As contradições de Al Gore
AlGore continua a sua cruzada em defesa do meio ambiente, mas parece-me que começa a exagerar e a não medir correctamente as consequências das suas iniciativas. Esta semana, na companhia de Cameron Diaz ( sabe escolher bem as companhias, este Al Gore!), anunciou ao mundo, com pompa e circunstância, a realização, em Julho, do concerto Live Earth, cujo objectivo é alertar o mundo para os perigos do aquecimento global. Entre as figuras de cartaz já anunciadas, encontram-se nomes sonantes como os Red Hot Chili Peppers, Black Eyed Peas, Sheryl Crow, Duran Duran e Lenny Kravitz. Os concertos realizar-se-ão em sete cidades da Europa, África, EUA, América do Sul e Ásia ( Xangai foi uma das escolhidas ) e na Antárctida. Só que o que parece uma boa ideia, não pode deixar de merecer vários reparos por parte de quem se interessa por estes problemas. Em primeiro lugar, porque escolher a Antárctida para realizar um concerto é desastroso. Vítima do turismo desenfreado, a Antárctida está a sofrer ameaças de degradação rapidíssimas, pelo que as autoridades locais já restringiram drasticamente as visitas de turistas ( é bom não esquecer que o turismo é uma das actividades mais predadoras do Planeta...) . Realizar lá um concerto afigura-se-me, por isso, uma questionável medida populista e demagógica, com efeitos nefastos para o ambiente. Por outro lado, a realização destes concertos constitui, na sua essência, um atentado ambiental de consequências incomensuráveis, pela emissão de gases de estufa que origina, provocados por todos os agentes que lhes estão associados, público incluído. Conclusão: salvo venham a ser tomadas medidas inovadoras na realização destes concertos, que contribuam para reduzir os seus efeitos colaterais, estamos perante uma iniciativa que poderá contribuir para encher os cofres da Fundação a que preside – a Alliance for Climate Protection- mas que terá um efeito boomerang em termos ambientais, pois contribui para agravar o problema e não para o minorar.
Se pudesse aconselhar o sr Al Gore, dir-lhe-ia que a ideia de alertar as pessoas para a degradação ambiental poderia ser realizada com muitos menos custos ambientais e ter efeitos mediáticos similares. Bastaria concentrar o concerto num só local e difundi-lo em directo para todo o mundo através da televisão. Dir-me-ia que se perderia a ideia de universalidade do concerto, mas para isso também tenho uma resposta. Pegue nos embaixadores da Boa Vontade das Nações Unidas, espalhados pelo mundo, e dê-lhes meios para organizarem iniciativas junto das populações e das escolas. Cumprir-se-ia assim o efeito- menos mediático, é certo, mas muito mais eficaz- de sensibilização das populações e das forças vivas locais e o princípio da ONU expresso na frase “ pensar globalmente, agir localmente”. É que isto dos concertos começa a estar tão banalizado, que nem mesmo muitos dos que gostam de música ( como é o meu caso) se deixam atrair e sensibilizar por eles.