Jacques Chirac retira-se
Jacques Chirac confirmou numa mensagem televisiva que não procurá um terceiro mandato como presidente da França. Chirac retira-se com 74 anos tendo sido presidente desde 1995.
Na sua mensagem, Chirac apelou à França para defender os seus valores. "A França não é um país como os outros. Tem as suas particulares responsabilidades, o legado da sua história e os valores universais que ajudou a criar" disse.
Acho nobre e responsável a atitude do presidente francês, consistente valor do centro-direita europeu, que foi de forma diversa um figura central na política francesa nas últimas quatro décadas. Depois de De Gaulle talvez seja o político que de forma mais impressiva deu corpo a uma certa nobreza de fazer política, incorporando um estilo aristocrático, seco mas efectivo. E sobretudo francês.
É notável quando os políticos se retiram do palco do poder pelo seu próprio pé e fazem-no quando envelhecem. Abrindo caminho aos mais novos. A política internacional está demasiado repleta de gerôncios e cadáveres adiados que tudo fazem para se perpetuar a qualquer pretexto para não deixarmos de saudar esta lucidez republicana. Curiosamente é do lado da esquerda e das fileiras do socialismo que esse vento decrépito mais sopra contra as aspirações de liberdade e renovação dos seus povos. Robert Mugabe, Fidel Castro, são os rostos duma velha esquerda estúpida que se acha por direito quase divino agarrada ao poder que tomaram de assalto e que não largam. Rapaces, ladronecos, são a expressão da incompetência, do dislate, do espezinhamento da liberdade, em nome do socialismo. O deles e dos seus sequazes, não da maioria do povo que não se pode exprimir e rebelar. Quando uma nova onda de socialismo populista varre a América Latina é bom contrapor exemplos desta lucidez aos novos Perons.
A política - devemos lembrá-lo - é na tradição republicana um serviço à comunidade. O representante eleito não é dono do eleitorado mas seu mandatário, por algum tempo. Afinal a democracia - registou Karl Dahrendorf - é o [único] regime em que é possível remover os titulares do poder sem violência. Coincidindo com o julgamento sazonal dos eleitores. Esse é o seu trunfo inimitável e superior.