sexta-feira, 20 de julho de 2007

A União Ibérica segundo Saramago

O coro de protestos que se ergueu em reacção à entrevista de Saramago ao DN, no último domingo, foi manifestamente intempestivo e desproporcionado. Mais parecia um clamor guerreiro de combatentes de Aljubarrota irados com a “traição” de um novo Miguel de Vasconcelos, do que uma reacção de vozes habitualmente sábias e ponderadas. Ou leram apressadamente a entrevista, ou reagiram a quente a uma pergunta da jornalista, sem cuidar de sopesar as palavras.
Quando Saramago afirma que “Portugal acabará por integrar-se na Espanha”, não está a proferir nenhuma heresia. Não está a falar de uma união política, mas de algo que já existe e que salta à vista de todos: a união económica.
Quem percorre o país apercebe-se, especialmente nas zonas fronteiriças, que a influência espanhola é cada vez mais marcante em território português. São também cada vez em maior número os portugueses que vão fazer compras a Espanha e aumenta diariamente o número dos portugueses que lá trabalham e estudam. O espanhol é já a segunda língua mais aprendida pelos jovens portugueses, apenas ultrapassada pelo inglês. Os supermercados portugueses estão repletos de produtos espanhóis, há cada vez mais espanhóis a investirem nas zonas de lazer em Portugal e a tomarem conta de indústrias e serviços. O MIBEL ( Mercado Ibérico de Electricidade) é apenas um primeiro passo num conjunto de mercados ibéricos que irão florescer, fruto das exigências da globalização.
Que se acalmem os espíritos mais exaltados, como os de Manuel Alegre ou Vasco da Graça Moura. Não chegou ainda a hora de voltar a terçar armas contra os invasores espanhóis, nem Filipe de Bourbon e Letícia almejam implantar a monarquia em Portugal.
Num mundo globalizado, o objectivo é a união económica entre os Estados e não a sua união política. E a primeira- salvo os que andam distraídos- sabemos que já existe, embora não se possam ainda contabilizar os danos ou os benefícios.
Que se calem as vozes que acusam Saramago de “traidor” ou “infiel”. Embainhem de novo as espadas linguarudas e, ponderada e ordeiramente, remetam-se ao silêncio.
Saramago pode ter cometido um erro de casting, não pode é ser acusado por algo que só por falta de clarividência lhe é atribuído. Poderá estar “ressabiado” com Portugal, (o facto de se ter recusado a falar em português durante uma conferência que fez na Galiza prova-o à saciedade...) mas nas suas palavras leio apenas uma “provocaçãozinha” e acredito que neste momento se esteja a rir das reacções intempestivas que provocou nos saudosos de Olivença, sempre ávidos de desembainhar a espada contra Castela.




A tristeza de Lula

Lula da Silva foi vaiado durante a cerimónia de abertura dos Jogos Pan Americanos e - confessou num programa da rádio- sentiu-se triste.
O Presidente brasileiro foi cauteloso no uso das palavras. Não disse que se sentiu traído, porque sabe que os milhares que enchiam o Estádio no Rio de Janeiro, impedindo-o de declarar oficialmente a abertura dos Jogos, não pertenciam ao Povo que ele está a ajudar a sair da miséria. Pelo contrário, eram na sua esmagadora maioria elementos das castas privilegiadas do Brasil que têm vivido à custa da exploração do povo brasileiro e não toleram que um sindicalista com todo um passado de luta pelos direitos dos mais desfavorecidos esteja- agora como Presidente- a pôr em causa os seus privilégios.
Lula disse que está triste. Não disse que estava revoltado, porque não quis extravasar esse sentimento para os milhões que o apoiam e lhe estão gratos pela "cesta básica" e pelas melhors condições de vida que lhes está a proporcionar.
Lula deu mais uma lição de humildade no Rio de Janeiro, ao desvalorizar as vaias e o facto de terem sido organizadas por um grupo de gente “que não o queria lá”. E teve a lhaneza de não agir como Chavez que, para evitar vaias na abertura da Copa América, distribuiu os bilhetes pelos seus correligionários. Lula preferiu enfrentar o inimigo e oferecer-lhe a outra face. O acto de coragem poder-lhe-á ter custado lágrimas amargas, mas enobreceu-o e cativou “um certo” Brasil que a maioria dos portugueses desconhece.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

O PCP não tem emenda!

