aquelas águas!) que maravilha. E à noite o “reggae”? Ó querida só visto! Aquilo é Bob Marleys por toda a parte...
- Não estás muito queimada, acho que andáste mais nas noites do “reggae” do que a gozar a praia.
- Pois...logo no terceiro dia disseram-nos que vinha um furacão e já nem pudemos ir à praia porque nos avisaram que a qualquer momento nos iam transportar para um hotel mais seguro. Só deu mesmo para comprar umas bugigangas numas tendinhas ao pé do hotel, porque à tarde levaram-nos para outro. Fantástico, minha querida, nem te passa pela cabeça aquela loucura. Só piscinas eram quatro e restaurantes contei pelo menos sete.
- Bem, pelo menos gozaste as piscinas, deixa lá...
- Não... não pudemos ir à piscina por causa do tempo. Estivemos dois dias quase sem sair do quarto e no dia em que o Dean passou por lá só comemos umas rações que os hotéis lá já estão habituados a preparar para os turistas em dias assim. No dia seguinte voltámos de manhã para o nosso hotel, mas o tempo ainda estava muito mau e o hotel tinha ficado muito afectado. E ao fim da tarde do outro dia viemos embora. Olha lá e tu onde passaste as férias ?
- Bem, eu não saí de Lisboa. Fui um dia ou outro com os miúdos até à praia, mas esteve sempre bastante vento...
- Ó querida, coitada! Ficar em Lisboa de férias com este tempo horrível que tem estado. Não consegues convencer o teu marido a oferecer-te umas férias decentes?


Rapidinhas 43- O fim da "silly season"

Termina oficialmente, este fim de semana, a “silly season”. Em minha opinião, pelo que se avizinha num futuro próximo, acho que agora é que vai começar, mas enfim, são critérios!
Pela minha parte, cumprirei o calendário oficial e a partir de segunda-feira só tratarei aqui de assuntos sérios. Assim, não escreverei mais sobre política, governo e partidos da oposição.Esperem por segunda-feira...

Leituras de fim de semana


Já estão a perceber porque escrevi esta manhã que iam perceber o título do meu primeiro post lá mais para o fim do dia? Pois é... O livro que recomendo este fim de semana tem o título “Até não perceber”.
Apesar da origem, acho o título um bocado cafona. O conteúdo, porém, é um prazer de leitura. Já aqui disse várias vezes que gosto muito da Fernanda Câncio. Aprecio-lhe a escrita, gabo-lhe o nervo e a ousadia. Além disso, a reportagem é para mim a razão de ser do jornalismo.
“Até não perceber” é composto por 15 reportagens bem ao estilo do que eu gosto de ler, bem ao jeito da Fernanda, que é uma jornalista que ainda gosta de se deslocar aos locais para fazer reportagens, em vez de ficar sentada na secretária à frente do computador- como hoje se usa. Se não acreditam...leiam!

Músicas de fim de semana


Não sou grande apreciador de colectâneas, mas esta semana faço uma concessão à prática comercialeira. É- apesar de tudo acredito...- por uma boa causa.
Uma homenagem a John Lennon para financiar a intervenção da Amnistia Internacional(AI) no Darfur, “Make Some Noises- Save Darfur” reúne alguns agrupamentos ( U2, Black Eyed Peas, The Cure...) e vozes ( Lenny Kravitz, Bem Harper, Jack Johnson ou regina Spektor) de qualidade .
Embora tenha as minhas reservas em relação à AI – a memória alguns casos vividos em Macau deixaram-me de pé atrás...- a qualidade do disco e o Darfur justificam a compra e a audição.

Leituras do meu baú(3)


Nada mais apropriado para retirar do meu báu numa noite quente de sexta-feira com a lua (quase) cheia , do que “Felizmente Há Luar!” de Luís de Sttau Monteiro.
Uma peça de teatro em dois actos que revisita a revolta de Outubro de 1817, de onde resulta a condenação à morte de Gomes Freire. Estávamos no auge do consulado de Beresford, caracterizado por forte repressão e atrozes perseguições políticas em Portugal.
Distinguida com o Grande Prémio do Teatro em 1961, não foi muito apreciada por Salazar e a sua corte de censores, que provavelmente se reviam encantados naqueles tempos. Subiria à cena em 1978 no Teatro D. Maria II( salvo erro...)

Rapidinhas 42- Obrigado pelo conselho

Excelente a chamada de atenção do Arnaldo Gonçalves para o STORM.Não conhecia, fui lá dar uma espreitadela furtiva e gostei muito. Já está nos meus favoritos para ver melhor durante o fim de semana. Mas o STORM parece-me ser como o algodão... não engana!
Obrigado pelo conselho.

Até não perceber...

Uso para epígrafe deste post um verso de Jorge de Sena para voltar ao assunto do veto presidencial. Ainda hoje, a seu tempo, perceberão porquê. Num outro post lá mais para diante...
O meu amigo Arnaldo Gonçalves às vezes toma-me por ingénuo – o que, para mal dos meus pecados, até é verdade. No entanto, em relação ao veto presidencial, não foi o artigo do Pedro Lomba que me fez ir “atrás da conversa”.
Em primeiro lugar, causou-me estranheza que um diploma aprovado POR UNANIMIDADE na Assembleia da Republica tivesse sido vetado pelo PR.
Em segundo lugar, causou-me espanto que pessoas de todos os quadrantes partidários ( e não apenas alguns muito pouco representativos como o Arnaldo escreve) tenham reagido desfavoravelmente. Eu sei que o PSD ficou mudo e quedo, mas caramba o seu peso relativo não permite inferir que os outros todos são pouco representativos...
Finalmente, porque também tenho opinião própria, preocupou-me o veto de Cavaco. E explico porquê...
Preocupa-me saber que, diariamente, continuará a haver pessoas lesadas pelo Estado e que o Estado fique impune.Arrepia-me que um cidadão veja arruinada a sua vida por erro ou negligência grosseira do Estado e receba apenas um pedido de desculpas
Até poderia estar de acordo quando o Arnaldo escreve “Os direitos individuais que são coisas estruturais ao sistema representativo só fazem sentido se forem balanceados pelas competentes obrigações”.
Só que- e por aqui me fico- essa posição nunca é levada à prática pelos defensores de um mercado completamente liberalizado, quando é o mercado que está em causa. Nessas situações, os interesses de um empresário, por exemplo, sobrepõem-se aos do colectivo, em nome dos sacrossantos interesses ( económicos, claro está...) do país.
Finalmente... a chamada de atenção para o artigo do Pedro Lomba está explicada no post que inseri. Se leres com atenção, perceberás que isso não implica que esteja totalmente de acordo com o conteúdo.

Dee Dee Bridgewater

Amanhã assistirei a concerto desta senhora no Centro Cultural de Macau. Acompanhada de um quarteto DD irá traçar - espero - alguns momentos memoráveis de Jazz e outros de music-hall. Intérprete versátil, grande voz lançada ao que creio pela Verve. Um gosto requintado.

quinta-feira, 30 de agosto de 2007

STORM

A Helena Vasconcelos vai realizando a missão impossível de manter e alimentar um jornal sobre cultura na Internet. É um esforço individual, cansativo, mas que imagino que faz por uma daquelas carolices que nós portugueses somos pródigos - envolvermo-nos num projecto que dá trabalho, prazer e curta ou pouca retribuição. Chama-se STORM e está no http://www.storm-magazine.com/. Merece uma atenta visita. Ela encarrega-se de nos enviar um e-mail mensal a anunciar o índice de cada número. Este mês fala de Prado Coelho, do Tango (atenção Carlos!) e de literatura brasileira, entre outras coisas. Tenho lá uma ou outra colaboração, no secção de biografias de autores que é o que gosto de fazer. Nunca me aventurei em recensear um livro de ficção, acho que não sou capaz. Exige uma grande capacidade de síntese e algum vocabulário literário coisas que confesso que não tenho. Sou um consumidor de livros, como de discos, mais recentemente de filmes. Sou ávido, procuro saber mais e mais e acompanhar o que vai saindo.

