quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Finito

Depois de sete meses de vida o blog "Além do Bojador" suspende a sua actividade. Propusemo-nos, então, ser um espaço de diálogo intercontinental entre pessoas que falam o português e que pudessem trazer à blogosfera a sua visão do mundo e dos espaços onde vivem e trabalham. Imaginámo-lo como um espaço a seis pares de mãos espalhados pela Europa, os Estados Unidos, o Brasil, Portugal, a China e Macau. Circunstâncias várias ditaram que essa corrente imaginativa e sensitiva nunca se criasse e o blog concentrou-se, frequentemente, em dois pares de mãos e focou-se, tendencialmente, na "política à portuguesa". Uma coisa que a "política à portuguesa" tem é aridez de problemas, vacuidade de conflitos, guerras de alecrim e manjerona e uma absoluta falta de dimensão global dos problemas com que se compraz. Basta-se com essa pequenês, com esse paroquialismo, com esse ruralismo. Para esse objectivo existem milhares de bloges em português, campeões do campeonato da maledicência, do criticar por criticar, do arrazar forte e bruto e incapazes de darem um sinal positivo do país e dos portugueses.
Conta-se a história de um general romano que a propósito dos lusitanos (os antecedentes dos portugueses) disse que são um povo que não governa nem se deixa governar. Talvez esteja aí a origem e a causa das insuficiências e dos falhanços como povo e comunidade. Contudo, o sucesso de tantos portugueses por tantos lugares do mundo mostra que quando são capazes de se fazer ao mar profundo, oceânico, encontram - normalmente - no cais de aportagem o lugar onde refazem a vida e têm sucesso. Também os nossos irmãos (não é uma palavra vã) brasileiros o fazem, com crescente sucesso, e deixam para trás as dificuldades, os insucessos e a condescendência.
Quatro dos membros da tripulação do Além do Bojador têm projectos individuais na blogosfera e regressarão a eles. Convidamos os nossos leitores e visitantes a que aproveitamos para agradecer os 210 dias de companhia a visitá-los:


- Arnaldo Gonçalves no Exílio de Andarilho em http://exilioandarilho.blogspot.com/



- Carlos Oliveira em Crónicas do Rochedo em http://cronicasdorochedo.blogspot.com/



- José Carlos Matias em O Sínico em http://sinico.blogspot.com/



- Paulo Marcos em
Marketing, Corporate Strategy, Politics and Public Policy em http://www.antonuco.blogspot.com/


Foi boa a aventura e o esvoaçar das velas, e a proa a rasgar os oceanos. Mas é tempo de regressar ao Cais das Colunas.

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Conselho para uma noite de Verão...

Não costumo ser defensor em causa própria, mas hoje não resisto. Com as noites magníficas ( afinal parece que o Verão veio mesmo em Setembro...) que têm estado em Lisboa, jantar no Clube de Jornalistas é uma escolha que recomendo.
Bem no coração da Lapa, é uma das esplanadas mais agradáveis e recatadas de Lisboa. A carta, com sugestões originais, inclui dois pratos vegetarianos (o cogumelo recheado com pimentos é de babar!). Nas entradas o “carpaccio de atum” e à sobremesa o “ananás em ravioli” com gelado de tangerina ou ( para os mais gulosos o Bolo Gazeta) são algumas boas escolhas para uma agradável refeição.
Razoável naipe de vinhos, onde se inclui um “Alvarinho” aceitável para o preço. E se ainda é dos que não dispensa o carro quando vai jantar fora, não acredite nessa ideia feita de que “é impossível estacionar na Lapa”.
Na última sexta-feira, com o restaurante cheio, havia lugares de estacionamento à escolha. Além disso, não esuqeça que ...."se conduzir, não beba!"

O Atlas de Rui Rio



Sei que há gente que gostaria de ver Rui Rio na presidência do PSD e, quiçá, Primeiro Ministro. Nos meus tempos de juventude , dir-se-ia que a probabilidade de Rui Rio chegar a desempenhar alguma vez um cargo de relevância política, seria tão exígua quanto a de um elefante passar pelo buraco de uma agulha. Os tempos mudaram e o desejo que alguns manifestam de ver Rui Rio como Primeiro Ministro só denota como estão baixas as expectativas das pessoas em relação aos políticos que podem, num futuro próximo, gerir os destinos do país.
Rui Rio tem uma personalidade “sui generis” e é interessante tentar construir o Atlas da sua personalidade. Por isso me dei a esse trabalho, no intuito de o partilhar com os leitores.


