quinta-feira, 15 de março de 2007

A preguiça dos nossos jovens

Em Portugal inventamos muitas desculpas e desvalorizamos os relatórios que dão conta da preguiça congénita dos nossos universitários. As excepções, valiosas, têm o aspecto de uma explosão que há-de ser contrariada pelo ambiente da própria universidade corredores sujos, grafitis nas paredes, os poucos relvados desertos, as bibliotecas pouco utilizadas para investigar.

Francisco José Viegas no Jornal de Notícias

A reflectir

Parece-me, sim, que a Europa continua presa aos fantasmas do passado, projectando uma imagem de si própria que não é capaz de assumir na prática, mirando-se a um espelho deformado que lhe devolve uma imagem do que ela gostaria de ser, mas não é. E, enquanto se mantiver uma equivalência política e moral entre países onde os direitos do homem são por vezes violados - o que obviamente não os desculpa - e aqueles onde essa violação é a sua própria natureza e base de sustentação, não acredito que a Europa seja capaz de combater pelos valores acima descritos. Hoje, a "narrativa" europeia resume-se a três palavras: sossego, segurança e bem-estar. Para si própria, naturalmente...

Esther Mucznik no Público, 15.03.2007

Cenas de vida 5- O rapto

No dia 15 de Fevereiro de 2006, uma recém-nascida é raptada do Hospital Padre Américo em Penafiel. Choro, lágrimas e revolta em directo diante das câmaras de televisão. Um ano e pouco depois (12 de Março de 2007) a criança é encontrada, graças a uma denúncia de uma cunhada da raptora. Mais televisão, mais lágrimas, a revolta a ceder o seu lugar à alegria e a promessa da mãe de ir a Fátima a pé, com a criança ao colo. Em directo, como convém.
Feitos os devidos testes de ADN, a PJ decide entregar a menina, agora com 1 ano, à mãe legítima. Mas não o consegue fazer, pela simples razão de a extremosa mãe não se encontrar em casa. Onde estava? Em directo, num programa matinal da SIC de onde saiu com uns milhares de euros de donativos, casa mobilada por uma empresa de mobiliário (que teve o cuidado de fazer publicitar a sua benemerência) e outras pequenas oferendas. A entrega foi adiada para sábado, perante a revolta do pai que, também em directo, não se coibiu de chamar “trafulhas” aos agentes da PJ. Parafraseando um refrão de um antigo programa da RTP “ Diga à gente, diga à gente, como vai ( o povo d’)este país”!

Cenas de Vida 4- Divagações urbanas

Diariamente, percorro de Metro os onze escassos minutos que separam a minha casa do trabalho. Aproveito o percurso para ler os jornais ou alguma revista em atraso, já que o tempo não dá para grandes leituras. Desde que há jornais gratuitos, tenho notado que há cada vez mais gente a ler jornais no percurso da manhã, enquanto ao fim do dia são mais as pessoas a ler livros.
Hoje, Dia Mundial dos Direitos dos Consumidores, trazia um pequeno trabalho para rever, mas a “manchete” do jornal gratuito que o passageiro à minha frente estava a ler, levou-me para outros caminhos. Foi então que “assimilei” uma realidade que diariamente observo, mas sobre a qual ainda não reflectira. Enquanto os passageiros com mais de 35/40 anos vão a ler, ou a pensar em algum dos muitos problemas que devem ter na vida, os mais jovens dedicam-se a outras actividades. Ou balançam-se ao som da música que sai dos iPod , directamente para os seus ouvidos, ou a manipular furiosamente as teclas dos telemóveis, enviando SMS ou fazendo jogos.
Há , indubitavelmente, um corte radical de hábitos entre duas gerações. Enquanto os mais velhos exercitam os neurónios, os mais jovens exercitam os dedos. Não sei que conclusões tirar desta constatação, mas a “manchete” do jornal não augura nada de bom... “Jovens orientam o consumo dos adultos”. E em sub-título: “ atraídos pelas novidades, dão pouca importância à durabilidade dos produtos”. À memória veio-me o livro de Gilles Lipovetsky “ O império do efémero”. Irá o nihilismo triunfar?