As novas elites

Manuel Vilaverde Cabral deu uma entrevista ao Diário Económico que apreciei. Pelo rigor e pela honestidade intelectual. É um dos valores fortes do pensamento liberal português, seja isso o que for. O seu instituto, o ICS, continua um dos valores fortes da academia portuguesa, um cadinho de valores consistentes e novas promessas. Nas ciências sociais é o must (ao lado do meu querido IEP-UCP). O resto é paisagem. E já nem falo nas privadas; falo nas públicas: Coimbra, Clássica de Lisboa, Nova.. Um passo da entrevista:

(...) Quem são as novas elites [em Portugal]?
São democráticas – ou seja, pouco elites. Reflectem uma universidade mal massificada, que se massificou sem diferenciação. É um problema de crescimento – que deveria fazer-se através da especialização e que tem a ver com todas as outras áreas. O nosso sistema político, assente nas clivagens de 1974 e reproduzindo as que vinham desde 1820, ficou atrás da própria mudança social e perdeu capacidade de liderança. (...)
(...) O traço histórico tem uma dimensão oligárquica muito forte. As mesmas famílias disstribuem-se pelos partidos políticos, pelas elites profissionais… A família Portas, por exemplo: dois filhos em partidos opostos, que chegaram a concorrer à mesma eleição da câmara de Lisboa. Algumas vêm do antigamente: o meu falecido amigo Afonso de Barros, sobrinho de Marcello Caetano, foi casado com uma sobrinha de Adelino da Palma Carlos. Na sua família, o 25 de Abril traduziu-se por o primeiro-ministro deixar de ser o tio dele, para passar a ser o tio dela. É uma caricatura, mas mostra a dimensão e a falta de diferenciação das nossas elites. As do anterior regime estavam esgotadas, a renovação era muito limitada. O 25 de Abril obrigou a uma renovação radical, que começou pelos próprios militares e trouxe a esquerda ao poder. Incluo nessa renovação o PPD de Sá Carneiro. A Ala Liberal rompeu, mais ou menos, na altura em que aparece o PS e Sá Carneiro percebe o fim do regime. Levanta a questão.
O resto aqui.

Aqui...

...já é sexta-feira. São 7 horas a mais de Lisboa (TMG). Os posts seguintes são para o fim-de-semana que chega, para os que teimam em nos ler. Acaba o Verão. O Setembro sabe a interstício do Outono, não a Verão. Começa a azáfama da preparação das aulas do semestre. A turma é sofrível mas há alguns de péssima qualidade. O que me escandaliza na geração que nasceu nos anos 80 é essa absoluta falta de curiosidade intelectual, a perda do sentido do "saber pelo saber". Estudam o mínimo para irem passando e atingirem a meta que se fixaram: terem o certificado da licenciatura. O resto não os preocupa. Novos tsunamis, brrr... Nova crise asiática. Mas o que nos interessa isso? Mudança de líderes na China e o que isso pode significar para Macau? Mas para que é que eu preciso pensar nisso????
Tremo de pensar como lhes vou vender Platão, Aristóteles e mais tarde Maquiavel, Hobbes ou Rousseau. E as cambalhotas analógicas que preciso fazer para perceberem conceitos abstractos como liberdade, poder, representação, equidade, direitos. Ensinar torna-se cada vez mais penoso. É verdade que no grupo dos 19-20 surge, normalmente, uma rapariga que vale a pena acompanhar, incentivar e depois premiar. São muito melhores estudantes que eles e mais preparadas para a vida. Andámos a dizer que a mulher era o sexo fraco? Enganámo-nos piamente. Se tenho alguma esperança na nova geração e que faça o tempo de transformar o mundo é nelas, não eles.

Ramos Horta, a elite timorense e o poder

Ramos Horta assinalou os oito anos da consulta popular que abriu caminho para a independência de Timor-Leste com duras críticas à elite timorense de que faz parte, o que se me afigura um exercício de clarividência de um líder inteligente e prudente. Ramos Horta afirmou que os timorenses "não aprenderam nada com o passado" e "que nosso ego tem sido sempre demasiado grande". E mais "não aprendemos nada do passado e continuamos a cometer os mesmos erros que custaram muitas vidas no passado não distante. Mais de três décadas passadas, tenhamos a coragem de reconhecer os erros cometidos pela elite política da geração de 70 pois os erros cometidos em determinada época custaram muito caro ao povo". E sobre a diáspora "a diáspora timorense viu-se de repente com o poder nas mãos. Afastados 24 anos da Pátria, estávamos alienados da nova realidade timorense. Apesar de minoria, fomos nós que mais poder acumulámos, criando logo à partida forte ressentimento, acentuado quando a nova élite política foi sendo percepcionada como arrogante e alienada da nova realidade timorense. Não soubemos construir pontes entre as gerações e diferentes camadas sociais, entre Díli e as zonas pobres do Timor-Leste interior, entre a élite governativa e a sociedade civil, em particular a Igreja".

Através de artigos de opinião em Lisboa e aqui (Macau) tenho procurado chamar a atenção para os erros políticos da geração que conduziu Timor à libertação e que tem mal resistido ao deslumbre do poder. Cruzei-me nos primeiros anos após o 25 de Abril com vários deles, uns que estão hoje no poder (Ramos Horta), outros na oposição (Manuel Tillman), outros afastados da política (Abílio Araújo). Defendi publicamente aqui (Macau) em debate com Moisés Fernandes, o investigador do ICS, um associação política preferencial com a Austrália, como forma de viabilizar a sobrevivência de Timor no futuro. Caiu-me o céu e a trindade em cima, mas os factos subsequentes comprovam algo que disse na altura: no dia em que as forças internacionais do dispositivo da ONU abandonaram Timor o país cairá na guerra civil. As fracturas da guerra civil de 1975, entre a Fretilin e a UDT ainda estão vivas e atravessam as famílias ao meio. Há amargura e ódio, por debaixo da superfície. Por isso as palavras de Ramos Horta são lúcidas e avisadas. Constituem alertas tanto para dentro como para fora.

Ainda o veto

O meu amigo Carlos Oliveira na sua boa-fé de jornalista embarca na onda soprada por alguns sectores de opinião (muito pouco representativos) e desenvolve críticas ao Presidente da República que creio injustas. Se há coisa que o sistema constitucional português tem demais é excesso de garantismos. O que o Pacheco Pereira chama liberalísticas. Os direitos individuais que são coisas estruturais ao sistema representativo só fazem sentido se forem balanceados pelas competentes obrigações. No dia em que a responsabilidade extra-contratual do Estado fosse revista da forma que o jornalista do DN propõe os tribunais embatucavam de processos, por litigância de má-fé.
Temos que aprender em democracia em balancear o uso dos direitos com o respeito da autoridade. Não há uns sem o outro. Até porque há 30 anos que não vivemos em ditadura.
Cuidado com as armadilhas da interpretação jurídica! Se para interpretar a lei bastasse ler os dispositivos não era preciso uma licenciatura não achas?

