Porto ( não) sentido-1
O Porto esteve, durante a última semana, no centro das agendas noticiosas por boas e más razões. Começo pelas más, até por uma razão cronológica. Foi logo no início da semana que mais um empresário da noite portuense foi assassinado, à saída da sua discoteca. Ou melhor, de uma das suas discotecas. Este empresário era, há poucos anos atrás, segurança da discoteca Chic, mas em pouco tempo tornou-se proprietário não só dessa discoteca, mas de várias, a que somou restaurantes e outros locais de exploração turística.
Já nos meus tempos de juventude, assistia a situações destas que me intrigavam. A mais emblemática discoteca portuense dos anos 60, a D. Urraca, teve vários donos. Exceptuando o primeiro, todos os seus proprietários foram seguranças da D.Urraca que mais tarde vieram a adquiri-la. As gorgetas dos clientes eram chorudas dizíamos então em tom jocoso...
A recente onda de violência que se abateu sobre a noite da Invicta, com proprietários e seguranças a serem abatidos, tem causado alguma insegurança e perplexidade e muita especulação. Não falta quem justifique a situação como uma sucessão de actos de vingança que estão longe de estar terminados. A polícia parece ser impotente para impedir novas “vendettas” e alguns trazem a lume o facto de muitos dos seguranças da noite portuense serem polícias durante o dia. Daí a especulações de outra índole vai um pequeníssimo passo, mas não vou por aí...
O que me interessa realçar, em tudo isto, é que a população anda alarmada e as autoridades não escondem a sua preocupação. Nada mais natural do que a imprensa querer saber a opinião do Presidente da Câmara sobre a (in)segurança que se sente na noite da cidade. Claro que a tentativa estava frustrada à partida, pois em situações de tensão ocorridas no Porto ( como aquando do assassinato da transexual Gisberta às mãos de um grupelho de adolescentes) tornou-se já um hábito Rui Rio não falar. A explicação para a recusa é fácil.
A Câmara do Porto caiu nas mãos de Rui Rio, graças à arrogância, inabilidade e inépcia do PS nacional, que preferiu apoiar as opiniões de ridículos barões locais como Renato Sampaio, ensandecidos com a vertigem do poder, para cuja prática não têm senso nem argúcia.
Rio não tem uma única ideia para a cidade que vá mais além do que organizar corridas de automóveis antigos. Aliás, partilho da opinião de alguns dos militantes do PSD que, desiludidos com a gestão ruinosa para a cidade que Rio vem seguindo, duvidam que ele tenha outra ideia que não seja a de cumprir a sua ambição pessoal. É isso, obviamente, que justifica que se remeta ao silêncio, tentando transmitir a sensação de que a sua recusa é uma manifestação de personalidade. E assim, recorrendo a mais uma originalidade, mandou dizer, através do seu porta-voz, que não falaria à comunicação social enquanto durasse a “histeria mediática”. Nada de mais natural, vindo de uma mente estéril em termos políticos, intelectuais e culturais que se serve do Porto em vez de o servir.