domingo, 4 de março de 2007

Ainda Portas e a política autista na saúde

Creio significativo o capital político que Paulo Portas acrescenta ao momento político em Portugal. Por um lado porque tem uma garra e uma combatividade que não é vulgar; por outro porque o PS precisa de uma oposição forte para corrigir a trajectória de algumas políticas que se bem que bem intencionadas parecem mais prova de força dos respectivos animadores do que exercícios de governação esclarecidos e bem focados.
A política, por exemplo do Ministro da Saúde, parece-me um excelente exemplo do que aqui digo. Ninguém pode questionar a racionalidade de uma gestão criteriosa do dinheiro e dos equipamentos públicos, cortando-se despesismos vorazes e eliminando-se duplicações.
Quando o ministro anunciou isso ao país na apresentação do programa de governo fui sensível aos argumentos. Se há sector em que o malbaratamento da gestão pública me parece mais lapidar é a saúde. Basta ter a infelicidade de ir a uma urgência hospitalar para ver toda essa irracionalidade e o gozo com que se fazem esperar pessoas 5/6 horas para serem atendidas e tê-las à manada independentemente de serem casos graves ou simples. Não faz sentido ter pequenos núcleos hospitalares multiplicados em cada vila, aldeia ou centro comunitário para servir populações relativamente pequenas quando o seu agrupamento e racionalização pode garantir um serviço melhor e mais ajustado ao compósito da população. Em Portugal não se faz contas: as pessoas exigem e batem o pé, o Estado normalmente ajoelha quando a pressão é forte.
O que começou por ser uma boa política tornou-se um exercício a retalho [quer dizer a protocolo]. O ministro, no pequeno trecho que vi no programa 'prós e contras" parece querer ajustar os cortes [e medidas de racionalização das urgências e das maternidades] à peça, consoante a negociação que vai fazendo com os presidentes de câmara: fecha uns, retarda o fecho de outros, repensa ainda outros. Deixou de se perceber qual o nexo, a coerência da política no seu conjunto. E mais grave do que isso qual o critério que a sustenta: começa-se pelas câmaras da oposição e só de quando em quando avança-se para algumas do PS? começa-se pelo Norte e desce-se para os centros urbanos?
Confesso que estou de todo baralhado...