Memórias
Debato com o amigo João Carlos Matias na Rádio Macau, no próximo sábado 10 de Março, as leituras possíveis do convénio anual da Assembleia Nacional Popular, o parlamento [soi-disant] chinês. O discurso do premier Wen Jiabao deixou pistas interessantes para aprofundar e não resistirei, seguramente, às "provocações' do JCM. As 3 fotografias que ele inclui no post anterior são espelho de um país de contrastes, entre o formalismo da encenação política [na ANP] e o instante da Praça Tiananmen e do vendedor de jornais. Também para comentar o post do Carlos Oliveira estas são parte das minhas referências e das referências da minha geração. Sonhámos, então, com todas as utopias realizáveis na terra e que o comunismo poderia ser "a tal". Como todas as construções teóricas de reegenharia completa fracassaram porque eram irrealizáveis; porque é impossível refazer toda a sociedade, de cima abaixo, eliminar a alienação do homem e as desigualdades, pelo mero entoar de uma ideologia ou de um slogan. Não há amanhãs cantantes; não existe o tal homem novo da mitomania rousseauniana. Apenas homens com defeitos e qualidades, mais vezes predestinados à violência e ao egotismo do que à solidariedade com os pobres e os mais desfavorecidos. Ha gente que sob o mote da igualdade criou um sistema profundamente desigual e injusto e se catapultou a árbitro inelutável do jogo do poder. Sem comiseração e sem piedade. Os cemitérios estão cheios das suas vítimas.
Mas foi bom imaginarmos essas utopias e tirarmo-nos do aconchego para vivermos a vida. Sem risco, sem aventura, a vida não teria merecido ser vivida. A geração de Woodstock [se me for permitido designá-la assim] viveu tudo isso, com paixão, com muita irreflectude, mas valeu a pena. Somos hoje, acomodados ao consumismo reinante, mais ricos pelo menos pelas memórias que partilhamos.
A RTP faz parte das nossas memórias, Carlos, é verdade. E ainda bem que temos memória. Como diria o Garcia Marquez quando chegar a minha hora gostaria que o meu epitáfio dissesse algo do género "confesso que vivi", sic.