sábado, 31 de março de 2007

Imagem da capa do Livro Marketing Inovador

Livro Marketing Inovador

Foi lançado na pretérita quinta-feira, dia 29 de Março, em Lisboa, no Palácio Belmonte.

www.palaciobelmonte.com

Num cenário inebriantemente bonito, com uma vista impressionanente sobre o rio Tejo, o Castelo de São Jorge, a Sé, o bairro da Graça...

E uma afluência de amigos, colegas e alunos que excedeu as melhores expectativas. 220 pessoas, que transbordavam da Sala Nobre do Palácio para as salas anexas, pelas escadaria abaixo...

A fila de automóveis que procuravam atingir o Palácio, cerca das 19h30, foi tal que chegava às imediações da Sé Catedral de Lisboa, numa parada de várias centenas de metros.

Como diria o Professor Carlos Zorrinho, um dos apresentadores da obra, "nunca tinha visto tantas pessoas no lançamento de um livro".

Tendo a recepção aos visitantes começado pelas 18h30, os autores resistiram com imensão paixão e estiveram até cerca das 22h a dar autógrafos!

Brevemente publicaremos fotografias (www.marketinginovador.com)

Entrementes o livro está em comercialização nas principais livrarias do país: Fnac, Bertrand, Bulhosa, Notícias, Almedina e universitárias.

Também pode ser adquirido via internet para os sites das livrarias supracitadas ou para o site da Universidade Católica Editora, directamente ou via o site do Marketing Inovador (http://www.marketinginovador.com/index.php?option=com_content&task=view&id=2&Itemid=16).

A todos os que nos ajudaram, os nossos agradecimentos!

Paulo Gonçalves Marcos

sexta-feira, 30 de março de 2007

O artigo de Fidel Castro

Ouvi hoje alguns comentários irónicos acerca do artigo que Fidel Castro escreveu ontem no Gramma, criticando as opções de Bush sobre a produção de combustíveis alternativos a partir de alimentos como o milho, o trigo ou a soja. Aos sagazes críticos de Fidel terá escapado alguma sensibilidade e perspicácia ambiental, mas não só...
Em primeiro lugar porque realmente não é recomendável que, num planeta onde a fome abunda, se recorra a produtos alimentares para produzir combustível, até porque há outras possibilidades técnicas mais evoluídas e menos dispendiosas para o fazer.
Em segundo lugar, porque o exemplo da revolução energética protagonizada pelo Brasil, através da produção de etanol (a partir da cana de açúcar) tem uma face oculta que deve ser lembrada. Na verdade, o “milagre” da revolução energética brasileira está a fazer-se à custa de trabalhadores vindos do Nordeste ( paupérrimo, mas com praias deslumbrantes que atraem hordas de turistas portugueses) que migram para o Sul em busca do “El Dorado”, mas são obrigados a trabalhar em condições de quase escravatura. Vivem em condições degradantes, trabalham 12 horas por dia a troco de 150 euros mensais e não têm quaisquer direitos.
Quem enriquece com o negócio do etanol são os intermediários da mão de obra, uma espécie de “roceiros” do século XXI que não hesitam em recorrer aos “capangas” para pôr na ordem alguém que ouse pôr em causa as condições de trabalho.
A imprensa latino-americana fala com frequência da situação dos “explorados do etanol”, a população está cada vez mais sensibilizada para esta questão, mas os europeus e os norte-americanos, instalados na sua sociedade da opulência e do desperdício, olham extasiados para esta revolução energética brasileira, criada durante a ditadura militar, como um sucesso estrondoso, sem cuidar das condições de vida das populações locais. Depois, admiram-se que apareçam uns “agitadores” como Hugo Chavez e Evo Morales, “desfasados do tempo e da História”. Mas qual tempo e qual História? Da civilização europeia ou da latino-americana?
A globalização não se fez apenas para construir a sociedade da hiper-escolha, fez-se também para melhorar as condições de vida dos países mais pobres, para diminuir o fosso existente entre os países desenvolvidos e em ( tentativa de) desenvolvimento.
Só quem não entende isso, ou não é sensível ao facto de as políticas ambientais deverem ser conduzidas para o benefício do mundo e não apenas de uma parte, pode sorrir com ironia ao ler o artigo de Fidel Castro. A União Europeia, felizmente, parece já ter percebido!

