As primárias do PSD
António Borges responsabiliza Santana Lopes pela actual instabilidade no PSD. E escancara a porta para que o antigo líder deixe o partido. Em declarações ao Diário de Notícias, aqui afirma "Se Santana avançar com outra força partidária, eventualmente não vai levar ninguém do PSD consigo, só alguns amigos mais chegados"."Santana fez muito mal ao partido enquanto líder e a posição frágil que o PSD atravessa agora deve-se a ele", afirma Borges, lembrando os seis meses de governação de Santana, em 2004, e a derrota do partido nas legislativas que se seguiram.
António Borges faz um número de contorcionismo e põe-se à disposição dos militantes do PSD para avançar. Dizendo [por enquanto] apoiar a liderança de Marques Mendes coloca-se naquele vai que não vai, que tem alimentado há pelo menos dois anos. Bater em Santana Lopes é fácil. É a face mais visível de uma situação caótica deixada pela saída de Durão Barroso para Bruxelas e a necessidade de assegurar a governabilidade do país.
A responsabilidade foi de Jorge Sampaio. Cometeu um erro grave aceitando uma solução de conveniência que se provou pior que a cura: eleições legislativas. Aliás o termo final do seu mandato foi um acumular de erros, amoques, baralhadas.
Mas Borges faz dois erros de avaliação grave. Santana não está nada convencido que "fez mal ao partido" e que cometeu erros nocivos ao país. Como qualquer mitómano que perde o sentido da realidade Santana acha-se a vítima, o cordeiro imolado na rocha por Abraão. E como não tem qualquer complexos de culpa está desesperado por voltar ao estrelato. Esse seu desejo tem outras explicações privadas que não vou aqui falar mas que são conhecidas em meios políticos de Lisboa e que o diminuem para um regresso à presidência do PSD. Mas Santana Lopes usa como ninguém aquilo que se tornou o expediente preferido do jogo político: o soundbyte. E sabe como ninguém usar aqueles 5-10 segundos das televisões para lançar um ataque demolidor ou criar um facto político. E é isso hoje em dia que conta, pelo menos na primeira impressão.
O pântano de conveniência em que se transvestiu o debate político no PSD cria as condições possíveis para que possa sonhar outra vez.
O segundo erro de Borges é que acha que pelo seu brilhantismo e competência técnica pode tomar o PSD de rompante sem "sujar" as mãos na política partidária, sem calcorrear as distritais, conviver com o militante de base, falar no comício popular. O seu ar aristocrático, selectivo, "tio", cola mal à identidade do PSD como partido popular do centro-direita. Dificilmente ganhará o partido e depois o país se não baixar à real e fizer-se à estrada.
Lembra de certa maneira Hilary Clinton pela pose, pela frieza e pelo calculismo. Há qualquer coisa que não cola nele.