O fim do "horizonte"
Sempre polémico, Eduardo Prado Coelho nunca virava a cara a uma boa discussão. Ou melhor: E.P.C. adorava polemizar. As suas crónicas raras vezes eram consensuais e isso parecia dar-lhe um prazer particular. Embora fosse um académico, as suas crónicas eram normalmente despidas do “tique” elitista que coarcta a comunicação com o grande público. Isso tornava-o mais vulnerável a algumas críticas, mas conferia-lhe a aura dos grandes comunicadores.
Sem preconceitos elitistas- embora por vezes cultivasse essa postura - EPC tão depressa escrevia no seu “Fio do Horizonte” sobre música e literatura, como política ou futebol. Universal na escrita, EPC era também eclético nas suas escolhas políticas. Foi do PC, esteve próximo do PS e não se coibiu de apoiar Cavaco Silva quando achou que o devia fazer. Os grandes homens – que amam a vida e dão valor à Liberdade são assim. Recusam deixar-se agrilhoar pelas máquinas castradoras dos partidos, porque sabem que não há verdades universais que o justifiquem.
A última vez que estive com ele foi num debate na Almedina, onde mantivemos uma acalorada discussão. Aliás, em boa verdade, devem ter sido mais as vezes em que discordei das suas opiniões, do que aquela em que comunguei a sua visão das coisas. Isso não impede que tenha sentido um grande choque quando soube da sua morte – apesar de ser conhecida a sua doença não era esperada.
Sei bem a paixão que tinha pela vida e quanto ainda esperava dela. Na hora da sua morte não deixei de pensar- uma vez mais- que se tomássemos mais vezes consciência do valor efémero da vida, o mundo podia ser muito melhor.
É talvez a melhor homenagem que lhe posso fazer no momento do adeus definitivo.