Cenas de Vida 4- Divagações urbanas
Diariamente, percorro de Metro os onze escassos minutos que separam a minha casa do trabalho. Aproveito o percurso para ler os jornais ou alguma revista em atraso, já que o tempo não dá para grandes leituras. Desde que há jornais gratuitos, tenho notado que há cada vez mais gente a ler jornais no percurso da manhã, enquanto ao fim do dia são mais as pessoas a ler livros.
Hoje, Dia Mundial dos Direitos dos Consumidores, trazia um pequeno trabalho para rever, mas a “manchete” do jornal gratuito que o passageiro à minha frente estava a ler, levou-me para outros caminhos. Foi então que “assimilei” uma realidade que diariamente observo, mas sobre a qual ainda não reflectira. Enquanto os passageiros com mais de 35/40 anos vão a ler, ou a pensar em algum dos muitos problemas que devem ter na vida, os mais jovens dedicam-se a outras actividades. Ou balançam-se ao som da música que sai dos iPod , directamente para os seus ouvidos, ou a manipular furiosamente as teclas dos telemóveis, enviando SMS ou fazendo jogos.
Há , indubitavelmente, um corte radical de hábitos entre duas gerações. Enquanto os mais velhos exercitam os neurónios, os mais jovens exercitam os dedos. Não sei que conclusões tirar desta constatação, mas a “manchete” do jornal não augura nada de bom... “Jovens orientam o consumo dos adultos”. E em sub-título: “ atraídos pelas novidades, dão pouca importância à durabilidade dos produtos”. À memória veio-me o livro de Gilles Lipovetsky “ O império do efémero”. Irá o nihilismo triunfar?