Cavaco Silva, ou a vã glória de um veto

Ao contrário do que aconteceu com os outros vetos, que mereceram unanimidade quanto à sua justeza, veto de Cavaco Silva à Lei da “responsabilidade contratual do Estado”, aprovada por unanimidade na AR , mereceu críticas dos diversos quadrantes e um muito enigmático silêncio nos comentadores que aproveitam qualquer oportunidade para exaltar o PR.
Pedro Lomba escreve hoje, no DN, um artigo sobre o assunto. Vale a pena ler e meditar. Aqui fica um excerto:
"(...)E sabem porquê? Porque a lei que Cavaco Silva vetou tem a ver connosco, com as nossas garantias contra a arbitrariedade e o desleixo dos poderes públicos. Que o Presidente se tenha oposto a uma lei que anda desde o Governo Guterres para ser aprovada e que agora o foi por unanimidade, é um facto importante e, julgo, sem precedentes. Mas nem isso pesa tanto como o facto de que a lei a que o Presidente disse não se destina a aumentar a protecção dos cidadãos contra acções danosas do Estado. O argumento do Presidente é que ela amplia em excesso as situações em que os particulares podem pedir a sua responsabilidade e, a partir daí, entre outras objecções, aconselhou os deputados a repensarem os seus efeitos numa altura em que o Estado precisa de conter as finanças públicas e há reformas da justiça em curso.”

Pacheco Pereira e o caso Dalila

“Em toda a campanha interior do PSD deve estar presente que um candidato a dirigente do PSD é um candidato a Primeiro-ministro. Marques Mendes, no seu "passeio" pelo Museu Nacional de Arte Antiga, esqueceu-se disso porque foi dar caução a um acto que é inadmissível numa funcionária pública no exercício das suas funções. Esta é uma questão de Estado, que já o presidente da República tratou com pouco cuidado.Ao fazer o que fez (e já antes em várias alturas tinha procedido igualmente mal), Dalila Rodrigues colocou-se numa situação insustentável. Não é suposto uma funcionária pública abandonar o dever de lealdade e isenção e, se queria fazer o que fez, poderia muito bem fazê-lo noutra condição, noutro estatuto, de outra maneira. Tudo aquilo era possível, com Marques Mendes visitando o Museu ao lado de Dalila Rodrigues, ambos como cidadãos e políticos, no pleno exercício dos seus direitos, criticando o Governo como entendessem, mas Dalila Rodrigues não poderia estar ali como directora do Museu, mesmo demissionária, nem poderia colocar-se ao lado do líder da oposição na casa do Estado que gere, para atacar o Governo legítimo do seu país. Insisto: é uma questão de Estado.”
(Pacheco Pereira no Abrupto)

O post que aqui escrevi ontem e este que escrevi na altura dos acontecimentos grotescos da manifestação de apoio a Dalila Rodrigues, protagonizada por uns “correligionários da gamela” vão na mesma linha de raciocínio. Assim, não posso estar mais de acordo com Pacheco Pereira. Coisa rara, mas sempre de saudar. Estaria igualmente de acordo se tivesse sido escrito pelo Miguel Portas, ou pelo seu irmão Paulo. Não tenho preconceitos em relação à origem das opiniões, apenas discordo, por vezes, dos conteúdos.

Cenas de vida 16 – Férias em Cuba



- Foste passar férias a Cuba? Que horror, querida!
- Eu até gostei...
- Bem, estive cinco dias em Varadero e a praia é óptima e os hotéis não ficam nada a dever aos do Algarve, mas ouvi dizer que há outra praia ainda melhor...
- Sim, Cayo Coco!
- Foi em Cai o Coco que estiveste? É giro?
- Só lá estive um dia, para ver como era. Estive a passear pela ilha durante uma semana e fiquei três dias em Havana.
- Ai, filha, aquilo é um horror! Estive lá um dia e detestei. Que pobreza! Tudo degradado! E as pessoas? Coitadas, vivem miseravelmente! Nem sequer sabem o que é um hamburguer ... E nem imaginas como olhavam para o meu telemóvel quando eu estava a tirar fotografias!
- É... mas têm um bom sistema de saúde e bom ensino, tudo gratuito...
- Coitados, não têm dinheiro para comprar nada. Aliás... eles não têm é nada. Deixei-lhes as minhas roupas todas, coitados. Se aquilo é assim na capital, imagino como será o resto. O Fidel é um bruto, já devia estar morto. As pessoas nem sequer podem falar, com medo de serem presas.
- Eu falei com muita gente. Algumas discordam de Fidel, criticam-no e querem vê-lo morto, como tu, mas encontrei muita gente que está satisfeita e quase venera o Fidel.
- Ó filha... tu acreditas nisso? Eles dizem bem porque têm medo de ser presos e torturados se forem apanhados a criticar o Fidel!
- Quando andei a passear pela ilha não me apercebi que isso fosse bem assim..
- Ilha? De que ilha é que estás a falar?
- De Cuba, evidentemente...
- Aquilo é uma ilha? Não sabia... Lá em Varadero a gente nem se apercebe disso!

"Mestres" em Sociologia Cubana


Madrugada de um dia qualquer. Como acontece todas as semanas, ao alvorecer de um dia qualquer, centenas de portugueses aterram na Portela, provenientes de Cuba.
A maioria não vai a Cuba passar férias só porque é barato. Vai para poder dizer mal de Cuba e de Fidel quando regressa. A maioria passa cinco dias numa estância balnear - em estabelecimentos tão atípicos e assépticos como os de outra estância balnear qualquer - e um dia em Havana, mas quando chega a Portugal já se sente um especialista habilitado a falar sobre os horrores de Cuba, a miséria do seu povo e as atrocidades de Fidel Castro.
Quando lhes perguntamos se sabem como era a Cuba antes de Fidel, sob a ditadura de Fulgêncio Baptista, alguns respondem com um encolher de ombros e outros, pensando-se mais “letrados” olham-nos com um ar de desprezo e atiram:
-"Quero lá saber o que se passou em Cuba no século XVIII?"
Quem esteve mais do que um dia em Havana- com pouco mais tempo do que para trazer de recordação um exemplar do “Gramma”- e num arrojo destemido deu um salto a Cienfuegos sente-se já detentor de um Mestrado em História e Sociologia Cubana. Esquece-se que Cuba vive um embargo selvagem imposto pelos americanos há quase meio século, mas tem bem presente na memória "o medo que viu estampado em cada rosto" e comoveu-se "com a miséria , a falta de hamburguers, telemóveis e outras maravilhas da tecnologia" que há meia dúzia de anos lhe eram desconhecidas e cuja necessidade nunca reclamaram, até ao momento em que a sociedade de consumo lhos serviu em bandeja de prata com a mesma volúpia com que Satanás tentou Cristo.

Curiosamente, estes portugueses não se sentem condoídos com os dois milhões de portugueses que vivem no limiar da pobreza. Preferem chamar-lhes malandros e acusarem-nos de não querer trabalhar. Porque cá- afirmam- ao menos vivemos em liberdade!

