sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

Falar claro sobre Timor

Lido na imprensa:

[...] Portugal está disponível para reforçar com um ou dois pelotões o actual contingente em missão em Timor-Leste, desde que as Nações Unidas resolvam as «questões técnicas e de fundo» que faltam, disse o ministro da Administração Interna, António Costa.
Contudo, António Costa salientou ser necessário regular uma série de questões com as Nações Unidas, para saber se é possível concretizar esta medida.«Primeiro, é necessário que as Nações Unidas assinem com Portugal o acordo de integração das nossas forças na missão das Nações Unidas, que tem estado a decorrer sem acordo. Depois é preciso que as condições materiais necessárias possam ser garantidas para que a missão se concretize», afirmou[...]


Gosto de políticos que falam claro, sem medo de usar as palavras certas nos momentos certos. António Costa é um dos que o faz, normalmente. Timor-Leste, escrevi e defendi em debates públicos [o último dos quais aqui, em Macau, com o Moisés Fernandes] é um caso dramático de um estado frágil senão inviável. Não basta apelar à memória histórica dos sacrifícios perante o invasor indonésio ou ao fardo do colonialismo [como se retira do preâmbulo da Constituição] para se viabilizar um país, é preciso focagem nos objectivos, estabilidade, ordem e liderança. Timor-Leste não tem tido nada disso. E só pode culpar o seu próprio povo não o estrangeiro. Os jovens que lançam o caos à noite nos bairros da capital e vivem do pequeno crime e esquema não são resistentes são marginais. São indignos da história de Timor-Leste e dos mortos da resistência. E têm de ser tratados como um caso de polícia com mão firme e sem hesitação.
As tropas australianas viram-se obrigadas a semana passada a atirar a matar para dominar tumultos num dos bairros de Dili. Não vejo forma de o deixarem de fazer.
Por isso, a oferta de reforço do contingente da ONU com tropas portuguesas é louvável, mas não sei se o ministro e o chefe do governo se consciencializaram do que acontecerá quando cairem os primeiros soldados portugueses, por acção destes marginais. E o bruá que se levantará na opinião portuguesa face à intervenção dos nossos militares lá fora. É que se instalou a ideia peregrina no público que a vida militar não implica sacrifício pessoal, designadamente da própria vida. E que a missão é uma coisa relativa.