O regabofe da Venezuela

Ganhador das eleições presidenciais de Dezembro Hogo Chavez prepara-se para fazer a sua revolução boliviana, mudar a constituição a golpe, nacionalizar indústrias estratégicas, impôr a lei por decreto. A primeira invenção é rebaptizar as suas forças de apoio num [título provisório] Partido da Unidade Socialista da Venezuela cujo lider será 'el comandante". Isso implicará a dissolução dos partidos que compoem a assembleia nacional da Venezuela o maioritário Movimento da Quinta República, o PPT [Pátria para Todos], o PCV [Partido Comunista Venezuelano], o PODEMOS e o CNV.

Segundo a lider do primeiro, uma esfusiante Lina Ron, as indicações do comandante são ordens. Disse ela à imprensa "quem sou eu para questionar o segundo libertador da república, o messias que Deus enviou para libertar o povo"? Parece que mais devagar vão os generais compagnons de route do comandante que não está nada dispostos a entregar o poder autocrático de mão beijada ao libertador do século XXI da Venezuela, como reza a propaganda oficial.

A história ensina-nos que a excessiva concentração de poder numas só mãos gera resistência. Entre correlegionários isso é habitualmente resolvido à catanada, a tiro de pistola ou esquadrão de fuzilamento. Foi assim que Castro eliminou os competidores à sua liderança ou que Mugabe reforçou o seu poder tirânico. Estará a América Latina disposta a fechar olhos aos desmandos que se anunciam???

quarta-feira, 14 de março de 2007

Prémio Camões 2007

António Lobo Antunes, the man itself. Lobo Antunes é para a minha geração a referência simbólica de como um livro "A Memória de Elefante" [1979] mostrava a irracionalidade do regime deposto - o marcelista - e a estupidez da guerra colonial. O estilo verrinoso, desnunado, sem paliativos marca-o como um dos grandes escritores portugueses da segunda metade do século XX. Gostei menos de outros livros mais recentes onde acho que arrasta o estilo e os motivos da narrativa.
Na literatura como na vida há enormes injustiças. Saramago, prémio Nobel da literatura, brrrrrrr...

Cada tiro, cada melro

Mas não há nada que esta administração americana faça certo? Ainda ontem comentava com alguém que me é próximo: tenho uma sensação de dêjà vu! Parece os últimos dias de Bill Clinton a explicar ao público americano [e à mulher] porque é que não fornicara com a Mónica Lewinsky apesar de todas as evidências. Ninguém ficou convencido, como é evidente.

Para onde vai o mundo?

Un monde multipolaire en formation, por Thierry de Montbrial no Le Monde, aqui.

Livro de História Europeia? Porque não?

A ministra da educação alemã propôs a criação de um “Livro Europeu de História” para os alunos dos 27 Estados da União Europeia. A ideia surge no seguimento de um livro de História franco-germânico adoptado em várias escolas dos dois países e pelas Escolas Francesas e Alemãs em Portugal, que já tive oportunidade de ler.
À primeira vista, parece-me uma boa ideia. A falta de identidade europeia dos quase 500 milhões de cidadãos que compõem a União e o impasse, resultante da recusa da Constituição Europeia, por parte de franceses e holandeses, requer uma iniciativa que una os europeus para este projecto comum iniciado em 1957. O ano de 2007 será, muito provavelmente, decisivo quanto ao futuro da Constituição Europeia, mas nada garante (antes pelo contrário!...) que o impasse seja ultrapassado. Fazer algo que ajude a criar uma identidade europeia, que ajude os cidadãos europeus a perceber ( como diz Pascal Fontaine) que “este meio século de integração europeia marcou profundamente a história da Europa e as mentalidades dos europeus” parece-me positivo e de grande importância para o futuro da UE. Com efeito, ao longo de 50 anos de construção europeia, para além dos sucessos económicos, ( a UE é a maior potência comercial do mundo) foram alcançados objectivos importantes como o de uma maior coesão social. O tratado de Amsterdão de 1997 e a Carta dos Direitos Fundamentais assinada em Nice em 2000, definiram um conjunto de princípios que permitiram aos cidadãos europeus usufruírem hoje de um conjunto de direitos e regalias que lhes estavam vedados, e terem voz activa nas decisões, mas a maioria parece ignorá-los .
Um livro europeu de História poderia contribuir para que os cidadãos de cada Estado –membro percebessem que são mais as coisas que os unem do que as que os separam, ajudando a sarar feridas que, inegavelmente, não se dissiparam ao longo destas décadas.
Uma Europa alargada, que enfrenta os desafios da globalização e da revolução tecnológica lidera as questões ecológicas e pretende tornar-se numa referência noutras áreas, não pode ficar refém de nacionalismos basistas, em que cada país receia perder as suas referências e a sua identidade. As reacções à proposta têm sido diversas. Enquanto Polónia, República Checa e Dinamarca, se opõem, a Espanha aplaude a iniciativa. Quanto a Portugal , não tem posição. Como é normal, quando estão em causa questões relacionadas com a Cultura.

terça-feira, 13 de março de 2007

Angola adopta Lei de Talião?