Veto presidencial

Cavaco veta a lei que aprova a reforma orgânica da GNR. As razões do veto presidencial aqui. A argumentação jurídica do veto é impecável, do melhor que tenho lido. Mão do meu amigo Conselheiro Macedo de Almeida? Provavelmente. Quanto às razões políticas estranho a teimosia de António Costa (então MAI) numa matéria que tem que ter - dado a sua delicadeza - o consenso de uma maioria de forças do arco parlamentar. Há equilíbrios com as Forças Armadas que é preciso respeitar. Esta pressa de criar lugares de generais...
Vamos a ver o que faz o Parlamento. Quanto a Sócrates, encaixará como habitualmente.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A libertação das reféns sul-coreanas

Há algo de amargo na libertação de mais oito reféns sul-coreanas no Afeganistão. E essa amargura obnubila a alegria legítima das famílias e de muitos compatriotas de as verem regressar a casa, sãs e salvas. É que a libertação foi feita à custa de cedências de um estado soberano e independente a um bando de salteadores de estrada que prosseguem, em nome de uma dada visão do Islão (o whabbanismo), o objectivo de sapar e derrubar o governo legítimo do seu país, matando quem podem no processo.
Segundo as declarações do lider taliban a Coreia do Sul comprometeu-se a retirar o pequeno contingente de soldados do Afeganistão que integra a força internacional sob comando da NATO até ao fim do ano, a pagar um elevado resgate (cujo valor ainda não é conhecido), comprometendo-se a impedir missionários cristãos de voltarem ao país. Significa isso que o governo sul-coreano reconheceu os terroristas como interlocutores válidos, deu-lhes força para repetirem a experiência, no futuro, promovendo-os aos olhos dos partidários sanguinários do islamismo radical, Osaba Bin Laden e os seus correlegionários, como os campeões do Islão. O estado cedeu aos bandidos por razões humanitárias legítimas.
Como é evidente ainda que esta questão se resolva, o problema agravar-se-á nos próximos meses. No Afeganistão, como no Iraque, os partidários da guerra santa (fatwa) contra os cruzados podem voltar aos seus planos de espalhar o terror e o medo pelo mundo e humilharem os infiéis (nós). Venceram esta batalha.

Algumas leituras sobre o mundo (click o jornal)

Rapidinhas 41- A cantilena do défice

É um dado praticamente adquirido: Portugal irá reduzir o défice abaixo dos 3% ainda este ano. Depois de pedir tantos sacrifícios aos portugueses menos endinheirados, chegou a altura de o PM anunciar como lhes vai agradecer. Arrisco um vaticínio: nada vai mudar, porque Sócrates, além de ingrato, não tem a mínima noção do que é solidariedade social. Novos pretextos irão surgir para continuar a dar aos ricos e retirar regalias aos pobres, porque essa é a noção de modernidade do PM. Ninguém será capaz de lhe dizer que já não estamos no século XVIII?

Search Marketing no Diário Económico





‘Search Marketing’ – a técnica de encontrar o que precisamos

Na base do ‘Search Marketing’, ou marketing de pesquisa, está o uso imparável que os cibernautas fazem das capacidades dos motores de busca.

Paulo Gonçalves Marcos

Um estudo recente, elaborado pelos especialistas da Veronis Suhler Stevenson (private equity) e da PQ Media (pesquisa de media), divulgado pela eMarketer, aponta resultados muito interessantes para a evolução do mercado publicitário na Internet nos Estados Unidos e na Europa.

Assim, mesmo nestes mercados onde o investimento publicitário não tem dado mostras de grande vigor, a parte relativa à Internet está a crescer em 2007, quando comparado com o período homólogo de 2006, uns robustos 25%. E as previsões para o quinquénio de 2006-2011 a revelarem uma expectativa de 21% de acréscimo médio anual. O que fará com que o mercado publicitário na Internet mais que dobre, no período em análise, em ambos os lados do Atlântico. Ou seja, a publicidade na Internet será a maior fatia do bolo publicitário, ultrapassando a televisão e os jornais e revistas, em meados de 2011 (conquanto subsistam algumas especificidades nos mercados da Europa do Sul, onde a televisão resistirá mais algum tempo).

Isto num contexto em que nos principais mercados da OCDE se assiste não só a um declínio das tiragens dos jornais de referência, mas também, conquanto de forma ainda tímida, a uma redução ligeira do tempo devotado ao consumo de televisão…

Temos, então, o resultado do movimento combinado de mais e mais empresas a incluir a Internet nos seus planos de campanha, do desvio de orçamento de canais tradicionais (Tv, papel,…) para a net e ainda o aumento do preço de venda dos veículos de resposta directa (mormente a Pesquisa Paga em motores de busca).

Por detrás do crescimento estonteante da publicidade da net está o fenómeno imparável do ‘Search Marketing’, termo originariamente cunhado pelo pioneiro Danny Sullivan, algures em 2001. Pretendia cobrir um amplo espectro de temas relacionados, tais como: gestão de anúncios pagos nos principais motores de busca; submissão e preparação de ‘sites’ e ‘blogues’ para figurarem em lugar de destaque nos motores de busca; e finalmente o desenvolvimento de estratégias de marketing ‘online’ para empresas, organizações públicas e indivíduos.

Na base do ‘Search Marketing’, ou Marketing de Pesquisa, está o uso imparável que os cibernautas fazem das capacidades dos motores de busca. Confrontados com a proliferação de conteúdos e de páginas ‘web’, o recurso aos motores de busca (Google, Sapo, Yahoo, Msn, Clix, Aeiou, …) veio pôr ordem naquilo que se estava a transformar no pesadelo de excesso de informação na Internet.

Não tardou que os pioneiros dos motores, a maioria das vezes jovens matemáticos e estaticistas juntos em torno de um algoritmo de busca conceptualmente inovador, tenham atentado no potencial de receitas que adviria de promoverem publicidade de tipo x cêntimos por cada clique do rato (”Pay per click”). Coube à Goto.com (agora parte do Grupo Yahoo), no já longínquo ano de 1996, dar início à fileira de negócio.

Dos investimentos actuais em publicidade na net (pesquisa, anúncios tipo ‘banners’, patrocínios a eventos puramente ‘online’, redes sociais – Hi5, MySpaces, Facebook-, blogues, ‘podcasts’ e RSS,…) a pesquisa representa um terço dos investimentos totais. E explica o sucesso do Google na sua luta pelo predomínio da Net ‘vis - à - vis’ a Microsoft e a Yahoo.

Curiosamente, quando os utilizadores de motores de pesquisa são confrontados sobre a motivação para ter efectuado uma determinada busca, dois terços dos inquiridos referem alguma forma muito palpável como estímulo para a busca. Destaque para os jornais e revistas, anúncios de televisão ou rádio, lojas físicas, conselho de conhecidos e amigos…

Ou dito de outra forma, será tanto mais forte no mundo digital quem mais forte for no mundo físico… Ou o confirmar de que os incumbentes competentes não só sobreviverão como provavelmente farão parte dos vencedores da era digital…

www.marketinginovador.com paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Economista, gestor de empresas e professor universitário

Nos despojos do Katrina


Muito feliz e oportuna a reportagem da Rita Siza ( quando é que te cansas dos gringos, rapariga? Já temos saudades tuas...) hoje no Público.
Dois anos depois do Katrina , New Orleans continua a recuperar muito lentamente. O quartel-general da polícia continua a funcionar numa roulotte, as escolas públicas permanecem todas encerradas, os cuidados de saúde estão pelas ruas da amargura, algumas zonas da cidade continuam sem transportes públicos, quem quer regressar tem de esperar três meses pela ligação da rede eléctrica, a maioria dos estabelecimentos encerra às quatro da tarde...
O que mais me surpreendeu na reportagem da Rita, foi ler que a zona mais emblemática da cidade – o quarteirão francês onde eu fui tantas vezes feliz...- continua triste e o jazz e os blues estão a ser substituídos por música electrónica. É um sinal claro, de que New Orleans não mais voltará a ser como a conheci.
Lá, como cá, as pessoas continuam à espera de receber os subsídios prometidos e as críticas ao Governo Federal sobem de tom. A cidade tem recuperado algum do seu antigo fulgor, graças ao apoio dos voluntários que vêm de vários pontos do país para ajudar na reconstrução.
Lá terá as suas razões o cidadão que disse à Rita que a principal lição que tirou do Katrina, foi descobrir que “ser americano não é grande coisa...”

