quinta-feira, 30 de agosto de 2007

"Mestres" em Sociologia Cubana


Madrugada de um dia qualquer. Como acontece todas as semanas, ao alvorecer de um dia qualquer, centenas de portugueses aterram na Portela, provenientes de Cuba.
A maioria não vai a Cuba passar férias só porque é barato. Vai para poder dizer mal de Cuba e de Fidel quando regressa. A maioria passa cinco dias numa estância balnear - em estabelecimentos tão atípicos e assépticos como os de outra estância balnear qualquer - e um dia em Havana, mas quando chega a Portugal já se sente um especialista habilitado a falar sobre os horrores de Cuba, a miséria do seu povo e as atrocidades de Fidel Castro.
Quando lhes perguntamos se sabem como era a Cuba antes de Fidel, sob a ditadura de Fulgêncio Baptista, alguns respondem com um encolher de ombros e outros, pensando-se mais “letrados” olham-nos com um ar de desprezo e atiram:
-"Quero lá saber o que se passou em Cuba no século XVIII?"
Quem esteve mais do que um dia em Havana- com pouco mais tempo do que para trazer de recordação um exemplar do “Gramma”- e num arrojo destemido deu um salto a Cienfuegos sente-se já detentor de um Mestrado em História e Sociologia Cubana. Esquece-se que Cuba vive um embargo selvagem imposto pelos americanos há quase meio século, mas tem bem presente na memória "o medo que viu estampado em cada rosto" e comoveu-se "com a miséria , a falta de hamburguers, telemóveis e outras maravilhas da tecnologia" que há meia dúzia de anos lhe eram desconhecidas e cuja necessidade nunca reclamaram, até ao momento em que a sociedade de consumo lhos serviu em bandeja de prata com a mesma volúpia com que Satanás tentou Cristo.

Curiosamente, estes portugueses não se sentem condoídos com os dois milhões de portugueses que vivem no limiar da pobreza. Preferem chamar-lhes malandros e acusarem-nos de não querer trabalhar. Porque cá- afirmam- ao menos vivemos em liberdade!