Carvalho da Silva doutorou-se “com distinção e louvor” num acto presenciado por muitas figuras da política portuguesa dos mais diversos quadrantes. Lá estiveram , entre muitos outros, Mário Soares, João Salgueiro, João Ferreira do Amaral, Vital Moreira ou Silva Lopes. Da direcção do PCP, nem um único representante se dignou comparecer.
Estas atitudes de indiferença ( quiçá mesmo de arrogância) dos lideres do PCP face a membros do Partido que alcançam alguma notoriedade social roçam o autismo.
Dá a impressão que no PCP quem conseguir alguma notoriedade que extravase os muros do Partido está condenado ao ostracismo.
O tema de doutoramento de Carvalho da Silva é de grande premência (“O sindicalismo em tempos de globalização”), mas o PCP não tolera que um militante do partido seja elogiado por figuras de outros quadrantes.
Um elogio vindo de fora é, para um militante do PCP, uma afronta. O elogiado passa a ser proscrito e, como uma sentença de morte, é-lhe ferrado o epíteto de traidor.
Os líderes do PCP não terão digerido bem a notoriedade e simpatia que Carvalho da Silva vem granjeando em vários quadrantes da política portuguesa e por isso – como em outras ocasiões- decidiram demarcar-se e primar pela ausência.
Nutro grande apreço por Jerónimo de Sousa. Cativa-me a sua simpatia, a sua bonomia e genuinidade. De tal modo, que chego a acreditar que o PCP está diferente e aprendeu com os erros do passado, mas atitudes como a protagonizada com Carvalho da Silva tiram-me qualquer ilusão.
Adivinho vida difícil para o líder da CGTP. Deu grande parte da sua vida ao Partido, foi um sindicalista batalhador, mas “ caiu no erro” de querer ser Doutor! O PCP não gosta desta gente. Não gosta de sindicalistas que se licenciem, porque logo os vê do outro lado, como potenciais traidores do Proletariado. O PCP vive do obscurantismo, de dogmas ultrapassados, da cristalização ideológica e- mais grave- de uma visão do mundo muito parecida com a da Igreja Católica: só serás glorificado na morte, se tiveres coragem de sofrer durante toda a vida porque , como diz a Bíblia “Bem aventurados os pobres e os oprimidos, porque deles é o reino dos Céus”.
Não sei até quando Carvalho da Silva permanecerá no PCP ( a liderança da CGTP ser-lhe-á retirada a muito curto prazo, com prejuízo para a Central sindical e para os trabalhadores portugueses que nela se revêem), mas quando for obrigado a fazê-lo, por não poder aguentar mais a pressão interna, estou certo que logo os grandes lideres dirão às massas. “Estão a ver, estão a ver? É mais um traidor que se vendeu ao capital e renegou o Partido!”
As massas continuarão, submissas, a pedir ao grande líder que as impeça de se libertarem, através da sabedoria, das grilhetas do capital. E, em uníssono, venerando a imagem de Marx de mãos postas sobre “O Capital” repetirão até atingirem a fase de auto convicção: “só pela luta as classes operárias se poderão libertar do capitalismo opressor!”