Assédio sexual e igualdade de géneros

Macário Correia foi acusado de assédio sexual a uma alta funcionária da Câmara Municipal de Tavira, situação que muito tem entretido a imprensa indígena, com especial destaque para o DN. Este interesse desmesurado por um apalpão merece-me, por isso, algumas considerações
Não percebo muito bem- à primeira vista- que só passado um ano a vítima tenha apresentado queixa e a notícia só agora tenha saltado para a primeira página dos jornais, mas talvez perceba melhor, se pensar que dentro de um mês haverá eleições no PSD e Macário Correia é mandatário de Marques Mendes. Depois do episódio com o filho de Helena Lopes da Costa durante a Festa do Pontal, esta cena parece vir mesmo a calhar, dentro de uma estratégia de desacreditação de Marques Mendes.
Não pertenço à família política laranja ( declaro-me mesmo, actualmente, órfão político) e pouco me importa quem ganhará as eleições no PSD. Não deixo, porém, de me interrogar porque é que a vítima (Teresa Sequeira) não reagiu prontamente com um estalo correctivo, no momento em que ( segundo as palavras da assediada) o Presidente da CM de Tavira a “apalpou”.
Penso que só é assediado quem se põe a jeito, mas mesmo que esteja enganado, acho que as coisas se devem resolver no momento exacto, entre os beligerantes, nem que seja à cacetada, no caso de a assediada se sentir lgitimamente ofendida.
Teresa Sequeira não é uma funcionária qualquer. É jurista e ocupa um lugar de chefia. Não era secretária do assediante nem – ao que consta- mantinha contactos profissionais de proximidade com Macário Correia. Em minha opinião, tal seria suficiente para se precaver dos assédios atempadamente e evitar esgrimir a questão em Tribunal.
Devo esclarecer que, ao longo da minha vida profissional, fui várias vezes assediado e, na maioria dos casos, não me importei nem opus grande resistência. Pelo contrário, senti-me orgulhoso por ter sido alvo da cobiça do sexo oposto. Concedo que, em algumas situações, ser assediado causou-me algum incómodo. Mas quando me apercebia que estava prestes a ser alvo de um ataque que considerava menos próprio, nem sequer dava azo a situações que me obrigassem a rechaçar a atacante. Um café nas proximidades ou um copo antes do jantar, punham tudo em pratos limpos.
Às vezes, estas desigualdades da igualdade do género têm o condão de me encanitar. Por mim, não me importo que me continuem a assediar. Convido, aliás, alguém a fazê-lo, pois há já muito tempo que ninguém me escolhe como presa. Estou disponível a não ser, claro, que não me agrade ser alvo de cobiça da assediante. Em qualquer dos casos, prometo não me queixar.

Entretanto...

1. O comércio bilateral entre a China e os Países de Língua Portuguesa aumentou cerca de 60 por cento no primeiro semestre de 2007 para um total de 13,8 mil milhões de euros. (Lusa)

2.Ontem Adriano Moreira escrevia sobre "A China na África", no Diário de Notícias.

Rapidinhas 40- Crime, disse ele...

Marques Mendes ( o Reco-Reco) fez ontem uma visita “eleitoral” a Dalila Rodrigues, para lhe manifestar a sua solidariedade. Aproveitou a ocasião para mais uma das suas delirantes intervenções e rotular de “crime” o facto de o Governo não ter reconduzido Dalila no cargo.

Marques Mendes já se esqueceu dos saneamentos políticos que os anteriores Governos do PSD – que ele integrou- fizeram, apesar de estar na memória de todos o recorde estabelecido por Bagão Félix, ao despedir 18 Directores Gerais, num só dia, por “falta de confiança política.”
O actual e futuro líder do PSD continua a não perder uma oportunidade para dizer disparates. Está cada vez mais parecido com o boneco do “Contra-Informação”

Man Booker Prize 2007

Mais um livro da longlist dos candidatos ao melhor livro do ano do prestigiado Man Booker Prize, em lingua portuguesa. Destasorte, "O Fundamentalista Relutante"de Mohsin Hamid, pela mão inteligente da Civilização Editora, do Porto. Parabéns ao editor (a capa da edição portuguesa é diferente). O Man Booker Prize é o mais importante prémio literário para a ficção contemporânea publicada em língua inglesa. Sobre o autor e outros candidatos veja-se aqui.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Stalin

Faz este mês 80 anos, Stalin iniciava no XV Congresso do Partido Comunista da União Soviética a purga contra os antigos bolcheviques, companheiros de Lenine na Revolução Russa de 1917, designadamente Trotsky e Kamenev que seriam expulsos do Comité Central. Stalin rapidamente caiu sobre a "oposição de direita" representada por Bukharin e Rykov. Todos estes foram eliminados nos anos que seguiram, de forma implacável. Béria tornar-se-ia o braço direito do líder, o chefe da secreta e o torcinário que alimentaria as paranóias do Grande Lider.
Stalin, lider inteligente, soube passar bem a imagem de "homem do povo" para as classes pobres, e o cansaço com a guerra mundial e a guerra civil interna suscitou apoio geral para a sua política "socialismo num só país". Em 1928 (o primeiro ano do 5.o Plano Quinquenal), Stalin era o líder supremo do Politburo e do PCUS. A Grande Purga de 1936-1938 permitir-lhe-ia transformar o seu poder pessoal em poder absoluto. Os potentados, membros da elite dirigente eram abatidos e substituidos à menor frivolidade.
Vem isto a propósito do "poder da direita" zurzido por entusiastas de Stalin como Miguel Portas. É curioso como os cabecilhas do Bloco de Esquerda escondem, de forma despudorada, as suas convicções autoritárias, para captar a simpatia dos incautos ou dos ingénuos. A propaganda é (como sempre foi) pura manipulação. É singela, intuitiva, não muito profunda, mas eficaz.

Rapidinhas 39- Ai estes portugueses!

Já aqui fiz referência ao facto de os portugueses adorarem ter cães, mesmo que habitem em espaços onde a sua presença- pela exiguidade das instalações e pelos incómodos que causam à vizinhança não o recomenda.
Volto ao assunto, na sequência de uma notícia divulgada pela SOS Animal: “nos primeiros seis meses deste ano foram abandonados 50 mil cães em Portugal”. Já não é só o período de férias que serve de justificação ao abandono de animais. Ao que me parece, os donos dos canídeos quando se fartam deles não têm qualquer pejo em abandoná-los. Depois lamentam a má sorte dos cães que os chineses alimentam, para comer durante o Ano Novo Chinês. Este povo português é mesmo giro!

Ainda o jogo de Atenas

Afinal, à última hora, a UEFA deu o dito por não dito e acabou por aceitar o adiamento do jogo AEK-Sevilha. A muito custo, provavelmente, mas o jogo lá foi adiado para o dia 3 de Setembro.

Tragédia Grega- Parte II

(...)Sena Santos (DN) passa em revista a imprensa internacional sobre os incêndios na Grécia. Parece uma reprise das páginas escritas sobre os piores anos de fogos em Portugal. Sem tirar nem pôr, estão lá todas as explicações que por cá também se usam… quando já é tarde.
Só falta acrescentar que os conservadores no poder decidiram aproveitar a comoção nacional para marcar eleições legislativas antecipadas para 16 de Setembro. Uma campanha no braseiro, portanto. Seria muito bem feito que quem assim explora a sua própria incompetência e a desgraça alheia pagasse caro a ousadia.
( Miguel Portas em “Sem Muros”)


Palavras para quê ?A direita cultiva a hipocrisia e compraz-se a criticar a esquerda, pela simples razão de não ser capaz de se ver ao espelho...