Na semana passada, o jogador Mantorras foi detido por conduzir com uma carta angolana que não é válida em Portugal. Durante o último fim de semana, as autoridades angolanas lançaram uma operação de caça aos condutores com cartas de condução emitidas em Portugal , tornando-se assim no primeiro PALOP a proibir os cidadãos portugueses a conduzir com carta de condução portuguesa. Ofendidas pela detenção do seu herói da bola, decidiram aplicar a Lei de Talião?

segunda-feira, 12 de março de 2007

Balanço de 2 anos de Governo Sócrates






Não faças o que
criticaste aos
outros

Anónimo










Malta das Arábias III

Na formação do meu ideário o sentimento da portugalidade ocupa um lugar essencial. Não se trata aqui de listar autores que reflectiram sobre o mesmo, de tal forma são mais ou menos de todos vós conhecidos. O que quero aqui abordar é a necessidade daquele sentimento.
Há vinte anos não seria necessário gastar muitas linhas para frisar a associação biunívoca portugalidade-nacionalismo. Entretanto, surgiu uma nova geração mais urbana (em todos os sentidos da palavra), mais aberta aos movimentos europeus e, infelizmente, menos preocupada em estudar a nossa história, a nossa cultura, o sentir português. Mal se apercebem de como são também um fruto da política (des)educativa das últimas décadas, que relegou o estudo da história e cultura pátrias para segundo plano, em favor de abordagens "europeias".
F. Santos no blog Horizonte

Malta das Arábias II

Última tentativa para arranjar um líder para a Direita.
No Amor e Ócio, com a nossa vénia.

Malta das Arábias I

O neo-salazarismo [o quem?] larvar que está à vista de todos também não existe? Ou será uma versão democrática embora inorgânica?Vá lá não tenham «vergonha» de falar no assunto.A votação para o concurso da RTP ainda decorre...
José Medeiros Ferreira no Bicho Carpinteiro

Brincar com os números da Segurança Social

O “Expresso” publicou, há tempos, u artigo onde traçava um “retrato negro” da Administração Pública e insinuava que os funcionários públicos gozavam de um regime privilegiado de Segurança Social, cujas consequências eram o agravamento ilimitado do défice. Se alguém no “Expresso” se tivesse preocupado em investigar o problema, certamente que chegaria a conclusões bem diversas. Bastaria, para tanto, analisar os relatórios e contas da Caixa Geral de Aposentações (CGA) e verificar os valores não entregues pelo Estado nos últimos 10 anos à CGA, bem como o montante da “dívida” gerada. Como não o fez, induziu em erro os seus leitores . Explico porquê.
Se o Estado cumprisse, como qualquer empregador no nosso País, teria que pagar à Caixa Geral de Aposentações 23,75% das remunerações que paga aos seus funcionários. Acontece, porém, que o Estado não paga nada, limitando-se a transferir para a CGA as verbas necessárias ao pagamento das pensões de aposentação e de reforma. Despudoradamente, o Estado chama a este pagamento “subsídios”, como que insinuando que os funcionários públicos são um encargo social para o Estado, contribuindo para o agravamento do défice. O Estado comporta-se, pois, como se estivesse acima das suas obrigações de empregador e trata os seus trabalhadores como se fossem parasitas, ou sem abrigo. Numa apreciável sintonia, o “Expresso” não só esquece esta situação, como parece desconhecer que os trabalhadores da função pública, descontam 11,5% nas suas remunerações, sendo 10% para a CGA e 1,5% para a ADSE. Logo, pagam mais do que os restantes trabalhadores! Onde estão os privilégios? Se alguém os tem, é o Estado.
Todos reconhecem que a Administração Pública precisa de uma reforma profunda, mas não é bonito ( nem lhe fica bem...) que a comunicação social trate este assunto com total leviandade. A reforma da Administração Pública passa, fundamentalmente, pela resolução de um problema profundo: entregue a militantes dos partidos que vão passando pelo Governo, a gestão de muitos organismos públicos revela elevada dose de incompetência.

