Postais de Buenos Aires 3- “Me mata!”
Calcorreio os vários quilómetros que separam a Av de Mayo de Palermo, sentindo em cada passo o vibrar de emoções que me invadiram da primeira vez que fiz o percurso. Ao fim de tantos anos, continuo deleitado pela (re)descoberta constante dos espaços que se me oferecem no caminho. Chego a Palermo ao fim da tarde e começo a esquadrinhar, uma vez mais, os recantos que Borges escolheu como cenário privilegiado de muitas das suas histórias.
É fácil a simbiose entre o turista e a cidade. O difícil é não sucumbir aos seus cantos de sereia, resistir a contornar uma esquina, a esventrar uma viela esconsa, a descobrir o que se esconde para além de uma vereda. Aqui é difícil não recuar no tempo, não tentar descobrir em cada pedra um pedaço da história de uma época, escutar através das típicas ventanas o eco dos acordes de um tango de Gardel ou imaginar Borges a verter para o papel, como epopeia, uma cena de facadas ao som de uma milonga.
A propósito...lembro-me que a primeira vez que estive em Buenos Aires estava em cena uma peça intitulada “ Buenos Aires Me Mata”. É isso mesmo que sinto cada vez que venho à Argentina. Seja em Buenos Aires ou Bariloche, Ushuaia ou Salta, Península Valdez ou Jujuy , a sensação é sempre a mesma. Envolvido pelas lendas trazidas pelo vento que sopra da Patagónia , sinto que a Argentina “Me mata!”