Off- Shore para o bom senso, precisa-se!

A Grécia está em chamas. Vivem-se por todo o país momentos de angústia e chora-se a morte de muitas dezenas de pessoas. A Europa inteira partiu em socorro dos gregos, condoída com o drama que se vive no país. A 1ª jornada do Campeonato de futebol- que se devia ter jogado no último fim de semana – foi adiada. Mas hoje, ao fim da tarde, há futebol em Atenas. Para as competições europeias.
Os gregos pediram à UEFA o adiamento do jogo, alegando falta de condições psicológicas. Os adversários espanhóis do Sevilha estavam de acordo. Embora por razões diferentes, também eles vivem momentos de dor, temendo pelo futuro de um colega que luta desesperadamente pela sobrevivência.
Nada a fazer. Insensíveis ao drama, os senhores da UEFA mostraram-se inflexíveis. Não haverá adiamento. A bem da transparência no futebol-defendem.
As vetustas aves de rapina que comandam os destinos do futebol europeu, cobrindo-se de afrontosas mordomias, são insensíveis à dor e ao drama. Para eles, o mais importante da vida é garantir que um jogo de futebol se realize à hora marcada. Talvez o seu sonho seja, mesmo, morrerem à frente de um pelotão de fuzilamento...num campo de futebol.
Pensei que com Platini, o futebol europeu ganhasse um pouco mais de Humanidade e se diluíssem um pouco os efeitos nefastos da vertente industrial e financeira que o está a minar. Enganei-me... Platini foi rapidamente engolido na voragem de insensibilidade que varre o futebol – e o desporto profissional na generalidade.
O mundo ocidental está mesmo a precisar de um off-shore. Não daqueles onde se branqueiam capitais, mas sim um onde se lavem as consciências e se adquira bom senso. É que, como eu, há milhões de pessoas em todo o mundo que adoram futebol...

Sobe, sobe bandeirinha....

O português Nelson Évora conquistou, esta segunda-feira, a medalha de ouro na final do triplo salto dos Campeonatos do Mundo de atletismo, que se disputam em Osaka, Japão, graças a um novo recorde nacional, de 17,74 metros.

Portugal campeão do mundo, numa modalidade que tem sabido rechear de talentos. Curiosamente (ou talvez não) numa modalidade que assenta no esforço individual, na capacidade de sacrifício, e na crença. No colectivo somos fracos, mas os nossos valores individuais brilham, quando lhes é permitido lá fora. Muito trabalho e descrição. Curioso o contributo forte das gerações africanas já nascidas em Portugal para o prestígio de Portugal. Três negros a baterem-se forte na mais nobre (para mim) das modalidades olímpicas. Parabéns ao Nelson Évora. Torçamos pelos outros.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Silly Season

Não sei se a silly season já acabou mas o fluir das notícias que chegam de Portugal é absolutamente desinteressante. Nada acontece. Os protagonistas políticos a banhos, os jornalistas na modorra dos dias de Verão, os juízes encalacrados com processos que não acabam, empastelados por uma lógica garantística que não persegue a Justiça mas os expedientes processuais, onde os advogados "bicam". Na cultura não vi ainda o programa da nova temporada da Gulbenkian. Há anos que não vou a um espectáculo de música clássica em Portugal. Os concertos de música moderna são interessantes como já alertei. Pontuá-los-ei aqui a partir de Setembro próximo.

Séries

Uma das rotinas que se cria com a TV Cabo (aqui tem um nome diferente) é seguir as séries que a pulsante indústria cinematográfica (principalmente a america) vai pondo cá fora. Cá em casa dividimo-nos nas preferências mas fico preso por algumas das séries mais conseguidas que tenho visto. Lost (aqui na 3.a Season), Criminal Minds. Deixei de ter paciência para o 24 horas. O tema interessa-me (o terrorismo) por razões académicas mas o argumento é mastigado, repetitivo e os intervalos publicitários (aqui explorados até ao limite) são chatos. O presidente bem-intencionado mais o vice-presidente que o trai, mais a intriga palaciana, depois os terroristas que se revelam tecnicamente mais apetrechados que as unidades de contra-terrorismo. Enfim...

Escrita

Regresso ao exercício penoso da escrita. É como compor uma peça de música ou fazer um lego. Peça por peça, expressão por expressão, anotação por anotação. O outro já está na tipografia (edição Livros do Horizonte) e é sobre a Europa e os Estados Unidos. Este é sobre a China: entre o poder e o direito. Um livro policromático escrito em tempos diferentes e agora "cosido" com os olhos de hoje. Procurando captar, congelar, a voragem dos acontecimentos entre o passado revolucionário (exaltante) e as exigências de construir uma sociedade moderna, buliçosa, empresarial. Um regime fechado, autocrático, com uma elite secretista, entrópica que olha com arrogância para a sociedade (por baixo) que muda, muda muito. Que diferença entre a China que conheci em 1989 e a que se vê hoje? A um ano dos Jogos Olímpicos, provavelmente a maior encenação política desde os Jogos de Moscovo, a prisão dos dissidentes segue imparável. Mas a democracia é um objectivo longínquo. Não acredito em soluções à USSR. Acontecem uma vez num milénio. Vamos a ver o que sai do XVII Congresso do PCC. Não é que o partido tenha mudado, os comunistas não mudam. É ver uma nova geração ser chamada a responsabilidades públicas. A minha.

Hoje é o dia...

da inauguração do Venetian Resort, o maior projecto imobiliário do mundo. Uma cidade dentro de uma cidade.

Samuel Huntington tinha razão?

(...) Perante o desafio em analisar a teoria de Samuel Huntington sobre a tipologia dos futuros
conflitos mundiais, indaguei-me profundamente sobre qual a metodologia que deveria
utilizar bem como sobre a minha capacidade de desconstruir alguns preconceitos que,
humanamente me poderiam condicionar numa análise que se pretende séria, desapaixonada
e científica.(...)
Paula Araújo num inteligente artigo no site do CIARI, um fórum inovador de relações internacionais.

Europeus...mas não muito!

No post anterior, chamo a atenção dos leitores para a proliferação de estudos europeus referindo apenas a Europa a 15, situação que me deixa atónito. Pergunto-me, frequentemente, quais as razões que levam a determinar a mediana europeia num contexto de apenas 15 países, quando na realidade são 27 os Estados membros. Não pretendo encontrar aqui uma resposta, mas apenas dar alguns contributos para uma reflexão sobre o assunto.
Parece-me que esta prática dá razão àqueles que defendem uma “Europa a duas velocidades”. Há uma diferença gritante entre “os Quinze” e a maioria dos 12 últimos Estados a aderir à União Europeia. Recorrendo a um plebeísmo, diria mesmo que a maioria não cumpria os “critérios mínimos” ou seja, se a admissão à UE fosse feita pelos parâmetros de exigência dos Jogos Olímpicos, muitos dos 12 países não tinham sido admitidos.
Sabemos que a admissão em pacote dos países do Leste Europeu assentou numa estratégia política, resta saber se a Europa vai ganhar ou perder com isso. Não só em coesão, mas também no cumprimento dos objectivos para 2010 ( “tornar-se o espaço europeu o mais competitivo do mundo”).
As últimas atitudes de Putin ( bandeira no Pólo Norte, abandono do acordo de armamento, reforço de algumas posições militares estratégicas na Europa...) abrem uma porta para a dúvida sobre o acerto na estratégia ( quanto a mim precipitada...) do alargamento a Leste ( sim, eu sei que as acções de Putin têm a ver com a crescente hegemonia dos EUA, mas não descarto algum ressabiamento russo quanto à integração europeia de países que estiveram durante décadas na sua área de influência).
A verdade insofismável é que vivemos numa Europa com dois ritmos diferentes de desenvolvimento. Daí a minha dúvida. Sabendo que Portugal ocupa já o 18º lugar no “ranking” europeu -com tendência para descer ainda mais- que sentido faz incluir Portugal numa Europa a 15? Só um critério de temporalidade o justifica...
Há outra hipótese a considerar. A inclusão de Portugal deve-se ao facto de os seus padrões de desenvolvimento e crescimento estarem na mediana dos restantes 12, o que permite atenuar diferenças no seio da União Europeia, quando se fazem comparações a 27. Em ambos os casos, Portugal não fica bem no “retrato de família”. É como aquele gajo que está no cantinho da fotografia dos cursos de finalistas e todos perguntam quem é, porque ninguém se lembra dele...

