TorreBela:um postal do PREC
Por estes dias, várias salas de cinema em Portugal exibem a mais recente versão do sempre inacabado documentário “Torre Bela”.
Documento histórico insubstituível dos conturbados tempos do PREC, “Torre Bela” reconduz-nos a momentos únicos do Verão Quente de 1975, passados numa herdade da Azambuja, pertencente ao Duque de Lafões que servia de reserva de caça para os amigos e de local para encontros secretos entre a PIDE e a CIA.
Ao bom estilo do denominado “ cinéma vérité”, o documentário de Thomas Harlan retrata, na cadência das imagens captadas em tempo real, a vida de um grupo de trabalhadores rurais sem trabalho que ocupou a herdade e acreditou na utopia. No grupo havia de tudo: gente de trabalho, emigrantes, ex-presos políticos, vagabundos... mas não havia partidos políticos nem movimentos sindicais, porque a ocupação foi feita de forma espontânea.
Sou contemporâneo de “Torre Bela”. Tive o privilégio de, na altura, ter conhecido vários jovens sul-americanos – alguns deles jornalistas- que estiveram na herdade da Azambuja e com quem estabeleci relações de amizade que ainda hoje perduram. Quando nos encontramos o “case study” de “Torre Bela” vem sempre ao palco das conversas , pois tratou-se de um momento genuíno de acção popular.
Soube recentemente, através de uma amiga chilena, que o documentário foi exibido este ano em Cannes. Prova evidente de que 30 anos volvidos sobre um dos momentos mais marcantes do PREC, a vivência de “Torre Bela”- filmada sem truques e sem outros comentários que não sejam os que a realidade transmite- continua a constituir um registo histórico, sociológico e político de um período irrepetível da História do Portugal Contemporâneo.