quinta-feira, 12 de abril de 2007

Mentiroso crónico

Ecos da entrevista de Sócrates na RTP, ontem:
"É falso", respondeu, dizendo que, quando abandonou o ISEL, enviou um requerimento ao reitor da UNI, Luís Arouca, a pedir equivalências, tendo obtido resposta a 12 de Setembro de 1995, "quando era deputado da oposição" e não membro do primeiro Governo de Guterres. Na entrevista, o primeiro-ministro foi confrontado com o facto de o ISEL só ter passado o seu certificado de habilitações um ano depois do prazo, a 08 de Julho de 1996, quando já se encontrava a frequentar a UnI.
Sócrates respondeu que o plano de equivalências lhe foi passado pela UnI com base "na boa fé" da informação que prestou naquela instituição de ensino superior privado.
"O procedimento dessa universidade [UNI] é igual aos outros. As cadeiras que tinha feito no ISEL foram depois confirmadas pelo certificado de habilitações do instituto. Já chega disto", desabafou, ao fim de cerca de 20 minutos de entrevista.
"A UnI só passou o meu certificado de habilitações depois de o ISEL ter passado o meu certificado, que confirmou a informação que antes havia prestado a UnI", justificou.


Sócrates é um caso mais grave que aparentava. Mais que um vulgar mentiroso, Sócrates é um mentiroso crónico. Imagina razoabilidade de explicações onde elas não existem. Qualquer mortal teria vergonha de dizer o que ele proclama. Acha-se acima da justiça e do julgamento dos outros. E acha-se infalível. Não sei se é regra a política dar volta aos políticos portugueses depois de se sentarem, algum tempo na cadeira do poder, mas este é mais um exemplo de cabotinismo, irrazoabilidade, indecência e falta de vergonha na cara. Depois de Guterres e Santana Lopes mais um cromo que vive no espaço sideral à espera que nós o adoremos como um OVNI.
Não tenho à mão o Código Penal português e não me lembra de cor se há na lei portuguesa a figura do empeachment de titulares de cargos políticos mas este caso tem todo o balanço para isso.
Diz o artigo 191.o da Constituição:
"O primeiro-ministro é responsável perante o Presidente da República e, no âmbito da responsabilidade política do Governo, perante a Assembleia da República"
Diz o art.o 195.o da mesma:
"Implicam a demissão do governo: [...] b] a aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo primeiro-ministro". E ainda:
"O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado".
Sendo de presumir que na sua inabalada vaidade o primeiro-ministro nunca pedirá a demissão está devolvido o poder de demitir ao Sr. Presidente da República. Percebendo a leitura de Cavaco Silva faz dos seus poderes presidenciais ele nunca o fará se não ouver uma iniciativa da oposição nesse sentido.

A questão que começa a queimar todos os lábios é: que está Marques Mendes à espera?