De excelente a péssimo em 0,1 segundos

Ontem à noite, Judite de Sousa perguntava a António Barreto, por que razão os portugueses passam da euforia à depressão num ápice. No escasso tempo de que dispunha , António Barreto respondeu com a falta de estímulo que lhes é dado.
Entretive-me a repensar a questão e a tentar encontrar uma resposta. Obviamente que não o consegui, mas a reflexão que fiz talvez ajude os meus companheiros deste blog a debruçarem-se sobre o assunto e depositar aqui, como eu o vou fazer, as suas reflexões. Talvez, em conjunto, cheguemos a uma conclusão...
Claro que a resposta de António Barreto a Judite de Sousa me parece inatacável, mas creio que há outras razões que justificam este nosso comportamento ciclotímico.
Olhemos para o comportamento da comunicação social, sempre que alguém obtém um pequeno êxito além fronteiras. Pedro Lamy, ou Tiago Monteiro, foram apresentados, após a sua entrada para a Fórmula 1, como as grandes esperanças de Portugal no automobilismo. Um e outro fizeram apenas duas épocas arrastando-se pelos últimos lugares e abandonaram o “Circo” para se dedicarem a corridas menos exigentes. De grandes esperanças, passaram num ápice a consagradas desilusões. A maioria dos portugueses já não sabe sequer por anda Lamy ( apesar de obter alguns sucessos, apenas a imprensa desportiva lhe vai fazendo alusões de rodapé). Os exemplos no desporto poderiam multiplicar-se e o mais recente é o de uma jovem tenista de 14 anos que, por ter derrotado uma adversária cotada no 50º lugar do “ranking”, na primeira eliminatória do Torneio de Miami é hoje apresentada na imprensa como a Sharapova portuguesa. Veremos o que se dirá dela daqui a um ano... Quantos jogadores não foram já considerados futuros Eusébios, só porque numa noite de inspiração fizeram um grande jogo e marcaram um golo a um “grande”? É claro que temos o Figo e agora o Cristiano Ronaldo, mas os seus êxitos, ( principalmente o de Ronaldo) deve-se em grande parte ao facto de ter ido, ainda muito jovem, jogar para Inglaterra. E aqui é que bate o ponto. Os portugueses deslumbram-se quando vêem os seus nomes projectados em primeiras páginas , ou a abrir telejornais e julgam já ter alcançado o céu. Só que o céu português é muito pequenino e, por isso, os que realmente singram, são os que partem para uma aventura além fronteiras. Alguém falaria, por exemplo, de Damâsio, se vivesse ainda em Portugal? E Saramago teria recebido o Nobel se não rumasse a Espanha? Os exemplos poderiam multiplicar-se em várias áreas de actividade, como aliás é visível através da leitura de múltiplos artigos que têm ultimamente sido publicados na imprensa, relatando sucessos profissionais de portugueses em vários pontos do mundo.
Aqui chegado, entronco na resposta de António Barreto a Judite de Sousa. É tudo uma questão de estímulo. Os portugueses constroem facilmente castelos no ar, empolgam-se, mas rapidamente descem à terra quando percebem que vivem num país onde as suas capacidades não podem ser desenvolvidas porque carecem de apoio (estímulo) . A verdade é que em Portugal a realidade é a que a comunicação social ( nomeadamente a televisão) reproduz. E uma comunicação social cinzenta como a que hoje temos, que faz primeiras páginas denunciando um escândalo ou um relatório internacional que põem em causa algumas opções do Governo ( seja ele qual for), mas remete para notas de rodapé casos de sucesso, não contribui em nada para elevar os nossos índices de optimismo.
Claro que me podem dizer que a comunicação social reflecte o país. Isso também é verdade..e como o maior inimigo do português é, normalmente, outro português, a comunicação social faz o seu papel denegrindo, pois quando aprova alguma acção do Governo é logo acusada de estar conluiada com o Poder.
Não há volta a dar-lhe. Somos invejosos do sucesso alheio e quando vemos alguém destacar-se, logo tratamos de urdir uma teia de boatos e insinuações pérfidas à sua volta. Num país assim, é difícil manter o optimismo colectivo durante muito tempo.

Esquerda e Direita outra vez

Nick Cohen, David Clark, Jim Holl, John Kay e Ronald Dworkin emprestam olhares inteligentes a um debate epistemológico que creio [ainda] fundamental: há esquerda e direita? onde passam as fronteiras, hoje? O espaço de debate é o número de Março da revista Prospect, talvez a mais inteligente, sofisticada e exigente revista de análise e reflexão política no mercado*. Creio que não tem distribuição em Portugal mas a assinatura para a Europa não é nada de extraordinário, 65 libras, um pouco mais para o resto do mundo [70]. Contactar subs@prospect-magazine.co.uk.


*Os adjectivos são meus porque não precisa de ser óbvia e evangelizante como as prezadas National Interest ou Public Affairs

quinta-feira, 29 de março de 2007

"Allez, Ségolène, allez!"

Gostei bastante de ler o post do Arnaldo Gonçalves sobre a Ségolène Royal. Com a aproximação das eleições, os técnicos de marketing dos candidatos vão jogando os últimos trunfos, que permitam ao “seu” candidato atrair votos dos indecisos. Mas a última carta jogada pelos “marketeers” de Ségolène cheira-me a “futebolês made in Portugal”. Lembram-se do apelo de Luís Filipe Scolari durante o Euro 2004, pedindo aos portugueses que colocassem nas janelas a bandeira portuguesa? Se o resultado for idêntico ao conseguido em Portugal, Ségolène Royal será provavelmente a próxima Presidente da República dos gauleses, desde que os seus “treinadores” não cometam o mesmo erro de Scolari na final contra a Grécia...
Quanto à candidata do PS francês, que com sagacidade e coragem impôs a sua candidatura contra a vontade do aparelho do partido, devo dizer que já nutri por ela maior simpatia. Inicialmente, pensei que seria uma lufada de “ar fresco” que teria repercussões muito positivas na forma de fazer política em toda a Europa. Ultimamente, porém, vejo-a como mais uma candidata da “terceira via” iniciada com Blair e seguida por Sócrates. E devo confessar que não gosto nada do modelo. Porquê? Porque a “terceira via” é inconsistente, atávica e apática, parece navegar ao sabor das circunstâncias, sem rumo definido, sem projecto e demasiado dependente da Economia, que segue como uma Bíblia. E eu, caros amigos, continuo a preferir a Polis como o centro nevrálgico das decisões. A evolução das sociedades faz-se com as pessoas e para o seu bem -estar e não com os números e com o mercado. Dar o primado à Economia permitiu desenvolver as sociedades modernas, mas tirou-lhes humanismo e cavou um fosso de desigualdade entre ricos e pobres, só comparável aos tempos da Revolução Industrial.
Nisso dou razão a Guterres, apesar dos desastrosos resultados para o país. Só que a culpa do falhanço não foi do modelo, mas sim da incapacidade dos seus servidores em o aplicar. É que , como refere o Arnaldo Gonçalves em relação ao PS francês, também o PS português está cheio de marretas.
De qualquer modo ainda dou o benefício da dúvida. “Allez, Ségolène, allez!”