A Reforma da AP

Estou certo de que a maioria dos funcionários públicos está de acordo com a necessidade de uma reforma profunda da administração pública e até anseia que ela se concretize. Simplesmente, quase todos esperariam uma reforma que moralizasse e dignificasse a sua actividade e não um conjunto de medidas avulsas, cegas e injustas que os transforma em “bombos da festa” no regabofe do défice.
Não vou escalpelizar a totalidade das medidas ( o Arnaldo Gonçalves já o fez-e bem- noutro post) mas apenas levantar algumas questões que contribuam para um melhor esclarecimento desta matéria.

Reforma aos 65 anos
Convém dizer que se trata de uma medida justa, mas que peca por ser completamente cega. O mais aberrante nesta medida é tratar, de igual modo, um trabalhador com 30 ou mais anos de serviço e outro que acabou de entrar. Veja-se o seguinte exemplo:
-Um funcionário que em 2002 tivesse 53 anos e 33 de serviço, tinha criado expectativas de se reformar em 2005. Manuela Ferreira Leite cerceou-lhe essa hipótese, ao impedir reformas antes dos 60 anos. Quando já se habituara à ideia, o referido funcionário é “informado” que, afinal, só poderá reformar-se aos 65 anos. Contas feitas, vai descontar para a reforma durante 45 anos, enquanto o colega do lado, que entrou mais tarde para a função pública, ou é mais novo, continuará a poder reformar-se com apenas 36 anos de descontos. Será esta uma medida justa? E será justo que trabalhadores que se reformaram com pouco mais de 50 anos estejam a receber a reforma e a trabalhar ( às vezes no mesmo serviço ou empresa onde se reformaram) roubando emprego a pessoas que querem entrar no mercado de trabalho?


Comprar reformas

Sabe-se que os funcionários públicos foram incentivados a “comprar” anos de serviço, durante o Governo de Guterres, permitindo assim que se reformassem mais cedo. Muitos o fizeram e conseguiram- à custa de um malabarismo legal que enriqueceu os cofres do Estado- reformar-se mais cedo. Aqueles que não pactuaram com a medida, e agiram de boa-fé, estão agora a ser duplamente penalizados: reformam-se mais tarde, descontam durante mais anos, e ainda por cima não terão direito a receber a reforma por inteiro. Onde está a justiça social?
Levantam-se as mesmas dúvidas para a medida que visa cortar nas reformas dos trabalhadores mais antigos - que serão os mais severamente penalizados. Para os descontentes com estas duas medidas, deixo um sinal de esperança. Provavelmente Sócrates não recompensará mais nenhum dos seus dilectos servidores partidários com nomeações para cargos em empresas públicas, no último ano de trabalho, permitindo-lhes assim obter reformas chorudas. Ou estarei enganado e iremos assistir a um “remake” do que fez no governo de Guterres?
E quanto ao recurso ao “outsourcing”? Continuará a privilegiar-se o recurso a empresas, em detrimento de uma aposta forte na formação contínua dos funcionários? Há quem diga que o sistema é fácil, é barato e dá milhões! Se assim for, dificilmente se tocará nesta “vaca sagrada”...


Progressões automáticas

À primeira vista, há duas medidas que não sofrem contestação: a suspensão das progressões automáticas e a revisão do actual sistema de carreiras e remunerações. É indigno e desmoralizante o sistema de “progressão ao taxímetro” há muitos anos aplicado aos professores e mais recentemente- embora com pequenas restrições- a todos os funcionários públicos. Num sistema em que o funcionário dedicado e o que “se está nas tintas” são recompensados igualmente ao fim de três anos, com uma promoção, só se pode esperar um nivelamento por baixo ao nível do desempenho e da motivação. Claro que tudo isto está também relacionado com o sistema de avaliação que o Governo decidiu rever. Esperemos para ver o que será decidido neste âmbito, com a certeza de que o sistema antigo de promoções e avaliações era igualmente injusto e permitia favorecimentos. Apenas dois exemplos: um técnico superior, licenciado, em início de carreira, pode ganhar tanto ou mais do que um técnico superior que esteja no topo. Basta conseguir entrar para o quadro da Assembleia da República, ou de um organismo em que tenha direito a “emolumentos”. Por outro lado, um motorista a trabalhar num Gabinete, pode ganhar tanto como um técnico superior, graças às horas extraordinárias. Terá o Governo coragem para acabar com estas desigualdades aberrantes?

