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Ontem à noite, Judite de Sousa perguntava a António Barreto, por que razão os portugueses passam da euforia à depressão num ápice. No escasso tempo de que dispunha , António Barreto respondeu com a falta de estímulo que lhes é dado.
Entretive-me a repensar a questão e a tentar encontrar uma resposta. Obviamente que não o consegui, mas a reflexão que fiz talvez ajude os meus companheiros deste blog a debruçarem-se sobre o assunto e depositar aqui, como eu o vou fazer, as suas reflexões. Talvez, em conjunto, cheguemos a uma conclusão...
Claro que a resposta de António Barreto a Judite de Sousa me parece inatacável, mas creio que há outras razões que justificam este nosso comportamento ciclotímico.
Olhemos para o comportamento da comunicação social, sempre que alguém obtém um pequeno êxito além fronteiras. Pedro Lamy, ou Tiago Monteiro, foram apresentados, após a sua entrada para a Fórmula 1, como as grandes esperanças de Portugal no automobilismo. Um e outro fizeram apenas duas épocas arrastando-se pelos últimos lugares e abandonaram o “Circo” para se dedicarem a corridas menos exigentes. De grandes esperanças, passaram num ápice a consagradas desilusões. A maioria dos portugueses já não sabe sequer por anda Lamy ( apesar de obter alguns sucessos, apenas a imprensa desportiva lhe vai fazendo alusões de rodapé). Os exemplos no desporto poderiam multiplicar-se e o mais recente é o de uma jovem tenista de 14 anos que, por ter derrotado uma adversária cotada no 50º lugar do “ranking”, na primeira eliminatória do Torneio de Miami é hoje apresentada na imprensa como a Sharapova portuguesa. Veremos o que se dirá dela daqui a um ano... Quantos jogadores não foram já considerados futuros Eusébios, só porque numa noite de inspiração fizeram um grande jogo e marcaram um golo a um “grande”? É claro que temos o Figo e agora o Cristiano Ronaldo, mas os seus êxitos, ( principalmente o de Ronaldo) deve-se em grande parte ao facto de ter ido, ainda muito jovem, jogar para Inglaterra. E aqui é que bate o ponto. Os portugueses deslumbram-se quando vêem os seus nomes projectados em primeiras páginas , ou a abrir telejornais e julgam já ter alcançado o céu. Só que o céu português é muito pequenino e, por isso, os que realmente singram, são os que partem para uma aventura além fronteiras. Alguém falaria, por exemplo, de Damâsio, se vivesse ainda em Portugal? E Saramago teria recebido o Nobel se não rumasse a Espanha? Os exemplos poderiam multiplicar-se em várias áreas de actividade, como aliás é visível através da leitura de múltiplos artigos que têm ultimamente sido publicados na imprensa, relatando sucessos profissionais de portugueses em vários pontos do mundo.
Aqui chegado, entronco na resposta de António Barreto a Judite de Sousa. É tudo uma questão de estímulo. Os portugueses constroem facilmente castelos no ar, empolgam-se, mas rapidamente descem à terra quando percebem que vivem num país onde as suas capacidades não podem ser desenvolvidas porque carecem de apoio (estímulo) . A verdade é que em Portugal a realidade é a que a comunicação social ( nomeadamente a televisão) reproduz. E uma comunicação social cinzenta como a que hoje temos, que faz primeiras páginas denunciando um escândalo ou um relatório internacional que põem em causa algumas opções do Governo ( seja ele qual for), mas remete para notas de rodapé casos de sucesso, não contribui em nada para elevar os nossos índices de optimismo.
Claro que me podem dizer que a comunicação social reflecte o país. Isso também é verdade..e como o maior inimigo do português é, normalmente, outro português, a comunicação social faz o seu papel denegrindo, pois quando aprova alguma acção do Governo é logo acusada de estar conluiada com o Poder.
Não há volta a dar-lhe. Somos invejosos do sucesso alheio e quando vemos alguém destacar-se, logo tratamos de urdir uma teia de boatos e insinuações pérfidas à sua volta. Num país assim, é difícil manter o optimismo colectivo durante muito tempo.