Este homem estará bem?

O conjunto de videos confrangedores que tenho visto deste homem quer no David Letterman show quer pelo Youtube [espalhados como um vórtice por e-mail] alicerçam uma dúvida incontornável: há na indisfarçável descoordenação da fala e do discurso um sintoma de algo grave. É triste, mas sobretudo é preocupante. Porque afinal é o lider da nação mais livre e democrática do mundo. E se algures no futuro [que rezo para que não se verifique] os mostros do Irão ou da Coreia do Norte nos obrigarem a uma prova de força [eu] sei de que lado estarei. Espero para ver os outros.

quarta-feira, 28 de março de 2007

Golfo de Oman


Só para ficarmos com uma ideia o que significa a realização de manobras militares junto ao Golfo de Oman. Por onde passam os barcos petroleiros?

O aprisionamento da tripulação do HMS Cornwall

O Irão aprisionou a tripulação da corveta inglesa HMS Cornwall porque segundo reclama estaria nas águas territoriais iranianas em missão de intercepção a barcos da sua marinha mercante. Como se sabe as Nações Unidas [Conselho de Segurança] decretaram, este mês, sanções económicas e financeiras contra o Irão e o policiamento das águas internacionais sobre navios que possam servir de transporte de materiais nucleares com destino às centrais nucleares do Irão. A Grã-Bretanha reclama que a corveta estava a 1,7 milhas náuticas dentro das águas territoriais do Iraque e não dentro das águas territoriais do Irão. Grã-Bretanha, vários países ocidentais e árabes pediram já a libertação do 15 marinheiros britânicos. O Irão ainda não respondeu.
A situação torna-se explosiva.
Os Estados Unidos começaram, entretanto, manobras militares com a Coreia do Sul ao largo da costa árabe. Um dos mais importantes porta-aviões da flotilha do Pacífico toma posições. As bolsas internacionais deram ontem um pico que marcou o preço recorde do barril de petróleo nos últimos seis meses. Toda a gente sabe o que isso significa....

Helas Royal!

Lido no Le Figaro
[...] POUR CEUX qui auraient un trou de mémoire, Désirs d'avenir, le site Internet de Ségolène Royal, a tout prévu. Depuis hier, d'un simple clic sur le visage de Jessye Norman drapée dans un drapeau français (une photo qui date de 1989 et du grand défilé du bicentenaire de la Révolution française), on peut y réviser le texte de La Marseillaise, lire le début de la partition originale et l'entendre interprétée par un ténor. La candidate PS a surpris les socialistes en invitant toutes les familles françaises à avoir un drapeau tricolore chez elles et à pavoiser le 14 Juillet, après avoir encouragé les militants à chanter l'hymne national, lors de son meeting à Marseille jeudi. « Ce week-end, sur les marchés, on ne m'a rien dit sur La Marseillaise, mais les drapeaux, j'en ai beaucoup entendu parler ! », raconte un élu socialiste parisien. [...]

Ségolène Royal joga o lance mais inteligente até aqui da sua campanha. Tendo-se perdido até aqui em remoques ao adversário e em responder aos marretas do seu partido, Royal dá um passo em frente e desfralda a bandeira multicolor da França, reganhando o sentido identitário da Marsalheza. O que distingue os países relevantes no mundo conturbado e achatado em que vivemos é a sua alma, a sua identidade. É isso que os permite vir à tona do grande movimento padronizador da globalização. É isso que os faz diferentes, singulares, próprios. Os países fazem-se de história, de valores nacionais, de orgulho. Não se tratam de valores de direita e de esquerda. É algo que está para além disso mergulhando nos tempos e na vivências dos antepassados. Ainda agora terminando uma biografia espectacular sobre Cícero [Imperium de Robert Harris - a não perder!] notei quando a certa parte uma das personagens César se queixava da capacidade de resistência dos "francos" para o propósito da criação de um grande império romano.
Gostei de a ver alavancar esses valores. São um trunfo precioso agora que se aproxima de Nicolas Sarkozy nas sondagens. Quanto aos saudosistas do anticlericalismo e do gauchisme espaventoso que se danem. É uma velha França dêmodé, trauliteira, cretina, contra tudo e contra todos que passa à história.