Os portugueses – aparências, vergonhas e mitos...

Apesar das sucessivas desilusões com a construção europeia, continuo a ser um europeísta convicto. Tenho é cada vez mais dúvidas quanto à capacidade de Portugal alguma vez sair da cauda do pelotão europeu, onde se vem afundando há quase dez anos.
Falta aos portugueses empenho num projecto que identificam apenas como um saco de milhões que diariamente nos entra nos cofres, mas a que poucos sentem o cheiro. Os dinheiros de Bruxelas têm sido sobejas vezes desbaratados em projectos dispensáveis, em investimentos imprestáveis e em obras públicas faraónicas. Parcas vezes têm sido usados na construção e desenvolvimento do país, gerando mais riqueza ou permitindo aumentar a qualificação.
No entanto, aparentemente, os portugueses andam satisfeitos. Têm dinheiro para satisfazer as suas necessidades básicas e supérfluas e é quanto lhes basta para se sentirem de bem com a vida. As constantes subidas das taxas de juro têm-lhes retirado um pouco o sorriso, mas nem por isso lhes aumentam o siso. A maioria dos portugueses vive acima das suas possibilidades e consome mais do que as suas necessidades. O português vive na idiossincrasia do novo riquismo. Aparentemente está feliz com a sua “vidinha” de aparências, assente no princípio do “desenrasca”.
“Malgré tout...” de quando em vez apanha uns sopapos. Há tempos foi um putativo Ministro que decidiu viajar até à China para proclamar, prazenteiro, as vantagens competitivas de Portugal, graças aos baixos salários dos portugueses. Agora, foi a OCDE a divulgar um estudo onde se conclui que, apesar de o custo de vida ser 20% mais barato em Portugal do que na média dos países europeus, os portugueses têm salários 40% mais baixos do que a Europa a 15. ( Confesso que a sucessiva divulgação de estudos referentes a uma Europa a 15 me deixam atónito, mas isso explicarei noutro post...). A divulgação destes estudos deprime-nos. É que, embora saibamos que vivemos num mundo de faz de conta, não gostamos que os outros o saibam. Gostamos de manter as aparências de que somos ricos. Que o mundo saiba que afinal não somos, indigna-nos. Não porque estejamos dispostos a lutar para garantir salários de nível europeu e condições de vida idênticas aos nossos parceiros comunitários, mas apenas porque saber que os europeus ficam a conhecer as nossas fraquezas, nos envergonha.
Ora um país com um povo envergonhado que não se assume, não é um país com futuro. Daí o meu cepticismo quanto à possibilidade de Portugal vir, um dia, a estar na dianteira da Europa.

A crise belga

Incumbido no passado dia 15 de Julho pelo Rei, de estabelecer negociações que permitissem a criação de um Governo, Yves Lemert- o demo-cristão vencedor das eleições em Junho- desistiu a semana passada, considerando-se incapaz de cumprir a missão real e o mandato popular.
Flamengos e Valões estão cada vez mais distantes e, perante a passividade dos belgas, não fazem grande esforço para uma aproximação. Qual será o futuro do berço da União Europeia? A Bélgica conhecerá uma secessão e os eurocratas terão em breve que mudar de poiso? Um tema a seguir com atenção, sem dúvida...

Rapidinhas 38- Lisboa ao Cubo

Este fim-de –semana uma amiga desafiou-nos a ir à nova coqueluche da noite lisboeta. O Kubo é um espaço à beira rio concebido e explorado pelo clã familiar de João Rocha que justifica plenamente – apesar dos preços especulativos a que já me habituei na noite lisboeta – mais visitas.
Em noites quentes como a da última sexta-feira, com a Lua a reflectir a sua luz nas águas calmas do Tejo, os lisboetas não desperdiçaram a oportunidade de comungarem uma parte da noite com o seu rio, num espaço onde o bom gosto se alia à simplicidade. Muitas caras conhecidas, hordas de jovens em estágio exploratório antes de partirem para as discotecas e os “voyeurs” do costume.
A noite da última sexta feira foi de Lisboa ao Cubo. No Kubo.

Rapidinhas 37- Jamais digas jamais

É o que deve estar neste momento a pensar o ministro Mário Lino que este fim de semana veio admitir, pela primeira vez, a possibilidade de construção do Aeroporto em Alcochete. O próximo passo talvez seja admitir a viabilidade Portela+1...

O fim do "horizonte"

Sempre polémico, Eduardo Prado Coelho nunca virava a cara a uma boa discussão. Ou melhor: E.P.C. adorava polemizar. As suas crónicas raras vezes eram consensuais e isso parecia dar-lhe um prazer particular. Embora fosse um académico, as suas crónicas eram normalmente despidas do “tique” elitista que coarcta a comunicação com o grande público. Isso tornava-o mais vulnerável a algumas críticas, mas conferia-lhe a aura dos grandes comunicadores.
Sem preconceitos elitistas- embora por vezes cultivasse essa postura - EPC tão depressa escrevia no seu “Fio do Horizonte” sobre música e literatura, como política ou futebol. Universal na escrita, EPC era também eclético nas suas escolhas políticas. Foi do PC, esteve próximo do PS e não se coibiu de apoiar Cavaco Silva quando achou que o devia fazer. Os grandes homens – que amam a vida e dão valor à Liberdade são assim. Recusam deixar-se agrilhoar pelas máquinas castradoras dos partidos, porque sabem que não há verdades universais que o justifiquem.
A última vez que estive com ele foi num debate na Almedina, onde mantivemos uma acalorada discussão. Aliás, em boa verdade, devem ter sido mais as vezes em que discordei das suas opiniões, do que aquela em que comunguei a sua visão das coisas. Isso não impede que tenha sentido um grande choque quando soube da sua morte – apesar de ser conhecida a sua doença não era esperada.
Sei bem a paixão que tinha pela vida e quanto ainda esperava dela. Na hora da sua morte não deixei de pensar- uma vez mais- que se tomássemos mais vezes consciência do valor efémero da vida, o mundo podia ser muito melhor.
É talvez a melhor homenagem que lhe posso fazer no momento do adeus definitivo.

domingo, 26 de agosto de 2007

Venetian

É inaugurado amanhã em Macau- dia 28 de Agosto - o maior casino do mundo, o Venetian resort casino, propriedade do Las Vegas Sands, um complexo de casino, hotéis, mall e restaurantes envolvendo um investimento de 1.8 biliões de US dólares. Em termos de área, diz o operador, apenas as instalações da NASA na Florida são maiores. O complexo disporá de 3000 quartos, 350 lojas comerciais, e vários espaços para congressos. Replicará a zona dos canais da cidade de Veneza e terá (espante-se) gôndolas e barqueiros. Uma visita a não perder e mais um spot para visitarem Macau. Algumas imagens neste e no post seguinte.

