"Mestres" em Sociologia Cubana
Madrugada de um dia qualquer. Como acontece todas as semanas, ao alvorecer de um dia qualquer, centenas de portugueses aterram na Portela, provenientes de Cuba.
A maioria não vai a Cuba passar férias só porque é barato. Vai para poder dizer mal de Cuba e de Fidel quando regressa. A maioria passa cinco dias numa estância balnear - em estabelecimentos tão atípicos e assépticos como os de outra estância balnear qualquer - e um dia em Havana, mas quando chega a Portugal já se sente um especialista habilitado a falar sobre os horrores de Cuba, a miséria do seu povo e as atrocidades de Fidel Castro.
Quando lhes perguntamos se sabem como era a Cuba antes de Fidel, sob a ditadura de Fulgêncio Baptista, alguns respondem com um encolher de ombros e outros, pensando-se mais “letrados” olham-nos com um ar de desprezo e atiram:
-"Quero lá saber o que se passou em Cuba no século XVIII?"
Quem esteve mais do que um dia em Havana- com pouco mais tempo do que para trazer de recordação um exemplar do “Gramma”- e num arrojo destemido deu um salto a Cienfuegos sente-se já detentor de um Mestrado em História e Sociologia Cubana. Esquece-se que Cuba vive um embargo selvagem imposto pelos americanos há quase meio século, mas tem bem presente na memória "o medo que viu estampado em cada rosto" e comoveu-se "com a miséria , a falta de hamburguers, telemóveis e outras maravilhas da tecnologia" que há meia dúzia de anos lhe eram desconhecidas e cuja necessidade nunca reclamaram, até ao momento em que a sociedade de consumo lhos serviu em bandeja de prata com a mesma volúpia com que Satanás tentou Cristo.
Curiosamente, estes portugueses não se sentem condoídos com os dois milhões de portugueses que vivem no limiar da pobreza. Preferem chamar-lhes malandros e acusarem-nos de não querer trabalhar. Porque cá- afirmam- ao menos vivemos em liberdade!