domingo, 25 de março de 2007

Os 50 anos da União

[...] O Tratado de Roma personifica o começo de uma jornada que levou a Europa de um conjunto de países com identidade, cultura, língua e costumes diversos, marcados por uma vivência traumática de duas guerras mundiais, para um espaço económico e político integrado, dotado de instituições comuns, de uma moeda única, de políticas comercial e monetária unificadas, e de uma voz tendencialmente convergente na cena internacional.
Tem sido uma jornada difícil, marcada por escolhos e dificuldades, pontuada por líderes com visão e outros com falta dela, que têm procurado alicerçar essa ideia mais geográfica do que política, mais cultural do que geopolítica, de um espaço político integrado, a de uma federação de povos amantes da liberdade, da democracia e da paz. [...]

Por uma conjugação inesperada das agendas políticas nacionais vimos assistindo à saída de cena de uma geração de políticos que levou a União ao ponto em que se encontra. Primeiro Schroeder, depois Berlusconi, agora Jacques Chirac, amanhã Tony Blair deixa[ram][rão] de exercer funções de liderança nos respectivos países e tomarão uma posição lateral à gestão do projecto europeu. Uma nova geração que não tem memória da Segunda Guerra Mundial e só conhece a Europa tal como ela é depois de Novembro de 1989, ocupará os seus lugares. Será, para já, arriscado tentar percepcionar o que pensa e para onde intenta levar a Europa mas os desafios que tem pela frente são imensos.[...]

Por isso o desiderato de uma Europa grande e forte é ingente, inadiável e necessário. Como [o] outro prato da balança das ambições desproporcionadas da superpotência, como contraponto aos poderes político-militares emergentes designadamente na Ásia. Uma Europa integrada económica e políticamente sim, mas com uma política externa comum autêntica, uma visão comum para a defesa que olhe além da Aliança Atlântica e da NATO. Uma Europa com líderes novos, determinados e cônscios da necessidade de avançar para o futuro. [...]

Merkel representa melhor que ninguém a face nova da Europa e as expectativas da sua evolução. Primeira mulher a tornar-se chanceler na história da Alemanha, primeira cidadã da ex-República Democrática da Alemanha a liderar uma Alemanha reunificada. Esse facto indica que o impulso para o reavivar do sonho europeu virá de Leste, dos países que se libertaram das grilhetas do socialismo e da ditadura e abraçaram a democracia e a economia de mercado há dezoito anos. Mas a Europa precisa de uma liderança esclarecida, visionária e consistente que navegue entre os escolhos. Creio que só a Alemanha está em condições de o ser.


Escrevi na coluna quinzenal do diário Tribuna de Macau