Revisão do sistema de carreiras

A revisão do actual sistema de carreiras precisa de ser feita com urgência. Mas será também necessário credibilizar os concursos para progressão nas carreiras e acesso aos lugares de chefia, impedindo que se façam concursos “à medida” onde só falta fazer exigência à cor dos olhos do candidato. O episódio relatado pelo Prof Lobo Antunes no seu livro “Histórias de Nova Iorque” é paradigmático acerca da farsa de alguns concursos na Administração Pública.Há muito a fazer para melhorar o serviço público. Como já se disse e escreveu, trata-se essencialmente de um problema de gestão. Acusar os funcionários públicos e, como castigo, retirar-lhes benefícios, não é um acto de coragem... Antes me faz lembrar aquele chefe de família que, para mostrar aos vizinhos que é ele quem manda lá em casa, resolve bater na mulher. Infelizmente a comunicação social tem-se comportado, nesta matéria, como o vizinho que acredita no que o “chefe de família” lhe diz, mas não procura conhecer a verdade.

Cromos da semana

1º lugar- Durão Barroso- Conseguiu ver aprovada a sua proposta para as energias renováveis e a redução dos GEE, mas em contraponto teve uma actuação desastrosa, quando a imprensa inglesa o acusou de ter um carro particular que emite o triplo de CO2 que a legislação que pretende implementar prevê. Ao dizer que não comenta "escolhas particulares" e que o carro ( um Volkswagen Touareg) não é seu, mas da mulher, Durão Barroso comportou-se como Frei Tomás: o importante é que os outros cumpram as normas, porque em casa dele continuar-se-ão a privilegiar as opções e gostos pessoais, independentemente de violarem os princípios que defende. Enfim, uma reacção muito ao jeito das que tinha quando era Primeiro Ministro em Portugal.

2º lugar- Fernando Rosas- Ao assinar o "manifesto" contra o programa "Os Grandes Portugueses", o historiador bloquista mostrou que a intelectualite a que pertence não consegue distinguir um programa de entertenimento de um programa de informação. Este membro do grupo dos sisudos da denominada "esquerda festivaleira" é (mais um) exemplo de uma esquerda que se continua a reger por "slogans" panfletários totalmente desfasados da realidade social do País. E é preciso ter tanto medo de uma vitória de Salazar? O homem está morto, para o bem e para o mal faz parte da História, que mal virá ao mundo se ganhar um concurso? Esta mania de querer apagar a História, não fica nada bem a um historiador que, (lembram-se? ) já foi candidato à Presidência da República.

3º lugar- José Pacheco Pereira- Prossegue a sua cruzada contra o serviço público de televisão. como se todos os males da comunicação social portuguesa tivessem como causa a existência da RTP. Numa altura em que a RTP arrasa a concorrência com audiências elevadíssimas, Pacheco Pereira parece estar a chamar estúpidos a todos os portugueses que, cansados de telenovelas e "reality shows" optaram pelos canais públicos de televisão.Resquícios de esquerdismo mal resolvidos, ou apenas dores de cotovelo?

PS: Para a semana não haverá cromos...

Princípios orientadores da reforma

Vamos por pontos, seguindo o comentário logo a seguir:

-
aproximação do regime laboral comum, com respeito das especificidades da AP
Parece lógico, até atendendo que o sistema actual já não comporta trabalho para todos e por isso tem que ser introduzido, no sistema, um elemento de flexibilidade de que a AP não pode estar isenta

- sujeição ao mesmo regime em domínios fundamentais da relação de emprego público
De certa forma, o regime democrático viu pulular regimes específicos que foram uma forma de remunerar melhor algumas carreiras profissionais [de que o sistema se encontrava mais carenciado em cada tempo]. A sua ligação foi problemática e o pretexto para o acantonamento de lobbies profissionais que criaram estatutos de excepçãoclaramente violadores do princípio de trabalho igual salário igual [saúde, finanças, polícias, tribunais e outros]

