segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Jornais e jornalistas

O Carlos Oliveira caustica em post anterior a falta de dimensão da imprensa que se publica em Portugal e lista-nos as suas leituras semanais. Fala em paroquismo o que é curial, em falta de interesse pelo que se passa no mundo, o que me parece acertado.
Há creio duas leituras cruzadas para isto: a mediocridade galopante da imprensa escrita fixada à agenda das agências e ao just-in-time dos noticiários das televisões, ou o desinteresse do público em geral com o que se passa para além dos limites da paróquia, ou dizendo de uma forma rigorosa, do quintal.
Escrevendo há dezena e meia de anos sobre política externa, pressionando por um novo momento nas relações de Portugal com a Ásia e a China, constato sempre que dou uma saltada a Portugal, o fixismo dos portugueses pelo que é instante, passadiço, efémero e o seu relativo desenteresse pelo que é internacional, europeu e cosmopolita. Basta ver as parangonas de primeira página dos diversos diários para perceber que os portugueses só se interessam pelas gafes das figuras públicas, pelos fumos de escândalos dos poderosos ou pelos maneirismos dos idiotas que se acotovelam pela primeira página das revistas cor-de-rosa. Algo mais elaborado, com maior profundidade, passa-lhes de todo ao lado, aborrece-os mortalmente.
Bem vistas as coisas se recuarmos alguma coisa no tempo a política, no sentido grego da participação nos assuntos da pólis, foi sempre pertença das elites. Na monarquia do circulo aristocrático que rodeava o rei e que se empertigava pelos seus favores. Na primeira república da burguesia urbana e ainda assim resumida a Lisboa e Porto, seduzida pela mensagem liberal e republicana da Europa culta e avançada. No Estado Novo pela corte de fiéis de Salazar expectantes em repribendas e favores. A participação das grandes massas foi sempre a rebate dos caciques, dos líderes de facção e de família, das figuras públicas que a grande massa ignorante olhava como seus condutores.
Cremos, acreditamos [provavelmente para nos convencermos a nós próprios] que em democracia as coisas seriam diferentes. O contacto com a Europa, fruto da nossa adesão transformar-nos-ia, libertar-nos-ia desse atrazo, dessa canga. Não creio que isso seja de todo verdade. Continuamos a gostar mais de demagogos que fazem o trabalho por nós, do que de líderes que nos mobilizam para os projectos nacionais de futuro. Sócrates é um bom exemplo, mas podemos ir mais atrás na nossa história recente. Ainda agora vi na televisão um conhecido banqueiro, antigo ministro da economia e militante do PSD a declarar que voltaria à política activa, um dia, se o PSD encontrasse uma nova liderança política, mas que enquanto isso não acontecer se revê no trabalho do primeiro-ministro José Sócrates. A personagem é um dos subscritores de uma agremiação que se reune, de vez em quando, para o Beato, para se queixar do país e dos políticos, mas que nada faz - repito - nada faz para mudar a política e os seus protagonistas. Falta-me dizer que a critica não tem motivação político-partidária: tenho as quotas de militante do PSD em dia, mas chateia-me, abolulatamente, a displicência destes nossos pavões.

É verdade, juntado mais alguma lenha ao fogo leiam aqui o excelente artigo do João Miguel Tavares no Diário de Notícias.