quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Depois queixem-se...

Ontem, depois do anunciado acordo entre António Costa e José Sá Fernandes, os blocos informativos de todos os canais de televisão - e algumas estações de rádio-anunciaram que uma das cláusulas do acordo, impostas pelo bloquista, exige que os construtores civis coloquem no mercado quotas de habitações a preços controlados.
Logo de seguida era emitida uma peça onde um dirigente de uma associação de construtores ( AECOPS) denunciava a medida como própria do regime cubano. Para completar a triologia , eram passadas declarações do inenarrável Dr. Negrão anunciando à população de Lisboa – com ar compungido e alarmado- a catástrofe: “a Câmara de Lisboa vai passar a ser gerida pela extrema –esquerda!”.
O que espanta em tudo isto, não é a coincidência de alinhamentos das peças nos diversos serviços noticiosos da rádio e televisão portuguesas. Tão pouco me espantaram as declarações catastrofistas do dr. Negrão ( bem mais ponderadas foram, surpreendentemente, as do Prof Carmona Rodrigues...) Muito menos me surpreenderam as declarações pacóvias do “pato bravo”, pois o sector empresarial português- ao contrário do que muitos proclamam- não é constituído maioritariamente por empresários cultos, conscientes e profissionais . (Felizmente eles existem, mas são poucos e, ao contrário do que seria desejável, é por serem empresários na verdadeira acepção da palavra, que atingem notoriedade. Ou seja, o que devia ser regra é visto na opinião pública como excepção.)
O que verdadeiramente me surpreendeu nesta triologia informativa, foi o facto de não ter havido um único “apontamento” que esclarecesse os habitantes de Lisboa – e os portugueses em geral- que a prática das quotas do mercado de habitação a preços controlados é prática comum em cidades tão parecidas com Havana, como Nova Iorque ou Paris!
Fica por saber se a omissão foi fruto de uma atitude deliberada, ou de mera ignorância, mas fico com a certeza de que os portugueses foram ontem intoxicados com uma notícia falsa, cujos propósitos podem ser considerados obscuros.
Depois queixem-se que o metafórico Ministro Augusto Santos Silva fale de “jornalismo de sarjeta”! Eu não acredito nesse tipo de jornalismo, mas lá que existe, existe!