Rapidinhas 20- Foi assim? Ou a verdadeira história de Pinóquio e Cinderella


Vai acesa a discussão na blogoesfera, em torno do livro de Zita Seabra. “Foi Assim” é- ao que tudo indica pelo que tenho lido- um rol de imprecisões, um manancial de disparates e uma cornucópia de mentiras. Não sei quem tem razão, mas de uma coisa estou certo: um(a) comunista não escreve assim, salvo quando o despeito ou o deslumbramento face ao Poder lhe obnubila o pensamento e tolhe a razão.Estaremos perante uma Carolina Salgado da Política, ou é apenas o renascimento da história de Cinderella escrita no estilo peculiar de Fernão Mendes Pinto?

quarta-feira, 18 de julho de 2007

A fuga dos jovens cérebros e o www.euvoto.eu no Diário Económico






O mercado do talento português

Muitos dos melhores e dos mais brilhantes emigram para Londres, Nova Iorque ou Madrid e dificilmente voltarão a Portugal.

Paulo Gonçalves Marcos

Na coluna de hoje quero partilhar com os leitores um pouco da minha experiência com aquilo que está a acontecer ao mercado do talento português, a partir de três realidades exemplificadoras. Londres, Fevereiro de 2007. Recolha de bagagens no aeroporto. Um Domingo, ao final da tarde. “Olá, professor está bom?” E a cena repetir-se-ia mais três vezes no mesmo local. Nos dias seguintes ao longo da City e do Soho, na Chinatown ou em Canary Warf, perdemos a conta às pessoas que conhecemos oriundas de Portugal. De comum, a todas elas, o facto de terem idades abaixo dos 40 anos, licenciaturas e formação superior em áreas de Economia, Gestão de Empresas, Engenharia, Biologia, Arquitectura…Uns porque não encontraram nas suas áreas de formação académica oportunidades de desenvolverem uma carreira e um projecto profissional. Outros, quiçá a maioria, em Londres encontraram emprego e desafios profissionais em algumas das maiores empresas do mundo, com salários e remunerações globais que são três, quatro e mais vezes superiores às que encontrariam em Portugal. Uma verdadeira caça ao talento português. Nos bancos de investimento, nas grandes corretoras, nas gestoras de fundos e patrimónios, nas empresas de grande consumo, nos laboratórios farmacêuticos e nos ateliers de arquitectos famosos. Em três meros dias dezenas de encontros casuais. Cheguei a pensar que estaria algures em Lisboa ou no Porto… Mas afinal não foi mais que o confirmar da minha percepção que muitos dos melhores e dos mais brilhantes emigram para Londres, Nova Iorque ou Madrid. E que dificilmente voltarão a Portugal. Um ‘brain drain’ silencioso, que vai minar a capacidade de as empresas portuguesas e o país darem o grande salto em frente na produtividade, única forma de singrar num mundo globalizado.

Carlos Encarnação Oliveira, presidente da APPM (www.appm.pt) acaba de ser eleito por unanimidade presidente da European Marketing Confederation, o órgão de cúpula dos profissionais de ‘marketing’ na Europa. Uma marca distintiva para os profissionais do talento portugueses. Porque os gestores e os ‘marketeers’, tais como outros profissionais, actuam no mercado do talento. Uma eleição que tem o mesmo peso simbólico, conquanto não mediático, que a eleição de um português para presidente da Comissão Europeia ou da UEFA (esta ainda não aconteceu).

www.euvoto.eu, é uma comunidade cívica criada por uma equipa de académicos para auscultarem a opinião dos cidadãos sobre questões cívicas, políticas e comerciais. De adesão livre, permanente, e obedecendo às mais escrupulosas regras de protecção dos dados pessoais dos membros. Em poucos dias várias centenas de pessoas aderiram à comunidade e participaram nas suas actividades. Uma sondagem ‘online’, sobre a intenção de voto para a eleição à presidência da Câmara de Lisboa, complementada com um jogo de Bolsa Política. Ao invés de acções de empresas cotadas, a Bolsa Política tinha doze títulos, correspondentes aos candidatos em disputa eleitoral. Comprar na baixa para vender na alta, a ideia central de qualquer investidor bolsista, também se aplicava aqui. E, à semelhança do que acontece noutros mercados, também os “jogadores” revelaram uma impressionante capacidade de vaticinarem, de forma muito precisa, as votações que os principais candidatos obteriam. De facto, mercê de um algoritmo desenvolvido para o efeito, combinando as duas ferramentas, a sondagem ‘online’, por um lado, com a Bolsa Política, por outro, a www.euvoto.eu fez história. A um custo quase negligenciável! Duas ideias inovadoras, desenvolvidas em prazos muito curtos e com resultados impressionantes: uma sondagem razoavelmente precisa e um jogo que para além de ser inovador na Europa Continental, destronou em número de participantes outras iniciativas bem mais maduras de além mancha. O êxodo dos jovens cérebros, a eleição de um português ou a inovação na pesquisa de intenções de voto e opiniões, revelam que o talento português produz resultados e reconhecimento de nível internacional. Compete a todos nós criarmos as condições e a atitude para que todo este talento possa frutificar e beneficiar Portugal.