-
gestão de RH relacionada com a gestão dos objectivos dos serviços e com os postos de trabalho necessários
O não preenchimento dos quadros e a pulverização dos contratos além-do-quadro foi a resposta [possível] a um sistema de recrutamento rígido [concurso de provimento] que há várias décadas deixou de fazer qualquer sentido, constituindo um encargo brutal para o erário público, um incentivo para a incompetência, a falta de esforço e um prémio à velhice e à caturrice

- manutenção da perspectiva de carreira para os trabalhadores
Não há nada que impeça o compromisso destas duas preocupações: ginasticar as formas de recrutamento público, manter uma relação estável com a "função" que é indispensável à sua dignificação e estabilidade [e à lealdade e devoção que é próprio dos funcionários públicos]

- reforço dos poderes de gestão dos dirigentes e da sua responsabilização
É indispensável a responsabilização das chefias pois só elas podem avaliar a performance dos trabalhadores e premiar os que têm mérito, sancionando os que não o têm; as chefias não podem ser um saco vazio mas o sistema tem que impedir que elas se tornem déspotas in action; há que criar mecanismos de recurso céleres e efectivos para o abuso de poder

- predominância da avaliação de mérito na evolução nas carreiras
O princípio é excelente, vamos lá a ver comoo governo se propõe pô-lo em prática, sendo a função pública expressão de um poder por definição [Weber] tradicional, que controla a informação vital; há que ter muito cuidado com a retenção da informação

- reforço das condições de mobilidade
Já não fazem sentido muitas das queixas que se vêem os sindicatos protagonizar perante os meios de comunicação social sobre a mobilidade dos trabalhadores; trata-se de um factor indispensável na gestão; num tempo em que já não existe trabalho para todos [designadamente para os mais novos] o emprego tem que procurar-se onde está

- controlo da evolução de despesas com a AP
Parece evidente, que um Estado que não é rico [bem pelo contrário] não pode fazer figuras de rico; uma gestão equilibrada e parcimoniosa do orçamento dos portugueses é essencial para que o burden não recaia todo sobre as novas gerações

- revisão do regime de protecção social numa perspectiva de convergência
Aplica-se o comentário anterior; por via da acção de sindicatos especialmente combativos vimos polular sistemas especiais de protecção social [por exemplo os militares] que são socialmente injustos e funcionalmente injustificáveis; a segurança social é uma contrapartida e não uma prerrogativa; por outro não há qualquer sentido para regimes de protecção social [e pensões] que ultrapassam em benesses os principais titulares dos órgãos de soberania, estes mesmo assim adstritos a funções [e regalias] transitórias; não é miserabilismo mas sentido de decência; há alguns tempos circulava na Internet uma lista das maiores pensões da Caixa Nacional de Aposentações -entre as maiores na ordem de vários milhares de euros contavam-se magistrados, notários, conservadores dos registos e funcionários dos CTT

Reforma da administração pública em Portugal

Mão amiga fez-me chegar nota sobre os princípios para a reforma da administração pública. Não vi ainda o projecto do diploma [se é que ele já existe] mas começarei por dizer que a reforma me parece essencial. Não achei os vectores de mudança especialmente polémicos e já os conhecia em parte, a que não será estranho o facto de parte da equipa que preparou a reforma ter estado em Macau na década de 80, tendo integrado o team que preparou a reforma do antigo estatuto do funcionalismo ultramarino [que ali vigorou por várias décadas] sob a direcção do então Secretário-Adjunto para a Administração Pública do Governador Melancia, Jorge Coelho.

Não sendo excepcionalmente desproporcionada, a AP é composta por 568.384 trabalhadores, o que corresponde a 14,6% da população empregada [5,122 milhões de portugueses]. Desses 568 mil, 363 m. pertencem ao que se designa por administração directa do Estado, 199,2 m. à administração indirecta e 130 m. à administração autárquica. Pressupondo que cada trabalhador é cabeça de um agregrado familiar de 3 pessoas cerca de um milhão e meio de pessoas está por alguma forma dependente do OGE e acusa a certitude ou desconchavo das políticas do sector. Não fui ver as estatísticas mas a situação - fora os países anglo-saxónicos, e do Norte da Europa - será menos preocupante que a da Alemanha, da França e da Espanha onde o rácio funcionalismo público/população empregada é creio bem superior. De qualquer forma sendo o sector público em economia de mercado complementar do sector privado faz todo o sentido reduzir a proporção do peso do Estado na economia, logo os trabalhadores afectos a essa função.

