O regresso dos abutres
Ciclicamente a cena repete-se. Assim que a RTP sobe nas audiências e deixa para trás o canal de Pinto Balsemão, alguns abutres do PSD saem a terreiro reclamando a privatização do canal público de televisão. Desta feita, sem respeitar a contenção aconselhável ao período pascal, foi o deputado Agostinho Branquinho -especializado em denúncias de pressões do Governo sobre a Comunicação Social (vários jornalistas “pressionados” já vieram afirmar terem sido idênticas às tentadas pelo PSD quando era Governo)- que serviu de porta-voz dos interesses de Balsemão.
Fica mal ao PSD entrar nesta guerra, pois não está a defender o seu programa, mas sim interesses particulares do seu militante nº1.
Os portugueses ainda recentemente escolheram a RTP como a marca de mais confiança na área da comunicação social, e todos os dias elegem o Telejornal e o Jornal da Tarde como os noticiários da sus preferência, ao conferir-lhes desde há muitos meses a maior fatia de audiências e de share. O PSD sabe-o muito bem, pelo que vir a público reclamar a privatização da RTP, num período em que as audiências da SIC estão em queda, só lhe fica mal.
Se a SIC quer recuperar o seu estatuto de segundo canal mais visto pelos portugueses, então que lute por isso, oferecendo-lhes bons programas em vez de telenovelas em série. Mas se Balsemão fica mal em todo este enredo, Marques Mendes também não fica bem na fotografia. O que os portugueses esperam do PSD é que faça uma oposição credível, que congregue o seu descontentamento face a algumas medidas do actual Governo, e não um partido que erege como bandeira a defesa dos interesses económicos de um dos seus militantes. Essa atitude faz lembrar a muitos portugueses, a trama de um filme de Nanni Moretti ( O Caimão) em exibição nas salas portuguesas.