Boas e más notícias

O défice em 2006 desceu para 3,9%, muito abaixo dos 4,6% que o Governo tinha anunciado como meta. Trata-se, sem dúvida, de uma notícia muito positiva que animou os portugueses. Mas é bom não esquecer que esta redução foi conseguida à custa dos cortes nas regalias sociais e na saúde, e do congelamento de salários, ou seja, à custa dos trabalhadores, principalmente os da Função Pública que se tornaram nos verdadeiros “bombos da festa”. Entretanto, enquanto as pequenas e médias empresas definham ou se mantêm a custo em equilíbrio precário, as grandes aumentam os seus lucros de forma exponencial.
Mas por trás da boa notícia da redução do défice, esconde-se outra bastante má: o investimento não só não aumenta, como registou mesmo o maior recuo em todo o espaço europeu.
A economia portuguesa continua muito dependente dos investimentos do Estado, para quem muitos empresários continuam a olhar como o salvador, o encosto, o cliente de que necessitam para viver, mas acusam de ser demasiado interventivo.
É o que dá ter um tecido empresarial em que 90% dos proprietários de PME têm apenas a quarta classe. A (re)qualificação dos portugueses também passa pela (re)qualificação dos empresários. Sócrates sabe-o bem e por isso o Governo criou um projecto de formação profissional nesse sentido. Aplausos , enfim!
Aguardo porém, com algum cepticismo, a receptividade dos pequenos empresários a esta iniciativa. Oxalá me engane!

Postais de Buenos Aires 3- “Me mata!”

Calcorreio os vários quilómetros que separam a Av de Mayo de Palermo, sentindo em cada passo o vibrar de emoções que me invadiram da primeira vez que fiz o percurso. Ao fim de tantos anos, continuo deleitado pela (re)descoberta constante dos espaços que se me oferecem no caminho. Chego a Palermo ao fim da tarde e começo a esquadrinhar, uma vez mais, os recantos que Borges escolheu como cenário privilegiado de muitas das suas histórias.
É fácil a simbiose entre o turista e a cidade. O difícil é não sucumbir aos seus cantos de sereia, resistir a contornar uma esquina, a esventrar uma viela esconsa, a descobrir o que se esconde para além de uma vereda. Aqui é difícil não recuar no tempo, não tentar descobrir em cada pedra um pedaço da história de uma época, escutar através das típicas ventanas o eco dos acordes de um tango de Gardel ou imaginar Borges a verter para o papel, como epopeia, uma cena de facadas ao som de uma milonga.
A propósito...lembro-me que a primeira vez que estive em Buenos Aires estava em cena uma peça intitulada “ Buenos Aires Me Mata”. É isso mesmo que sinto cada vez que venho à Argentina. Seja em Buenos Aires ou Bariloche, Ushuaia ou Salta, Península Valdez ou Jujuy , a sensação é sempre a mesma. Envolvido pelas lendas trazidas pelo vento que sopra da Patagónia , sinto que a Argentina “Me mata!”

Postais de Buenos Aires 4- Encontro com Lobo Antunes

Regresso ao hotel para tomar um duche, depois de um dia de trabalho. Paro num quiosque da Calle Florida. A empregada não é só lindíssima... é também de uma simpatia inexcedível! Ajuda-me a encontrar o tipo de filme que procuro para a minha máquina fotográfica, tarefa nem sempre fácil num país sul americano. Espanta-se quando lhe digo que não sou espanhol, mas sim português, e parece quase ofendida quando lhe atiro um malicioso “ para vocês é tudo a mesma coisa, não é?”.
Rapidamente percebo que ela sabe bastante sobre Portugal. Ao fim de uns minutos de conversa pergunta: Sabe o que ando a ler? E sem esperar pela minha resposta estende-me um livro de Lobo Antunes, “ O auto dos danados”. Esbugalho os olhos de espanto. Sei perfeitamente que Lobo Antunes é muito apreciado na Argentina, ( já li várias entrevistas dele em jornais locais e tenho encontrado muitos argentinos que se interessam por vários autores portugueses) mas confesso que esperava mais que a jovem lesse qualquer coisa ao estilo de Margarida Rebelo Pinto! Sinto-me corar pelo preconceito, mas não esperava tamanha surpresa, e muito menos que me explicasse porque gosta mais de Lobo Antunes do que de Saramago. Concordo com ela quando me diz que Lobo Antunes já devia ter ganho o Nobel, e logo a seguir fala-me de Fernando Pessoa e ( imagine-se!) Florbela Espanca.
Já não me restam dúvidas que estou perante uma estudante de literaturas modernas, mas ela surpreende-me novamente ao dizer que ainda não acabou o liceu. O Corralito obrigou-a a suspender os estudos para ajudar a família e só no próximo ano vai regressar à escola. Touché!
Fico a saber que Stella é filha de pai italiano e mãe espanhola e, como muitos outros argentinos, olha para a Europa não como o El Dorado, mas como quem procura as sua raízes. Sejam elas italianas, espanholas, alemãs ou mesmo francesas. São cultos, cosmopolitas e comunicativos, mas não são provincianos, estes porteños...