paulo.marcos@marketinginovador.com
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Paulo Gonçalves Marcos, Gestor e professor universitário

IBIZA- assim acabam os ícones de férias

ANTES...

Os “ícones” de férias da minha juventude vão desaparecendo. Seja por intervenção voluntária do homem- que foi tornando imensos espaços de areia branca e água límpida em selvas de pedra que fazem o gáudio de turistas que apreciam recriar os ambientes urbanos nos seus locais de férias - seja fruto de actos involuntários e acidentais. Entre estes últimos são frequentes os derrames de crude . As suas consequências são não só mal cheirosas, como devastadoras em termos ecológicos e obrigam a fechar longos quilómetros de praia durante a época balnear.O último acidente provocado por derramamento de crude ocorreu em Ibiza. A outrora ilha paradisíaca já era uma saudade. Agora, transformou-se num inferno.

...e DEPOIS

Cenas de vida 15- O "Jeep" e a "dondoca"


A “dondoca” seguia a boa velocidade por uma das faixas laterais da Av. da República em direcção ao Saldanha, conduzindo o seu “Jeep”. Já há algum tempo tinham batido as seis badaladas vespertinas mas àquela hora, carrinhas e camiões ainda estacionavam descontraidamente em segunda fila, numa azáfama modorrenta de cargas e descargas. Ziguezagueando entre os camiões estacionados, a “dondoca” ia gesticulando com alguma agressividade, manifestando o seu desagrado por conduta tão desrespeitosa quanto ilegal, que os brandos costumes da polícia toleram com bonomia.
“Vai certamente com presa de regressar a casa” – pensei na minha inocência -quando a vi passar descontraidamente um sinal vermelho, provocando um “guinchar” de travões dos carros que transitavam com o sinal verde aberto, na desesperada tentativa de evitar a colisão. Acelerou e continuou o seu caminho, acenando com a mão direita , enquanto a esquerda segurava o telemóvel. Cem metros adiante abrandou, ligou os piscas, estacionou em segunda fila, trancou as portas e dirigiu-se em marcha lenta para a farmácia. Foi provavelmente comprar um medicamento para a dor de cabeça, porque medicamentos para a estupidez, não se vendem nas farmácias...

O braço de ferro de Putin



Ao suspender a participação da Rússia no tratado sobre armas convencionais na Europa, Putin deu mais um passo no caminho de distanciamento entre a Rússia e os EUA, com a UE a ter, para já, uma atitude conciliadora.
A questão do Kosovo, o escudo anti-míssil que os EUA querem colocar na Europa- com o beneplácito da União- e a entrada na NATO de países que estiveram na órbita soviética desde a segunda Guerra Mundial -até à queda do muro de Berlim e consequente desagregação da URSS - são problemas demasiado delicados que a UE tem que resolver, tomando uma posição que se adivinha alinhada com os EUA.
É previsível, por isso, um endurecimento da posição russa no braço de ferro que mantém com os EUA e- ainda que discretamente- com a UE.
Europa e EUA tentarão manter a situação num impasse até à realização das eleições russas no próximo ano, na expectativa de que o sucessor de Putin seja mais “compreensivo”, mas será difícil protelar por muito mais tempo a situação do Kosovo- que requer uma solução rápida – em relação à qual Putin tem uma posição firme.(Como significativamente firme foi também a recusa de extraditar para a Grã-Bretanha Andrej Lugovoi – acusado de ser o assassino de Livitenko).
O ainda presidente russo pretenderá deixar ao seu sucessor uma marca forte do que entende deve ser a política externa russa e garantir que o escudo anti-míssil nunca será instalado, pelo que pode ser tentado a criar condições para que os EUA sejam obrigados a recuar nas suas intenções.
Mesmo que os próximos tempos não venham a ser muito esclarecedores, irão influenciar as próximas eleições russas, cujo resultado pode a vir a ser até mais desfavorável para a Europa e EUA, se o novo líder russo se revelar mais intransigente e menos paciente do que Putin.

