segunda-feira, 26 de março de 2007

Os Grandes Portugueses

Regresso a Lisboa no dia da final do Concurso “Os Grandes Portugueses”. Confirmou-se a vitória do velho de Santa Comba, com 41% dos votos o que, como anteriormente escrevi, não traz mal nenhum ao mundo. O mesmo se diga em relação ao segundo classificado, Álvaro Cunhal. Tratou-se de um concurso, os portugueses que quiseram votar ( pouco mais de 200 mil votos, ao que julgo saber) fizeram-no em plena liberdade, embora conheça casos de pessoas que votaram no mesmo candidato quatro ou cinco vezes, usando o telefone fixo, o seu telemóvel e o de familiares que não se quiseram dar ao trabalho de fazer a sua escolha. A única coisa que me parece preocupante, é que nos dois primeiros lugares tenham ficado candidatos cuja vocação democrática deixa muito a desejar, o que reflecte de algum modo o perfil de uma boa fatia dos portugueses: enjeitam os seus heróis e idolatram os ditadores. Percebe-se que Sócrates esteja tão bem colocado nas sondagens de opinião!
Menos compreensível é o facto de a maioria dos portugueses odiar Fidel Castro, Hugo Chavez, ou Saddam ( por serem ditadores), não se coibir de proferir sentenças lacustres contra os regimes comunistas dos países do Leste europeu, vociferar contra a invasão de produtos chineses, cuja produção é envolta em histórias ignominiosas de crianças a trabalhar ao ritmo da chibata e presos sujeitos a trabalhos forçados e depois, quando a oportunidade surge, correrem para o telefone a votar num ditador abjecto para Maior Português de todos os tempos!
Não se aponte ( como o fizeram alguns dos defensores das várias personalidades) apenas o descoroçoante sistema educativo como culpado do triste resultado final. A culpa é também de um sistema político, social e cultural, que não valoriza os valores da liberdade, da cultura e da cidadania, como essenciais à construção de uma sociedade democrática.
A verdade é que vivemos num país inculto, medievo e castrado, incapaz de aproveitar os milhões que diariamente entram nos seus cofres para se desenvolver, porque a cultura é considerada supérflua , a liberdade é preterida pelos cifrões e a cidadania pela insensibilidade social. Neste país de carpideiras e beatas onde em dias de eleições os padres avocam o direito de recomendar o voto, onde o cartão partidário é mais importante do que o mérito profissional, onde qualquer escumalha se torna figura de “jet set” por participar em concursos da TVI, não se podia esperar outra coisa. Os portugueses gostam de ser comandados, de se acolherem à sombra do Estado para depois dizerem mal dele, gostam de ditadores que imponham as regras aos outros( nem que seja à custa da chibata) desde que não belisquem os seus interesses pessoais. Foi isso que Sócrates percebeu bem ainda antes de chegar ao Poder. Pôr os portugueses uns contra os outros, invocando o combate aos privilégios, é a receita ideal para ser aclamado num país de invejosos. E, como diz a publicidade..."Dura...dura... dura" ( pelo menos até 2013, digo eu!)