Portugal, um retrato social

Estou aqui uma vez mais a parabenizar a RTP. Desta feita, para saudar a estreia de “ Portugal, um Retrato Social”, da autoria de António Barreto.
Ontem, foi exibido o primeiro de um conjunto de sete documentários e fiquei com “água na boca”. Com rigor, isenção e seriedade, António Barreto mostra ( lembra!...) aos portugueses como o País mudou em 30 anos. É bom fazer este exercício de memória, para que não nos estejamos sempre a lamentar sobre as condições em que vivemos. Estamos na cauda da Europa, é bem verdade, mas há 30 anos as condições de vida de uma grande percentagem dos portugueses eram substancialmente piores.
A quem não viu o documentário de ontem, aconselho vivamente que não perca os próximos. Digo-vos que se trata de um trabalho de EXCELENTE qualidade...
A RTP também merece um louvor por ter tido a coragem de estrear este programa em horário nobre, às 21 horas, logo a seguir ao Telejornal. Sem medo da concorrência das telenovelas dos canais privados, pois não são as audiências que devem nortear as escolhas da televisão de serviço público.

terça-feira, 27 de março de 2007

Uff... que alívio!

Hoje já estou mais descansado. Ao ler a manchete do “Público” tive a certeza que estou mesmo em Portugal. De acordo com aquele diário, há mais um excêntrico neste país. Não, não se trata de mais um vencedor do Euromilhões... é apenas mais um felizardo que depois de ser despedido com uma avultada indemnização de uma empresa pública ( a Galp) é recrutado um ano depois para outra empresa pública ( a REN).
O nome do felizardo é Cartaxo que, por mera coincidência, rima com Tacho.
Para meu cabal esclarecimento, o Ministério das Finanças diz que está tudo de acordo com a Lei. Uff...que alívio! Isto sim, é Portugal.

Postais de Buenos Aires 1-As avós da Plaza de Mayo

Pela primeira vez, em 12 anos, aterro em Ezeiza debaixo de chuva. Miudinha, mas incomodativa e descoroçoante , principalmente para quem deixou Lisboa com um tempo primaveril e esperava aterrar no verão argentino. A manhã ainda está a despontar e sigo de imediato para o hotel, como sempre localizado bem perto da Plaza de Mayo É ali que todas as quintas feiras se reúnem em vigília, frente à Casa Rosada ( sede do governo), as mães e avós de Mayo. São mulheres que envergam xailes e empunham cartazes reclamando a devolução dos cadáveres dos seus filhos e netos assassinados durante a sangrenta ditadura argentina.
Já lá vão quase três décadas que o ritual se repete semanalmente, mas aquelas mulheres recusam-se a esquecer os facínoras que delapidaram centenas de vidas, deixando os opositores ao regime morrer nos cárceres ou lançando-os de helicópteros, ainda vivos, nas águas do Atlântico. Muitos deles eram jovens que lutaram e morreram por uma causa.
Quando vejo aquelas mulheres na sua vigília semanal, lembro-me sempre das centenas de jovens portugueses que foram obrigados a morrer em África por uma causa que não era a deles. E lembro-me de muitas das suas mães e avós que, embora sofrendo com a sua morte, calaram eternamente a sua dor. Muitas delas irão votar em Salazar como “O maior português de sempre” Que Deus lhes perdoe!...

Postais de Buenos Aires 2- O longo abraço

A tarde estiou, mas sem o calor sufocante típico de Buenos Aires nesta época do ano. Decido ir até Palermo, um dos tradicionais “barrios” bonaerenses onde Jorge Luis Borges passou uma boa parte da sua infância , mas que só conheceu verdadeiramente quando para lá voltou em 1921, depois de regressar da Europa. Caminho a pé, descendo a Avenida de Mayo e metendo pela Corrientes.
Nesta espécie de Broadway sul americana, alguns teatros abrem as suas portas para as sessões da tarde e as livrarias fervilham de movimento. Multiplicam-se os cibercafés, jovens ( não muitos, porque é Verão...) reúnem-se em tertúlias e multiplicam-se os espaços oferecendo lições de tango. Depois do “Corralito”, em 2001, o tango voltou a ser a dança nacional argentina. De San Telmo a Puerto Madero, de Palermo a La Recoleta, não há restaurante, café ou boteco, que não anuncie noites tangueras onde o tango é cantado, dançado e sentido com a vibração de outros tempos. Os teatros também aderiram e são vários os que anunciam espectáculos evocativos da História do tango. Mas Buenos Aires é uma cidade de cultura que não se enquistou na sua dança nacional.
Os porteños são simpáticos e alegres e a cidade espraia-se, numa suave planura, como que oferecendo-se em dádiva ao caminhante que a pretende descobrir. Como escrevia Borges, “mais do que uma cidade Buenos Aires é um país e nela se deve encontrar a poesia, a música , a pintura, a religião, a metafísica, de acordo com a sua grandeza.” E tão fácil é entabular relações com os porteños, ou ceder à tentação de acariciar a cidade com a mesma ternura da descoberta de um corpo de mulher, que o difícil é mesmo não dar razão a Borges. Porque quem não conseguir descobrir essa multiplicidade de facetas que envolvem Buenos Aires num longo abraço, não conseguirá apreciar a cidade e dificilmente compreenderá a Argentina, como o país mais emblemático da América Latina.

Allgarve rima com alarve?

