quarta-feira, 21 de fevereiro de 2007

Cenas de vida 1-o termómetro

Terça –feira de Carnaval. Um termómetro partido na madrugada, deu o primeiro sinal de que a gripe entrara lá em casa disfarçada de Rei Momo. Manhã alta dirijo-me à farmácia de serviço mais próxima. A fila é longa. Conto 17 cabeças à minha frente. Para nos atender, apenas um funcionário. Interrogo-me porquê, mas não obtenho resposta plausível. Preguiçosamente, acompanhando a dolência da manhã, a fila vai-se encurtando à minha frente e alongando na cauda. Começo a ficar impaciente. Para me distrair, vou espreitando as compras dos que me antecedem. Assusto-me quando vejo que o primeiro a ser aviado, leva nada mais nada menos do que 13 medicamentos. Os seguintes variam entre as três e as 10 embalagens. Muitas delas são embalagens grandes que não serão consumidas até ao fim. O seu destino será, muito provavelmente, o caixote do lixo. Associo a dinheiro deitado ao lixo. Num país com dois milhões de pobres, podemos deitar dinheiro ao lixo? A indústria farmacêutica pensa que sim, porque o caixote do lixo desagua nos seus cofres. Chega finalmente a minha vez. Eu só quero um termómetro! Mas tive que aguentar estoicamente numa fila, durante duas horas e meia, para o poder adquirir. Porque termómetros, em dia feriado, só mesmo em farmácias...