As novas elites
Manuel Vilaverde Cabral deu uma entrevista ao Diário Económico que apreciei. Pelo rigor e pela honestidade intelectual. É um dos valores fortes do pensamento liberal português, seja isso o que for. O seu instituto, o ICS, continua um dos valores fortes da academia portuguesa, um cadinho de valores consistentes e novas promessas. Nas ciências sociais é o must (ao lado do meu querido IEP-UCP). O resto é paisagem. E já nem falo nas privadas; falo nas públicas: Coimbra, Clássica de Lisboa, Nova.. Um passo da entrevista:
(...) Quem são as novas elites [em Portugal]?
São democráticas – ou seja, pouco elites. Reflectem uma universidade mal massificada, que se massificou sem diferenciação. É um problema de crescimento – que deveria fazer-se através da especialização e que tem a ver com todas as outras áreas. O nosso sistema político, assente nas clivagens de 1974 e reproduzindo as que vinham desde 1820, ficou atrás da própria mudança social e perdeu capacidade de liderança. (...)
(...) O traço histórico tem uma dimensão oligárquica muito forte. As mesmas famílias disstribuem-se pelos partidos políticos, pelas elites profissionais… A família Portas, por exemplo: dois filhos em partidos opostos, que chegaram a concorrer à mesma eleição da câmara de Lisboa. Algumas vêm do antigamente: o meu falecido amigo Afonso de Barros, sobrinho de Marcello Caetano, foi casado com uma sobrinha de Adelino da Palma Carlos. Na sua família, o 25 de Abril traduziu-se por o primeiro-ministro deixar de ser o tio dele, para passar a ser o tio dela. É uma caricatura, mas mostra a dimensão e a falta de diferenciação das nossas elites. As do anterior regime estavam esgotadas, a renovação era muito limitada. O 25 de Abril obrigou a uma renovação radical, que começou pelos próprios militares e trouxe a esquerda ao poder. Incluo nessa renovação o PPD de Sá Carneiro. A Ala Liberal rompeu, mais ou menos, na altura em que aparece o PS e Sá Carneiro percebe o fim do regime. Levanta a questão.
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