Cultura- é como um deserto. Árido nas ideias, destrói qualquer tentativa de vida à sua volta. Tem também o seu oásis. Pequenino e ridículo, é feito de corridas de automóveis. O seu grande orgulho em matéria que apelida de cultural ( não estou a brincar, ele disse mesmo isso numa entrevista...) é a realização de uma provinciana corrida de automóveis antigos que , anualmente, leva o caos à cidade.
Inteligência-É como a Amazónia. Uma vez que se entra lá dentro, não se vê nada para o exterior
Ambição política- Gostava de ser como Cavaco, mas falta-lhe quase tudo para o poder imitar. Talvez na arrogância se compare aos tempos do Cavaco Primeiro Ministro, mas ainda não percebeu que o Cavaco PR tem uma postura muito diferente da do Cavaco PM. Como a ambição cega, Rio comporta-se como um furacão, pronto a eclodir e levar tudo à sua frente.
Originalidade- Hesito em classificá-lo como um cubo de gelo no Árctico, ou como um nenúfar sobre um pântano. Acho mesmo que tem as duas vertentes. Tanto passa despercebido como o cubo de gelo no Árctico, como se mascara de nenúfar para esconder o pântano de ideias em que se move.
Relações pessoais- É como uma beata mal apagada num pinhal, numa tarde quente de Verão. A qualquer momento pode atear um incêndio
Relação com a cidade do Porto- Como não se lhe conhece nenhuma, que tal um “buraco negro”?

Porto (não) sentido- 2


Durante o fim de semana, o Porto foi palco de um novo “desporto radical”: a Red Bull Air Race. Eu, modesto praticante de kite surf que até ontem acreditava praticar o desporto onde a adrenalina sobe a pontos mais elevados, desenganei-me. Voar naqueles aviõezinhos que mais parecem folhas de papel largadas ao vento, deve elevar a adrenalina a níveis para mim inimagináveis. Um espectáculo de tirar a respiração, mas não só a mim. Também às 600 mil pessoas que, bordejando as margens do Douro, “da Ribeira até à Foz...” aguentaram a pé firme o desenrolar da competição. Tornei-me fã deste desporto ( que nunca em dia algum virei a praticar, obviamente) e, para o ano, espero não perder mais uma etapa desta empolgante competição.
Chegou a altura de explicar,que esta etapa da Red Bull Air Race só veio para o Porto, graças à sagacidade de Luís Filipe Meneses, que ali viu uma janela de oportunidade para mostrar a cidade ao mundo ( e foram milhões, em todo o Mundo, que viram a prova através da televisão, segundo me afiançaram).
Rui Rio- que terá manifestado desinteresse pela iniciativa – aproveitou no entanto a boleia do seu colega de Gaia para se mostrar. Os vampiros são assim. Incapazes de ver mais longe do que o seu próprio umbigo, aproveitam as ideias dos outros para tentar brilhar. Filipe Meneses, tal formiguinha diligente, lá terá aproveitado para cativar mais algumas simpatias que lhe servirão para amenizar a derrota no dia 28, mas terá ganho bastantes mais votos numa eventual candidatura à edilidade portuense. Por mim, gostaria de voltar a ver , à frente dos destinos da cidade, alguém que amasse o Porto e tudo fizesse para a engrandecer. Rejeitaria, de imediato, um candidato que está a servir-se do Porto para chegar a Lisboa. Já chega o exemplo de Fernando Gomes ( que apesar de tudo fez um excelente mandato, diga-se...)

Porto ( não) sentido-1

O Porto esteve, durante a última semana, no centro das agendas noticiosas por boas e más razões. Começo pelas más, até por uma razão cronológica. Foi logo no início da semana que mais um empresário da noite portuense foi assassinado, à saída da sua discoteca. Ou melhor, de uma das suas discotecas. Este empresário era, há poucos anos atrás, segurança da discoteca Chic, mas em pouco tempo tornou-se proprietário não só dessa discoteca, mas de várias, a que somou restaurantes e outros locais de exploração turística.
Já nos meus tempos de juventude, assistia a situações destas que me intrigavam. A mais emblemática discoteca portuense dos anos 60, a D. Urraca, teve vários donos. Exceptuando o primeiro, todos os seus proprietários foram seguranças da D.Urraca que mais tarde vieram a adquiri-la. As gorgetas dos clientes eram chorudas dizíamos então em tom jocoso...
A recente onda de violência que se abateu sobre a noite da Invicta, com proprietários e seguranças a serem abatidos, tem causado alguma insegurança e perplexidade e muita especulação. Não falta quem justifique a situação como uma sucessão de actos de vingança que estão longe de estar terminados. A polícia parece ser impotente para impedir novas “vendettas” e alguns trazem a lume o facto de muitos dos seguranças da noite portuense serem polícias durante o dia. Daí a especulações de outra índole vai um pequeníssimo passo, mas não vou por aí...
O que me interessa realçar, em tudo isto, é que a população anda alarmada e as autoridades não escondem a sua preocupação. Nada mais natural do que a imprensa querer saber a opinião do Presidente da Câmara sobre a (in)segurança que se sente na noite da cidade. Claro que a tentativa estava frustrada à partida, pois em situações de tensão ocorridas no Porto ( como aquando do assassinato da transexual Gisberta às mãos de um grupelho de adolescentes) tornou-se já um hábito Rui Rio não falar. A explicação para a recusa é fácil.
A Câmara do Porto caiu nas mãos de Rui Rio, graças à arrogância, inabilidade e inépcia do PS nacional, que preferiu apoiar as opiniões de ridículos barões locais como Renato Sampaio, ensandecidos com a vertigem do poder, para cuja prática não têm senso nem argúcia.
Rio não tem uma única ideia para a cidade que vá mais além do que organizar corridas de automóveis antigos. Aliás, partilho da opinião de alguns dos militantes do PSD que, desiludidos com a gestão ruinosa para a cidade que Rio vem seguindo, duvidam que ele tenha outra ideia que não seja a de cumprir a sua ambição pessoal. É isso, obviamente, que justifica que se remeta ao silêncio, tentando transmitir a sensação de que a sua recusa é uma manifestação de personalidade. E assim, recorrendo a mais uma originalidade, mandou dizer, através do seu porta-voz, que não falaria à comunicação social enquanto durasse a “histeria mediática”. Nada de mais natural, vindo de uma mente estéril em termos políticos, intelectuais e culturais que se serve do Porto em vez de o servir.