Cenas de vida 14- O taxista, a velha e o polícia

Cenário:
Avenida da Igreja, fim de manhã solarenga, boa disposição pairando no ar.


Uma septuagenária atravessa a passadeira apoiada numa bengala. Lentamente, como impõe a sua idade e a dificuldade de locomoção.
Em velocidade acelerada, um táxi aproxima-se e trava a fundo, mesmo no limite da passadeira. Quando a senhora vai a passar à sua frente o motorista de táxi , num assomo de boa educação ,lança a cabeça de fora e grita:
“Oh velha! Atravessa mais devagar... Vê lá se queres uma corrida para o hospital!”
(seguiu-se um palavrão impublicável)
A senhora estacou. Soergueu-se com dificuldade, levantou a bengala e deixou-a cair sobre o capô, provocando um ligeiríssimo arranhão.
Valente, o motorista sai do carro com nítida intenção de tirar desforço. Diz que vai chamar a polícia. Três ou quatro transeuntes chamam-lhe a atenção para a grosseria e são brindados com um chorrilho de impropérios. Não reagem, porque percebem rapidamente que o motorista do táxi está embriagado (passam poucos minutos do meio dia, lembre-se!). Um homem dos seus trinta anos tenta apenas aconselhá-lo a voltar para o carro e seguir o seu caminho. Como os impropérios continuam, aponta para um polícia que, postado numa esquina a poucos metros, observa a cena, fazendo menção de o chamar. Num ápice a autoridade move-se, ( em sentido contrário ao do local do incidente) e desaparece por uma rua adjacente. A custo, o motorista é posto dentro da viatura e segue o seu caminho com um chiar de pneus. No local, a senhora contém a custo uma lágrima que a mão trémula (mais que habitualmente, por certo) disfarçadamente enxuga.
- "Sabe... vejo mal e se calhar o homem até tinha alguma razão. Mas eu não consigo andar mais depressa!"

terça-feira, 17 de julho de 2007

Rapidinhas 19- Ainda o Altis


Afinal, a encenação do Altis a que aqui fiz referência, ainda teve contornos mais caricatos! Segundo noticia o JN, as pessoas vindas de Cabeceiras de Basto nem sabiam ao que vinham e, alguma delas, nem sequer eram socialistas. Isto já nem é Estado Novo, é mesmo à moda da Roma Antiga! Quando é que nos mandam para as galés?

Rapidinhas 18- Objectores em part-time

A Ordem dos Médicos lançou o aviso: há médicos que se declaram objectores de consciência para praticar o aborto nos hospitais públicos, mas fazem-no em clínicas e hospitais privados. A Ordem acusa os médicos de grave “pecado” deontológico e pede ao Governo que elabore uma lista dos médicos objectores. O Governo assobia para o ar, certamente porque sabe que esta atitude aberrante de alguns médicos lhe permitirá poupar alguns euros com as despesas de saúde. E isso é que importa para o défice!