Abro os jornais portugueses e deparo com uma proposta de férias no ALLgarve. Não me digam que os espanhóis nos estão a roubar a marca, como já fizeram com o vinho do Porto... Não, não é disso que se trata. É bem pior e nem quero acreditar, quando percebo que é uma campanha do Ministério da Economia para promover o Algarve além fronteiras. Fico a saber que a reacção de todas as forças vivas algarvias a esta campanha foi de repúdio e que nem foram consultados sobre o assunto . No entanto, o Comissário político do Governo no Algarve ( o Presidente da Região de Turismo) apressou-se a esclarecer que a RTA tinha concordado com a ideia. A RTA não sabe para que servem as forças vivas locais, por isso não lhes deu cavaco sobre a proposta. Mas sabe que o seu papel é o de dizer Amen a tudo o que emana do Poder central. É para isso mesmo que servem os boys, sejam eles presidentes de uma Região de Turismo, ou simples directores de uma esconsa Direcção Geral. Mesmo que a ideia seja bacoca ou demonstre parolice e provincianismo, há que aceitá-la Qual o espanto? No tempo do Estado Novo já era assim, e até havia Portarias a definir o protocolo da submissão ao líder. Rezava mais ou menos assim: um subordinado deverá acatar e cumprir a ordem do seu superior hierárquico, mesmo que não concorde com ela, sem nunca manifestar ou sequer dar a entender que dela discorda. Pois, já no tempo do Estado Novo havia destes al(G)arves!
Fico agora à espera da campanha de promoção turística de Portugal . Que tal um slogan ao estilo “Come to B(u)y you Gal”?

segunda-feira, 26 de março de 2007

Ainda os "Grandes Portugueses"

Parabéns ao Carlos Oliveira pelo fôlego que traz ao Além do Bojador. Fizemos muitas viagens juntos e embalámos alguns sonhos em conjunto [também]. Vejo-me mais à direita hoje aos 53 que ele, depois de ter calcorreado todas as utopias que era costumeiro fazer-se na nossa geração. Daí que até por deformação profissional me preocupe em [tentar] perceber as reacções impulsivas dos eleitores quando são colocados perante uma escolha.
1. A primeira leitura do resultado do recente concurso da RTP parece indicar que os portugueses [creio insignificante no cômputo geral o facto de ter havido pessoas que votaram mais do que uma vez] se reveram em personalidades que marcaram os últimos 70 anos do século XX português. Creio que na direita e na esquerda Salazar e Cunhal fizeram-no independentemente da qualificação que se faça de cada um deles.
2. A segunda leitura é que terão votado maioritariamente eleitores [e espectadores] acima dos 50 anos, o público tradicional da RTP, e que terão sido sensíveis aos traços mais visíveis do século que acabou [e que vivenciaram] mais que ao flash-back de uma memória histórica que se perdeu, há muito.
3. Porquê votar em duas personalidades marcadas por um perfil autoritário, tacanho, provinciano e de certa maneira miserabilista? Creio que se pode interpretar o sentido do voto como um apelo silencioso ao primado da segurança, da confiança, das ideias consistentes e seguras que fazem parte dos dogmas. De certa maneira, o nacionalismo clerical de Salazar e o marxismo estalinista de Cunhal têm esses pontos, em comum. A confiança [cega] numa verdade soprada [ou imposta] inabalável, que se impõe como uma revelação divina ou a afirmação da lógica inexorável do devir histórico. Sem discussão porque a fé não se discute.
4. Sem equívocos, Salazar e Cunhal são o cais de partida dessa confiança tranquila no ombro patriarcal de que os portugueses andam, há algum tempo, dolorosamente, carentes. Porque os pais ainda que autoritários e punidores dão ao cidadão infantilizado a tranquilidade e o conforto que não lhe exigir pensar, tomar decisões, fazer escolhas. Os portugueses estão fartos de ser chamados a fazer escolhas, a fazer o trabalho que importa aos políticos fazer...
5. Uma outra leitura incontornável é a censura à classe política em democracia e aos pais do Portugal Democrático. Entranha-se à muito na sociedade portuguesa a ideia que os políticos são uns palhaços, uns aldrabões, uns vigaristas. Dizem uma coisa, hoje e fazem outra, amanhã. Alguns são-no e a grande nebulosa de impunidade que tem prevalecido na justiça [e no sistema político] desde o 25 de Abril leva os portugueses a tomar esta conclusão, como verdade a priori.
6. Entre os pais da revolução portuguesa o resultado deste concurso deve ser visto em meu entender pelo que ele simboliza, como uma derrota pessoal de Mário Soares. Talvez mais ele que todos os outros corporize essa ideia do troca-tintas, do político que não olha a discursos, nem a tácticas para chegar a um fim premeditado normalmente motivado por despeitos pessoais. Talvez ele, mais que os outros, porque teve o país aos seus pés por duas vezes [como Presidente da República] tenha desperdiçado, de uma forma miserável, as oportunidades que o destino lhe pôs nas mãos, abrindo caminho para o malbaratamento guterrista de que hoje ainda pagamos a factura pesada. A decepção com a democracia tem em grande parte explicação nesse fartanço com Mário Soares que o resultado das últimas eleições presidenciais é exemplificativo.
7. Que fazer com este resultado? O primeiro erro que devemos evitar é desprezá-lo ou sobrevalorizá-lo. Qualquer dos dois é péssimo, o primeiro porque nos leva a enganar-nos a nós próprios com o que ele significa; o segundo porque nos leva, seguramente, ao desnorte e ao pessimismo crónico. Não há nada a fazer o povo é estúpido é o que se ouve já, sibilinamente, pelo lado da esquerda instruída. Não deveremos fazer esse erro de análise, porque afinal esse povo estúpido é o que elegeu Soares por duas vezes e pôs lá Sócrates. Mas o resultado mais que dezenas de sondagens de opinião de reduzido rigor e alcance revela que o país está a perder a paciência e algures, no futuro, pode virar a direcção.
8. Se percebo o sentido de voto o ambiente está maduro para o surgimento de soluções políticas milagreiras e populistas. Ao nível da irracionalidade em que vai o pendor do eleitorado o primeiro demagogo consistente que aparecer no firmamento lusitano irá ganhar a adesão maciça dos portugueses. Quando falo em portugueses [em termos de média prevalecente na amostra] refiro-me ao português urbano, pouco instruído, pequeno-burguês, reformado ou a caminho disso, conservador nos gostos e extremamente critico quanto à gestão do Estado e à classe política. Há paralelos na história mas sem querer levar o raciocínio longe de mais deveríamos [os mais atentos ou estudiosos] olhar para a história da Alemanha no fim da república de Weimar para perceber algumas das linhas condutoras do que se passa. A falta de paciência dos eleitores, o seu catastrofismo, as suas altissimas e desmesuradas expectativas.
9. Espero nos próximos dias algumas análises interessantes sobre este novo "caso à portuguesa". Que se cuidem os políticos.

