sexta-feira, 13 de abril de 2007

Odete Santos sai do parlamento

Odete Santos abandona o Parlamento depois de dez anos de actividade política como parlamentar e como militante comunista. Traços vigorosos da sua passagem pelo Parlamento um estilo destemido, frontal, directo de expôr os seus pontos de vista e as posições do partido em que milita há 30 anos o que lhe grangeou um enorme respeito pelas bancadas da esquerda e da direita.
Uma enorme valentia em se bater pela causa das mulheres, os direitos dos marginalizados do liberalismo, os direitos dos trabalhadores. Sempre com uma ponta de ironia, com uma galhardice, por vezes brejeira, mas que a identifica com o que há de muito essencial e profundo no povo português. A capacidade de ir à luta, com sacrifício pessoal e alguma irreflectude.
Pontos negativos: a incapacidade de perceber que a tomada do poder, depois do 25 de Novembro de 1975, pelos comunistas, já não poderia ser feito a coberto das manipulações de militares amigos da "revolução", que os "direitos" conquistados com o 25 de Abril são incomportáveis se os trabalhadores não elevarem a sua produtividade, tornarem as suas empresas casos de sucesso, que o Estado não é pai de ninguém e não tem a obrigação de aliviar as dores a pacientes que não têm solução.
Outro ponto menos positivo, um sectarismo, uma cegueira quanto à bondade da ideologia que professava e professa que a levaram a não reconhecer o inevitável: a estúpidez, a irracionalidade, a brutalidade do regime dos sovietes. Quando no PCP se colocou a questão de retirar lições históricas do falhanço da perestroika e da queda do Muro de Berlim, Odete Santos esteve sempre do lado dos "puros e duros" do seu partido contra todas as tentativas de renovação vindas do seu interior. É preciso lembrá-lo porque normalmente nas despedidas temos esta mania peregrina de meter tudo no mesmo saco e esquecer as iniquidades.
Morrerá comunista, certamente. Mas isso não implica que não condenemos por irracional e totalitário o regime e tiranos os ídolos que persiste em venerar, como se de santos se tratassem [Álvaro Cunhal, Estaline, Fidel de Castro, Lenine]. Outra mulher, Hannah Arendt ensinou-nos que no século XX o totalitarismo apresentou-se com duas faces: o fascismo/nazismo e o estalinismo. Uma não se pode compreeder sem a outra. Tiveram em comum a ideia da adulação cega do chefe, o espezinhamento da diferença e da diversidade.
No fundo, Odete e os seus companheiros de bancada acreditam que aos líderes comunistas como "guardiães da fë" lhe és permitido tudo. É por isso que as nossa diferenças perante ela são intransponíveis.