Quanto às technicalities segue próximo post.

domingo, 11 de março de 2007

Ainda sobre a excelência da democracia [e a sua crise]

Ralf Dahrendorf once defined the developed part of the word at its peakin the twentieth century as a successful combination of three positive characteristics. It was made up of economies that ensured the good life for a large number of people, societies that encouraged individualism and competition without destroying the smaller communities in which the individuals lived, and political programmes that inseparably linked the rule of law to principles of democracy.

The inhabitants of Western Europe and North America - the industrially advanced ‘First World’ was concentrated primarily in these two regions - in contrast to people in the ‘Second World’ (‘real socialism’) and the ‘Third World’ (the developing countries), had comparatively equal economic opportunities as well as a social framework in which civil societies were able to develop stimulating mutual relationships. All people, without exception, also had guaranteed political freedoms, which was the historic cumulative result of the class struggles that had lasted several decades and two world wars. One of the main causes of both these wars was the very conflict with the systemic inequality between individuals and societies.

Um texto fundamental de Mojca Murko, socióloga e membro do Parlamento Europeu a ler aqui.

Jacques Chirac retira-se

Jacques Chirac confirmou numa mensagem televisiva que não procurá um terceiro mandato como presidente da França. Chirac retira-se com 74 anos tendo sido presidente desde 1995.
Na sua mensagem, Chirac apelou à França para defender os seus valores. "A França não é um país como os outros. Tem as suas particulares responsabilidades, o legado da sua história e os valores universais que ajudou a criar" disse.

Acho nobre e responsável a atitude do presidente francês, consistente valor do centro-direita europeu, que foi de forma diversa um figura central na política francesa nas últimas quatro décadas. Depois de De Gaulle talvez seja o político que de forma mais impressiva deu corpo a uma certa nobreza de fazer política, incorporando um estilo aristocrático, seco mas efectivo. E sobretudo francês.
É notável quando os políticos se retiram do palco do poder pelo seu próprio pé e fazem-no quando envelhecem. Abrindo caminho aos mais novos. A política internacional está demasiado repleta de gerôncios e cadáveres adiados que tudo fazem para se perpetuar a qualquer pretexto para não deixarmos de saudar esta lucidez republicana. Curiosamente é do lado da esquerda e das fileiras do socialismo que esse vento decrépito mais sopra contra as aspirações de liberdade e renovação dos seus povos. Robert Mugabe, Fidel Castro, são os rostos duma velha esquerda estúpida que se acha por direito quase divino agarrada ao poder que tomaram de assalto e que não largam. Rapaces, ladronecos, são a expressão da incompetência, do dislate, do espezinhamento da liberdade, em nome do socialismo. O deles e dos seus sequazes, não da maioria do povo que não se pode exprimir e rebelar. Quando uma nova onda de socialismo populista varre a América Latina é bom contrapor exemplos desta lucidez aos novos Perons.
A política - devemos lembrá-lo - é na tradição republicana um serviço à comunidade. O representante eleito não é dono do eleitorado mas seu mandatário, por algum tempo. Afinal a democracia - registou Karl Dahrendorf - é o [único] regime em que é possível remover os titulares do poder sem violência. Coincidindo com o julgamento sazonal dos eleitores. Esse é o seu trunfo inimitável e superior.

Julia Migenes

Tive o privilégio de assistir ontem [em Hong Kong] a um espectáculo notável, de bom gosto, requinte e sobriedade de Julia Migenes, cantora de jazz com largas incursões na ópera [ou opereta melhor dizendo], no blues, a música de caberet e algum pop. Dona de uma voz fabulosa que percorre toda a escala diatónica, sem qualquer esforço, o espectáculo que recria o seu último album - Alter Ego - é um must para qualquer pessoa com bom gosto. Aos leitores portugueses do Além do Bojador aconselho vivamente o disco e ainda mais o espectáculo. Não sei se já foi a Portugal mas não o percam. É sofisticada e notável.

Para um resumé da carreira e discografia desta porto-riquenha com ascendência irlandesa e grega ver o site dela, aqui.