Um mau exemplo de ser português

José Couceiro, treinador das selecções nacionais de sub-21 e sub-20 ,conduziu Portugal a dois vergonhosos desastres no Europeu e Mundial das respectivas categorias.
Com duas equipas recheadas de talentos, conseguiu exibições vergonhosas e condutas disciplinares condenáveis.
O mais normal, depois destes tristes episódios, era Couceiro pôr o lugar à disposição. Mas Couceiro- que ninguém percebe como chegou a treinador/seleccionador- mantém-se agarrado ao lugar como uma lapa e não vê razões para se demitir. Para ele, ter sido eliminado numa primeira fase do Europeu de sub-21 com apenas uma vitória sobre Israel e ter sido derrotado pela Gâmbia e pelo Chile no Mundial de sub-20, depois de uma repescagem insólita, foi “cumprir os objectivos traçados”.
Não se trata apenas de falta de ambição. Trata-se também de incompetência. Couceiro atirou com o Belenenses para a Liga de Honra ( permaneceu na I Liga graças aos episódios rocambolescos que todos conhecem) e com a mesma equipa, na época seguinte, Jorge Jesus levou o Belenenses ao 4º lugar.
Couceiro ainda não percebeu as suas limitações. Por isso reagiu como muitos outros portugueses: sou competente, mas tive azar! Demitir-se está fora de questão, porque o que pretende é ser despedido e receber a indemnização a que terá direito.
Este exemplo do mundo do futebol aplica-se a quase todos os sectores de actividade em Portugal. Por isso o País continua a viver nesta “apagada e vil tristeza” de pessoas que recusam assumir as suas responsabilidades e atribuem ao azar os seus insucessos.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Cenas de vida 13- A sabedoria da terceira idade

Um grupo de jovens rumava ao Altis na noite eleitoral, ainda antes de serem conhecidos os resultados. Confiança estampada no rosto, bandeira do PS desfraldada ao vento, um deles grita bem alto, entrecortando o silêncio sombrio do fim de tarde: “Viva o PÊ ESSE!”.
-“Eh pá está calado. E se o Costa não ganha?”
-“Estávamos f.... Amanhã nem saía à rua c...”
- “Nunca gosto de deitar foguetes antes do tempo... E com a abstenção que vai haver, não sei não. Viste como as mesas de voto estavam às moscas?”
-“Ora, ora, isto está no papo, não vai haver surpresas. Se perdessemos era uma catástrofe”.
-“ Só nos faltava que ganhasse o Carmona ou o Negrão! Ainda era pior do que o Sarkozy ter ganho em França.”
- “Eh pá, olha que afinal o Sarkozy até está a ser uma surpresa. Até tem feito umas coisas bacanas pá!”
- “Cuidado com as surpresas...”
- “Porque é que dizes isso?”
- “ O Sócrates também está a ser uma surpresa...”.
- “ Mas com o Costa na Câmara vai ser diferente. Ele é um gajo fixe!”
- “É fixe é! Costa é fixe o Sócrates que se lixe!...”
- “Está calado, pá! PÊ ESSE! PÊ ESSE! PÊ ESSE!”.
E com o seu grito contagiando os restantes, lá seguiu o pequeno grupo entoando em coro o mesmo refrão rumo a uma noite de celebrações.
Um idoso que passava parou quando os jovens passaram por ele e perguntou:
- “O que é que estão a celebrar?”

Rapidinhas 17- A encenação do Altis

Os socialistas estavam avisados para a forte abstenção e sabiam que os lisboetas, mesmo dando a vitória a António Costa, não tinham motivos para sair à rua a festejar. Previdentes e experimentados nestas andanças, meteram socialistas do Norte em autocarros e fizeram-nos rumar a Lisboa para vitoriar o vencedor – e por tabela o líder socialista, carente de um pequeno banho de multidão.
Uma encenação a fazer lembrar as homenagens a Salazar durante o Estado Novo. Pobre do líder que se sente aconchegado com o calor de aplausos organizados pelos seus acólitos e não sabe interpretar o seu significado!Espero que Sócrates tenha tirado as devidas ilações...

