segunda-feira, 2 de julho de 2007

João Miguel Tavares [no DN]

[...] Estranhamente, aqui na terriola não se consegue ter o melhor de dois mundos. Ou se tem governos panhonhas que não se mexem (género Guterres ou Durão), ou se tem governos esforçados, com vontade de mudança, mas que depois acham que toda a gente tem de dobrar a espinha ao seu extraordinário esforço patriótico (género Cavaco ou Sócrates). Uns não fazem nem chateiam; os outros fazem e por isso acreditam sinceramente que lhes devemos estar muito agradecidos por isso. Isto não é falta de cultura democrática - é mesmo falta de cultura de competência. O primeiro-ministro, a ministra da Educação ou o ministro da Saúde acham, à sua maneira, que são special ones - ou, pelo menos, que fazem parte de um special governo, que está finalmente a pôr o País na ordem. E, por isso, não acham graça nenhuma às pequenas rebeldias de indígenas ingratos. Aqui, sim, falta-nos uma terceira via: sermos um dia governados por gente que perceba que reformar é o seu trabalho natural, e que ao mesmo tempo possa ouvir uma crítica sem de imediato soltar os cães. Um dia. Quem sabe um dia.[...]

João Miguel Tavares comenta um mundo pequenino, canhestro, circunscrito ao burgo ou melhor dizendo à paróquia. Porque a "política à portuguesa" para tomar o mote de um conhecido director de jornal é absolutamente paroquiano. Os figurantes são de Eça ou Ortigão. Faça-se o ajustamento do tempo e são os mesmos. Veja-se a chegada do presidente da Comissão Europeia ao Porto e a procissão das vénias. Regresse-se a Caetano ou ainda a Salazar. Os mesmos sorrisos de conveniência, a pose de ostentação, de pseudo-aristocracia. Os guarda-costas, os BMW e os mirones. Os queridos mirones de um Portugal pequenino que dificilmente será alguém!