Bater na mulher é o que está a dar. Aproveitem, machos latinos!

Aproveito as primeiras horas, após o meu regresso a Lisboa, para ler alguma imprensa requentada. A experiência é traumática e ponho em dúvida se Lisboa não será agora capital de um outro qualquer país, que não Portugal. Leio com um sorriso as notícias sobre os confrontos verbais no seio do PP e a hipotética agressão de um deputado a Maria José Nogueira Pinto. Mas a boca abre-se-me de espanto, ao ler uma pequena notícia. Diz o “Expresso” que um juiz absolveu um homem que era acusado de sovar a mulher, por considerar que sovar a mulher duas vezes não é crime... trata-se de bater na medida certa! O Governo gasta dinheiro em campanhas contra a violência doméstica, incita as mulheres a denunciarem os maridos agressores e depois há uma que se atreve e o juiz profere esta douta sentença? Não, isto não pode ser Portugal... Estarei eu no Botswana?
Uma notícia do “El País” avoluma a minha desconfiança. Mais uma vez, uma notícia sobre a Justiça, mas desta feita com origem na Alemanha. A acusadora era também uma mulher que se queixava de maus tratos por parte do marido. A juíza absolveu o homem, com um fundamento irrepreensível: “à luz do Corão ( o marido é muçulmano...) o homem não pode ser condenado por tratar a mulher de forma violenta”... Estou esclarecido! A Justiça alemã julga um caso de violência doméstica, ocorrido no seu território, à luz da doutrina do Corão. Provavelmente é a isto que se chama integração o que, levado a extremos pode conduzir a que um destes dias, um juiz de um qualquer país europeu, invoque o Código de Hamurabbi para proferir uma sentença.
Quem me desmaterializa?

Os Grandes Portugueses

Regresso a Lisboa no dia da final do Concurso “Os Grandes Portugueses”. Confirmou-se a vitória do velho de Santa Comba, com 41% dos votos o que, como anteriormente escrevi, não traz mal nenhum ao mundo. O mesmo se diga em relação ao segundo classificado, Álvaro Cunhal. Tratou-se de um concurso, os portugueses que quiseram votar ( pouco mais de 200 mil votos, ao que julgo saber) fizeram-no em plena liberdade, embora conheça casos de pessoas que votaram no mesmo candidato quatro ou cinco vezes, usando o telefone fixo, o seu telemóvel e o de familiares que não se quiseram dar ao trabalho de fazer a sua escolha. A única coisa que me parece preocupante, é que nos dois primeiros lugares tenham ficado candidatos cuja vocação democrática deixa muito a desejar, o que reflecte de algum modo o perfil de uma boa fatia dos portugueses: enjeitam os seus heróis e idolatram os ditadores. Percebe-se que Sócrates esteja tão bem colocado nas sondagens de opinião!
Menos compreensível é o facto de a maioria dos portugueses odiar Fidel Castro, Hugo Chavez, ou Saddam ( por serem ditadores), não se coibir de proferir sentenças lacustres contra os regimes comunistas dos países do Leste europeu, vociferar contra a invasão de produtos chineses, cuja produção é envolta em histórias ignominiosas de crianças a trabalhar ao ritmo da chibata e presos sujeitos a trabalhos forçados e depois, quando a oportunidade surge, correrem para o telefone a votar num ditador abjecto para Maior Português de todos os tempos!
Não se aponte ( como o fizeram alguns dos defensores das várias personalidades) apenas o descoroçoante sistema educativo como culpado do triste resultado final. A culpa é também de um sistema político, social e cultural, que não valoriza os valores da liberdade, da cultura e da cidadania, como essenciais à construção de uma sociedade democrática.
A verdade é que vivemos num país inculto, medievo e castrado, incapaz de aproveitar os milhões que diariamente entram nos seus cofres para se desenvolver, porque a cultura é considerada supérflua , a liberdade é preterida pelos cifrões e a cidadania pela insensibilidade social. Neste país de carpideiras e beatas onde em dias de eleições os padres avocam o direito de recomendar o voto, onde o cartão partidário é mais importante do que o mérito profissional, onde qualquer escumalha se torna figura de “jet set” por participar em concursos da TVI, não se podia esperar outra coisa. Os portugueses gostam de ser comandados, de se acolherem à sombra do Estado para depois dizerem mal dele, gostam de ditadores que imponham as regras aos outros( nem que seja à custa da chibata) desde que não belisquem os seus interesses pessoais. Foi isso que Sócrates percebeu bem ainda antes de chegar ao Poder. Pôr os portugueses uns contra os outros, invocando o combate aos privilégios, é a receita ideal para ser aclamado num país de invejosos. E, como diz a publicidade..."Dura...dura... dura" ( pelo menos até 2013, digo eu!)