Rapidinhas 16- A euforia de Sócrates

O líder do PS estava eufórico com a vitória de António Costa. Pudera! Depois das derrotas nas autárquicas e nas presidenciais e das sucessivas vaias sempre que aparece em público, precisava deste balão de oxigénio. Dá-lhe tempo para recuperar forças e respirar fundo. Dar-lhe-á tempo para corrigir a sua política? Tenho dúvidas, porque ele acredita convictamente que está a seguir o caminho correcto.

Eleições em Lisboa- os vencedores

Helena Roseta- Criar um movimento menos de dois meses antes das eleições e conseguir uma votação superior a 10%, à frente de PC, BE e CDS/PP não pode deixar de ser visto como uma vitória. Vai fazer bem à Câmara e, nestes dois anos, pode capitalizar votos que lhe rendam maior pecúlio em 2009.
Carmona Rodrigues- Foi, obviamente, um dos vencedores, mas ao contrário de Helena Roseta, o mais provável é que a sua votação se comece a esvaziar desde já. Se voltar a candidatar-se será integrado nas listas do PS...
António Costa- Vencedor, mas com poucas razões para grandes regozijos. É certo que conseguiu uma vitória clara, ganhou em todas as freguesias ( feito inédito) e conseguiu para o PS uma vitória que o partido não obtinha, sozinho, desde Aquilino Ribeiro Machado em 1976, mas a vitória ficou aquém dos 30% - como aqui eu previra - e não atingiu os 7 vereadores, considerados como patamar mínimo do sucesso. Tem agora a grande vantagem de não ter de se aliar a ninguém, o que com a sua habilidade política, lhe irá permitir certamente reforçar a sua maioria em 2009- se até lá o Governo não lhe destruir a imagem.
José Sá Fernandes- É certo que perdeu votos em relação a 2005, mas a sua eleição foi a demonstração de que a sua combatividade e luta pela transparência são apreciadas por muitos lisboetas, cansados de ver a cidade esboroar-se em tortuosos torvelinhos de interesses.

Eleições em Lisboa - os derrotados

Telmo Correia foi o grande derrotado. Ao não conseguir eleger nenhum vereador para o CDS/PP colocou-se numa situação difícil e voltou a colocar o líder na encruzilhada da reflexão – tão cara a Paulo Portas. Curioso vai ser observar, nos próximos tempos, o desenvolvimento das movimentações no seio do CDS/PP. Se Portas abandonar, não terá condições para impôr um regresso ( nem antes, nem depois de 2009).
A derrota de Fernando Negrão era esperada e a sua dimensão catastrófica também. Nada de surpresas, mas Marques Mendes também devia aproveitar para reflectir sobre a estratégia adoptada durante a campanha, ao tentar transpôr para o plano nacional os resultados das autárquicas lisboetas. O problema, é que o líder laranja não é dado à reflexão- prefere fazer uma interpretação peculiar dos oráculos de Marcelo Rebelo de Sousa e Manuela Ferreira Leite e apostar na fuga em frente. Não tardará muito que esteja à beira do precipício...
A forma como for resolvida a liderança no seio do PSD terá, muito provavelmente, reflexos no próprio PP e até no panorama partidário em Portugal. Um partido com Portas, Santana ( talvez mesmo Morais Sarmento e Luís Filipe Meneses) poderá emergir fruto desse desenvolvimento e de uma interpretação errada dos resultados conseguidos pelos independentes em Lisboa.
Só que o que os portugueses querem, não é um novo Partido, mas sim pessoas que lhe dêem garantia de independência e que mostrem capacidade para resolver os seus problemas.

Eleições em Lisboa- os empatas

Ruben de Carvalho conseguiu eleger dois vereadores para o PCP, mas a verdade é que a sua votação foi inferior à de Helena Roseta, o que o impede de cantar vitória.
Os outros empatas foram os candidatos da Liga dos Últimos, onde apenas Garcia Pereira conseguiu uma votação superior a 1%, o que o torna o vencedor incontestável da Lisboa dos Pequeninos.