quarta-feira, 2 de maio de 2007

Um Banco com receitas para o Sul

Já alguém escreveu que a Economia “ é a ciência que se caracteriza por antecipar previsões feitas por especialistas que são sempre contrariadas por outros especialistas”.
O FMI segue à risca esta máxima (lembre-se que Portugal também tem sido alvo de sucessivos cenários dantescos traçados pelo FMI cuja vertente comum tem sido o erro sistemático, seguido de correcções que apenas confirmam as anteriormente avançadas pelos Governos e por outras instâncias internacionais), com desprezo total pelos problemas que não sejam de raiz económica e com a agravante de se comportar como uma espécie de agiota encartado.
Os latino-americanos, que durante décadas estiveram sob o jugo das medidas ultra-liberais do FMI, estão cansados das suas receitas draconianas e dos seus erros constantes de análise, da sua insensibilidade face à pobreza e do endeusamento da Economia na sua forma de actuação.
Com as contas saldadas e de cabeça erguida, Argentina, ( outro caso exemplar de sucesso que contrariou os presságios agoirentos do FMI) Bolívia, Venezuela e Equador decidiram dar um pontapé no traseiro dos magnatas do FMI e criar o Banco do Sul , que pretende promover os seus próprios fundos regionais e adoptar regras menos penosas , tornando-se uma alternativa mais justa para os países daquela região do globo.
O Brasil ainda não confirmou a sua adesão, mas a decisão que Lula vier a tomar sobre o assunto, será de extrema importância para o êxito da iniciativa.
Em minha opinião, sem o Brasil o Banco do Sul corre o risco de ser um fracasso e um revés para os mentores da iniciativa. Mas a inversa também é verdadeira. Poderá o país com maior desenvolvimento da América do Sul ignorar a iniciativa dos seus vizinhos?
Um Banco centrado na realidade latino-americana é crucial para o desenvolvimento dos países da Região e para o incremento do Mercosur, realidade económica e mercantil em que o Brasil é uma das potências mais interessadas. O problema, porém, é que os acordos comerciais recentemente celebrados pelo Brasil com os EUA podem obrigar Lula a rejeitar o convite dos seus vizinhos. Penso que se o fizer, Lula cometerá um erro de consequências imprevisíveis para o seu futuro e colocará o Brasil numa posição de fragilidade no diálogo ibero-americano, que não deixará de ter reflexos na sua economia. Irá correr esse risco?