domingo, 29 de julho de 2007

A Vitalissima figura

[...] Há quem se oriente através das Sagradas Escrituras, da revista Pais e Filhos ou de uma taróloga à mão. Eu uso Vital Moreira, o humanista que descobriu aos 45 anos as imperfeições do totalitarismo sanguinário. A sua lucidez, aliada ao arrojo com que se estende aos pés do Governo, ajuda-me a entender uma realidade que o "jornalismo de sarjeta" (basicamente, todo) teima em distorcer e simplificar. Desde que Vital apascenta um blogue (causanossa.blogspot.com), não mais senti o mundo distorcido nem simplificado. Vital raspa-lhe a superfície, confere-lhe estrutura e sentido, desvenda-lhe os segredos.[...]

Alberto Gonçalves no DN
Vital Moreira está para as complexidades do discurso político do governo socialista como o Alcorão para o discurso virulento de Mahmoud_Ahmadinejad, o truculento presidente do Irão. Inspira-lhe o passo, a arrogância, o dislate e o disparate. Social-fascistóide de velha cepa, Vital Moreira é daquelas figuras que o panorama intelectual e paroquial português é fértil: imaginativo, contundente, tem uma absoluta falta de vergonha intelectual. Capaz de pregar a Cidade de Deus para os gafalhotos do Alentejo, Vital acha-se Cristo personificado: ele tem a palavra, ele é omnipotente, ele é é infalível. Com uma compreensão ética dos problemas políticos acima dos pecadilhos terrenos e dos actos falhos dos vulgares comuns, Vital assesta a sua caneta sobre os inimigos, os potenciais adversários ou apenas aqueles que ousam pôr em causa a sua versão inquestionável da verdade.
Jurisconsulto avençado do governo colhe, por aí, os louros das suas invectivas contra a direita. Abundantemente.
Há algo de tenebroso e repugnante nesta prepotência intelectual de antigos estalinistas como Vital Moreira que passa muitas vezes despercebido aos menos informados e mais frágeis à retórica demagógica. Trata-se de gente que não recuava em achincalhar os que titubeavam perante o dogma, a verdade absoluta, ou questionavam a retórica do querido lider. Gente que não hesitava em condenar à tortura ou ao ostracismo quem ia contra a lógica dominante e selectiva.
Não deixa de ser curioso que apesar de se terem afastado [mas nunca rompido] dos comunistas esta gente continua a ter imenso cuidado em não os provocar ou denunciar as suas patranhas. Não é já uma questão de superioridade moral mas de puro e cínico calculismo.