Barroso não estará a pedir de mais?


«Espero que isso venha a acontecer, ou seja, que haja progressos reais durante esta presidência alemã e que presidência portuguesa tenha um papel bastante importante na procura de um solução para a crise institucional», disse Barroso segundo a imprensa de hoje.
Durão Barroso disse ainda esperar que, se a renegociação do Tratado Constitucional cair em cheio na presidência portuguesa, «chegue com um máximo de elementos definidos, porque é uma questão extremamente complexa e não seria útil reabrir a negociação em todos os sentidos».
O sucesso das negociações no próximo semestre depende, assim, da existência de um quadro de referência tão preciso quanto possível, no que toca aos capítulos do tratado a reabrir ou a manter.

O presidente da Comissão Europeia exagera manifestamente. O país não tem o fôlego, nem a auto-confiança para se meter numa empreitada destas. Se os alemães não correm os riscos porque haviamos de o fazer? Depois este faz com que não faz...Primeiro está morto; agora ressuscita aos bochechos. Parece que o presidente da Comissão pôs o tratado a lance. Aos bocados a ver se holandeses e franceses o engolem.

domingo, 25 de março de 2007

O primeiro-ministro e a Independente

O romance caricato que vai com a formação universitária obtida pelo primeiro-ministro na Universidade Independente é bem o retrato caricato do país, da sua elite politica, e do estado a que chegou a universidade.
Espero, sinceramente, que a investigação que está a ser realizada tire a verdade a limpo e clarifique o comportamento moral do primeiro-ministro. Não adianto conclusões, deixo-as para quando tudo estiver esclarecido. Delas importará retirar consequências morais e porventura políticas.

Estranho de qualquer forma a falta de acção das autoridades que tutelam o sistema universitário quanto ao regabofe que vai na direcção da Universidade Independente. Trata-se de um problema de credibilidade da academia, mas também de fazer prevalecer o estado de direito e a decência. O que está à espera o ministério da educação para actuar?

Os 50 anos da União

[...] O Tratado de Roma personifica o começo de uma jornada que levou a Europa de um conjunto de países com identidade, cultura, língua e costumes diversos, marcados por uma vivência traumática de duas guerras mundiais, para um espaço económico e político integrado, dotado de instituições comuns, de uma moeda única, de políticas comercial e monetária unificadas, e de uma voz tendencialmente convergente na cena internacional.
Tem sido uma jornada difícil, marcada por escolhos e dificuldades, pontuada por líderes com visão e outros com falta dela, que têm procurado alicerçar essa ideia mais geográfica do que política, mais cultural do que geopolítica, de um espaço político integrado, a de uma federação de povos amantes da liberdade, da democracia e da paz. [...]

Por uma conjugação inesperada das agendas políticas nacionais vimos assistindo à saída de cena de uma geração de políticos que levou a União ao ponto em que se encontra. Primeiro Schroeder, depois Berlusconi, agora Jacques Chirac, amanhã Tony Blair deixa[ram][rão] de exercer funções de liderança nos respectivos países e tomarão uma posição lateral à gestão do projecto europeu. Uma nova geração que não tem memória da Segunda Guerra Mundial e só conhece a Europa tal como ela é depois de Novembro de 1989, ocupará os seus lugares. Será, para já, arriscado tentar percepcionar o que pensa e para onde intenta levar a Europa mas os desafios que tem pela frente são imensos.[...]

Por isso o desiderato de uma Europa grande e forte é ingente, inadiável e necessário. Como [o] outro prato da balança das ambições desproporcionadas da superpotência, como contraponto aos poderes político-militares emergentes designadamente na Ásia. Uma Europa integrada económica e políticamente sim, mas com uma política externa comum autêntica, uma visão comum para a defesa que olhe além da Aliança Atlântica e da NATO. Uma Europa com líderes novos, determinados e cônscios da necessidade de avançar para o futuro. [...]

Merkel representa melhor que ninguém a face nova da Europa e as expectativas da sua evolução. Primeira mulher a tornar-se chanceler na história da Alemanha, primeira cidadã da ex-República Democrática da Alemanha a liderar uma Alemanha reunificada. Esse facto indica que o impulso para o reavivar do sonho europeu virá de Leste, dos países que se libertaram das grilhetas do socialismo e da ditadura e abraçaram a democracia e a economia de mercado há dezoito anos. Mas a Europa precisa de uma liderança esclarecida, visionária e consistente que navegue entre os escolhos. Creio que só a Alemanha está em condições de o ser.


Escrevi na coluna quinzenal do diário Tribuna de Macau