A propósito de um livro
[...] A Inquisição é uma instituição de mil faces, um espaço de cruzamento de poderes políticos e religiosos, económicos e culturais. Cruzamento de poderes e de poderosos, mas também de funcionários e afins e, acima de tudo, cruzamento entre perseguidores e perseguidos, entre grupos oficiais e gentes lançadas para as margens da vida através da tortura, sofrimento, exclusão, diáspora forçada. A Inquisição, um dos nós centrais de conflito nas sociedades do Antigo Regime, exprime as concorrências e oposições entre diferentes formas de vida e programas culturais, das lutas entre as formações hegemónicas institucionalizadas e realidades subalternas e periféricas. As culturas, vivências e indivíduos transmitem esta atmosfera de conflitualidade que encontra na Inquisição um teatro trágico. O mundo moderno e a idade de uma primeira planetarização e globalização que leva os europeus para os mares e terras dos mundos do mundo. Os conflitos e instituições, como a Inquisição, são levados pela Europa para os litorais da Ásia e da África, bem como para as terras da Neo-Europa baptizada de América". [...] Coordenação de Luis Filipe Barreto e José Augusto Mourão com edição da Prefácio [S. Paulo]