Portugal e a Europa

Acabei de ler este livro, com coordenação de António Costa Pinto e Nuno Severiano Teixeira editado pelo Círculo de Leitores, em Julho de 2007. É um livro fundamental para se perceber o processo de adesão de Portugal à Comunidade Europeia. Colecção de testemunhos de Calvet de Magalhães, Xavier Pintado, Silva Lopes, João Cravinho, Siqueira Freire, Fernando Reino, Medeiros Ferreira, Ernâni Lopes, Jaime Gama e Mário Soares, prefaciado pelos dois primeiros. A história não foi bem como se contou com resulta de alguns dos vivos testemunhos dos protagonistas. Muito sentido-espírito-de-orelha e sorte. Desenvolvo análise aqui na coluna quinzenal do JTM.

sábado, 25 de agosto de 2007

Eduardo Prado Coelho, um desaparecimento

Leio agora no Diário Digital:
(...) Morreu o escritor Eduardo Prado Coelho. O professor e ensaísta Eduardo Prado Coelho, de 63 anos, faleceu hoje de manhã na sua residência em Lisboa, disse à agência Lusa fonte próxima da família.
Nascido em Lisboa em 1944, Eduardo Prado Coelho foi autor de uma ampla bibliografia universitária e ensaística. Eduardo Prado Coelho mantinha ampla colaboração em jornais e revistas e uma crónica semanal sobre literatura no jornal Público, para além de um comentário político quotidiano no mesmo jornal. Licenciado em Filologia Românica na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, doutorou-se em 1983 na mesma universidade. (...)

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Não me move a hipocrisia das sacristias. Não tinha em grande conta o intelectual (de esquerda) e o homem público, quer pela visão que tinha dos grandes problemas da sociedade portuguesa, quer (mais recentemente) pelas críticas virulentas que protagonizou contra Cavaco Silva bem como pela forma como se portou quando aqui esteve em Macau e insultou a mulher oriental em crónica no Público. Descanse em paz e que a terra lhe seja leve.

Leviathan of the Right

George W. Bush, reviled by the left ever since he became president, has recently accomplished the feat of acquiring a new and unlikely set of detractors. The longer he flounders in domestic and foreign policy, the more a vocal contingent of intellectuals and columnists allied to the Republican Party is attacking him. Unlike that of most Bush critics, however, their complaint isn't that the president has veered too far to the right. It's that he isn't conservative enough. In Leviathan on the Right, Michael D. Tanner offers the fullest exposition of this line of reasoning to date. Tanner is a lucid writer and vigorous polemicist who scores a number of points against the Republican Party's fiscal transgressions."–The New York Times Book Review

Golpe de estado constitucional na Venezuela

After only six hours of debate, Venezuela's National Assembly unanimously approved radical constitutional changes that abolish presidential term limits and envisage a socialist economy. The assembly is made up solely of supporters of President Hugo Chávez, because the opposition boycotted its election in 2005. The new constitution will be put to a referendum later this year.
Mais no Economist, aqui.

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Rapidinhas 36-Não há tempo para mais

Decidi deixar de comprar o Expresso. Motivo: aderi ao movimento “Slowfood”

Rapidinhas 35- A bota e a perdigota

Recomendo vivamente a leitura do artigo da Fernanda Câncio no DN de hoje. Depois leiam a 1ª página do jornal e finalmente o “miolo” do destaque na página 16. Não diz a bota com a perdigota, mas temos que nos conformar, porque é o DN que temos hoje em dia...
Macário Correia não merecia o enxovalho.

Natascha Kampusch- o lado B


Ontem escrevi aqui sobre o rapto e sequestro de Natascha Kampusch, vendo a história pelo prisma da jovem austríaca.
No entanto todas as histórias têm uma face visível e uma parte oculta. Chamemos a esta face oculta, “lado B”. Nos discos de vinil, a face B era quase sempre a mais fraca. Em alguns casos, era apenas uma versão diferente da música que se ouvia na face A e, em casos raros, excepcionais, aconteceu que a face B acabou por se tornar mais conhecida e popular do que a face A
No jornalismo devemos aplicar o mesmo princípio quando nos deparamos com uma história. Normalmente, a versão que é publicada é o lado A Mas há sempre um lado B, aquele que depois de analisada a história nos parece menos verosímil e vai parar ao lixo ou fica retido nos arquivos da memória. Aplicando este princípio ao cativeiro de Natascha Kampusch, o lado A é o mais simpático ( a história vista pelo lado da vítima) e o lado B é a história vista na perspectiva do mau da fita: o raptor .
Para analisar o lado B desta história impõe-se que comecemos por perguntar: E se Natascha, afinal, não fugiu do cativeiro?
No lado B desta história , então terá sido libertada. Por quem? Pelo próprio raptor, como é óbvio. E o que levaria Wolfgang Priklopil, a libertar a jovem ao fim de tantos anos? Esta pergunta pode ter várias respostas.
Poderá não ter aguentado por mais tempo a pressão que ao longo dos anos se foi avolumando. Terá temido não poder manter muito mais tempo Natascha em cativeiro. A criança que raptara tornara-se adolescente, crescera cultural e intelectualmente, em breve seria mulher e começara já a esgrimir argumentos que o levaram a desenvolver um complexo de culpa que não se sentia capaz de suportar. Temeu que Natascha começasse a arquitectar estratégias de fuga, e que um dia conseguisse concretizá-la. Isso significaria que tinha sido derrotado pela sua vítima- outra ideia que dificilmente poderia suportar e inevitavelmente o conduziria ao suicídio
Por isso decidiu que o melhor seria libertá-la. Seria- no seu ponto de vista- a única maneira de sair com alguma dignidade de toda esta história e, de certo modo, manter Natascha refém de uma relação depois da sua morte. Consegui-lo seria, pelo menos, uma meia vitória...
Mas outra questão se coloca. Terá Wolfgang Priklopil dito a Natascha Kampusch que a ia libertar, tendo previamente conversado com ela e explicado os motivos que o levaram a raptá-la e mantê-la sob sequestro, cativando a sua simpatia e aproveitando os efeitos positivos ( para ele) do desenvolvimento, em Natascha, do “síndrome de Estocolmo”? Ou terá simplesmente simulado uma distracção que permitisse a fuga, dando à jovem a ideia de que fora ela a libertar-se?
Só a primeira hipótese justifica o conformismo de Natascha,os sentimentos de “pena” em relação ao seu sequestrador, a ida ao seu funeral, a visita à casa e a recusa em vendê-la. É o “síndrome de Estocolmo” a lembrar-lhe que a sua liberdade só foi possível, em troca da morte do seu algoz .
A fuga – sem consentimento- não encaixa bem no lado B desta história.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

S. Bartolomeu

Hoje é dia de S. Bartolomeu e aniversário (1572) do início do massacre com o mesmo nome perpetrado por milícias católicas contra crentes huguenotes, e que se arrastaria por vários meses em França, dele resultando vários milhares de mortos. O combate irracional pela promoção da fé trouxe sempre resultados desta natureza e horror. O combate das ideologias surgiria no século XX e pareceu episodicamente substitui-lo. Mas o primeiro regressaria em força após o 11 de Setembro de 2001, ao mesmo tempo que as ideologias se retiravam para a sombra da história.