O LNEC e Alcochete

O prazo dado pelo Governo ao LNEC para apresentar o estudo sobre Alcochete termina, de acordo com o que se escreve na imprensa, a 12 de Dezembro. Ainda falta bastante tempo...

Clarificação à clarificação

No meu post "Até não perceber" aqui deixado na 6ª feira refiro-me, como é claro e óbvio, à aprovação POR UNANIMIDADE na AR da Lei sobre a responsabilidade extra-contratual do Estado. Nunca lá refiro a GNR, portanto creio que foi uma leitura desatenta. Bola fora, Arnaldo!

domingo, 2 de setembro de 2007

Os conservadores americanos em apuros

O senado Larry Craig resignará do Senado com efeitos a 30 de Setembro conforme anunciou em conferência de imprensa no fim de semana transacto. Larry era senador pelo estado de Idaho há 27 anos e a 11 de Junho seria preso na sequência de um incidente na casa-de-banho de um aeroporto americano com um agente policial à civil, a quem terá convidado para práticas homossexuais. Larry destacara-se na oposição conservadora aos projectos de lei (democrtas) destinados a validar o casamento entre homossexuais e a permitir o seu acesso (sem descriminação) às Forças Armadas. Este incidente e outros escândalos sexuais que envolvem figuras gradas do partido conservador americano revela o colapso dos argumentos éticos ligados à defesa da vida e aos valores tradicionais americanos, estratégia assumida contra maior abertura dos democratas às mudanças ocorridas na sociedade civil. De qualquer forma, não é crível que a projecção pública da vida privada dos políticos americanos deixe de ser um fortissimo critério para a definição das escolhas dos norte-americanos. Será curioso, mantendo-se o avanço de Hilary sobre os seus contendores republicanos, ver como aspectos da vida privada da candidata serão explorados até à medula à medida que se aproximar a data das eleições presidenciais nos Estados Unidos.

Picante à francesa

Não há nada mais picante na política francesa que uma boa traição matrimonial. As revistas cor-de-rosa pelam-se por estas histórias e são famosas as traições de François Miterrand (e a ligação extra-matrimonial de que teria uma filha), as aventuras de Jacques Delors ou de Giscard d'Estaing.
Mas até agora não tinha acontecido nada parecido ao caso de uma discreta militante socialista francesa que aproveitaria a sua relação matrimonial com o presidente do Partido Socialista Francês - François Hollande - para se abalançar a uma candidatura à presidência da França - à margem do aparelho socialista - e agora lançar-se à conquista do próprio lugar do marido no partido. As mulheres são terríveis e o caso de Ségoyane Royal é bem o exemplo da máxima maquiaveliana que todos os meios justificam os fins, principalmente em política. E que normalmente o debate sobre os princípios esconde apenas uma mera compita pela tomada do poder interno. Revelando-se incapaz de "conter" a proactividade e assertividade da mulher, François Hollande falha o casamento e arrisca-se a perder o partido. Nada poderia correr pior aos socialistas franceses depois da derrota na corrida presidencial e da derrota nas eleições legislativas deste ano. Mas com uma candidata de sangue "royal" nada há a fazer.

Regresso à agenda política

Estamos em Setembro. Regressa o tempo político, depois de um Verão marcado pela continuação da guerra no Iraque, a crise dos reféns sul-coreanos no Afeganistão (entretanto regressados a Seul em troca de um resgate no valor de 2 milhões de US dolares conforme comentava a imprensa japonesa, no fim-de semana), os fogos na Grécia (e a revelação da incapacidade nacional para resolver a crise), a subida de Hilary Clinton em todas as projecções de voto nos Estados Unidos.
Pelo "rectângulo" lusitano nada de monta para além dos habituais "shows" de Alberto João na festa do Pontal, as partes gagas de Marques Mendes sobre a demissão de uma funcionária pública, e o silenciamento à volta do processo OTA.
Curioso que há mais de um mês nada se fala no assunto, tendo caducado (creio) o prazo que Sócrates deu ao LNEC para elaborar o estudo de impacto (e viabilidade) das soluções alternativas. Será que a holding imobiliária (ligada a Almeida Santos e à família Soares) que comprou os terrenos à volta do projectado aeroporto entrou numa solução de compromisso?