quarta-feira, 6 de junho de 2007

Putin and Europe

Atento e muito lúcido o comentário do C.O. ao actual estado de relações Rússia-Europa ditado pela encrespação do discurso de Vladimir Putin e pelas críticas norte-americanas ao descarrilamento autoritário da transição da ex-União Soviética para a economia de mercado. Não creio, no entanto, que o atrito entre poderes que projectam o seu hard-power como a Rússia procura fazer neste momento com a sua proeminência energética ou os Estados Unidos com o escudo antimisseis se possa minorar com boas intenções e apelos ao bom-senso. Aprende-se em relações internacionais que a relação entre poderes plurivalentes [caso da Rússia e dos EUA] se deve conduzir com reajustamentos sistemáticos tendentes ao equilíbrio dos [mesmos] poderes. Quando um deles ganha vantagem recomenda a doutrina [estratégica] e a experiência histórica que o outro procure reequilibrar a balança com novas alianças e com a divisão dos adversários do primeiro. Trata-se que algo praticado deste o tempo dos gregos e que vem brilhantemente descrito na obra "A guerra do Peloponeso" de Tucídides conflito entre Atenas e Esparta que ocorreu entre 431 e 404 a.c. ou seja há 2.400 anos.
É bom sempre lembrar que temos Europa e percorremos o processo de integração europeu pelo apoio solidário dos Estados Unidos, através do Plano Marshall. E desfrutámos 60 anos de paz apenas perturbada pela crispação da guerra fria pelo facto dos Estados Unidos manterem uma presença militar efectiva na Alemanha Ocidental e um dispositivo dissuatório que sempre evitou que a URSS embarcasse numa estratégia expansionista. Caído o império soviético por razões internas e externas devemos também aos Estados Unidos o pressing para a independência dos Estados do Báltico e para a aproximação dos PECO aos países da Europa Ocidental.
É esta situação de aliança estratégica que Putin procura inverter, pressionando o deslizamento da sua fronteira ocidental da Bieliorússia e da Ucrânia para a Polónia, Lituânia e Bulgária. E isso é algo que a Aliança Atlântica não pode permitir. A bem da continuidade da paz no centro da Europa. Europa que tem de ter memória e ser agradecida a quem a tem ajudado nos momentos decisivos.